quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

“REGRESSO AO LITORAL – Embarcações Tradicionais Portuguesas”

Bateira - Areão - Anos 80
No sábado, 29 de Novembro, apesar do frio e da chuva, muitos foram os que marcaram presença no Museu Marítimo de Ílhavo, para assistir ao lançamento de mais um livro de Ana Maria Lopes, “REGRESSO AO LITORAL – Embarcações Tradicionais Portuguesas”. No Museu, por ser esse, a meu ver, o ambiente natural para a apresentação de uma obra digna de qualquer estante, escrita por uma ilhavense e editada pela Comissão Cultural da Marinha. O convite veio do presidente da Câmara Municipal de Ílhavo e do presidente da Associação dos Amigos do Museu de Ílhavo, de que a autora já fora directora. A apresentação desta obra, cuja edição de muito nível valoriza sobremaneira a excelente qualidade das fotografias, muitas delas da autora, ficou a cargo do Capitão-de-Mar-e-Guerra e director do Museu de Marinha, José António Rodrigues Pereira, que sublinhou o valiosíssimo trabalho de campo levado a cabo por Ana Maria Lopes, tendo em vista registar o que é possível, face ao progressivo desaparecimento das embarcações tradicionais portuguesas. A história do seu regresso ao litoral, depois das primeiras pesquisas na década de 60 do século passado, à custa do trabalho de dissertação de licenciatura – O Vocabulário Marítimo Português e o Problema dos Mediterraneísmos –, publicado em 1975, veio a talho de foice, para sublinhar a paixão pelos temas marítimos de Ana Maria. Com o bichinho dessa paixão a inquietá-la, volta na década de 80 para “sua recriação”, e disso guarda, “religiosamente”, tudo o que pesquisa e considera fundamental para a preservação, como registo histórico, do que entende ser de mais importante. Em 2006/2007, regressa ao assunto, para fixar, para a posteridade, as ”mortes anunciadas” das embarcações tradicionais, muitas delas das paisagens da nossa laguna, que a autora conhece como as suas próprias mãos. Importa dizer, nesta altura, em que a obra “REGRESSO AO LITORAL – Embarcações Tradicionais Portuguesas” acaba de ver a luz do dia, que texto e ilustrações são um regalo para nosso enriquecimento pessoal e colectivo. Pessoal, porque passamos a ter acesso a realidades que estavam a diluir-se no tempo; colectivo, porque a partir de agora urge preservar, museologicamente falando, o que for possível. Foi alvitrada a oportunidade de enriquecer as nossas rotundas com elementos decorativos provenientes dos restos das embarcações miúdas que hão-de desaparecer, mais ano menos ano, que outros materiais começam a merecer a preferência dos construtores navais, a par da motorização, cada vez mais frequente, de todo o tipo de barcos. Em jeito de conclusões, a autora adianta, como propostas válidas, “as manifestações exteriores de fé, as chamadas procissões, com a presença de modelos de embarcações tradicionais em andores”, as “regatas, quer lagunares, fluviais, estuarinas ou flúvio-marítimas, tão em moda”, e a “construção autêntica de algumas réplicas navegantes”. Glossário, referências bibliográficas, mapas e índices pormenorizados constituem uma mais-valia para o leitor interessado nesta obra de Ana Maria Lopes. Mas ainda para os que se identificam com o litoral português e com o nosso passado marítimo e lagunar. Fernando Martins

HOSPITAL DE AVEIRO: Cirurgias suspensas por causa do frio

A ministra da Saúde, Ana Jorge, admitiu ontem, quarta-feira, a possibilidade de Aveiro vir a ter um novo hospital. No entanto, pelo sim pelo não, ainda avançou com a hipótese de remodelar o actual. Entretanto, por causa das "temperaturas desadequadas" (Diga-se por causa do frio, sem eufemismos), foram suspensas 13 cirurgias. Estas duas notícias de uma mesma notícia, a visita da ministra ao Hospital Infante D. Pedro, dão para reflectir sobre a situação do nosso hospital, quiçá de outros. A ministra, que deve estar suficientemente informada da realidade do Hospital de Aveiro, ainda não sabe o que fazer. Construir um novo ou remodelar o actual. Sempre ouvi dizer que remendo novo em pano velho nunca faz um fato novo. Será sempre um remedeio. E disso estamos todos fartos. Se é assim, por que razão havemos de andar com remendos, quando precisamos de um hospital que responda, com eficiência, às necessidades dos utentes? Pegue-se nas informações que há e decida-se, com urgência, a construção de um novo edifício, com todos os requisitos compatíveis com as exigências do nosso tempo. Acabe-se com a barracada dos pavilhões e mais pavilhões e faça-se um hospital de raiz! Repare-se no ridículo que a segunda notícia representa. Cirurgias suspensas por causa do frio. Isto nem no terceiro mundo! E se morresse alguém por força da suspensão das cirurgias? Mas, afinal, em que país estamos? FM

A morte e a morte

"Estamos todos bem servidos/ de solidão", escreve Alexandre O'Neill. Não de solidão sozinha; de multitudinária solidão sim, e essa "de manhã a recolhemos/ no saco, em lugar de pão". Porque, ao mesmo tempo que abandonamos os nossos velhos à pior e mais dolorosa das solidões, desaprendemos de estar sós connosco. A verdade é que a maior parte de nós não é boa companhia para si próprio. À nossa volta, nos locais de trabalho, na rua, quantas vezes na família, a humilhação tomou cada canto e esquina das nossas vidas, instalou-se nos comportamentos e nos corações, corroendo, como um cancro, a existência individual e social. Tememos ficar sós porque tememos aquilo que temos para nos dizer, e sentamo-nos diariamente diante da TV como quem fecha os olhos. Há uma novela de Cesare Zavattini cuja personagem planeia durante toda a vida dar uma merecida bofetada ao chefe e morre sufocada por esse desejo nunca consumado e pelo desprezo de si mesmo. Quantas vezes morreram por dentro, antes de se matarem, os polícias e GNR (este ano já são 14) que em Portugal regularmente se suicidam "com a arma de serviço"?
Manuel António Pina, no JN

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

NATAL - 2008

A Prenda
Do Santa Claus, herdara o nome e a destreza física. O primeiro deslizava pelas planícies geladas da Lapónia, num trenó puxado por renas amestradas, numa correria expresso, para entregar as prendas a tempo e horas. O segundo fazia piruetas e cavalos com a sua bicicleta, na rua onde morava, para expandir o excesso de energia que o dominava. Era vê-lo correr, com o rabito levantado, do selim, ou exibir o seu talento de malabarista, levantando a roda da frente, tal qual garboso cavalo, arqueando as patas dianteiras. Era ele um adolescente cheio de vivacidade, com os fartos cabelos louros, caindo-lhe em anéis sobre os ombros, ou presos atrás, em rabo-de-cavalo, com ar desafiador perante a vida e muita contestação reprimida. A vida fora madrasta para ele, em toda a extensão da palavra. A morte prematura da mãe precipitara a desagregação dos laços familiares, que aquela conciliara enquanto viva. O padrasto, remetendo-o para a sua situação de filho “adquirido”, restituíra-o à sua anterior condição de órfão de pai, agora da família inteira. Teria ficado sozinho no mundo, não fora a generosidade, a abnegação e o amor da avó materna, que desfrutava, há bem pouco tempo, a tranquilidade duma reforma bem merecida. Prodigalizava esforços, carinhos, para o compensar da falta prematura e súbita da mãe. Havia passado ainda pouco tempo após a sua morte, quando se avizinhava mais um Natal, na vida do protagonista desta história. Na ânsia de lhe minorar o sofrimento e a falta do amor maternal, a avó inquiriu um dia, o neto, sobre a prenda que gostaria de receber. Foi enumerando coisas que fazem as delícias da criançada e que são habitualmente pedidas ao Pai Natal. Escurecia-se-lhe o rosto, sempre que era interpelado sobre tal questão. O tom pesaroso e sombrio que o acometia evidenciava a nostalgia que perpassava na mente deste jovem. Escusava-se a responder, permanecendo num mutismo prolongado. Um dia, depois de muito instado para dar a resposta, sem medo, sem contemplações, atirou, em desespero: - Quero a minha mãe! A torrente de lágrimas aprisionada no cárcere da tristeza jorrou livremente, inundando o campo que tanto quisera proteger! Essa prenda, nem com toda a fortuna do mundo lha poderia dar! Mª Donzília Almeida 01.12.08

A Nossa Gente: Frei Silvino


Neste mês de Dezembro, em que se celebra mais uma quadra natalícia, caracterizada pelo espírito de festa, família e comunhão de pessoas, dedicamos a rubrica “a nossa gente” ao Frei Silvino Teixeira Filipe. Nascido a 19 de Janeiro de 1954, na freguesia da Gafanha da Nazaré, Município de Ílhavo, o Frei Silvino completou a instrução primária na Escola Primária da Cambeia, tendo prosseguido os estudos no Liceu Nacional de Aveiro. 
Para fazer o Postulantado, ingressou no Noviciado dos Padres do Carmo de Fátima a 4 de Fevereiro de 1974, tendo a partir daí trilhado um caminho com vista à vida sacerdotal: tomou o hábito do Carmo a 8 de Outubro do mesmo ano e fez a sua Profissão Simples na Ordem a 21 de Setembro de 1975, ambos em Fátima. 
No ano lectivo de 1975-1976 frequentou o Seminário Carmelitano de Viana do Castelo, onde estudou latim, grego e outras matérias. Em 1976, iniciou os estudos filosóficos e teológicos no ICHT – Instituto de Ciências Humanas e Teológicas, do Porto (1º ano), frequentou os 2º e 3º anos na Universidade Pontifícia de Salamanca, regressando ao ICHT para concluir a referida licenciatura. A 16 de Novembro de 1980, consagrou-se perpetuamente ao Senhor como Carmelita Descalço pela Profissão Solene, no Convento do Carmo de Aveiro, onde foi igualmente ordenado de diácono a 1 de Março de 1981. 
A ordenação presbiteral aconteceu a 27 de Setembro de 1981, na Igreja da Gafanha da Nazaré, pelo Bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade. Nesse ano, voltou ao Convento do Carmo de Viana do Castelo para trabalhar como missionário no Seminário Carmelitano e também no secretariado diocesano da pastoral da Juventude, onde permaneceu até 1984.
Os 3 anos seguintes foram vividos na Casa do Carmo, em Fátima, como responsável do Postulantado. No dia 20 de Julho de 1987, celebrou a sua primeira Missa como conventual do Convento do Carmo de Aveiro, onde se encontra desde então, tendo cumprido há dois anos o jubileu das suas bodas de prata sacerdotais. Para o homenagear, a Câmara Municipal de Ílhavo e a Ordem dos Padres Carmelitas promoveram a apresentação do Livro “Alegrai-vos! Homilias do Frei Silvino”, que decorreu na Biblioteca Municipal de Ílhavo, no dia 16 de Dezembro de 2006, do qual apresentamos um pequeno excerto inteiramente dedicado à época natalícia que se avizinha:
“Nos braços do Menino de Belém que se estendem como um bebé para nós, devemos ver o amor de Deus e agradecer-Lhe porque nos criou para sermos como Ele, Deus. Que o Natal nos anime a todos na fé de seguir, servir, amar e louvar aqui e para sempre o Deus que Maria trouxe no seu ventre, deu à luz em Belém e é o Senhor de toda a história e de todos os homens. É Natal, alegremo-nos e rejubilemos porque somos para Deus o melhor que ele tem, porque somos para Deus a obra mais preciosa e Ele não nos deixa ficar pelo caminho, quer levar-nos para a casa onde um dia nasceremos depois da morte, como Ele nasceu no Natal em Belém. A todos, santas e alegres festas do Natal de Cristo nosso Deus, Redentor e Criador. Que assim seja.” 

In Alegrai-vos! Homilias do Frei Silvino – “Solenidade do Natal(I) – Somos o melhor que Deus tem!”


In "Viver em...", da CMI


NOTA: Mais um amigo meu que foi contemplado, pela Câmara Municipal de Ílhavo, com uma referência na sua Agenda "Viver em..." de Dezembro. Oportuna, sem dúvida, até porque nos ofereceu uma mensagem natalícia do homenageado, Frei Silvino, transcrita do seu livro "Alegrai-vos!". Conheço Frei Silvino desde sempre. Mais concretamente, desde a sua participação em tudo o que dizia respeito à Igreja Católica, tendência natural que ele soube cultivar com esmero, até se definir, já na juventude, pela vida religiosa, como consagrado. O meu amigo Silvino nunca deixou de manifestar a sua amizade para comigo, numa resposta à amizade que nutro por ele. O seu empenho pela causa do Evangelho está bem patente naquilo que faz, com os jovens e com todos quantos se abeiram dele. Frade por convicção e opção forte, Frei Silvino granjeia amizades e irradia simpatias onde quer que se encontre. Por isso, esta justa homenagem da nossa Câmara Municipal de Ílhavo, que aplaudo.

FM

Efeméride gafanhoa: Capela de Nossa Senhora dos Navegantes

3 de Dezembro
Segundo rezam as crónicas, neste dia, em 1863, começou a cosntruir-se a Capela de Nossa Senhora dos Navegantes, que ainda hoje se mantém como o templo mais antigo das Gafanhas. Leiam mais aqui.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

NATAL - 2008

ORAÇÃO DO DEUS-MENINO Era noite; e por encanto Eu nasci, raiou o Dia. Sentiu meu pai que era Santo, Minha mãe, Virgem-Maria As palhinhas de Belém Me serviram de mantéu; Mas minha mãe, por ser Mãe, É a Rainha do Céu. Nem há graça embaladora, Como a de mãe, quando cria; É como Nossa Senhora, Mãe de Deus, Ave-Maria! Está no Céu o menino, Quando sua mãe o embala. Ouve-se o coro divino Dos anjos, a acompanhá-la. Como num altar de ermida, Ando no teu coração; Para ti sou mais que a vida E trago o mundo na mão. Não sei de pais, em verdade, Mais pobrezinhos que os meus; Mas o amor dá divindade, E eu sou o filho de Deus!
Jaime Cortesão In Anunciação e Natal na Poesia Portuguesa, Antologia organizada por António Salvado