quinta-feira, 30 de abril de 2009

Crónica de um Professor

Dia 1 de Maio. Dia do Trabalhador
Faz-se uma interrupção no trabalho, um feriado, para comemorar o Dia do Trabalhador! É, no mínimo, paradoxal, esta lógica do ser humano! Sendo um valor que acompanha o homem em todas as sociedades, tem sido encarado das mais diversas formas. A ironia que subjaz à expressão “O trabalho dá saúde que trabalhem os doentes!”, atesta de forma jocosa a ambivalência do conceito. É um valor, sim, para muitos, mas também uma imposição para tantos outros, que, não o acatam com prazer! O aforismo popular “O trabalho não azeda” contraria o outro provérbio, “Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”. Afinal, sendo o povo detentor de uma sabedoria catalogada e milenar, também se contradiz nestas tiradas de sapiência! O valor do Trabalho que a teacher interiorizou, por herança genética, tem o peso e o valor que os seus progenitores lhe transmitiram. Sempre observou, empiricamente, como os pais, desde tenra idade, o iam transmitindo. Nesta perspectiva, discorda das políticas dos últimos governos, em relação a alguns apoios pecuniários, atribuídos aos desempregados do mercado laboral. Haveria múltiplas formas de ocupar as pessoas atingidas pelo flagelo do desemprego, dando-lhes tarefas, trabalho, num serviço cívico a prestar à comunidade. Para uma camada da população que não atribui ao trabalho, o valor, a dignidade que este confere, é mais fácil, cómodo e aliciante ficar à “boa vida”, sem fazer nada, sem despender qualquer esforço, e ter no fim do mês, a migalha, a esmola, o RSI (rendimento social de inserção) que o governo, displicentemente, lhes disponibiliza. Para os que dão o corpo ao manifesto, que fazem pela vida, que se esfalfam para ganhar o pão nosso de cada dia, que fazem calos nas mãos... ou nas cordas vocais, essa medida é vista com desaprovação, desconforto, desconfiança. Invoca-se aqui, a análise de António Aleixo:
Quem trabalha e mata a fome, Não come o pão de ninguém! Mas quem não trabalha e come Come sempre o pão de alguém! Há sempre alguém que por falta de cabeça, de capacidades, de dignidade, prefere estar às sopas dos outros, neste caso concreto, do governo, a “vergar a mola” e trabalhar! Faz calos! Dizem alguns, preferindo ficar na indigência. No seu percurso profissional, quando no final do ano lectivo se ocupava das matrículas, tarefa, já há muito desempenhada pelos DTs (directores de turma), deparava-se com esta cena tão caricata quanto insólita. Algumas mães, quando acompanhavam os filhos nas matrículas e eram interpeladas sobre a sua profissão, respondiam que não faziam nada, que não trabalhavam. Eram domésticas! A teacher remoía-se toda por dentro, contra esta assumpção de “inutilidade” de “indigência”, pois sabia que não correspondia à verdade. Durante muitos anos, senão décadas ou até séculos, o trabalho doméstico não estava catalogado no rol das profissões que os pais dos alunos indicavam, aquando do preenchimento dos boletins de matrícula. - Não limpa a casa? - Não passa a ferro? - Não cuida da educação dos seus filhos? - Não zela pelos interesses da família? Interrogava a teacher, levando as ditas mulheres “indigentes” a reflectir sobre a panóplia de afazeres que lhes preenchiam o dia. Claro que sim, Sra Doutora, faço tudo isso! Era a resposta imediata. E... ainda se atreve a dizer que não trabalha e que não tem profissão? Só porque não é remunerada? Não tem um patrão directo, com visibilidade para lhe exigir um horário rígido de entrar e largar o trabalho. Aposta a teacher que estas donas de casa que se esfalfam para que as suas tarefas sejam cumpridas, de tão compridas que são, têm isenção de horário de trabalho, como qualquer executivo de uma grande empresa! Estes, dadas as suas responsabilidades acrescidas, não têm horários rígidos, sim, todos sabemos, mas trabalham muito mais que os subalternos que lhes estão directamente dependentes. Ser dona de casa é uma missão e diria até, nos dias de hoje, uma profissão nobre! Nos dias de hoje, o trabalho doméstico assumiu outro estatuto e tanto é considerado já como alternativa profissional, desempenhado por uma série de mulheres com formação académica diferenciada, como é partilhado pelos casais jovens. Estes, quando têm a sua actividade profissional, fora de casa, assumem a divisão das tarefas domésticas como incumbência de ambos. Só assim haverá a igualdade, tão propalada por um sector do mundo feminino, e os homens contribuirão para a harmonia familiar que é aspiração de todos. E... doméstica, doméstica já é considerada uma profissão sem carácter sectarista, já que há elementos do sexo masculino a desempenhá-la também. E, à guisa de conclusão, apetece dizer: ou há moralidade... ou trabalham todos!
Maria Donzília Almeida 30.04.09

Dar Portugal a Portugal

D. Manuel Martins
Frei Nuno de Santa Maria foi finalmente canonizado. Este acontecimento não mereceu grande atenção a boa parte dos portugueses, sobretudo a nível dos responsáveis do país e de alguns dos meios de comunicação social. Não vem para aqui a questão dos milagres exigidos pela Congregação para a Causa dos Santos. Adianto só que, com todo o respeito pelas disposições da Igreja, julgo sinceramente que tais milagres não deviam funcionar como condição para a glorificação dos cristãos. Além de saberem a tentação de Deus, acontece que muitos deles não convencem. Já D. António Ferreira Gomes, nas célebres “Cartas ao Papa” põe clara e corajosamente esta questão. A Igreja, quero dizer mais propriamente, a Comunidade dos cristãos sabe bem quem é santo e merece, por isso, ser glorificado. Ao que vêm tantos exames aos escritos, ao que vem a audição de tantas testemunhas, ao que vem a perscrutação dos sentimentos do povo relativamente a este ou àquele cristão que viveu e morreu com fama de santidade? O nosso Frei Nuno há muito tempo que estava canonizado pelo povo. Quem olha atentamente para a nossa História do século XIV não terá dificuldade em reparar que Portugal estava a perder a alma, estava a fugir de Portugal. E foi o Condestável D. Nuno que deu Portugal a Portugal, que fez com que Portugal se reencontrasse e pudesse assim perspectivar futuro. Sem D. Nuno, Portugal seria uma apagada lembrança da memória. Se calhar, até seria bom que parássemos um pouco para nos perguntarmos se o Portugal dos nossos dias não andará a fugir novamente de Portugal, se Portugal não andará por caminhos que o levem a perder a sua alma e a sua identidade. Bastaria para tanto pensar em leis que atentam contra a família, contra a vida, contra tantas situações que têm a ver com o humanismo que deveria acompanhar situações de saúde, de trabalho, de educação de justiça, de respeito por valores e tantas coisas mais. Portugal está a afastar-se da sua matriz. Melhor, por razões de falso e perigoso poder, por razões ideológicas e filosóficas, muitos estarão a obrigar Portugal a fugir da sua matriz. Claro que os tempos vão mudando e operam-se transformações profundas na sociedade. O ontem pertence à história e muitas vezes não fica dele senão uma amarga saudade. Mas, o que nos fez e faz não pode mudar. O que nos estruturou e estrutura não pode mudar. Estamos numa hora magnificamente exigente. Oxalá sejamos capazes de a apanhar como se impõe. Manuel Martins, Bispo Emérito de Setúbal

Câmara de Ílhavo adere ao Plano Nacional de Leitura

A Câmara Municipal de Ílhavo (CMI) adere ao Plano Nacional de Leitura (PNL), através de um protocolo com o Ministério da Cultura, numa cerimónia de assinatura agendada para hoje, 30 de Abril, pelas 17.30 horas, na Biblioteca Municipal de Ílhavo (BMI). Com a assinatura deste protocolo, a CMI pretende levar os cidadãos a ler mais e melhor, proporcionando-lhes um maior acesso ao livro e à leitura, desde a primeira infância até à idade adulta. Também se pretende-se promover, de forma mais eficaz, junto das escolas e das famílias, o contacto com os livros e o gosto pela leitura. Entre as várias obrigações, o PNL ficará responsável pelo apoio financeiro durante os próximos três anos aos Jardins-de-Infância e escolas dos 1.º e 2.º ciclos do Ensino Básico do concelho, com vista à aquisição de livros destinados a leitura orientada nas salas de aula e nas demais actividades curriculares. Ainda foi agendada a assinado de um protocolo de Cooperação e Constituição da Rede de Bibliotecas de Ílhavo (Biblioteca Municipal e Bibliotecas Escolares). A Rede de Bibliotecas de Ílhavo é oficialmente criada por protocolo assinado, entre a CMI, os Agrupamentos de Escolas de Ílhavo, Gafanha da Encarnação, Gafanha da Nazaré, a Escola Secundária da Gafanha da Nazaré, a Escola Secundária Dr. João Carlos Celestino Gomes e o Centro de Formação da Associação de Escolas dos Concelhos de Ílhavo, Vagos e Oliveira do Bairro (CFAECIVOB), na BMI, enquanto sede do Serviço de Apoio às Bibliotecas Escolares (SABE). Este é sem dúvida o culminar de uma realidade, baseada num trabalho contínuo de persistência, dinamização, promoção e divulgação de práticas que permitem dotar os seus leitores e utilizadores de competências nos domínios da informação e da literacia. Ao longo destes últimos anos, o trabalho em equipa aproximou as nossas Bibliotecas Escolares e a Biblioteca Municipal na dinamização e promoção da leitura como factor primordial das aprendizagens. Na mesma data, foi apresentado o Cartão de Utilizador RBI, a ser implementado no início do próximo ano lectivo, que permitirá, a todas as crianças e jovens que frequentam as Jardins-de-Infância e Escolas do Concelho de Ílhavo, aceder em simultâneo ao serviço de empréstimo nas Bibliotecas Escolares e na Biblioteca Municipal. Fonte: CMI

Marcos Cirino desfia recordações

Marcos Cirino desfia recordações
com muito amor à Gafanha da Nazaré

 
Marcos Cirino da Rocha, 87 anos, gafanhão de gema, vibra com as coisas da Gafanha da Nazaré. Conhece muito da sua história. Evoca com entusiasmo os assuntos em que se envolveu. Conta pormenores que escapam a muito boa gente. E insiste na ideia de que há pessoas que nos querem prejudicar, decerto marcado por tempos e comportamentos idos. Fomos ouvi-lo um dia destes. Entrámos em sua casa e vimos miniaturas de barcos de várias épocas. Todos construídos por si. “À escala”, sublinha. Mas também vimos inúmeras pastas de documentos e processos relacionados com antigas, e talvez recentes, reivindicações e polémicas.

Fernando Martins

Leia toda a entrevista aqui

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Clube dos incorruptos, uma iniciativa com actualidade

O diário francês “Le Monde” de 22/23 de Março, dava conta de uma iniciativa original, a ganhar relevo nos tempos que correm, que, pelos seus objectivos, merece aplauso e, quiçá, seguidores onde vai grassando a peste tão nefasta da corrupção. A iniciativa deste Clube deve-se a Eva Joly, magistrada franco-norueguesa, que teve de instruir o famoso processo ELF. Um processo que envolvia pessoas do seu país e de África, ligadas, de um e de outro lado, ao poder político e ao poder económico. Os membros do “Clube dos Incorruptos” são magistrados que sentiram necessidade de pôr em comum as suas preocupações ante o dever grave, um verdadeiro desafio, de enfrentar e julgar casos de alta corrupção e de apreciar dossiers sobre o tema, que envolvem pessoas e entidades influentes, famosas e socialmente intocáveis. Reúnem-se com regularidade para confrontar métodos usados e resultados obtidos, e para se apoiarem, mutuamente, nesta tarefa, quase sempre ciclópica e difícil, que, muitas vezes, termina sem resultados positivos, mesmo quando tudo já aparecia mais ou menos claro. A corrupção, em alguns países de África, concluiu Eva Joly, quase sempre com raízes no Ocidente, tem posto em causa a democracia de muitos deles e até a sua sobrevivência como países. Manietado pela sofreguidão e cupidez de alguns poderosos locais, com apoios interessados, dentro e fora, e grande capacidade para mostrar inocência onde as culpas são evidentes e os resultados não escapam nem aos cegos, o papel da justiça é sempre difícil e muitas vezes inglório. Entre os membros do Clube fazem-se confissões, individuais e de grupo, que, pelo seu teor e gravidade, merecem uma especial atenção por parte de quem pode, a nível internacional, ter alguma interferência positiva, se acaso ainda existe alguém, pessoas ou instituições, com tal poder e influência. São as confissões dos magistrados, pelo menos, um alerta urgente para outros países e nações, onde iguais problemas se vão avolumando e não são menores as dificuldades encontradas para lhes fazer frente. O longo artigo do “Le Monde”, duas páginas recheadas, fala, por parte dos magistrados do Clube, de confissões dolorosas em virtude de combates perdidos, de ameaças e tentativas programadas de homicídio, de impossibilidade pessoal e de familiares de deslocação em privado, porque os conhecidos corruptos, quando sob investigação e juízo, lhes aparecem em qualquer canto, não pela preocupação de os saudarem ou de lhes proporcionarem auxílio. A corrupção, que sempre existiu em graus diferentes, muitas vezes encoberta e outras sem que seja possível ver todo o seu alcance, torna-se cada vez mais grave e cresce em espiral, quando os valores éticos se evaporam e à justiça faltam meios ou determinação para a enfrentar, anular os seus resultados ou minimizá-los, no possível. Ela cresce, também, por contágio. O fascínio do dinheiro e do poder, dois aliados habituais, é tentação que se espalha e em que se cai, a muitos níveis. Atenta a novas oportunidades, a grande corrupção ocupa o espaço da traficância, não apenas das drogas geradoras de toxicodependência, mas também de influências, espreita a permissividade do poder, pouco atento ou interessadamente desatento, goza dos favores de pessoas, locais e circunstâncias, tanto do poder absoluto, que também ele é, normalmente, corrupto, como das democracias, apáticas e sem espinha dorsal, embevecidas com a força dos resultados eleitorais, que depressa esquecem o que significa a promoção do bem comum, a justiça social e a defesa, corajosa e persistente, dos direitos individuais e colectivos. A corrupção não envolve só sofreguidão de dinheiro. Também se faz pela ânsia do poder. Mas a meada, por certo, tem duas pontas. António Marcelino

Seja festa Académica!

1. Esta quadra do ano é assinalada, de norte a sul do país e também em Aveiro, pelo espírito festivo dos estudantes, no seu diálogo com a sociedade envolvente e na manifestação pública da força das academias. Como se diz, tendo de haver tempo para tudo, trata-se de uma época saudável de festa, de encontros partilhados nos mais variados níveis, da cultura ao desporto, da música aos tradicionais cortejos académicos, passando pelos festivais de Tunas (o magnífico FITUA!), entre nós concluindo a Semana Académica com o momento celebrativo da bênção dos finalistas. Cada momento de festa, como cada dia, merecerá a melhor atenção; mas não poderá nenhum momento isolado infeliz diminuir o sentido comunitário das festas académicas. 2. O olhar crítico e derrotista poderá dizer que “não estamos em tempo para festas”. Com esta visão menor nunca se avançaria nada para lado nenhum. Tudo na justa medida terá o seu lugar e esta expressão de tradição típica nossa acaba por ser um sinal de vitalidade das gentes das próprias comunidades académicas. Pode-se aplicar a mesma mensagem das festas populares dos nossos lugares e nas nossas gentes: quando já não existir sequer motivação para estas realizações será sinal de comunidade sem laços comuns, desagregação do sentido de unidade colectiva. A festa nunca dependerá (essencialmente) da fartura ou crise económica, mas da vontade e motivação das pessoas e este é um valor inestimável a preservar. Querer será poder! 3. O rasgo de criatividade que percorre o país nas festividades dos estudantes do Ensino Superior também poderá ser um “ar fresco” de estímulos positivos e enérgicos… Diria o outro que de nada vale o “chafurdar” na crise! O tempo da vida é dom único, o valor mais precioso do mundo. Um tempo de pausa convivial nunca foi nem será incompatível com o rigor e o compromisso dedicado, mas também um desafio de frescura e qualidade lançado a todos. Aveiro é nosso e há-de ser! Assim seja! Alexandre Cruz

Pescadores na Praia da Barra

No molhe da Meia-Laranja, mesmo com céu enevoado, os pescadores não faltaram. E eram bastantes, um pouco por todo o lado. Na minha passagem, apenas vi um peixe a sair da água, preso ao anzol. Mas os pescadores lá estavam, pacientemente, à espera da sorte, ou do saber.