segunda-feira, 7 de setembro de 2009

250 ANOS DE ESTÓRIAS NA RIA

No Rossio, 19 de Setembro,
festa para toda a gente

Rossio
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Estamos a cerca de duas semanas da realização da Festa dos Amigos e Vizinhos - 250 anos de Estórias na Ria - 19 Setembro,  no Rossio. Trata-se de um evento promovido pelos Amigos d’ Avenida e por um conjunto de cidadãos de Aveiro, inserido nas comemorações dos 250 anos da cidade.
Esta festa é o culminar de seis meses de actividades deste movimento, tendo como um dos objectivos a promoção da reflexão sobre as transformações da cidade, em particular do seu espaço público, e o desenvolvimento de actividade experimentais de animação do espaço.
Todos os aveirenses, e não só, estão, por isso, convidados.
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Efeméride Gafanhoa: Nascimento de Joana Maluca

1788 - 7 de Setembro

Joana Rosa de Jesus, mais conhecida por Joana Maluca, nasceu nesta data. Faleceu em 1878, com 90 anos de idade.
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Citando Patrícia Reis...

A propósito de Uma Ideia para Portugal, em que apresentei a proposta de Patrícia Reis, lembrei-me desta sua frase. Aqui fica ela.
“Acredito que há sinais da Graça de Deus todos os dias. Deus está nisso tudo. Não é aquele Senhor de barbas brancas sentado lá em cima a olhar para mim à espera que eu faça asneiras. Somos demasiado pequenos para que Ele olhe para cada um individualmente, por isso vivemos nesse silêncio de Deus que é um silêncio aparente. Ele vai-se manifestando. Basta ter atenção.”


Patrícia Reis, autora do livro Silêncio de Deus
Citada no livro Janela do (in)finito, de Anselmo Borges,
por Guilherme d’ Oliveira Martins

sábado, 5 de setembro de 2009

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 147

BACALHAU EM DATAS - 37


Creoula - 1937
Caríssimo/a:
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1937 - «A Companhia União Fabril, concessionária dos estaleiros da Rocha do Conde de Óbidos, no porto de Lisboa, iniciou em 1937, os trabalhos da construção dos dois primeiros navios de pesca em ferro, fabricados em Portugal. Tendo sido efectuado o lançamento das quilhas no dia 3 de Fevereiro de 1937, foram construídos, lado a lado, dois navios gémeos – CREOULA e SANTA MARIA MANUELA – uma nova classe de navios bacalhoeiros inspirados nas antigas escunas da Nova Escócia. Os trabalhos de construção decorreram em 62 dias úteis e a cerimónia de lançamento à água ocorreu a 10 de Maio de 1937. Após o lançamento, os navios foram mastreados e acabados de aparelhar, tendo o CREOULA sido entregue ao armador em Junho, efectuando a sua primeira campanha de pesca nesse ano.» Creoula, 33-38
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«[...] [O CREOULA e o SANTA MARIA MANUELA] eram navios “gémeos” com 62 metros de comprimento numa deslocação de 1247 t, com uma estrutura reforçada de aço à proa, que permitia a navegação em segurança em mares de gelo, acomodações para 52 homens e todo o equipamento moderno. O CREOULA reunia sadias condições, era uma boa construção e um óptimo veleiro.» Oc45, 111
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«De acordo com a Revista da Marinha, de 19.11.1941, os alojamentos dos lugres CREOULA e SANTA MARIA MANUELA estavam forrados a madeira nas amuradas e anteparas, permitindo um aquecimento a água quente num circuito de tubos de ferro. Os alojamentos dos capitães, oficiais e motoristas situavam-se à ré e possuíam aquecimento central com irradiadores. Estavam ainda munidos de electricidade, TSF, projectores, instalação frigorífica e sonda eléctrica.» Oc45, 119, n. 6
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«...[V]erificando-se que os franceses usavam o sistema de trole desde o início do século XX, com dois pescadores em cada dóri, decidiu-se que também na frota portuguesa deveria ser introduzido tal método, tendo desempenhado o CREOULA o papel de navio pioneiro na concretização desta experiência. Assim, no decurso da sua primeira viagem, em 1937, o CREOULA partiu para a Terra Nova equipado com dóris adaptados a dois homens. Confrontados com a novidade, registou-se por parte dos pescadores uma firme atitude de recusa relativamente à experimentação deste método que, inúteis os dóris empilhados a bordo, tornou-se necessário que o capitão recorresse aos restantes navios da frota bacalhoeira portuguesa na Terra Nova, solicitando o empréstimo de dóris de um só homem, tradicionalmente utilizados pelos nossos pescadores.» Creoula, 19
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«Em 1937, o Ministro da Marinha autorizou a compra de navios de comércio com mais de 10 anos, contados a partir da data do lançamento à água, sob prévio parecer do Conselho Superior da Marinha, enquanto durasse a “situação anormal do mercado de navios e de custo das construções navais”. [in “O Ilhavense”, n.º 1178, 07.11.1937, p. 1]» Oc45, 119 n. 2
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Neste ano de 1937, é constituída a Sociedade Pascoal e Filhos com dois barcos de pesca à linha: RAINHA SANTA e D. DINIS.
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Manuel

Uma Ideia para Portugal




"Todos os dias, antes de dormir, meia hora de leitura. Não importa que livro, importa o exercício. Ao mesmo tempo, como acumulamos livros que não voltaremos a reler, é uma óptima ideia reciclar tendo em vista quem mais precisa: de seis em seis meses, olharmos para as estantes e tirarmos os livros de que já não precisamos e que podem ser entregues às bibliotecas, aos serviços prisionais, às juntas de freguesia, aos centros de orientação dos sem-abrigo. Ou então o bookcrossing. Vá ao google e procure."
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Patrícia Reis,
Escritora e jornalista,
no i de 04-09-2009

ÉTICA E RELIGIÃO




Desde o Eutífron, de Platão, que, nesta relação de ética e religião, se coloca o famoso dilema: os mandamentos são bons porque Deus os prescreve ou Deus prescreve-os porque são bons? Na segunda hipótese, Deus não seria absoluto, já que subordinado a normas e valores independentes dele. Na primeira, poderia mandar o arbitrário, como afirmou o voluntarismo medieval: segundo Ockam, "Deus pode ordenar que a vontade criada o odeie".
Mas o dilema tem solução. O Homem é um animal ético e a moral é autónoma. Ao contrário dos outros animais, o Homem vem ao mundo por fazer e tem de fazer-se, realizar-se a si mesmo. E qual é o critério da acção humana boa senão precisamente a adequada e plena realização do ser humano? A exigência moral não surge do facto de se ser crente ou ateu, mas da condição humana de querer ser pessoa humana autêntica e cabal, plenamente realizada, de tal modo que o teólogo Andrés Torres Queiruga pode escrever, com razão: se se pensar fundo, "não existe nada que no nível moral deva fazer um crente e não um ateu, contanto que tanto um como o outro queiram ser honestos". Se dissentirem em muitas opções, isso não acontecerá propriamente por motivos religiosos, mas morais, devido à dificuldade em saber qual é muitas vezes a decisão correcta.
Então, por paradoxal que pareça, autonomia e teonomia coincidem. De facto, se se aceitar, como é o caso da perspectiva cristã, que Deus cria por amor, o que é que Deus pode querer e mandar senão precisamente a adequada e plena realização da pessoa humana? Na criação por amor, o único interesse de Deus só pode ser o Homem vivo, realizado e feliz.
Mesmo que não possam ser separadas, moral e religião distinguem-se. A prova está em que se pode ser não religioso e moral: não é verdade que, "se Deus não existir, tudo é permitido". Por outro lado, o crente também sabe que a religião, embora a implique, não se reduz à moral.
De qualquer modo, a religião pode contribuir para a moral, de múltiplos modos. A religião autêntica deverá constituir mais um impulso para a acção ética. Quando se pergunta pelo fundamento último da moral na sua incondicionalidade, é difícil não ser confrontado com a religião e o absoluto de Deus. Depois, a religião dá horizonte de futuro, mesmo quando se falhou e se precisa de perdão e novo alento - há uma personagem de Hemingway que, a um dado momento, pergunta, perplexa: agora que não há Deus, quem nos perdoará? -, e abre à esperança de sentido último.
Melhor do que o que aí fica poderá dizê-lo uma carta comovente que o senador Edward Kennedy enviou ao Papa, pouco tempo antes de morrer, e que o cardeal Th. McCarrick revelou na celebração do seu funeral.
Alguns passos: "Santidade, espero que ao receber esta carta goze de boa saúde. Rezo para que tenha todas as bênçãos de Deus na condução da nossa Igreja e inspire o mundo nestes tempos difíceis. Escrevo-lhe com profunda humildade para pedir-lhe que reze por mim, agora que a minha saúde declina. Foi-me diagnosticado um cancro no cérebro há mais de um ano e, embora continue em terapia, o mal continua a minar-me. Tenho 77 anos e preparo-me para a passagem seguinte da vida. Tive a graça de ser membro de uma família maravilhosa, e os meus pais, em particular a minha mãe, mantiveram a fé católica no centro das nossas vidas. O dom da fé manteve-se, cresceu e deu-me alívio nas horas mais escuras. Sei que fui um homem imperfeito, mas com a ajuda da fé procurei endireitar o caminho. Quero que saiba, Santidade, que nos quase 50 anos de serviço público, dei o meu melhor para embandeirar os direitos dos pobres e abrir portas de oportunidades económicas. Trabalhei para receber os imigrantes, combater a discriminação e ampliar o acesso aos cuidados médicos e à educação. Procurei sempre ser um católico fiel, Santidade, e embora as minhas debilidades me tenham feito falhar, nunca deixei de crer e respeitar os ensinamentos fundamentais da minha fé. Rezo para que Deus o abençoe a si e à nossa Igreja e agradeceria muito as suas orações por mim."

Anselmo Borges

In DN

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Grande lição de vida...




O doente que visita outros doentes

Durante as minhas caminhadas matinais, por decisões de saúde, cruzo-me, por vezes, com um velho amigo, de 80 anos, que anda pelas ruas da Gafanha da Nazaré num carrinho eléctrico. Sei que foi afectado por uma doença rara que o impossibilitou de trabalhar, já há anos, dificultando-lhe a caminhada.
Hoje encontrei-o em conversa amena com um idoso, um pouco mais velho, mas também limitado. Nem com a bengala pode chegar para além do primeiro cruzamento, poucos metros ao lado da sua residência. Ao vê-los, interrompi a conversa que ambos travavam para os cumprimentar.
Depois das saudações e das habituais perguntas sobre o estado de saúde e de ânimo de cada um, abordámos a questão do carrinho eléctrico que o leva “para todo o lado”.
Com a doença, o meu amigo não podia sair de casa. Apenas o fazia quando precisava de ir aos médicos. As quatro paredes da sala onde estava habitualmente limitaram-lhe os horizontes, o que o deixava triste. Só a visita de familiares e amigos o animava.
Um dia acordou com a imaginação afiada, na procura de uma solução para a sua vida. E daí a comprar o carrinho foi um já. Agora, diz-me ele, já pode sair todos os dias, percorrer as ruas da Gafanha da Nazaré, olhar as pessoas, apreciar a vida agitada de muitos, encontrar-se com amigos, ir ao médico e à farmácia, ou fazer compras sem incomodar ninguém.
Contudo, de uma coisa se lembrou: sempre ficava muito contente quando alguns amigos ou familiares o visitavam. “E se agora fosse eu visitar os amigos doentes?”, concluiu. E foi mesmo.
Começou então a enumerar os que tem andado a visitar, dizendo da alegria que vê nos seus rostos. Alguns eu próprio até pensava que tinham morrido. E apenas lhe disse, com convicção: “Está a fazer uma grande coisa; deu-me uma grande lição.” E um largo sorriso encheu os seus olhos.
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Fernando Martins