quinta-feira, 27 de novembro de 2008

ESCOLA QUE FORMOU GENTE DE TÊMPERA PARA A VIDA

Refiro-me à Acção Católica. Celebrou agora os 75 anos de existência em Portugal. Foi e continua a ser, na Igreja e para a Igreja, grande escola de formação de leigos militantes, que enriquecem tanto a comunidade cristã, como tornam presente, na sociedade, o Evangelho feito vida. A minha história está ligada à Acção Católica desde 1958. Padre novo, acabado de regressar de Roma, onde fizera também, por iniciativa própria, estudos relacionados com esta, logo fui designado assistente de movimentos operários e, depois, de diversas estruturas diocesanas. Conheço a história e a realidade da Acção Católica, admiro e continuo a seguir a sua metodologia, experimentei ao vivo o dinamismo que a instituição traz consigo desde sempre, tentei dar-lhe força e lugar na acção pastoral, sofri os seus momentos difíceis, estou-lhe grato pelo número de leigos cristãos que nela se formaram. Pela sua têmpera e coragem, creditaram a acção da Igreja nos diversos meios sociais e em situações diversas em que a militância dos leigos cristãos era não apenas um desafio, mas também um risco, conscientemente assumido. A Acção Católica hpje, em Portugal, lamentavelmente, não tem a expansão de outros tempos. Os movimentos operários continuam os mais resistentes, porque a vida os oprime mais. As alterações sociológicas dos chamados meios sociais são por demais evidentes. O mundo da escola encontrou derivativos mais propensos a aspirações pessoais, mas menos exigentes e duros, frente aos desafios e compromissos da vida concreta. Mesmo assim, continua a haver, pelo país fora, militantes de qualidade e de horizontes largos, tanto no meio rural agrário, como no mundo escolar, no meio independente e nas associações profissionais. O Vaticano II assinalou a importância da Acção Católica. Os bispos portugueses também a afirmaram sem reservas. As mudanças sociais e culturais realçaram a sua importância. Porém, os caminhos do laicado parecem agora andar noutra direcção. A crise vivida na mudança não foi bem lida por muita gente responsável, que mais apontou nos desvios inevitáveis, que no rumo que sempre levara e que fazia parte da sua identidade. Só não pisa o risco em momentos de perplexidade, quem não suja os pés no lamaçal da vida..Até os bispos, lá atrás e num momento difícil, votaram pelo seguro, à revelia da história e do testemunho dos que continuavam a acreditar na Acção Católica porque a conheciam por dentro, nela tinham trabalhado e sabiam ler os sinais e o sentido dos ventos.. Estes votaram vencidos, em contra mão da maioria vencedora. Com o coração a sangrar, mas com a esperança em ponto alto, aguardando a luz da profecia. A história da Igreja e do laicado apostólico não se faz, entre nós, sem olhar a Acção Católica. O governo de há décadas perseguiu-a, quis pôr-lhe mordaças, anotou os que a acompanhavam e pôs-lhe os rótulos condenatórios de então. Gente da Igreja, sempre a houve, que não gosta de ventos fortes que sacodem e acordam, dei apoio aos governantes. Mas só a verdade faz história. E essa fez-se, a seu tempo. Quantos jovens formados na Acção Católica, hoje adultos ainda na primeira linha! Quantos outros descobriram e andaram rumos novos nas suas vidas! Quanta gente houve, a acender, corajosamente, o fósforo que rompeu trevas e desmascarou rotinas e mentiras! Quantos projectos solidários inovadores, aparentemente temerários, que mostraram que a fé se vive fora dos templos e não no aconchego dos mesmos! Quantos padres, com militantes ao seu lado, venceram crises, abriram caminhos pastorais novos, contagiaram colegas! Sempre houve cegos e surdos e hoje também os há. Outros movimentos laicais surgiram na Igreja. Parece que alguns ainda não entenderam que a vocação de leigo, é de ser cristão no mundo e animador evangélico das estruturas sociais. A AC é movimento de fronteira e sem ela as fronteiras estão desguarnecidas.
António Marcelino

Efeméride aveirense

Fotos da capa do livro de Armando Tavares da SilvaJornal aveirense
27 de Novembro de 1908
D. MANUEL II foi recebido em Aveiro com grande entusiasmo
Há precisamente 100 anos, D. Manuel II visitou Aveiro, onde foi recebido com grande entusiasmo, tendo-se realizado festas de extraordinária imponência; esteve presente o Bispo-Conde de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pina, seu padrinho de baptismo, que recebeu o monarca à porta da igreja de Jesus, conforme lembra o Calendário Histórico de Aveiro. Por sua vez, Armando Tavares da Silva, catedrático aposentado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, diz, no seu livro "D. Manuel II e Aveiro – Uma visita Histórica (27 de Novembro de 1908)", que houve “cerimónias, festas e realizações populares”. Acrescenta que “D. Manuel II esteve ainda presente no distrito de Aveiro por mais duas vezes pouco antes do 5 de Outubro de 1910. A primeira para uma demorada permanência no Buçaco, no Verão desse ano, e a segunda para as comemorações do primeiro centenário da batalha do Buçaco, em Setembro de 1910”. Mas se é verdade que as festas foram imponentes, com a adesão popular e das autoridades, também é certo que a oposição se manifestou contra a visita, denunciando as altas despesas que ela comportou. No livro de Armando Tavares da Silva, pode ler-se, citando O Commercio do Porto, que as festas foram brilhantes, "cumprindo comtudo especialisar os numeros da noite, isto é, o fogo, as illuminações e a marcha, que chegaram a exceder a espectativa dos proprios organizadores". Depois, adianta: "Passava das nove horas quando se deu por finda esta brilhante festa, que decorreu tão cheia de enthusiasmo como de distincção." Por sua vez, O Democrata, que havia considerado a visita como “Real bambochata”, descreveu com sarcasmo o que viu, sublinhando que “a academia de Aveiro foi reforçada com collegas do Porto e de Coimbra”; referiu que “o sr. Dr. Jayme Silva […] animando com a sua voz cavernosa as frias gentes [estava] sempre prompto a defender o régio vizitante d’algum attentado… feminino. O povo não acclama […], move-se para ver o moço rei que […] ostenta vistosas condecorações […]”
Aqui fica este breve apontamento para tornar presente a efeméride, não vá ela ser esquecida por toda a gente. Para mais informações, clicar em Armando Tavares da Silva Fernando Martins

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Um Livro de Ana Maria Lopes

“O Vocabulário Marítimo Português
e o Problema dos Mediterraneísmos”


Como já neste espaço anunciei, com a certeza de que voltarei ao assunto, Ana Maria Lopes vai lançar, no Museu Marítimo de Ílhavo, no próximo sábado, 29, pelas 17 horas, mais um livro, com ligações ao Mar, tema de paixões da autora. Intitula-se ele “Regresso ao Litoral – Embarcações Tradicionais Portuguesas”
Tenho tido o privilégio de conversar com Ana Maria Lopes sobre estas questões para perceber a riqueza dos seus conhecimentos sobre matérias marítimas, e não só. De tal modo que o seu blogue, que visito com frequência, foi baptizado com o expressivo nome de Marintimidades. Ou seja, um nome que nos remete para as suas intimidades com ligações profundas ao oceano, ou não se reflectisse ele nos olhares de todos os ílhavos, de que a autora é paradigma. Sobretudo quando se fala das influências que o mar exerce nas gentes daquela terra maruja. Mas antes de falar desse trabalho que a envolveu durante bastante tempo, numa busca constante de tudo quanto diz respeito às embarcações tradicionais da nossa costa, permitam-me que lembre, hoje e aqui, uma outra obra de Ana Maria Lopes – O Vocabulário Marítimo Português e o Problema dos Mediterraneísmos –, publicada em 1975, surgindo em 2.ª edição, facsimilada, em 2006, sob a responsabilidade dos Amigos do Museu Marítimo de Ílhavo. Este livro, que é a dissertação de licenciatura em Filologia Românica de Ana Maria Lopes, apresentada na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em Janeiro de 1970, oferece um repositório precioso de vocábulos e expressões que corriam o risco de se perder no tempo.
Com o rigor da recolha e investigação feitas pela então jovem autora, a obra dá, a quem a lê, o prazer de voltar ao linguajar dos nossos antepassados que mourejavam no nosso mar, mais ao largo ou mais em terra. E sendo certo que uma boa parte do trabalho publicado se destina a estudiosos de ciências linguísticas e náuticas, não deixa de ser interessante que pessoas como eu, pouco dadas a rigores fonéticos e a termos técnicos deste domínio, sintam um grande prazer na leitura daquele livro.
Com ilustrações, a preto e branco, e grafismos elucidativos, com redes, alfaias e barcos diversos, de meu directo conhecimento, uns, e meus ilustres desconhecidos, outros, esta obra da autora ilhavense merece ser mais conhecida e mais apreciada pelas gerações actuais, em especial pelos que se dispuserem a colaborar na preservação do nosso passado colectivo.
Olhando para os seus quatro capítulos, com a atenção devida, reconhece-se o esforço meritório de Ana Maria Lopes, numa altura em que talvez não fosse muito frequente ver uma jovem andar de terra em terra nas pesquisas eruditas que ousou empreender, mostrando, no que fez, uma paixão digna de nota.
No capítulo I, o leitor entra em contacto com vários tipos de barcos, costeiros e do alto, e de apetrechos para diversas funções. No Capítulo II, os processos de pesca, com aparelhos e sistemas, mais venda e transporte de peixe. No Capítulo III, dedicado ao confronto entre o litoral algarvio e a costa ocidental, registamos o Portugal com costa de alguns contrastes. Por último, no Capítulo IV, temos a relação entre Portugal e o Mediterrâneo, com índices que ajudam na procura dos temas a ler. É que, para quem gosta de fazer uma leitura, sem pressas, talvez dê jeito começar à cata de um ou outro assunto, segundo o apetite da ocasião.

 Fernando Martins

Melhor acolhimento para os imigrantes

Os Bispos católicos da Europa e da África lançam um apelo às suas comunidades para que sejam “ainda mais acolhedoras em relação aos irmãos estrangeiros, reconhecendo o valor e o contributo que os imigrantes trazem aos países de acolhimento”.

Crónica de um Professor

O Gentleman
Quando se cruzava com a teacher, nos longos corredores da Escola, com um sorriso amistoso, saudava-a, sempre, de forma cordial! Era um rapaz entroncado, rondando os 16 anos e que finalizava, nesse ano, a sua frequência, naquela Escola E.B 2/3.Já não era seu aluno, mas a delicadeza de maneiras, o fino trato, o cavalheirismo arreigado, não o tinham abandonado. E os seus olhos verdes, a fazer estremecer corações, à sua volta, num raio bem alargado da zona escolar? As meninas pululavam como abelhas, em volta de uma flor viçosa, colorida e cheia de fragrância. Era o Julinho, carinhosamente apelidado pela teacher, que, à semelhança de um outro Júlio, sexólogo proeminente da nossa praça, também a cativara pela diferença! Sim, que a monotonia da má educação, da boçalidade, da ignorância, também cansam e desgastam. Um dia, na sala de informática, em substituição de um outro professor, a teacher deparou com esta cena... ternurenta e… tão frequente em meio escolar. Em frente do PC, as imagens sucediam-se, no display, a um ritmo acelerado, captando a atenção do aluno. Sim, digo do aluno, pois foi essa a primeira impressão deixada! Com efeito, ali estavam duas cabecinhas jovens, tão coladinhas, tão empolgadas uma com a outra, que a teacher não ousou interromper aquele idílio! Estavam na idade dos sonhos, das ilusões, do melhor da vida. Como bem os compreendia aquela teacher! Sim, porque ela também sonhava! Por isso se sentia jovem. “Uma pessoa só envelhece, quando os sonhos dão lugar aos lamentos” - ouvira alguém dizer. Apenas comentou, no final da aula: - A tua colega é muito bonita, não é Julinho? Um sorriso cúmplice espraiou-se no rosto… daquele aspirante a Gentleman! A teacher cogitou: - Il n'est pas bon que l´homme soit seul! Lá dizia a Bíblia!
Mª Donzília Almeida

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Recordando Eça de Queirós

Eça agHora Disse João da Ega, Que não era um primo A campanhas alegres dado, Depois que encontrou Carlos, no avistado arrimo Do Turf, num Rossio ultrapassado Pelos anos em que ensonou Num País de lupanares e calotes, E de malandros aos magotes, Num País de corridas falazes E de vestidos sérios de missa, Com jornais bafientos E de artigos rançosos Lidos por uns tantos rapazes De futuros pachorrentos E costumes ociosos: «-Falhámos na vida, menino!» E os tempos verbais trocados Ensinam a História redita, Desde os serões iluminados Pelas lições da monarquia, À juventude nérvea de sabedoria E impaciência liberal, Que corre num vai-vem Num outro aterro irreal Aquém delirante do trem Que nem sempre alcançamos. E assim vai o País de quem promete Lançar carris em largueza Para deixar de vez a charrete E permanecer na certeza Das falas finais que relembramos: «-Ainda o apanhamos!» Hélder Ramos 25.XI.2008
NOTA: A propósito do dia de hoje, aqui segue um poema dedicado a Eça de Queirós, pelo 163º aniversário. É um poema ao estilo parodioso do romancista, inspirado em algumas personagens e obras marcantes do autor.
Hélder Ramos

FÓRUM NÁUTICO DO MUNICÍPIO DE ÍLHAVO

O MAR POR TRADIÇÃO
A Câmara Municipal de Ílhavo e um conjunto de entidades deste concelho e da Região de Aveiro vão criar o “Fórum Náutico do Município de Ílhavo”, com o objectivo-base de dinamizar o desenvolvimento das actividades náuticas, centradas no recreio, no desporto e na cultura. Esta é uma aposta estratégica para a terra que tem “O Mar por Tradição” e a modernidade como aposta permanente, tirando proveito e rentabilizando as suas condições ao nível da natureza, da história e da cultura da nossa gente. Nesse âmbito, vai realizar-se amanhã, 26 de Novembro, quarta-feira, pelas 18 horas, no auditório do Museu Marítimo de Ílhavo, o acto formal de constituição do “Fórum Náutico do Município de Ílhavo”.
Nota: Clicar na foto para ampliar

Efeméride aveirense

25 de Novembro
Neste dia, em 1905, o Governador Civil de Aveiro aprovou os primeiros estatutos do Clube dos Galitos, prestimosa colectividade aveirense fundada em 24 de Janeiro do ano anterior, conforme se pode ler nos Estatutos do Clube dos Galitos, edição de 1905, páginas 21-23, e edição de 1956, página 3.
In Calendário Histórico de Aveiro

Madre Teresa: para pensar

NUNCA TE DETENHAS
Tem sempre presente, que a pele se enruga, que o cabelo se torna branco, que os dias se convertem em anos, mas o mais importante não muda! Tua força interior e tuas convicções não têm idade. Teu espírito é o espanador de qualquer teia de aranha. Atrás de cada linha de chegada, há uma de partida. Atrás de cada triunfo, há outro desafio. Enquanto estiveres vivo, sente-te vivo. Se sentes saudades do que fazias, torna a fazê-lo. Não vivas de fotografias amareladas. Continua, apesar de alguns esperarem que abandones. Não deixes que se enferruje o ferro que há em ti. Faz com que em lugar de pena, te respeitem. Quando pelos anos não consigas correr, trota. Quando não possas trotar, caminha. Quando não possas caminhar, usa bengala. Mas nunca te detenhas! Madre Teresa de Calcutá

Banco Alimentar vai recolher alimentos

A CRISE ATINGE MAIS OS MAIS FRÁGEIS DA SOCIEDADE
Nos dias 29 e 30 de Novembro, o Banco Alimentar vai recolher alimentos junto das grandes superfícies. Precisa, por isso, de voluntários, que possam dar algum do seu tempo para esta tarefa. Todos sabemos que a crise que estamos a sentir na pele atinge muita gente, mas com mais força os mais frágeis da sociedade. Porém, é precisamente nestes momentos que a solidariedade deve manifestar-se com mais vigor. Que cada um saiba dar um pouco do seu tempo, mas também daquilo que tem, alimentos ou dinheiro, na certeza de que esse gesto irá direitinho para quem passa fome. Eu sei que às vezes temos dificuldade em acreditar que há gente sem pão para comer, em época de tanta abundância para alguns. E se nos convencermos desta realidade, então mais força encontraremos em nós para a partilha, urgentíssima.

“Moinhos do Distrito de Aveiro”

Marca da nossa memória colectiva
“Moinhos do Distrito de Aveiro” é um livro de Armando Carvalho Ferreira, que vai ser lançado na Universidade de Aveiro, na Sala dos Actos Académicos (Edifício da Reitoria), no dia 13 de Dezembro, pelas 16 horas. Com este trabalho, o autor, um apaixonado pelo tema, pretende mostrar o trabalho de recolha e investigação que fez durante dois anos. Ainda apresenta o património molinológico da nossa região, "a grande maioria dele desconhecido ou esquecido, contribuindo assim para a sua valorização como marca da nossa memória colectiva", lê-se no convite de divulgação do evento.

Carlos Duarte apresenta fotografias

(Clicar nas fotos para ampliar)
"O MEU OLHAR"
“O meu olhar” é uma exposição de fotografia de Carlos Duarte. Vai ser inaugurada em 29 de Novembro, na Biblioteca Municipal, com o apoio do Rotary Club de Ílhavo. São fotografias retratando temas diversos como a Ria, Costa Nova, os canais de Aveiro ou as procissões, mas com a matriz própria de quem vê estas imagens para além do real, o que para o comum dos observadores não será fácil de captar num primeiro registo. Esta mostra é feita em parceria com o Rotary Club de Ílhavo e a receita reverte para a campanha que os rotários estão a levar a efeito para apoiar a Obra da Criança. Do seu currículo, destaca-se a colaboração que tem prestado a diversos eventos, tendo sido, pelo seu labor, distinguido pela associação Os Ílhavos com o “Leme da Reportagem”. Carlos Duarte expôs, pela primeira vez, em Ílhavo, na Junta de Freguesia, em 2005. Em 2006, na Gafanha da Nazaré, e em 2007 na Biblioteca Municipal, apresentando o livro “40 anos de fotografia”, cuja edição se esgotou.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Para minha mãe

Pequeno poema 

Quando eu nasci, 
ficou tudo como estava. 
Nem homens cortaram veias, 
nem o Sol escureceu, 
nem houve Estrelas a mais...
Somente, 
esquecida das dores, 
a minha Mãe sorriu 
e agradeceu. 

 Quando eu nasci, 
não houve nada de novo 
senão eu. 
As nuvens não se espantaram, 
não enlouqueceu ninguém... 

Pra que o dia fosse enorme, 
Bastava toda a ternura 
que olhava 
nos olhos de minha Mãe. 

Sebastião da Gama

NOTA: Quando hoje acordei lembrei-me deste poema de Sebastião da Gama. Tenho boas razões para isso. Setenta anos de vida, bem vividos, justificam esta pequena imodéstia.
FM

domingo, 23 de novembro de 2008

XANANA ditador?

Xanana, o herói timorense, anda nas bocas do mundo, acusado de ditador. O filho querido do povo Lorosae, que sofreu nas masmorras a tirania dos que não queriam Timor livre e independente, “já não goza da admiração de outrora”, no dizer do EXPRESSO.
Durante anos, mesmo depois da independência da ex-colónia portuguesa, era escutado com respeito e seguido com devoção. Presentemente, e depois de uma nebulosa eleição que o levou ao poder, como primeiro-ministro, não falta quem o acuse de estar ilegitimamente no cargo, chegando-se ao ponto de dizer que está conotado com atitudes autoritárias. Estará, assim, a cair em desgraça.
Sempre vi em Xanana um herói simples, com capacidade de se dar a causas justas, como a da libertação do seu povo. Até admirava o seu estilo, que chegou a ser parodiado em programa televisivo.
Vi, algumas vezes, como humanamente acalmou o povo revoltado e resolveu conflitos entre militares, governantes e a população. Mas também registei, embora à distância, as eleições pouco claras e as manobras pouco democráticas que o levaram à chefia do Governo. Então tive pena do Xanana.
Para mim, os heróis raramente têm uma segunda oportunidade. De repente, quando menos se espera, passam a ser olhados com desconfiança. Não me espanta nada que isso venha realmente a acontecer. Teria sido bem melhor para a história de Timor e para o próprio Xanana que ele tivesse ficado simplesmente numa situação de reserva da nação.
Xanana, sem cargos políticos na sociedade timorense, seria muito mais útil ao seu povo do que na chefia do Governo. O futuro o dirá. Mas, pelo que é possível perceber, o Xanana, mártir da independência, estará a ser destruído, com a sua própria colaboração.

Fernando Martins

Mais vale ser ex-ministro que ministro

Há muito se diz que é melhor ser ex-ministro que ministro. O caso de Dias Loureiro, que saiu sem fortuna quando deixou o Governo e que logo a seguir enriqueceu, é paradigmático. E julgava eu, ma minha boa-fé, que não era assim. Não terá acontecido com muitos, mas é um caso dos que se serviram dos relacionamentos de ministro para subir na vida dos negócios, aparentemente com uma facilidade incrível. Uns contactos, umas viagens, mais uns amigos daqui e dali, e está bem feita a cama onde pode dormir descansado o resto da vida. Ele e a família. Não tenho nada contra o ex-ministro Dias Loureiro, que sempre me pareceu um homem digno, sendo certo que, até prova em contrário, temos de o respeitar. Porém, depois da entrevista na RTP, já há quem o desminta, sobre a história dos contactos que manteve no BdP, por causa do BPN. A justiça dirá. Vem isto a propósito de me habituar há muito à ideia de que cargos políticos são, para os vocacionados para isso, para servir a comunidade, como missão e contributo para o bem comum. Para servir, que não para ser servido. Mas, afinal, parece que não é bem assim. Daí o vigor com que muitos políticos se agarram aos “tachos”, como lapas à rocha dura. Para eles, a vida, fora disso, nem terá sentido. Continuo a ter dificuldades em aceitar estes comportamentos, embora admita que possa estar enganado. Eu sei que o poder, pelos vistos, é aliciante. Há quem goste de estar na crista da onda, quem goste de ocupar cargos de chefia, quem goste de mandar e de impor as suas razões, e, ainda, quem goste de ficar na história, de preferência com busto ou estátua na praça pública. Eu gostaria mais de ver políticos que cumprissem, com dignidade, os cargos para os quais foram eleitos, regressando às suas ocupações anteriores com toda a naturalidade deste mundo. E se gostassem de se dar à comunidade, haveria sempre um qualquer campo de intervenção tão importante como os cargos políticos. Não há por aí tantas instituições à espera de voluntários? É claro que nem todos os políticos terão na manga a preocupação de enriquecer depois de regressarem a uma vida profissional normal. Nem todos enriquecem à custa dos cargos que desempenharam, mas começa a notar-se, infelizmente, que há uma certa vantagem em ser ex-ministro. Não será a maioria, mas, pelos vistos, há quem se aproveite.
Fernando Martins

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 104

A PROVA DE PASSAGEM DA 1.ª PARA A 2.ª CLASSE Caríssima/o: Pelo que se vê, estamos a chegar ao final do ano, mas antes ainda temos de esfolar o rabo, que é como quem diz: temos de passar por uma prova bem difícil. E que prova era essa? Apenas e só a prova de passagem de classe, levada ao extremo da seriedade e da ansiedade! Começava pelos treinos: papel almaço e com umas palavras impressas sobre as quais sobressaía e se sobrepunha um escudo de Portugal! Aí, nessa primeira página, rabiscávamos o nosso nome a tinta... e não podia ter emendas nem borrões. Preparativos minuciosos, qual motor de fórmula um, para verificar e afinar o aparo, se não abanava, se a tinta não caía... E o lápis bem aguçado... E as mãos limpas para não deixarem marcas no papel... À prova assistia a nossa Professora e uma outra que muitas vezes nos era desconhecida, vinha de escola próxima... Procuravam cativar-nos e sorriam e que fizéssemos tudo com cuidado que ia correr tudo bem e todos passávamos... Começávamos pela cópia: do livro de leitura, à sorte. A seguir uma redacção que também não trazia grandes surpresas: as duas ou três frases que se escreviam já nos não eram desconhecidas. Agora era a vez da aritmética: um problema de uma operação, com a respectiva indicação e uma resposta completa e também uma conta que podia ser de somar, subtrair, multiplicar ou dividir, com toda a tabuada até nove. Claro, a multiplicação e a divisão era só por um algarismo... Havia também a representação de uma fracção por meio de um desenho-gráfico e a escrita de um número romano até XX... Está quase, que só falta o desenho na última metade da quarta página (pois em cima tínhamos feito a fracção e escrito o tal romano...): o vaso fica mais bonito com uma flor! Terminada a prova escrita, íamos para o recreio esperar que nos chamassem para mostrarmos a nossa arte na leitura. Muitas vezes, só à tarde é que aparecia pregado à porta o papel onde se lia que todos os que fizeram a prova de passagem tinham transitado para a 2.ª classe...
Manuel

sábado, 22 de novembro de 2008

Voluntários Hospitalares

Quando passo por um hospital, quase sempre registo a presença dos voluntários hospitalares. Homens e mulheres que se dão ao apoio a quem está a sofrer, física e psicologicamente. Ontem mais uma vez confirmei o bem que eles fazem. Atentos a quem chega, frequentemente pressentem quem precisa de ajuda. A partir daí, não mais deixam de estar com a pessoa. “Eu sei que não é fácil vir a estas casas, mas temos de ter esperança que tudo se vai resolver; há ali café, chá e bolachas que oferecemos a quem quiser”, disse um, enquanto, com o seu sorriso, dava algum ânimo a quem estava. Tanto quanto posso imaginar, são pessoas reformadas e, por isso, disponíveis. Porém, não se vão meter em casa à espera que o tempo passe, nem se acomodam num qualquer café… ou banco de jardim. Dão-se aos outros generosamente. É certo que não é voluntário hospitalar quem quer. Reconheço que é preciso ter vocação para lidar com doentes, mas também sei que em reuniões vão recebendo formação específica. Hoje, mais do que nunca, estas tarefas delicadas exigem conhecimentos e preparação, sob pena de se cometerem falhas que podem provocar efeitos contrários aos desejados. E depois, os voluntários hospitalares têm de assumir os seus compromissos, cumprindo, escrupulosamente, os horários que subscrevem. Por tudo isto, e pelo que diariamente fazem nos hospitais, junto dos doentes, mais admiro os voluntários que no dia-a-dia estão próximos dos que sofrem. FM

A INFAUSTA DOUTRINA DO PECADO ORIGINAL

A impressão geral que me ficava da religião nos tempos da catequese não era luminosa. Pelo contrário, tudo aquilo transmitia um mundo bastante tenebroso, a ideia de um Deus castigador e de nós sujeitos a um destino de submissão trágica. Os primeiros pais tinham pecado, Deus andava irado com a gente e Jesus sofria na cruz para ver se nos libertava. A alegria era um roubo e a palavra Evangelho, que quer dizer "notícia boa", não pousava sobre nós nem nos aquecia. O que infectava o cristianismo era a doutrina infausta do pecado original. Escreveu o célebre historiador católico Jean Delumeau: "Não é exagerado afirmar que o debate sobre o pecado original, com os seus subprodutos - problemas da graça, do servo ou livre arbítrio, da predestinação -, se converteu (no período central do nosso estudo, isto é, do século XV ao século XVII) numa das principais preocupações da civilização ocidental, acabando por afectar toda a gente, desde os teólogos aos mais modestos aldeões. Chegou a afectar inclusivamente os índios americanos, que eram baptizados à pressa para que, ao morrerem, não se encontrassem com os seus antepassados no inferno. É muito difícil, hoje, compreender o lugar tão importante que o pecado original ocupou nos espíritos e em todos os níveis sociais. É um facto que o pecado original e as suas consequências ocuparam nos inícios da modernidade europeia o centro da cena mundial, sem dúvida muito atribulado." No entanto, a doutrina do pecado original, no sentido estrito de um pecado transmitido e herdado, não se encontra na Bíblia. Jesus nunca se referiu a um pecado original. Na sua base, encontra-se fundamentalmente Santo Agostinho, a partir de um passo célebre da Carta de São Paulo aos Romanos, capítulo 5, versículo 12. Mas ele seguiu a tradução latina: Adão, "no qual" todos pecaram, quando o original grego diz: "porque" todos pecaram. Ora, uma coisa é dizer que todos são pecadores e outra afirmar que todos pecaram em Adão, como a árvore fica infectada na raiz, de tal modo que todos nascem em pecado do qual só o baptismo os pode libertar. Santo Agostinho deixava cair no inferno, mesmo que menos terrível, as crianças sem baptismo. Durante séculos, houve mães tragicamente abaladas, porque os filhos morreram sem baptismo. A Santo Agostinho serviu esta doutrina sobretudo para, convertido do maniqueísmo ao cristianismo, "explicar" o mal no mundo, que não podia vir do Deus criador bom. De facto, baseou-se numa exegese errada. E quem não sabe hoje que o que diz respeito a Adão e Eva e à queda é da ordem do mito? Adão e Eva não são personagens históricas. Depois, se eles ainda não sabiam, como diz o texto do Génesis, do bem e do mal, como podiam pecar? O que o texto diz é outra coisa, e fundamental: o que caracteriza o Homem frente ao animal é a liberdade. O Homem já não é um animal como os outros: tem auto-consciência, sabe de si como único - a nudez metafísica - e que é mortal. Mas os estragos desta doutrina infausta foram e são incalculáveis, sobretudo a partir do acrescento de Santo Anselmo e a sua doutrina da retribuição: os primeiros pais cometeram uma ofensa contra Deus infinito e, assim, era necessária uma reparação infinita para uma dívida infinita que só o Deus-homem Jesus podia pagar na cruz. Ficou então a ideia de um Deus por vezes monstruoso, que precisou da morte do Filho para reconciliar-se com a Humanidade. Mas como era isso compatível com o Deus amor? Porque o pecado se transmitia pelo acto sexual, a sexualidade, o corpo e a mulher ficaram envenenados, numa situação dramática: era preciso continuar a gerar filhos - no limite, a actividade sexual só se legitimava para a procriação -, mas eles eram gerados em pecado e a mulher trazia o pecado dentro dela. Porque é que o primeiro acto humano da História havia de ser o pecado? Hoje, com a teoria da evolução, a contradição torna-se maior. E, afinal, o que São Paulo diz no passo célebre da Carta aos Romanos é uma mensagem de esperança: todos os seres humanos pecam, o pecado do Homem é grande, mas o amor de Deus é maior. Infinito. Anselmo Borges

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O significado de vestir a camisola da selecção

Face ao escandaloso comportamento dos jogadores da selecção portuguesa de Futebol, no jogo com o Brasil, o seleccionador nacional, Carlos Queiroz disse: "Todos têm e já tiveram oportunidade de mostrar empenhamento e atitude. Isto tem de servir de lição, de aprendizagem. Nós podemos tentar estimular e tentar chamar a atenção daquilo que é importante fazer. Depois compete, no momento certo, fazer e se não acontecer teremos naturalmente de tomar decisões para aquilo que é o significado de vestir a camisola da selecção."
Mesmo percebendo muito pouco de futebol, permito-me acrescentar que, no mínimo, os nossos multimilionários jogadores foram passear até ao Brasil. Que a triste figura que fizeram lhes sirva de lição, são os meus votos.

PISTAS PARA O EXAME FINAL

Ao cair da tarde, em terras da Judeia, um pastor separa as ovelhas dos cabritos. Acção simples, mas cheia de simbolismo, que Jesus aproveita para transmitir uma mensagem sublime e interpelante. A linguagem que usa é fruto da cultura bucólica e campestre. A forma literária pertence a um género especial – a apocalíptica. A realidade envolvida na narrativa faz parte da vida humana, dos modos de relacionamento entre as pessoas, do uso dos bens, da capacidade de ver as “coisas” em profundidade e extensão. Faz assim um “esboço” do Reino que se torna presente e desenvolve, quando aquela realidade é vivida no amor e na justiça, na verdade e na liberdade, na solidariedade e na paz. Por cada pessoa e por toda a humanidade. Como Ele vive, anuncia e deixa em forma de testamento. Ser fiel à herança de Jesus constitui a alegria cristã mais profunda, revigora a esperança mais consistente e intensifica a dedicação mais generosa àqueles que Deus ama e quer ver felizes. Supõe o nosso envolvimento afectivo e inteligente, completo e integral. Brota da certeza que Jesus está connosco e nos abre caminhos acessíveis cada vez mais concretos. A prova de fidelidade faz-se na vida, nos critérios e comportamentos assumidos. Um dia, ao fazer o nosso “exame final”, Deus não pergunta pelo modelo do carro, pela grandeza da casa, pela marca da roupa, pela conta do ordenado, pela categoria profissional, pela quantidade de amigos, pela cor da pele, pela religião, pela frequência do culto ou prática devocional. Não. Se chegar a fazer tais perguntas é por causa de outros assuntos mais importantes. Ele prefere seguir outra pista para nos ajudar e vai-nos segredando: Que fizeste com os teus bens? A quantas pessoas serviste com o carro e a quantas acolheste em casa? O ordenado era fruto de trabalho honesto ou vendeste a consciência e deixaste-te corromper? A categoria profissional foi merecida pela competência e honradez ou resultado de suborno e falcatruas? Quantas pessoas te consideravam amigo sincero? Como tratavas os vizinhos? Fazias discriminação de alguém apenas pela cor da pele ou preconceito de raça? Viveste a fé como um compromisso de amor, uma âncora de esperança, um farol de horizontes novos? Dando respostas positivas, o estilo de vida da humanidade, sobretudo dos cristãos-discípulos do meu Filho Jesus, configurará o rosto social da realidade nova que vos proponho no meu Reino. Será um rosto belo e atraente. Será uma realidade inclusiva e envolvente. Para bem e felicidade de todas as criaturas e de toda a criação. Georgino Rocha