terça-feira, 5 de outubro de 2010

Um violino no fado


NOTA: Proposta do Orlando Figueiredo


CUFC: Tertúlias às quartas


(Clicar na foto para ampliar)

NINGUÉM SABE A HISTÓRIA TODA NEM TODAS AS HISTÓRIAS



A Agência Ecclesia, ligada à Igreja Católica, editou um número especial do seu semanário de actualidade religiosa, dedicado ao Centenário da República. Trata-se de um trabalho muito bom e oportuno, que reflecte o sentido da Igreja face aos 100 anos da República, sem ignorar conflitos, que os houve, entre o Estado republicano e a comunidade religiosa, no seu todo, apesar de logo no início ter sido decretado o respeito pelas diversas confissões.
A revista “Agência Ecclesia” apresenta, em 88 páginas, temas muito variados, agrupados em três partes: Sociedade e Religião; Relação Igrejas, Estado e Sociedade: do regalismo à separação; Universos Espirituais e Experiências Religiosas durante a Primeira República. Ilustrações da época e datas marcantes, referências a variadíssimas situações e, no fundo, um conjunto de estudos que nos poderão servir para tomar conhecimento mais completo da problemática relacionada com a República, que agora comemoramos e que nasceu sob o signo da separação do Estado e da Igreja Católica, até então considerada a religião oficial, com privilégios conhecidos.
Investigadores sabedores das matérias a abordar, nomeadamente, António Matos Ferreira, Guilherme Sampaio, Hugo Dores, João Miguel Almeida, Marco Silva, Rita Mendonça Leite, Sérgio Ribeiro Pinto e Tiago Apolinário Baltazar, brindaram-nos com estudos bem delineados e esclarecedores, coordenados por António Matos Ferreira e Rita Mendonça Leite, sob a responsabilidade do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa.
António Rego, padre e jornalista, mas também director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, sublinha que «ninguém é quimicamente puro nas análises que ensaia porque ninguém sabe a história toda nem todas as histórias. Como o futuro, o passado límpido apenas a Deus pertence». E mais adiante frisa: «Com a humildade de quem sabe que a história é uma recolha meticulosa de fragmentos que parecem ser um todo, não podemos cansar-nos de procurar as linhas mestras que a sequência vertiginosa dos séculos foi criando como um vulcão paciente que atingiu altíssimas temperaturas e no arrefecimento progressivo e lento  foi criando montanhas, planícies, desertos, oásis, terras áridas e rios abundantes.»
O director da revista, Paulo Rocha, e seus mais directos colaboradores, estão de parabéns.

Fernando Martins

5 de Outubro de 1910: Discurso do Presidente da República



Portugueses,


«Se o regime monárquico, como disse o seu último chefe de governo, suscitava a indiferença do povo, porque durou tão pouco tempo a Primeira República? Se tinham ideais tão elevados, porque se deixaram os políticos republicanos enredar em conflitos e divisões que acabaram por conduzir o país para uma ditadura?
A resposta terá de ser dada pelos historiadores. Mas é sabido que a instabilidade da Primeira República se ficou a dever, entre outros factores, à ausência de um elemento fundamental: a cultura da responsabilidade.
É pacífica a conclusão de que a República foi um regime atravessado por querelas e lutas que pouco diziam ao comum dos Portugueses. Lutas que eram perfeitamente secundárias face aos problemas que o País tinha de enfrentar: o analfabetismo e a pobreza, o atraso económico, as desigualdades, a dependência do exterior, a entrada na Grande Guerra, o desequilíbrio das contas públicas.
O essencial não é a discussão e a luta dos políticos. Há cem anos, como hoje, o essencial é a vida concreta das pessoas.»

Ler todo o discurso aqui

5 de Outubro de 1910


A Portuguesa

Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!


Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

Composição
Alfredo Keil, Henrique Lopes de Mendonça

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Ainda o Prémio Hernâni Cidade



Mais dois sonetos de João Alberto Roque






Mia Couto


Sim, amigo, obrigado pelas lições.
Matámos a galinha por um ovo…
é preciso avivar, erguer de novo,
brincar, criar, fazer brincriações.


Ajudaste a sonhar colorações
no planeta dormente onde me movo,
recriaste a língua com o povo,
recreaste a língua em diversões.

Recuperaste até antigos brilhos
(e os ovos de ouro brilham mais
se reflectem o brilho dos demais),


trouxeste alegria a nossos filhos,
cor aos planetas já entorpecidos …
Seja a língua carícia em teus ouvidos!



Unidiversidade


Nascemos em países tão distantes
mas nossas falas, na diversidade,
brincam juntas em tal intimidade
nesse encontro, são línguas de amantes.


Belo festim de sons com cambiantes,
poetas burilando a claridade.
Tantas faces não quebram a unidade,
mas reflectem a luz, são diamantes.


Perceber-te não é grande façanha:
posso achar a pronúncia estranha,
pode o vocabulário divergir…


- Adorei, foi gostoso o cafuné
- Se pensas que eu não sei o que isso é…
Percebi, não precisas traduzir.


João Alberto Roque

domingo, 3 de outubro de 2010

Oficina da Formiga: Artesanato de qualidade

Diversas peças do mostruário da Oficina da Formiga

Jorge Saraiva exibe um belíssimo prato

A riqueza das cores
No Festival do Bacalhau, Júlio Isidro adquiriu um penico



Visitei há dias a Oficina da Formiga na Rua da Coutada, em Ílhavo. O convite veio de Jorge Saraiva, há cerca de um ano, o primeiro responsável pela Oficina e grande entusiasta pela cerâmica tradicional. Com a minha agenda sempre cheia, quantas vezes de coisa nenhuma, o tempo foi passando. Mas durante estas férias, em S. Pedro do Sul, dei de caras com produtos da Oficina da Formiga expostos em diversas lojas, onde também notei o interesse dos visitantes e turistas pelos trabalhos artesanais feitos com qualidade. Daí o meu desejo de levar à prática a visita adiada.
Diz-se no “site” da Oficina que a cerâmica artesanal é das tradições mais antigas em Portugal, remontando «ao século XVI com a tentativa de fabrico de pasta para louça branca. Este tipo de Artesanato é baseado na faiança doméstica produzida em relativa quantidade desde o século XIX até aos anos 60 em Aveiro, com a reprodução dos mesmos desenhos ou recuperação de outros provenientes da rica azulejaria portuguesa».
Tendo por cicerone Jorge Saraiva, fui sendo esclarecido sobre os temas reproduzidos nas peças expostas ou em fase de produção, com predominância para os elementos naturais: Mar, Terra e Ar, reflectidos nos peixes, galos, flores e pássaros. Os suportes são pratos e travessas oitavadas ou ovais; e as cores, de alto fogo, são o azul, o rosa, o castanho e o amarelo.