quinta-feira, 27 de novembro de 2008

ESCOLA QUE FORMOU GENTE DE TÊMPERA PARA A VIDA

Refiro-me à Acção Católica. Celebrou agora os 75 anos de existência em Portugal. Foi e continua a ser, na Igreja e para a Igreja, grande escola de formação de leigos militantes, que enriquecem tanto a comunidade cristã, como tornam presente, na sociedade, o Evangelho feito vida. A minha história está ligada à Acção Católica desde 1958. Padre novo, acabado de regressar de Roma, onde fizera também, por iniciativa própria, estudos relacionados com esta, logo fui designado assistente de movimentos operários e, depois, de diversas estruturas diocesanas. Conheço a história e a realidade da Acção Católica, admiro e continuo a seguir a sua metodologia, experimentei ao vivo o dinamismo que a instituição traz consigo desde sempre, tentei dar-lhe força e lugar na acção pastoral, sofri os seus momentos difíceis, estou-lhe grato pelo número de leigos cristãos que nela se formaram. Pela sua têmpera e coragem, creditaram a acção da Igreja nos diversos meios sociais e em situações diversas em que a militância dos leigos cristãos era não apenas um desafio, mas também um risco, conscientemente assumido. A Acção Católica hpje, em Portugal, lamentavelmente, não tem a expansão de outros tempos. Os movimentos operários continuam os mais resistentes, porque a vida os oprime mais. As alterações sociológicas dos chamados meios sociais são por demais evidentes. O mundo da escola encontrou derivativos mais propensos a aspirações pessoais, mas menos exigentes e duros, frente aos desafios e compromissos da vida concreta. Mesmo assim, continua a haver, pelo país fora, militantes de qualidade e de horizontes largos, tanto no meio rural agrário, como no mundo escolar, no meio independente e nas associações profissionais. O Vaticano II assinalou a importância da Acção Católica. Os bispos portugueses também a afirmaram sem reservas. As mudanças sociais e culturais realçaram a sua importância. Porém, os caminhos do laicado parecem agora andar noutra direcção. A crise vivida na mudança não foi bem lida por muita gente responsável, que mais apontou nos desvios inevitáveis, que no rumo que sempre levara e que fazia parte da sua identidade. Só não pisa o risco em momentos de perplexidade, quem não suja os pés no lamaçal da vida..Até os bispos, lá atrás e num momento difícil, votaram pelo seguro, à revelia da história e do testemunho dos que continuavam a acreditar na Acção Católica porque a conheciam por dentro, nela tinham trabalhado e sabiam ler os sinais e o sentido dos ventos.. Estes votaram vencidos, em contra mão da maioria vencedora. Com o coração a sangrar, mas com a esperança em ponto alto, aguardando a luz da profecia. A história da Igreja e do laicado apostólico não se faz, entre nós, sem olhar a Acção Católica. O governo de há décadas perseguiu-a, quis pôr-lhe mordaças, anotou os que a acompanhavam e pôs-lhe os rótulos condenatórios de então. Gente da Igreja, sempre a houve, que não gosta de ventos fortes que sacodem e acordam, dei apoio aos governantes. Mas só a verdade faz história. E essa fez-se, a seu tempo. Quantos jovens formados na Acção Católica, hoje adultos ainda na primeira linha! Quantos outros descobriram e andaram rumos novos nas suas vidas! Quanta gente houve, a acender, corajosamente, o fósforo que rompeu trevas e desmascarou rotinas e mentiras! Quantos projectos solidários inovadores, aparentemente temerários, que mostraram que a fé se vive fora dos templos e não no aconchego dos mesmos! Quantos padres, com militantes ao seu lado, venceram crises, abriram caminhos pastorais novos, contagiaram colegas! Sempre houve cegos e surdos e hoje também os há. Outros movimentos laicais surgiram na Igreja. Parece que alguns ainda não entenderam que a vocação de leigo, é de ser cristão no mundo e animador evangélico das estruturas sociais. A AC é movimento de fronteira e sem ela as fronteiras estão desguarnecidas.
António Marcelino

Efeméride aveirense

Fotos da capa do livro de Armando Tavares da SilvaJornal aveirense
27 de Novembro de 1908
D. MANUEL II foi recebido em Aveiro com grande entusiasmo
Há precisamente 100 anos, D. Manuel II visitou Aveiro, onde foi recebido com grande entusiasmo, tendo-se realizado festas de extraordinária imponência; esteve presente o Bispo-Conde de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pina, seu padrinho de baptismo, que recebeu o monarca à porta da igreja de Jesus, conforme lembra o Calendário Histórico de Aveiro. Por sua vez, Armando Tavares da Silva, catedrático aposentado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, diz, no seu livro "D. Manuel II e Aveiro – Uma visita Histórica (27 de Novembro de 1908)", que houve “cerimónias, festas e realizações populares”. Acrescenta que “D. Manuel II esteve ainda presente no distrito de Aveiro por mais duas vezes pouco antes do 5 de Outubro de 1910. A primeira para uma demorada permanência no Buçaco, no Verão desse ano, e a segunda para as comemorações do primeiro centenário da batalha do Buçaco, em Setembro de 1910”. Mas se é verdade que as festas foram imponentes, com a adesão popular e das autoridades, também é certo que a oposição se manifestou contra a visita, denunciando as altas despesas que ela comportou. No livro de Armando Tavares da Silva, pode ler-se, citando O Commercio do Porto, que as festas foram brilhantes, "cumprindo comtudo especialisar os numeros da noite, isto é, o fogo, as illuminações e a marcha, que chegaram a exceder a espectativa dos proprios organizadores". Depois, adianta: "Passava das nove horas quando se deu por finda esta brilhante festa, que decorreu tão cheia de enthusiasmo como de distincção." Por sua vez, O Democrata, que havia considerado a visita como “Real bambochata”, descreveu com sarcasmo o que viu, sublinhando que “a academia de Aveiro foi reforçada com collegas do Porto e de Coimbra”; referiu que “o sr. Dr. Jayme Silva […] animando com a sua voz cavernosa as frias gentes [estava] sempre prompto a defender o régio vizitante d’algum attentado… feminino. O povo não acclama […], move-se para ver o moço rei que […] ostenta vistosas condecorações […]”
Aqui fica este breve apontamento para tornar presente a efeméride, não vá ela ser esquecida por toda a gente. Para mais informações, clicar em Armando Tavares da Silva Fernando Martins

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Um Livro de Ana Maria Lopes

“O Vocabulário Marítimo Português
e o Problema dos Mediterraneísmos”


Como já neste espaço anunciei, com a certeza de que voltarei ao assunto, Ana Maria Lopes vai lançar, no Museu Marítimo de Ílhavo, no próximo sábado, 29, pelas 17 horas, mais um livro, com ligações ao Mar, tema de paixões da autora. Intitula-se ele “Regresso ao Litoral – Embarcações Tradicionais Portuguesas”
Tenho tido o privilégio de conversar com Ana Maria Lopes sobre estas questões para perceber a riqueza dos seus conhecimentos sobre matérias marítimas, e não só. De tal modo que o seu blogue, que visito com frequência, foi baptizado com o expressivo nome de Marintimidades. Ou seja, um nome que nos remete para as suas intimidades com ligações profundas ao oceano, ou não se reflectisse ele nos olhares de todos os ílhavos, de que a autora é paradigma. Sobretudo quando se fala das influências que o mar exerce nas gentes daquela terra maruja. Mas antes de falar desse trabalho que a envolveu durante bastante tempo, numa busca constante de tudo quanto diz respeito às embarcações tradicionais da nossa costa, permitam-me que lembre, hoje e aqui, uma outra obra de Ana Maria Lopes – O Vocabulário Marítimo Português e o Problema dos Mediterraneísmos –, publicada em 1975, surgindo em 2.ª edição, facsimilada, em 2006, sob a responsabilidade dos Amigos do Museu Marítimo de Ílhavo. Este livro, que é a dissertação de licenciatura em Filologia Românica de Ana Maria Lopes, apresentada na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em Janeiro de 1970, oferece um repositório precioso de vocábulos e expressões que corriam o risco de se perder no tempo.
Com o rigor da recolha e investigação feitas pela então jovem autora, a obra dá, a quem a lê, o prazer de voltar ao linguajar dos nossos antepassados que mourejavam no nosso mar, mais ao largo ou mais em terra. E sendo certo que uma boa parte do trabalho publicado se destina a estudiosos de ciências linguísticas e náuticas, não deixa de ser interessante que pessoas como eu, pouco dadas a rigores fonéticos e a termos técnicos deste domínio, sintam um grande prazer na leitura daquele livro.
Com ilustrações, a preto e branco, e grafismos elucidativos, com redes, alfaias e barcos diversos, de meu directo conhecimento, uns, e meus ilustres desconhecidos, outros, esta obra da autora ilhavense merece ser mais conhecida e mais apreciada pelas gerações actuais, em especial pelos que se dispuserem a colaborar na preservação do nosso passado colectivo.
Olhando para os seus quatro capítulos, com a atenção devida, reconhece-se o esforço meritório de Ana Maria Lopes, numa altura em que talvez não fosse muito frequente ver uma jovem andar de terra em terra nas pesquisas eruditas que ousou empreender, mostrando, no que fez, uma paixão digna de nota.
No capítulo I, o leitor entra em contacto com vários tipos de barcos, costeiros e do alto, e de apetrechos para diversas funções. No Capítulo II, os processos de pesca, com aparelhos e sistemas, mais venda e transporte de peixe. No Capítulo III, dedicado ao confronto entre o litoral algarvio e a costa ocidental, registamos o Portugal com costa de alguns contrastes. Por último, no Capítulo IV, temos a relação entre Portugal e o Mediterrâneo, com índices que ajudam na procura dos temas a ler. É que, para quem gosta de fazer uma leitura, sem pressas, talvez dê jeito começar à cata de um ou outro assunto, segundo o apetite da ocasião.

 Fernando Martins

Melhor acolhimento para os imigrantes

Os Bispos católicos da Europa e da África lançam um apelo às suas comunidades para que sejam “ainda mais acolhedoras em relação aos irmãos estrangeiros, reconhecendo o valor e o contributo que os imigrantes trazem aos países de acolhimento”.

Crónica de um Professor

O Gentleman
Quando se cruzava com a teacher, nos longos corredores da Escola, com um sorriso amistoso, saudava-a, sempre, de forma cordial! Era um rapaz entroncado, rondando os 16 anos e que finalizava, nesse ano, a sua frequência, naquela Escola E.B 2/3.Já não era seu aluno, mas a delicadeza de maneiras, o fino trato, o cavalheirismo arreigado, não o tinham abandonado. E os seus olhos verdes, a fazer estremecer corações, à sua volta, num raio bem alargado da zona escolar? As meninas pululavam como abelhas, em volta de uma flor viçosa, colorida e cheia de fragrância. Era o Julinho, carinhosamente apelidado pela teacher, que, à semelhança de um outro Júlio, sexólogo proeminente da nossa praça, também a cativara pela diferença! Sim, que a monotonia da má educação, da boçalidade, da ignorância, também cansam e desgastam. Um dia, na sala de informática, em substituição de um outro professor, a teacher deparou com esta cena... ternurenta e… tão frequente em meio escolar. Em frente do PC, as imagens sucediam-se, no display, a um ritmo acelerado, captando a atenção do aluno. Sim, digo do aluno, pois foi essa a primeira impressão deixada! Com efeito, ali estavam duas cabecinhas jovens, tão coladinhas, tão empolgadas uma com a outra, que a teacher não ousou interromper aquele idílio! Estavam na idade dos sonhos, das ilusões, do melhor da vida. Como bem os compreendia aquela teacher! Sim, porque ela também sonhava! Por isso se sentia jovem. “Uma pessoa só envelhece, quando os sonhos dão lugar aos lamentos” - ouvira alguém dizer. Apenas comentou, no final da aula: - A tua colega é muito bonita, não é Julinho? Um sorriso cúmplice espraiou-se no rosto… daquele aspirante a Gentleman! A teacher cogitou: - Il n'est pas bon que l´homme soit seul! Lá dizia a Bíblia!
Mª Donzília Almeida

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Recordando Eça de Queirós

Eça agHora Disse João da Ega, Que não era um primo A campanhas alegres dado, Depois que encontrou Carlos, no avistado arrimo Do Turf, num Rossio ultrapassado Pelos anos em que ensonou Num País de lupanares e calotes, E de malandros aos magotes, Num País de corridas falazes E de vestidos sérios de missa, Com jornais bafientos E de artigos rançosos Lidos por uns tantos rapazes De futuros pachorrentos E costumes ociosos: «-Falhámos na vida, menino!» E os tempos verbais trocados Ensinam a História redita, Desde os serões iluminados Pelas lições da monarquia, À juventude nérvea de sabedoria E impaciência liberal, Que corre num vai-vem Num outro aterro irreal Aquém delirante do trem Que nem sempre alcançamos. E assim vai o País de quem promete Lançar carris em largueza Para deixar de vez a charrete E permanecer na certeza Das falas finais que relembramos: «-Ainda o apanhamos!» Hélder Ramos 25.XI.2008
NOTA: A propósito do dia de hoje, aqui segue um poema dedicado a Eça de Queirós, pelo 163º aniversário. É um poema ao estilo parodioso do romancista, inspirado em algumas personagens e obras marcantes do autor.
Hélder Ramos

FÓRUM NÁUTICO DO MUNICÍPIO DE ÍLHAVO

O MAR POR TRADIÇÃO
A Câmara Municipal de Ílhavo e um conjunto de entidades deste concelho e da Região de Aveiro vão criar o “Fórum Náutico do Município de Ílhavo”, com o objectivo-base de dinamizar o desenvolvimento das actividades náuticas, centradas no recreio, no desporto e na cultura. Esta é uma aposta estratégica para a terra que tem “O Mar por Tradição” e a modernidade como aposta permanente, tirando proveito e rentabilizando as suas condições ao nível da natureza, da história e da cultura da nossa gente. Nesse âmbito, vai realizar-se amanhã, 26 de Novembro, quarta-feira, pelas 18 horas, no auditório do Museu Marítimo de Ílhavo, o acto formal de constituição do “Fórum Náutico do Município de Ílhavo”.
Nota: Clicar na foto para ampliar

Efeméride aveirense

25 de Novembro
Neste dia, em 1905, o Governador Civil de Aveiro aprovou os primeiros estatutos do Clube dos Galitos, prestimosa colectividade aveirense fundada em 24 de Janeiro do ano anterior, conforme se pode ler nos Estatutos do Clube dos Galitos, edição de 1905, páginas 21-23, e edição de 1956, página 3.
In Calendário Histórico de Aveiro

Madre Teresa: para pensar

NUNCA TE DETENHAS
Tem sempre presente, que a pele se enruga, que o cabelo se torna branco, que os dias se convertem em anos, mas o mais importante não muda! Tua força interior e tuas convicções não têm idade. Teu espírito é o espanador de qualquer teia de aranha. Atrás de cada linha de chegada, há uma de partida. Atrás de cada triunfo, há outro desafio. Enquanto estiveres vivo, sente-te vivo. Se sentes saudades do que fazias, torna a fazê-lo. Não vivas de fotografias amareladas. Continua, apesar de alguns esperarem que abandones. Não deixes que se enferruje o ferro que há em ti. Faz com que em lugar de pena, te respeitem. Quando pelos anos não consigas correr, trota. Quando não possas trotar, caminha. Quando não possas caminhar, usa bengala. Mas nunca te detenhas! Madre Teresa de Calcutá

Banco Alimentar vai recolher alimentos

A CRISE ATINGE MAIS OS MAIS FRÁGEIS DA SOCIEDADE
Nos dias 29 e 30 de Novembro, o Banco Alimentar vai recolher alimentos junto das grandes superfícies. Precisa, por isso, de voluntários, que possam dar algum do seu tempo para esta tarefa. Todos sabemos que a crise que estamos a sentir na pele atinge muita gente, mas com mais força os mais frágeis da sociedade. Porém, é precisamente nestes momentos que a solidariedade deve manifestar-se com mais vigor. Que cada um saiba dar um pouco do seu tempo, mas também daquilo que tem, alimentos ou dinheiro, na certeza de que esse gesto irá direitinho para quem passa fome. Eu sei que às vezes temos dificuldade em acreditar que há gente sem pão para comer, em época de tanta abundância para alguns. E se nos convencermos desta realidade, então mais força encontraremos em nós para a partilha, urgentíssima.