sábado, 7 de março de 2009

Universidade de Aveiro: Fé e Ciência em debate

António Marcelino e Carlos Fiolhais

ATÉ ONDE PODE IR O INFINITO?

Na próxima quarta-feira, 11 de Março, pelas 17 horas, na Livraria dos Serviços de Acção Social da Universidade de Aveiro, vai haver debate sobre “Até onde pode ir o infinito?”. As intervenções principais ficam a cargo do Prof. Carlos Fiolhais, Físico da Universidade de Coimbra, e de D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro. Este debate é aberto a toda a comunidade.

Um Poema de Eugénio Beirão

ANSEIO Anseio a frescura de cada manhã e o orvalho de cristal a brilhar na planura cor de romã. Anseio a luz ressuscitada em cada madrugada, o calor reconfortante e a face iluminada do sol de diamante. Anseio a plenitude do corpo e da alma, a alegria perfeita dos sentidos, o céu gostoso da mágica calma e a volúpia dos sonhos consentidos. Eugénio Beirão In Pétalas de Rubis
Ilustração de Afonso Henrique

SÃO PAULO E AS MULHERES

Nos casamentos, constato com satisfação que as noivas rejeitam como leitura da Missa um dos textos propostos, da Carta aos Efésios, atribuída a São Paulo. Diz assim: "As mulheres submetam-se aos seus maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher. Como a Igreja se submete a Cristo, assim as mulheres, aos maridos, em tudo." Na Carta aos Colossenses, também se lê: "Esposas, sede submissas aos maridos, como convém no Senhor." E na Primeira Carta a Timóteo: "A mulher receba a instrução em silêncio, com toda a submissão. Não permito à mulher que ensine, nem que exerça domínio sobre o homem, mas que se mantenha em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva." Na Primeira Carta aos Coríntios: "As mulheres estejam caladas nas assembleias, porque não lhes é permitido tomar a palavra e, como diz também a Lei, devem ser submissas." Aí estão os textos fundamentais a partir dos quais São Paulo foi julgado como misógino e responsável pela situação de submissão das mulheres na Igreja e na sociedade. No entanto, tornou-se hoje claro que este preconceito repressivo e negativo é injusto. Quando comparamos a imagem que Paulo tem da mulher com a dos seus contemporâneos, concluímos mesmo, como escreve Stephen Tomkins, que Paulo é dos "escritores mais liberais da Antiguidade e que dificilmente merece uma crítica tão dura". Na Grécia e em Roma, as mulheres não eram consideradas pessoas, não tendo, portanto, direitos. "Calar é a grande honra de uma mulher." Aristóteles escreveu que "o homem é por natureza superior e a mulher, inferior; ele domina e ela é dominada". Os homens judeus agradeciam diariamente a Deus não os ter criado mulher, e o testemunho de uma mulher não era aceite em tribunal. Lê-se no livro bíblico de Ben Sira: "Menos dano te causará a malvadez de um homem do que a bondade de uma mulher." São Paulo fez uma experiência avassaladora, que transformou, de raiz, a sua vida: Deus não abandonou à morte Jesus crucificado. Que vale um morto? Que vale um crucificado? Então, se Deus o ressuscitou, não foi pelas suas qualidades. Assim, Deus está do lado dos abandonados e excluídos e, portanto, todos valem diante dele. Paulo intuiu e experienciou a dignidade infinita do ser humano, seja quem for. Daí ter escrito esta palavra decisiva, na Carta aos Gálatas: "Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo." E tirou as conclusões práticas. Formou comunidades cristãs carismáticas. Reuniam-se em casa de um cristão para celebrar a Eucaristia. Quem presidia era o dono ou dona da casa, de tal modo que nada impede pensar que, no princípio, mulheres presidiram à celebração eucarística. O facto de Paulo se dirigir também a mulheres casadas com não cristãos indica que as recebia na comunidade enquanto autónomas, como os homens, independentemente dos maridos. No último capítulo da Carta aos Romanos, saúda 16 homens e 8 mulheres. Lá aparecem Febe, que "também é diaconisa na igreja de Cêncreas"; Priscila, "minha colaboradora"; Maria, "que tanto se afadigou por vós"; Trifena e Trifosa, "que se afadigam pelo Senhor"; "a minha querida Pérside, que tanto se afadigou pelo Senhor". Merece menção especial uma apóstola: Júnia, "tão notável entre os apóstolos". Do confronto destes textos, conclui-se que Paulo não pode ser acusado de misoginia. O que se passa é que das 13 cartas que lhe são atribuídas, ele só é autor de 7: Primeira aos Tessalonicenses, 2 aos Coríntios, aos Filipenses, a Filémon, aos Gálatas, aos Romanos. As outras 6 - aos Colossenses, aos Efésios, Segunda aos Tessalonicenses, 2 a Timóteo, a Tito - são pseudopaulinas, isto é, dependem da "escola paulina", mas ele não é o seu autor. Ora, os passos citados, exigindo a subordinação e o silêncio da mulher, pertencem às pseudopaulinas. Quanto ao passo da Primeira Carta aos Coríntios, aceita-se hoje que é uma interpolação posterior, pois só assim se percebe que antes refira "a mulher que reza e profetiza". O comportamento misógino e subordinado da mulher não se deve a Paulo, mas a outras lutas e influências.
Anselmo Borges In DN

sexta-feira, 6 de março de 2009

Olimpíadas do Ambiente

Jorge Manuel de Sousa, da Gafanha da Nazaré,
entre os 200 melhores de todo o País
As Escolas Básica dos 2.º e 3.º Ciclos José Ferreira Pinto Basto de Ílhavo e Secundária da Gafanha da Nazaré participam neste importante desafio Ambiental Nacional, cuja edição, de 2009, conta com mais de 38 600 alunos inscritos. Os resultados da 1.ª eliminatória colocam o aluno da Escola Secundária da Gafanha da Nazaré - Jorge Manuel N. M. de Sousa - entre os 200 melhores de todo o País. Este evento tem como objectivos motivar nos Jovens e Docentes de todas as Escolas Nacionais uma Educação preocupada com o Desenvolvimento Sustentável, de forma a aprofundar o conhecimento sobre a situação ambiental Portuguesa e Mundial e a desenvolver ainda competências na investigação e possível resolução dos problemas ambientais locais, adoptando comportamentos mais amigos do Ambiente. Fonte: CMI

Derrapagem na ampliação do Aeroporto Francisco Sá Carneiro

A ampliação do aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, demorou o dobro do tempo a ser dada por concluída, havendo uma derrapagem de 100 milhões de euros, qualquer coisa como 32 por cento do valor-base. Chama-se a isto, em meu entender, um escândalo que, parece, faz parte da nossa "cultura" empresarial, a nível das Obras Públicas. Quem denunciou a situação foi o Tribunal de Contas. Mas que é "norma", em Portugal, lá isso é. E o mais engraçado é que ninguém é culpado. Será que os nossos técnicos, os que fazem os projectos e calculam os custos e o tempo de execução, ainda não aprenderam, com rigor, a fazer contas? Ou há manobras para alguns ganharem mais uns dinheiros?
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NB: Entretanto, o ministro Mário Lino já veio esclarecer que tudo isto se ficou a dever a novas obras e alterações, em relação ao projecto inicial. Pergunta-se: Por que razão não se pensou tudo de uma vez, para se evitarem especulações e dúvidas? E por que motivo não informaram, atempadamente, o Tribunal de Contas?
FM

D. Nuno Álvares Pereira: Apelo a uma cidadania exemplar

A vida de D. Nuno é força de mudança
"Vivemos em tempo de crise global, que tem origem num vazio de valores morais. O esbanjamento, a corrupção, a busca imparável do bem estar material, o relativismo que facilita o uso de todos os meios para alcançar os próprios benefícios, geraram um quadro de desemprego, de angústia e de pobreza que ameaçam as bases sobre as quais se organiza a sociedade. Neste contexto, o testemunho de vida de D. Nuno constituirá uma força de mudança em favor da justiça e da fraternidade, da promoção de estilos de vida mais sóbrios e solidários e de iniciativas de partilha de bens. Será também um apelo a uma cidadania exemplarmente vivida e um forte convite à dignificação da vida política como expressão do melhor humanismo ao serviço do bem comum."
Fonte: Nota Pastoral dos Bispos Portugueses

Secundária de Ílhavo: Semana da Leitura

Na Escola Secundária de Ílhavo encerra hoje a Semana da Leitura. Iniciativa louvável, essencialmente por poder estimular o gosto pelos livros. Quando se sabe que as pessoas, sobretudo os jovens, estão mais voltadas para as novas tecnologias de comunicação (NTC), é bom saber que há escolas que insistem em educar para a leitura. E se é verdade que as NTC oferecem enormes saberes, de mistura com lixo, também não é menos verdade que os livros ainda são, julgo eu, a primeira e mais consistente fonte da cultura e da aprendizagem. Daí, portanto, o mérito de projectos como este.
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Na Revista LER, de Março, António Barreto aborda a questão dos livros e da leitura. Assim:
António Barreto não poupa nas palavras quando fala de uma das principais bandeiras do governo de José Sócrates: o computador Magalhães. «Da maneira como o Governo aposta na informática, sem qualquer espécie de visão crítica das coisas, se gastasse um quinto do que gasta, em tempo e em recursos, com a leitura, talvez houvesse em Portugal um bocadinho mais de progresso. O Magalhães, nesse sentido, é o maior assassino da leitura em Portugal», considera o sociólogo e presidente da nova Fundação Francisco Manuel dos Santos, em entrevista à revista LER, nas bancas a partir de amanhã. «Chegou-se ao ponto de criticar aquilo a que chamaram “cultura livresca”. O que é terrível. É a condenação do livro. Quando o livro é a melhor maneira de transmitir cultura. Ainda é a melhor maneira. A coroa de todo este novo aparelho ideológico que está a governar a escola portuguesa – e noutras partes do mundo – é o Magalhães. Ele foi transformado numa espécie de bezerro de ouro da nova ciência e de uma nova cultura, que, em certo sentido, é a destruição da leitura.» Temas da longa conversa com Carlos Vaz Marques foram também as suas primeiras leituras, a «tentação do romance», os novos projectos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, as temporadas em Oxford (onde lê ficção «para a desbunda»), a relação com Portugal a partir da década de 60 («tive alturas em que Portugal me interessava e vivia frustrado por não poder voltar e houve momentos em que era exactamente o contrário e eu não queria nem ouvir falar de Portugal. Cheguei mesmo a pôr a hipótese de me naturalizar suíço») e a radiografia da escola portuguesa: «Passaram 50 anos e, por razões diferentes, a escola hoje destrói a leitura. Seja com a análise estruturalista linguística dos textos, seja pela ideia de que escola tem de ser mais a acção e tem de ser mais projecto e mais mil coisas que fazem a nova escola. A leitura na escola é a última das preocupações.»

Solidariedade no Arciprestado de Ílhavo

Casa da Criança em Ílhavo
PARA UMA SOCIEDADE MAIS FRATERNA
A partir de hoje e até domingo, vai decorrer uma acção com a marca da pedagogia social. Uma equipa do Arciprestado de Ílhavo, constituída por 60 jovens, vai participar em tarefas de solidariedade, junto de diversas instituições do concelho. O mérito, como facilmente se compreenderá, está em proporcionar a alguns jovens uma experiência decerto muito enriquecedora para todos. Quem dera que iniciativas como esta viessem a repetir-se, no sentido óbvio de levar os jovens, e não só, a olharem o mundo com o espírito da solidariedade, rumo a uma sociedade mais fraterna. A acção termina no domingo, na igreja matriz da Gafanha da Nazaré, com uma eucaristia, às 11 horas.

O TEMPO QUE PASSA E A MEMÓRIA QUE PERDURA

Alguém, já nem sei quem, escreveu que “uma pessoa só morre depois de morrerem todos aqueles que a conheceram”. É este um dizer de sabedoria normal, que faz com que perdure, para além do tempo e capaz de o vencer, a memória do coração. Aquela que sempre guarda, envolvidos em amor, os que fazem parte da mesma vida ou que partilharam os mesmos ideais. Como se fala hoje muito das doenças do coração e das suas consequências, vamos encontrando razões para perceber que também ele vai perdendo a memória e, deste modo, deixa morrer muita gente antes de ela se ter despedido de vez. É o mundo incontável dos não-amados, dos idosos a reclamar cuidados e a exigir despesas sem lucros, das vítimas, como tantas crianças, depressa esquecidas por decisões loucas. São ainda todos os que vivem do outro lado da barricada, se evitam na vida e a quem se pôs um rótulo definitivo de cariz politico, religioso ou qualquer outro, marcado pela desafeição, e de quem de diz, com normalidade, que é como tivessem já morrido…. No tempo actual tudo parece ter referência obrigatória ao económico e ao poder. Quem perdeu cotação nestes campos, põe-se simplesmente de lado ou já morreu. A menos que teime em contrariar, permanecendo vivo, para gáudio de uns e incómodo de outros. Ser incómodo, a qualquer título, hoje é um perigo. Os afectos, as emoções, a liberdade sem peias passaram a ser o mais poderoso fundamento das leis e das relações sociais. Estas vão-se encarregando de aliviar o terreno, para que nem os gerados não nascidos, porque “ainda não são gente”, nem os que já não merecem ser vivos, porque oneram o tesouro e roubam tempo aos apressados, incomodem cada vez manos quem quer ser livre de responsabilidades e, mais ainda, do pesado ónus de ter de amar e de respeitar. O amor, essa dívida nunca paga por quem dele beneficiou! Aqui, entra a memória do coração, grande teimoso que não deixa morrer nem quem já partiu Entra o espaço necessário da gratidão, o reduto sempre aberto do respeito e do apreço, o sentimento maravilhoso de quem diz “nunca morrerás porque eu te amo”. Entra a vida. Só os vivos fazem parte da história e dela continuam eternamente protagonistas. Aos que apenas se olham a si próprios e aos seus interesses, o tempo os leva consigo na onda do esquecimento. Aos que fazem do cuidado e do bem dos outros o seu caminho diário, a vida não os deixa morrer, nem esquecer. Redimem os tempos povoados de egoísmo, servem de estímulo aos que optaram por ser solidários e dar lugar aos outros, com gestos feitos de amor fraterno e de reconhecimento da sua dignidade. A memória apaga-se facilmente, por incómoda e desnecessária, se não é guardada por um coração que sente e persiste em ser lúcido e agradecido. Há pessoas que, da sua memória, resta a placa na rua. Põe-se-lhes, por debaixo, a indicação de quem foram, porque já ninguém os conheceu. Quase sempre homens da política, promovidos por correligionários. Poucas ruas com nome de mulheres. Outras pessoas, que podem nem ter nome nas ruas, serem até de terras, povos e línguas diferentes, os que viveram ontem e vivem hoje bem os conhecem. É o que se passa com quem viveu fazendo o bem, por ele soube dar sentido à história e à sua vida em sociedade. São esses os que nunca morrem. Sempre conhecidos de quem lhes está grato por uma vida que gerou vida, por um testemunho que anima a fazer igual caminho. O tempo apaga tudo, menos a memória do bem, a que o amor deu sentido. Com gestos de bem-fazer, é preciso dar memória ao coração, dar lugar aos que ninguém lho deu. Assim, vale a pena viver, se abre caminho ao alcance de todos, se dá sentido ao tempo. António Marcelino

quinta-feira, 5 de março de 2009

RECONFIGURAR O DESFIGURADO

A arte moderna privilegia a representação do ser humano com figuras fragmentadas e desconexas. Realça o valor do fragmento e mostra o efeito contrastante da desconexão. Deixa intuir a beleza do todo e a harmonia dos conjuntos. Afirma, pela negativa, a necessidade de reconfigurar a pessoa e, nela, com ela e por ela, o mundo e toda a biodiversidade. Atesta na linguagem que lhe é própria a urgência de se criar uma consciência social e política, amiga do ser humano na sua integralidade e favorável ao seu autêntico desenvolvimento. É publicamente reconhecida esta necessidade e proclamada esta urgência. Vozes sem conta e de todos os quadrantes ideológicos e religiosos se erguem e insistem na importância de tomar a sério a situação à beira do limite. Um outro mundo é possível, mundo em que à pessoa humana veja reconhecido o protagonismo a que tem direito e esta o assume como dever de reciprocidade. Reconfigurar o ser humano desfigurado por tantos atropelos que geram adormecimento de capacidades e sentimento de impotência e inutilidade constitui, sem dúvida, um desafio colossal que a todos diz respeito, especialmente aos agentes educativos e aos responsáveis culturais, políticos e religiosos. No processo de humanização, ninguém se pode demitir ou fazer substituir, ninguém deve ocupar o lugar do outro ou impor-se a ele. Cada um é protagonista do seu próprio crescimento que só se faz em relação de reciprocidade com os demais e beneficiando de circunstâncias favoráveis. Cada um afirma-se como porta-voz de todos e do que há de melhor no seu conjunto: o respeito e a estima pela dignidade pessoal; o cuidado recíproco pelos bens que são propriedade gratuita de todos, sobretudo quando os bens são escassos e estão ameaçados; o amor privilegiado aos mais frágeis e indefesos, amor que se faz serviço humanizado, cheio de ternura e solicitude; a esperança consistente, ousada e firme em que um mundo à medida humana é possível. E sendo possível é imperioso que novos valores orientem consciências, presidam a opções, provoquem decisões, originem políticas, reencaminhem comportamentos e atitudes, façam surgir um estilo de vida solidário, confiante, sóbrio, feliz. A começar pela família que por natureza constitui o espaço e a escola em que se faz a primeira educação para este tipo de vida. A interagir com outros dinamismos culturais, lúdicos e religiosos. A acolher informação e a dialogar sobre o "mundo" de sentimentos que provoca. A proporcionar a abertura a novas dimensões. Sempre em nome do ser humano chamado a reconfigurar-se pessoalmente, tendo como referência e modelo Jesus Cristo e os valores que brilham no seu estilo de vida e se vão cultivando, como se de viveiro se tratasse, nas comunidades que lhe são fiéis.
Georgino Rocha