domingo, 28 de dezembro de 2008

Rua Júlio Dinis

Um primo do escritor tinha na GAFANHA 
uma elegante propriedade rural 

A homenagem ao escritor Júlio Dinis, de seu nome de baptismo Joaquim Guilherme Gomes Coelho (1839-1871), é mais do que justa. Autor de romances célebres, dos mais lidos da literatura portuguesa, bem compreendidos pelo povo, figura com propriedade na toponímia da Gafanha da Nazaré. E se soubermos que o romancista andou pela nossa terra e dela falou em termos encomiásticos, então mais naturalmente aceitaremos a razão por que o seu nome é lembrado a toda a hora pelo nosso povo e por quem nos visita. 
A Rua Júlio Dinis começa, podemos dizer, junto ao café Palmeira, quando se sai da Av. José Estêvão para o lado sul, serpenteando a Marinha Velha, até encontrar a Rua António Sardinha. Atravessa uma significativa parte daquele lugar da nossa terra, cujo nome herdou de uma velha marinha de sal que por ali existiu. 
Identificada a rua, que tem à vista o Porto de Pesca Costeira e a ponte que liga às praias da Barra e da Costa Nova, vamos então voltar ao nosso homenageado, autor de romances que nos encantaram na nossa adolescência. A Morgadinha dos Canaviais, Os Fidalgos da Casa Mourisca, Uma Família Inglesa, As Pupilas do Senhor Reitor e Serões da Província, entre outros escritos, mostram-nos uma alma pura e simples, ávida de felicidade.
Como médico que era, facilmente sentiu que a tuberculose pulmonar o minava, condenando-o a uma morte prematura. Procura saúde em ares diferentes, mais sadios, e também esteve na Gafanha. Em 28 de Setembro de 1864, escreveu ao seu amigo Custódio Passos, de Aveiro, como se lê em Cartas e Esboços Literários. E diz: “Aveiro causou-me uma impressão agradável ao sair da estação; menos agradável ao internar-me no coração da cidade, horrível vendo chover a cântaros na manhã de ontem, e imensas nuvens cor de chumbo a amontoarem-se sobre a minha cabeça, mas, sobretudo intensamente aprazível, quando, depois de estiar, subi pela margem do rio e atravessei a ponte da GAFANHA para visitar uma elegante propriedade rural que o primo, em casa de quem estou hospedado, teve o bom gosto de edificar ali. Imaginei-me transportado à Holanda, onde, como sabes, nunca fui, mas que suponho deve ser assim uma coisa nos sítios em que for bela.” Depois, acrescenta, como que a querer dar-nos uma lição: “Proponho-me visitar hoje os túmulos de Santa Joana e o de José Estêvão, duas peregrinações que eu não podia deixar de fazer desde que vim aqui.” 

Fernando Martins

O Nosso Mar

Nós, os da beira-mar, gostamos de ver o nosso mar. Pode não haver nenhum motivo especial, mas essa vontade de contemplação e, por que não dizê-lo?, de êxtase, acontece-nos frequentemente. Hoje, por exemplo, alguém me desafiou para experimentar esse prazer. Compromissos inadiáveis impediram-me a curta viagem que nos separava do oceano. Mas como não fiquei de consciência tranquila, aqui estou a manifestar a necessidade que sinto de o olhar de perto e de frente. Não fui até ele, mas peguei numa foto, há tempos fixada pela minha digital, e deste modo manifesto o sabor que o nosso mar me dá. Nos dá.
FM

Em tempo de festas

Serviço Cívico Europeu
A Comunidade Ecuménica de Taizé inicia hoje, em Bruxelas, o Encontro de Jovens de toda a Europa. Mais de 40 mil vão viver, até ao dia 1 de Janeiro de 2009, uma experiência de fé, de oração e de comunhão, em torno do tema “Por uma Europa Aberta e Solidária”. Foi já anunciada, como tarefa a seguir, a proposta da implementação do serviço cívico europeu, como forma de levar à prática iniciativas de solidariedade entre povos e nações. Os jovens entendem que, face à crise económica que se vive, à escala mundial, importa criar mecanismos de auxílio para apoiar os países e as pessoas mais pobres. Ainda sugerem, com toda a generosidade que caracteriza a juventude capaz de pensar, que, à mundialização da economia, se associe uma mundialização da solidariedade. Em tempo de tantas festas, carregadas de nadas, onde muitos jovens e menos jovens se afogam no efémero de prazeres egoístas, importa lembrar, aqui e agora, que, felizmente, ainda há quem queira pensar e viver de forma diferente. FM

Suave Aparição

Eu sou AQUELE...
Desde que fora assolada por violenta tempestade, na sua vida, procurava, afanosamente, a sua alma gémea, a sua companhia de jornada, o seu alter ego! Desde os píncaros gelados e puros do Kilimanjaro, onde a atmosfera rarefeita condiciona a existência de vida, até aos pântanos nauseabundos da WWW, onde a diversidade biológica é surpreendente, tudo fora analisado e estudado, minuciosamente! Se no primeiro lugar, mal deparara com algum exemplar da espécie humana, no segundo, pululavam aos magotes, atropelando-se e “chafurdando” no lodo! Dalila, empurrada para uma solidão forçada, ainda acreditou que a Divina Providência a recompensaria por todo o seu empenho e esforço, na construção de caminhos úteis. Afinal, a vida havia-lhe demonstrado que são os mais ousados, os mais hábeis que singram na vida! Serão? Não se arrependera, no entanto, de ter conduzido toda a sua vida, com abnegação e espírito de sacrifício! Deus, que tudo ouve e tudo vê, haveria de a recompensar. Deixava fluir os dias, e numa atitude de dádiva aos outros, repartia-os, entre as suas atribuições profissionais e os seus hobbies que lhe preenchem as ânsias da alma. Era neste cenário que se preparava para a vivência de mais um Natal. Sentia uma alegria genuína, uma serenidade, há muito arredia, e a sua casa era disso um sinal bem evidente. Luzes multicores, acordes natalícios, numa ornamentação colorida, em amplexo envolvente, recebiam as visitas e os amigos, nessa quadra calorosa. Já pela noite dentro, depois de satisfeita a curiosidade das prendas, quando se preparava para ir assistir ao ritual da missa do galo, eis que se abre a porta, lenta e suavemente... Uma luz diáfana envolvia uma figura resplandecente, que balbuciou: - Estou aqui! Eu sou o J... o Jesus... o José, o Jorge, o João... aqueles que, nas procelas da vida, estiveram presentes e nunca te desampararam. Dalila teve um rebate... Aquele... demarcava-se dos outros, daqueles... que, antes de estenderem um braço, já o outro apresentava o orçamento! Sou... Aquele que, quando te sentias desamparada, a calcorrear, sozinha, os caminhos da vida, eram as minhas pegadas que vias, nos sulcos da areia, pois pegara em ti ao colo! Mª Donzília Almeida 21 de Dezembro de 2008

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 110

FÉRIAS
Caríssima/o: Logo que o Professor se despedia, era uma corrida desenfreada para a Borda que nos atraía qual íman benfazejo: naquelas águas transparentes, nos moliços verdes, nas pedras lamacentas, nos miopores, nos macios, nas Portas d'Água, na Cambeia, no Paredão Arrunhado, no Esteiro Pequeno e no Grande, no Jardim Oudinot e em toda a zona envolvente residia agora o nosso novo mundo de estudo e de experiência. A roupa ia sendo desenfiada à medida que corríamos para o Esteiro que nos apanhava já descontraídos e na mais aferroada das competições nas travessias e mergulhos. E as pescarias? Não havia pedra que ficasse por virar e o cesto ia-se enchendo...Os robalitos também não deviam estar muito satisfeitos: em cada maré apanhávamos algumas dezenas... A serradela levava cá uma destas tareias que nem vos conto! É que para iscar os anzóis era precisa muita e nós lá andávamos pelo lamaçal em busca dos melhores sítios (a lama mais rija e areenta com muitos buraquinhos como que a dizer-nos que as bichas estavam lá por baixo à nossa espera... era só dar a cavadela, virar e, rápidos, apanhá-las pelas cabeças e puxá-las sem as partir!...) Dias e dias se passavam entre a ria e o jogo da bola; era um corropio e uma animação, apenas e só interrompidos quando um ralhete da Mãe nos chamava para tomar conta de um irmão mais pequeno! Oh, céus! Grande desconsolo... Por vezes, os mais velhos permitiam que assistíssemos aos seus jogos, mas tínhamos de estar caladinhos como cordeiros mansinhos: nem pio! O mais animado era o jogo do xui! Claro, na Cambeia, só os mais velhos estavam autorizados a nadar; os mais novos podíamos dar umas pajadelas mas só se um irmão mais crescido rondasse por perto. Entretanto, o tempo passava muito depressa, tão rápido que já não se sabia quais eram os trabalhos marcados para férias e até o poiso dos cadernos e dos livros se foi... Mesmo, mesmo no último dia, lá se corria a casa de companheiro cuidadoso e num lufa-lufa apertadinho tudo ficava em ordem ... Uf! [Agora com o magalhães não há o perigo de perder o TPF... Há que aproveitar as vantagens...] Não esqueço que alguns e algumas passavam umas férias amarguradinhas sempre atrás do rabo da vaca, na rega, até esvaziar o velho estanca-rios ... e em todos os trabalhos agrícolas próprios da época; de vez em quando lá davam uma escapadela para integrar o nosso grupo de natação no Esteiro! E por estes lados aproveitamos a escapadela para desejar um fim de ano à nossa maneira e que seja o prenúncio de um ANO NOVO repleto de saúde e de tudo o que de melhor a vida nos pode reservar.
Manuel

A Família

PRESENTE COM FORÇA DE FUTURO
O ser humano é familiar por natureza. Começa na família de sangue e vai crescendo em horizontes progressivos de toda a humanidade e, sendo crente, da própria religião a que vem a aderir. Sempre a família o acompanha, ainda que seja como nostalgia de a haver perdido ou a de verificar que as regras pedidas pelo coração estão a ser alteradas. Toda a família humana cria um estilo de vida relacional típico que facilita a cada membro ser ele mesmo, ganhar identidade própria, desenvolver a sua personalidade, expandir as suas capacidades, buscar espaços para a sua realização integral. Este crescimento vai-se fazendo de muitos modos, sendo o mais básico e comum a relação recíproca, a de ser amado e aprender a amar, a de dialogar partilhando emoções e experiências, a de receber e dar confidências, a de gerar certezas e enraizar convicções. Emerge assim, condicionado também por outros factores, um tipo de pessoa capaz de se afirmar perante outras e de aceitar benevolamente o que são e como são, consentindo nas diferenças e procurando dar-lhes harmonia construtiva. Sem uma personalidade estruturada nas suas diversas funções e em harmonia com as demais, dificilmente o companheirismo e a vizinhança se desenvolvem, as associações de convivência e lazer, de cooperação e reivindicação, de crenças e religiões encontram a consistência indispensável para estar ao serviço do bem comum. Sem consistência, irrompe a insegurança e a fragilidade, o medo da aventura e o risco da surpresa frustrante. Sem consistência, nem a liberdade alcança os seus voos atraentes e sedutores próprios dos espíritos desinibidos face à verdade e à sua aceitação incondicional. A família, alicerçada na verdade do seu ser, é um valor escolhido livremente que exige cultivo constante. Como os outros valores. Como as árvores de rega. Pode assim atingir uma qualidade de vida em sintonia com as aspirações mais profundas e constantes do coração humano. Pode assim construir-se como uma história de vivências e recordações, de envelhecimentos progressivos, de memórias inesquecíveis, de sonhos e expectativas, de cumplicidades aliciantes, de amizades confiantes. O estilo de vida familiar facilita ou dificulta o crescer do seu ser e o afirmar da sua verdade. Neste vaivém, não diminui, desaparece ou se destrói aquela realidade que, à maneira de sonho ideal, aumenta a apetência e aguarda realização. Uma família, para quem a vê com olhos de fé cristã, emite sinais da presença de Deus, espaço da realização do seu amor, fonte de vida em relação, oportunidade especial de encontro e comunhão. Não sendo a única nem frequentemente a mais publicitada, é certamente a mais válida e qualificada escola de educação e humanização, a melhor configuração do espaço de partilha de experiências de vida, a mais promissora e eficaz força de esperança no futuro. Georgino Rocha

sábado, 27 de dezembro de 2008

IDOSOS ABANDONADOS

Francisco José Viegas, escritor e director da revista LER, afirmou, na sua pequena mas oportuna crónica do Correio da Manhã, transcrita depois para o seu blogue, A Origem das Espécies, o seguinte, que aqui ofereço aos meus amigos, para reflexão:
"Segundo parece, o 'jantar de consoada' é cada vez mais encomendado de fora ou servido nos hotéis. Nas sociedades tradicionais, as festas tradicionais são essencialmente domésticas, caseiras, familiares – e Portugal está a mudar de hábitos. Não vem daí grande mal, a não ser a revelação de que as pessoas já não sabem nem gostam de cozinhar. Ou não têm tempo para isso, porque trabalham muito. Também não têm tempo para os seus velhos, e isso é mais grave: por esta altura, há famílias que entregam os seus velhos nos hospitais e dão, em troca, números de telefone falsos para não serem incomodados. Uma sociedade sem generosidade nem compaixão, fria e sem paciência – e com vergonha dos seus velhos, que incomodam e relembram que todos morremos e envelhecemos. É um retrato abjecto."

INVERNO

Assumindo como indiscutível que todas as Estações do Ano têm o seu encanto e a sua beleza, não quero deixar de assinalar, aqui, essa verdade, que sempre me acompanhou na vida. Desde tenra idade. Eu até costumava dizer, como ainda agora digo, que um dia de chuva não deixa de ser belo, tanto quanto nos permite saborear o aconchego da nossa casa e dos nossos recantos dentro dela. Ouvindo a chuva a bater nas vidraças, enquanto se lê um bom livro ou se ouve uma música melodiosa, sentimos um não sei quê que nos faz olhar para o nosso interior, quantas vezes em busca de sonhos à cata de verem a luz do dia. Hoje sinto isso, impedido de sair com uma constipaçãozita arreliadora. Por isso, aqui desta minha tebaida, vendo o sol muito tímido coado pela vidraça e tecido pelos ramos hibernados da árvore, gozo o prazer de alimentar os meus anseios.
Bom fim-de-semana para todos. Fernando Martins

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM

Há 60 anos, exactamente no dia 10 de Dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou em Paris a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Havia precedentes. Por exemplo, a famosa Charta Magna libertatum - a Magna Carta -, de 1215. Mas ela começa assim: "Estas são as demandas que os barões solicitam e o senhor rei concede", acabando, portanto, por abranger apenas os "homens livres". A Declaração de Direitos (Bill of Rights) do Bom Povo de Virgínia, de 1776, já reconhecia os direitos dos indivíduos enquanto pessoas, mas não se estendia a todos, pois não incluía os negros, considerados "uma espécie inferior". Em 1789, a Assembleia Nacional Francesa promulgou a célebre Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, mas este Homem era ainda só o varão branco e proprietário. Na Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclama-se, pela primeira vez, que toda a pessoa humana, independentemente do sexo, condição social, raça, religião, nacionalidade, é detentora de direitos fundamentais, que devem ser respeitados por todos, pois são universais e valem em todo o tempo e lugar. Mas não houve consenso. Oito países abstiveram-se de votar a favor. A Arábia Saudita e o Iémen puseram em causa "a igualdade entre homens e mulheres". A África do Sul do apartheid contestou o "direito à igualdade sem distinção de nascimento ou de raça". A Polónia, a Checoslováquia, a Jugoslávia e a União Soviética, comunistas, contestaram que alguém pudesse invocar os seus direitos e liberdades "sem distinção de opinião política". Entretanto, em 1966, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou o "Pacto Internacional de Direitos Económicos, Sociais e Culturais" e o "Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos", que, para entrarem em vigor, precisariam de ser ratificados pelo menos por 35 países membros, o que só aconteceu dez anos mais tarde. Embora a sua violação continue uma constante, como permanentemente informa e denuncia a Amnistia Internacional, há uma consciência universal crescente dessas duas gerações de direitos - civis e políticos, e económicos e sociais -, a que veio juntar-se uma terceira geração, cujos titulares não são os indivíduos, mas os povos, como o direito ao desenvolvimento, o direito à autodeterminação, a um meio ambiente sadio, à paz. Continua o debate sobre a sua universalidade, que J.-Fr. Paillard sintetizou nesta pergunta: "Um instrumento ideológico ao serviço do Ocidente", para impor ao resto do mundo a sua visão do bem e do mal? M. Gauchet, por exemplo, disse: "Do ponto de vista de um dirigente chinês, indiano ou árabe, os direitos do Homem são antes de mais os direitos do homem branco a exportar o modelo de civilização que os tornou inteligíveis." No entanto, ainda recentemente - Junho de 1993 -, na Conferência das Nações Unidas sobre os Direitos do Homem, os Estados reafirmaram: "Todos os direitos do Homem são universais, indissociáveis, interdependentes e intimamente ligados." E, considerando a diversidade cultural em conexão com este universalismo, acrescentaram: "Se importa não perder de vista a importância dos particularismos nacionais e regionais e a diversidade histórica, cultural e religiosa, é dever dos Estados, seja qual for o sistema político, económico e cultural, promover e proteger todos os direitos do Homem e todas as liberdades fundamentais." No início de um novo ano, que melhores votos que os do cumprimento pleno destes direitos? Referindo o Preâmbulo da Declaração - "Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo; considerando que o advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar, de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração do Homem..." -, um caricaturista do El País pôs Deus a ler e a exclamar: "Que preâmbulo! Não tinha lido nada tão bom desde o Sermão da Montanha."

Procura...

Há um ser errante em meu destino Que procura, busca um sentido; P’ró Além se sente impelido, Numa vida que tem sido um desatino! Há castelos no ar, nunca alcançados Fímbrias de nuvens passageiras, Emboscadas por vezes traiçoeiras Sonhos não vividos, mas sonhados! E minh’alma sedenta do eterno, Procura em ti esse apoio fraterno Que como bálsamo para a dor existe! Mas a busca vem de longe e não termina Neste espaço sideral não se confina E no fundo do meu ser a dor persiste! Maria Donzília Almeida Dezembro de 2008

Uma pequena pausa para férias

Soube-me bem descansar um pouquinho nesta quadra. A família, com as suas naturais solicitações e com os meus desejos de estar com ela, entre conversas e alegrias quase em fim, levaram-me a ficar um tanto ou quanto ausente do mundo. Esta ausência provocou em alguns amigos uma certa inquietação. Não, meus caros, não estive doente, graças a Deus. E como não estou, aqui volto com vontade de continuar com todos os que me lêem por esse mundo fora.
Fernando Martins

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

SANTO NATAL PARA TODOS

Deste meu recanto, desejo a toda a gente um SANTO NATAL. Que a ternura do MENINO nos ajude a descobrir caminhos de paz, de fraternidade e de amor.

Fernando Martins

Conto de Natal

Deambulo, por uma artéria movimentada, desta Veneza Portuguesa. O tropel dos transeuntes, que, aos magotes, percorrem a avenida, deixa transparecer a ansiedade e o nervosismo que os dominam. Está a aproximar-se o Natal e há que ultimar as compras da época. Aquilo que ainda falta para a, b, ou c. Sim, que o Natal vive das compras, dos desejos, mais ou menos sentidos, de Boas Festas, da troca de prendas, no dia de ceia. O Natal sem prendas não é Natal! Sem consumismo, também não! Fica a gratidão dos comerciantes, que, por estas alturas, engordam, significativamente, as suas receitas. A correria é tanta, que quase se atropelam, como figurantes de um presépio virtual. As ornamentações de Natal, que proliferam por toda a parte: árvores iluminadas da avenida e outras artérias, fachadas dos prédios, e os arcos nas ruas, evocam, nas pessoas, a lembrança de outros natais. Em mim, trazem a nostalgia duma harmonia perdida, o sentir que não é só o consumismo, nem a ornamentação garrida do meio circundante, que nos faz vivenciar o espírito natalício. Natal já se comemora há muitos séculos, desde o nascimento do Menino Jesus, em que as pessoas se agregam e congregam para festejar esse evento. Nos meios rurais, há muitos anos atrás, a comemoração era feita, de modo diverso. As crianças da casa, montavam na “sala do Senhor”, dirigido para a janela, a verdadeira representação do Natal – o presépio. Com a industrialização da sociedade e a e(in)volução dos costumes, esta instituição foi-se perdendo e está, hoje, em agonia. Mas no ambiente rural, a tradição era religiosamente cumprida. A criançada afadigava-se, para produzir o melhor presépio. Iam buscar musgo, à mata nacional, já que ainda não existiam os pinhais particulares. O chão era um tapete de “alcatifa” verde, antecipação da coqueluche das alcatifas. Na fase seguinte, escolhiam criteriosamente as figuras de barro, representativas das personagens religiosas apreendidas na catequese. Os presépios dessa altura eram dignos de um concurso, em que a selecção seria difícil. A imaginação, a criatividade, o espírito laborioso eram dignos de registo. Além do fervor natalício, era uma boa forma de as crianças desses meios rurais, sem acesso nem possibilidade de adquirir as modernices de hoje, darem largas à sua fantasia e espírito criativo. Hoje, com a evolução dos tempos, essas genuínas manifestações de Natal, foram substituídas por ornamentações de toda a espécie, com fitinhas, velas, plissados, luzes multicores e tudo o que a imaginação e a estética podem conceber. É esfuziante e apelativo para crianças e adultos, que sucumbem à intensidade deste jogo persuasivo. Nos dias de hoje, nos subúrbios das grandes cidades, parece que todos sofrem de falta de imaginação. Repetem com perfeição, aquilo que se passa nas grandes urbes. Mas, para que não sejam apelidados de puros imitadores, acrescentaram a essa panóplia de ornamentações, uma figura bizarra, vestida de vermelho e branco. Colocaram-na num sítio bem visível da casa, normalmente na fachada principal, empoleirada em escada tosca, numa posição de alpinista falhado. Será, seu propósito, subir ao telhado e descer pela chaminé para deixar as prendas aos miúdos e graúdos? Mas, vejo-o sempre numa posição estática, não arreda pé! Chegará à chaminé, no dia de S. Nunca à tarde? Desejo-lhe boa viagem e que vá estugando o passo! Tentará isto ser um arremedo da fantasia que a tradição cristã criou acerca da existência das prendas? Recordo, ainda, com saudade, os natais da minha meninice; na véspera de Natal, a pequenada era solicitada a colocar os seus sapatinhos, no borralho (=lareira), por baixo da chaminé. Depois de uma noite de sono, sobressaltada, a imaginar a surpresa que os esperava, logo de manhãzinha, muito cedo, acorriam à cozinha para fazerem como S. Tomé: ver para crer. Ouviam-se risos de alegria e crianças aos pulos de contentes, extravasando tudo o que lhes ia na sua alma pura, de seres angelicais. Tenho bem viva na memória, a cena ocorrida comigo num dia de Natal de há mais de meio século. Ainda ensonada, dirijo-me à cozinha onde encontro o meu pai, que me diz com a voz mais inocente deste mundo: M....D. vai buscar as prendas que o menino Jesus te deixou no sapatinho! Fui acometida do maior espanto do mundo, ao confirmar que aquele pequenino ser, rechonchudo e diáfano, me incluíra na sua lista de entregas ao domicílio! Invadiu-me uma admiração, um espanto, uma gratidão, uma veneração, cujos efeitos, ainda hoje perduram, (no meu relacionamento com as pessoas). Era assim, a entrega de prendas, com beleza e singeleza, às crianças inocentes e puras. Hoje tudo está mudado; as crianças de hoje, habituadas às Playstations, aos gameboys, aos computadores, às pens, etc, desconhecem por completo a existência de outros costumes do passado. Se calhar, o Menino Jesus ainda não se rendeu à invasão das novas tecnologias, vulgo T.I.Cs. Provavelmente, estará a precisar de umas aulitas de Informática, para se actualizar e informatizar o serviço de recepção no Céu. Temos cá na terra, nomeadamente, numa Escola, bem conceituada, no ranking, pessoal altamente competente nesse domínio, uns verdadeiros experts! Só é pena essa escola simpática ficar num lugar recôndito do Planeta Terra: a Gafanha da Encarnação: talvez haja aliciantes para convencer o Menino a vir cá: a proximidade da ria, como local aprazível; a existência de ovos-moles, na Veneza Portuguesa, a curta distância desta vila, à beira ria plantada, aquelas deliciosas sandes de leitão, provenientes duma cidade tão visitada por forasteiros, a Mealhada, que matam a fome, aos professores famintos; é vê-los a digladiar-se para conseguir a maior (!!!). Assim, quando lá entrar alguém, no Paraíso, as formalidades de ingresso, o check in,, serão altamente facilitadas. E quando houver filas, será que há candidatos ao céu, neste inferno de vida em que vivemos? Andamos todos com tanto asco (pecado!) à ministra! A burocracia seria significativamente encurtada. Vêem as grandes vantagens da Informática? E eu que demorei tanto tempo a render-me a essa evidência. Agora, não a dispenso! Tudo veio a propósito de o Menino Jesus, hoje em dia, não trazer prendas, que tenham a ver com esta revolução tecnológica. O presépio, depois de um curto período de agonia, sucumbiu à mudança dos tempos. Em vez de observarmos, pela época do Natal aquelas maravilhas de arte popular, começamos a vislumbras a figura do Santa Claus, sentado, escarrapachadamente no seu trenó, puxado por resistentes renas. Esta imagem é motivo pictórico recorrente, nos cartões de Natal, que, infelizmente, também estão em vias de extinção. Até isso, que, de alguma forma, constituía um incentivo à escrita e à criação artística, quando eram manufacturados pelo remetente, está no seu estertor de morte. Todos esses salutares costumes se estão a perder, dando lugar a formas estereotipadas de mensagens natalícias. Nos dias de hoje, os computadores, mais precisamente a Internet, conquistaram o terreno e quase que detêm o monopólio da comunicação. Daí, a pertinência das siglas: W(ide) W(orld) W(eb). Outra das representações natalícias, que se espalha por toda a parte, é a famosa árvore de Natal. Dentro e fora das casas, na rua e nos estabelecimentos comerciais, de maior ou menor porte, ela aí está, imponente e enfeitada de forma soberba. Sabemos, através dos media, que as várias capitais do mundo, se empenham para alcançar o primeiro lugar no ranking, com o objectivo de conseguirem entrar no Guinness; é esta a meta almejada! Será que o espírito do Natal, apesar de todas as transformações que se deram na sociedade, de toda a evolução tecnológica, de todo o materialismo reinante, ainda consegue resistir, nesta luta desigual? Compete a cada um de nós, fazer com que prevaleça ou desapareça essa tão aconchegante vivência mística. do Natal. Maria Donzília de Jesus de Almeida Natal de 2006

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

NATAL: Notas do Meu Diário

16 de Dezembro Cada dia de Dezembro é mais um passo para a noite ansiosamente esperada. Em torno da mesa, também se sentam, connosco, os que Deus já acolheu no seu seio. Os que, afinal, moldaram com a sua ternura as nossas vidas. Então, vamos recordar estórias de vivências que encheram o saco das muitas prendas que ao longo das nossas existências recebemos e ofertámos. Prendas que nos ensinam o prazer da partilha e o dom da paz. Prendas que nos iluminam os olhares para o diálogo com os outros. Prendas que nos estimulam o sorriso para os que mais precisam de pão e de amor. Prendas que hão-de ser, ainda hoje, se quisermos, um lindo gesto natalício. Fernando Martins

Daqui a pouco, o "Natal do calendário" está aí!

De novo, o brilho do presépio, os cânticos tradicionais, a comida da consoada, a troca de presentes, os desejos de Boas Festas, os (re)encontros familiares, as campanhas de solidariedade em favor dos menos afortunados, entre muitos outros gestos e expressões de vida, levar-nos-ão, através de uma viagem de amor, à singela e determinante recordação que um Menino nasceu para nos salvar ou, se mais não for, que é possível fazer mais e melhor, em nome da justiça e do respeito que cada pessoa transporta, em si mesmo, desde o seu nascimento, ou seja, desde o seu Natal. Por tudo isto, o Natal acontece - de uma forma singular e irrepetível - sempre que alguém nasce e é recebido com júbilo e esperança pelos seus. Não raras vezes, também, nascem aqueles que, tantas vezes, são ignorados, esquecidos ou marginalizados, à maneira dos estalajadeiros que, tal como para Jesus Cristo, teimam em dizer que não têm lugar para o outro na sua hospedaria, que é como quem diz no seu coração. Celebrar a festa da Incarnação do Deus-Menino é, pois, estar atento ao sofrimento daqueles por quem Ele veio ao mundo e por quem ofereceu a sua Vida. Vivemos tempos demasiadamente difíceis e incertos para que alguém se dê ao luxo de não aceitar o Natal como o melhor presente que o Homem pode ter. Saiba - saibamos todos - reconhecer, com humildade e empenho esta dádiva. Vítor Amorim