domingo, 27 de julho de 2008

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 88

AS ENGUIAS
Caríssima/o: Abril, frio e chuva. Também nesse ano o tempo estava de invernia, com chuva atravessada e vento que assobiava nas frinchas da porta. Houve mesmo inundações e algumas estradas eram lagoas. Um dos rapazes, mais afortunado, andava calçado e, numa destas ocasiões, tivemos que o passar para o terreno seco às costas. (O que vale é que estávamos treinados a jogar o eixo...) Foi um bom ano para as nossas experiências com os vapores de papel, de casqueira, de pau e de cortiça... Íamos explorando os “cursos de água”, começando pelas poças e terminando nas valetas. O curso de náutica ia evoluindo e muitas vezes fazíamos incursões pela pescaria. O teu sorriso não engana ninguém. Na tua queres dizer que os girinos, a que nós chamávamos 'peixes-sapos', eram a nossa caldeirada! Enganas-te, porque conhecedores da fauna piscícola e anfíbia éramos nós. Certo é que chegados às valetas atrás dos barcos logo os nossos olhos eram atraídos por umas linhas que ziguezagueavam ali mesmo à mão de apanhar. Não nos fazíamos rogados e uma fantástica caldeirada de enguias era agora toda a nossa delícia. Quase fazíamos campeonato a contá-las e o campeão atingia mais um motivo de inchar o peito. Algumas até tinham perto da grossura do mendinho! Toca a correr para casa que a mãe devia ficar contente com o 'governo'. Como não estivesse ninguém, as enguias ficaram dentro duma bacia em água a nadar, vivinhas. E nós fomos continuar a corrida dos veleiros. À tardinha, brincadeira terminada, aos chamamentos acudíamos que a ceia esperava-nos. Íamos lestos com o sorriso da boa colheita. De repente que vemos? O malvado do gato a trincar as nossas ricas enguias! Pedrada e grito atirado contra ele. - Que fazes? Deixa o animal, fui eu que lhas dei; só espero que não se esgane... Manuel

Ainda a Humanae Vitae

Entrevista com Dr. Thomas Hilgers

SE NÃO FOSSE A HUMANAE VITAE...

Por Robert Conkling
Se não fosse pela «Humanae Vitae», boa parte da medicina reprodutiva natural e da luta contra a infertilidade praticada hoje não teria existido, afirma o pioneiro das tecnologias naturais procriativas (Natural Procreative Technologies, NaPro). O Dr. Thomas Hilgers é o co-fundador do Instituto Paulo VI, de Omaha, Nebraska (Estados Unidos). Também desenvolveu o Creighton Model Fertility Care System e é autor de «The Medical and Surgical Applications of NaProTechnology» (Aplicações médicas e cirúrgicas de NaProTechnologia). Por ocasião do 40º aniversário da publicação da encíclica «Humanae Vitae» (25 de Julho de 1968), a Academia Americana de Profissionais de Fertilidade teve seu encontro anual no mês passado, em Roma. Nesta entrevista concedida à Zenit, Hilgers dos primeiros efeitos que a «Humanae Vitae» teve em sua carreira profissional. Clique aqui para ler a entrevista

sábado, 26 de julho de 2008

Marcas dos nossos antepassados

Castelo de Montemor-o-Velho



Embora não seja pessoa muito viajada, gosto bastante de passear com destino traçado. Chama-se a isto programar as visitas que faço, para, no fundo, procurar ver o que deve ser visto. Felizmente, hoje não falta informação sobre destinos turísticos dentro do nosso País. Os jornais e revistas, mas também as televisões e rádios, são férteis nessa área, sugerindo-nos, até, terras famosas ou mais ou menos desconhecidas, onde há algo de importante para ver. Perto ou longe do lugar em que vivemos. 
Nas últimas férias grandes, fiz isso mesmo. Tracei o itinerário e fui ver, com calma, algumas jóias da nossa arquitectura e da nossa história. Castelo de Montemor, Batalha e Alcobaça, lidos e vistos sem pressa, foram motivo de grande satisfação interior, para além de me encherem o vazio de interioridade de quem vive, como eu, à beira-mar e à beira-ria. É essa, portanto, a minha proposta para quem gosta das marcas bem visíveis dos nossos antepassados, mesmo para aqueles que, nas férias, só se sentem bem com mar à vista. 

FM

A RIA DE AVEIRO

(...) Ria sonhadora e esquiva Que o Mar não sabe entender É ele quem lhe dá vida No Mar ela vai morrer (...)
Prof. Guilhermino Ramalheira
NOTA: Quadra enviada pela Marieke

CONFERÊNCIA INTERNACIONAL PARA O DIÁLOGO

1. Realizou-se em Madrid, na semana passada, com a presença de muçulmanos, cristãos (o cardeal J.-L. Tauran representou o Vaticano), judeus, budistas, hindus e membros de outras religiões, uma conferência sobre o diálogo inter-religioso. Inédito: a iniciativa partiu do rei da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdulaziz Al Saud, guardião dos lugares santos do islão em Meca e Medina, após um encontro, também ele inédito, com Bento XVI no Vaticano. Na sessão de abertura, o rei Abdullah apelou ao diálogo para fazer frente à "perda de valores" e "confusão de conceitos", frutos, no seu entender, do "vazio espiritual". O islão "é a religião da moderação, da ponderação e da tolerância". Para o monarca saudita, a diversidade de religiões há- -de ser um meio para a "felicidade" dos humanos, porque se Deus tivesse querido outra coisa, "teria imposto uma só religião à Humanidade". "As tragédias vividas não foram causadas pelas religiões, mas pelos extremismos adoptados por alguns dos seus seguidores e pelas crenças políticas." Também o rei de Espanha, Juan Carlos, defendeu o diálogo inter-religioso e intercultural, fazendo votos para que a Conferência contribua para um mundo "mais justo, mais próspero e solidário" e "que acabe com a inaceitável barbárie terrorista, lute contra a fome, a doença e a pobreza, respeite os direitos do ser humano e promova a defesa do meio ambiente". A Conferência concluiu com uma Declaração, que afirma que "as mensagens divinas rejeitam o extremismo, o fanatismo e o terrorismo" e recomenda que "se promova uma cultura de tolerância e compreensão". Para isso, convida a Assembleia Geral das Nações Unidas a "impulsionar o diálogo entre os seguidores de todas as religiões, civilizações e culturas, organizando uma sessão especial para o diálogo".
Anselmo Borges
Leia todo o artigo em DN

ENQUANTO CADA UM OLHAR PARA O SEU UMBIGO...

Enquanto cada um olhar apenas para o seu umbigo, não haverá resistência que valha a pena.
João Marçal
Primeiro levaram os negros Mas não me importei com isso Eu não era negro Em seguida levaram alguns operários Mas não me importei com isso Eu também não era operário Depois prenderam os miseráveis Mas não me importei com isso Porque eu não sou miserável Depois agarraram uns desempregados Mas como tenho meu emprego Também não me importei Agora estão-me levando Mas já é tarde Como eu não me importei com ninguém Ninguém se importa comigo
Bertold Brecht (1898-1956)
Nota: Enviado pelo João Marçal

PONTES DE ENCONTRO

Língua portuguesa: casa comum para um projecto de todos!
A frase de Fernando Pessoa (1888-1935) “a minha pátria é a língua portuguesa” é por demais conhecida e traduz bem o que a língua de qualquer país pode representar para cada um dos seus cidadãos. A língua pátria é como uma segunda mãe que não é só nossa pertença, mas algo de real a quem também pertencemos. Algo que nos identifica nas mais variadas dimensões que à vida de cada ser humano dizem respeito e nos situa, singularmente, na comunidade das nações. Ao contrário de que se possa pensar, a língua não só está associada a todos os domínios da actividade humana, como até lhes dá sentido, corpo e alma. Um destes domínios é o da cultura, no sentido geral do termo. Cultura enquanto expressão de tudo o que é e foi criado pelo homem, mulher ou criança, nas suas relações, recíprocas, com tudo o que os envolve, através do falar comum e da natureza real e simbólica com que se relacionam. Deste modo, ao falar uma língua, uma pessoa não utiliza apenas um código abstracto de sons ou sinais. As palavras e as frases referem-se a algo mais; significam alguma coisa que existe. Só por si, não podiam subsistir no vazio. Significam e representam imagens de uma realidade de partilha, independentemente do lugar onde se esteja. Quando profiro uma determinada palavra, quem me ouve não ouve apenas um som. Também visualiza na sua mente uma determinada imagem viva daquilo que eu digo. De qualquer modo, como dizia Pessoa, o mundo a que se referem as palavras é mais importante do que elas, daí que falar em palavra nos introduza na realidade matricial de uma pátria linguística que nos une e também fala por cada um de nós. Dos portugueses diz-se, em regra, que são um povo com baixa auto-estima, pessimistas e medíocres. Não me vou debruçar sobre estes e outros epítetos de como somos tratados ou nos julgam, mas, antes falar da imensidão pátria em que estamos inseridos e à qual me parece que as autoridades portuguesas não têm dado o devido tratamento. Ter pátria é sentir que se pertence a uma casa e a um futuro comum, que tanto maior será quanto mais for acarinhada, incentivada e reconhecida como o cimento que congrega todas as partes desta habitação sem fronteiras, que a todos acolhe e lhes dá sentido. Li, há dias, que “o português está na moda”. Bem pode estar, mas as modas suscitam reservas e são sempre passageiras. Por isso, o importante é que a língua portuguesa não só esteja na moda como represente uma realidade viva, real e simbólica de um todo intemporal e transpacial, seja em que domínio for, através do dia-a-dia de quem a fala. Presentemente, o português é falado por 239,6 milhões de pessoas, na chamada CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), que integra o Brasil (191.908.598), Moçambique (21.284.701), Angola (12.531.357), Portugal (10.676.910), Guiné-Bissau (1.503.182), Timor-Leste (1.108.777), Cabo Verde (426.998) e São Tomé (206.178), a que se juntam mais de 5 milhões de portugueses que se encontram dispersos em países como os EUA, França, Brasil, Canadá, Reino Unido, Alemanha, entre muitos outros, o que perfaz o número impressionante de cerca de 244 milhões de pessoas a falar o português e o torna a 5ª língua mais falada no mundo. A estes números, há que acrescentar o interesse, cada vez maior, que a aprendizagem do português está a suscitar em vários países, casos da Espanha, China ou África do Sul. Em termos de Internet, e segundo dados do ano de 2007, o português ocupa o 7º lugar, depois do inglês, chinês, espanhol, japonês, francês e alemão. Deste modo, existe um potencial enorme a explorar no incremento da língua portuguesa, mas, para tal suceder, é necessário que as entidades governamentais se empenhem, seriamente, em programas de desenvolvimento e de apoio ao seu ensino e divulgação, a todos os seus níveis, seja em que latitude for. Continuar a construção desta enorme casa comum que a língua de Camões nos faculta e propõe, onde todos se possam sentir parte integrante deste grande família universalista, multifacetada, nas suas experiências e culturas, é um desafio para todos os tempos e que constitui a medida padrão para uma relação afectiva de cada um com todos.
Vítor Amorim

sexta-feira, 25 de julho de 2008

HUMANAE VITAE

Alguns aplausos e um lamento
A encíclica Humanae Vitae é um caso de popularidade, por bons e por maus motivos. Entre as razões que justificam esta popularidade está o facto de dizer respeito a uma matéria, a chamada "regulação dos nascimentos", que concerne a vida de quase todas as famílias em todo o mundo. Além disso, o ano 1968, em que foi publicada, é um ano charneira a muitos títulos: a nova mentalidade relativa ao sexo depois da comercialização da pílula contraceptiva, a conhecida turbulência de Maio, o auge dos gloriosos trinta anos de desenvolvimento europeu, o momento em que a televisão começa a globalizar o mundo, o entusiasmo do programa espacial, a reforma do Concílio Vaticano II que prosseguia nos vários sectores da Igreja. O texto caiu como um duche gelado sobre as costas da geração de sessenta! A história de efeitos que desencadeou, desde a primeira hora, com discussões mediáticas e teológicas, pronunciamentos amortecedores de Conferências Episcopais, tem que ver com o confronto doloroso que se joga no seu interior entre dois modelos de justificar a moral cristã. Jorge Teixeira da Cunha, Director-Adjunto Faculdade de Teologia da UCP NOTA: Um comentário (ver post A RIA DE AVEIRO) levou-me a ler este texto, na Ecclesia. Aqui o partilho com os meus leitores, na certeza de que há quem concorde e quem discorde. Como sempre, em qualquer sector da vida.

A RIA DE AVEIRO

Ao falar de férias, alguém me dizia ontem, com convicção, que não há nada como a nossa zona. Temos grandes praias e mar chão, onde se pode andar à vontade, sem perigo, por tão bonançoso ser ele quando se confronta com a areia branca, e logo a seguir, se lhe virarmos as costas, com apetência por outros horizontes, deparamos com a ria de águas límpidas e mornas, com espaços e desafios para toda a gente. É verdade. Porém, nós, os da beira-ria, nem sempre nos damos conta das riquezas que temos. Como esta, está bem de ver, de acordar ao som do mar, que rola e rola, e da ria que nos atira cheiros salgados, como que a convidarem-nos para que a apreciemos e desfrutemos. Todo o ano, mas sobretudo nas férias.

Ainda o caso Meddie

A TELENOVELA VAI CONTINUAR...
A telenovela vai continuar, pelos vistos. Quando tudo fazia prever que o caso estava arrumado, por falta de provas, eis que um simples livro vem acordar toda a gente para a história dramática da menina desaparecida há mais de um ano sem deixar rasto. A comunicação social, ávida de temas de cartaz, aí está a reconstruir todo o drama. São precisos temas escaldantes para o Verão arrancar em grande, agora que o sol chegou, com assuntos que envolvam as pessoas. Claro que é o Caso Meddie, a menina inglesa. Os casos, que os há, de muitos outros meninos e meninas desaparecidos continuarão no silêncio dos gabinetes policiais. Ninguém repara neles. Ninguém sabe se foram assassinados ou envolvidos pelas redes pedófilas. Não interessa. Só interessa o Caso Meddie. Não me canso de magicar sobre o porquê de tudo isto. Mas sempre vou pensando que, afinal, a “virtude” desta situação está, simplesmente, nos “negócios” de muita comunicação social. Sem casos, não se vendem notícias… No fundo, quer fazer-se passar a ideia de que houve erros graves que dificultaram a descoberta do crime, se é que houve crime. O espectáculo das acusações mútuas, mesmo entre polícias, vai marcar esta época estival. Cá para mim, os erros foram protagonizados por toda a gente: pais que abandonaram os filhos para jantar com os amigos; polícias e demais autoridades que não terão agido com perspicácia e prontidão necessários; comunicação social que apostou friamente em ganhar notoriedade e dinheiro com um drama, alimentando a “telenovela” com capítulos e mais capítulos da história e com repetições de cenas e de coisa nenhuma, até à exaustão; e nós todos que fomos na onda dos manipuladores de opinião. É triste que, de dramas familiares, que envolvem pessoas e sentimentos, se alimentem juízos temerários, enquanto, porventura, se descura o trabalho de investigação, que deve ser feito em silêncio, muito longe dos holofotes dos industriais e comerciantes de notícias. FM

ABBA: Chiquitita

Aqui está Chiquitita, dos ABBA, que ainda ontem ouvi, recordando melodias de sempre. Boas férias com boa música.

FÉRIAS

Uma boa leitura… Uma boa música
Dei conta, há dias, neste meu espaço, do prazer que senti ao ouvir velhos discos de vinil, encontrados no meu sótão. Por ali estavam há anos, sem ninguém os ouvir. E ao ouvi-los, levando outros, cá em casa, a ouvi-los também, dei comigo a pensar que tudo isto foi possível por estar eu de alguma forma livre de responsabilidades profissionais ou outras, que foram, para mim, sempre muito absorventes. Frequentemente dou comigo, ainda, a pegar em livros que estão arrumados e até perdidos nas estantes. Pego neles e recuo às épocas em que os adquiri e li, e não resisto, então, à força que me leva a reler algumas passagens. Gosto disto. Penso que em férias podemos muito bem viver estas pequenas ou grandes emoções sem gastar um cêntimo. Temos tudo à mão, tempo e objectos que nos fazem reviver vivências passadas, que nos ajudaram a construir o nosso futuro, que é o nosso presente. Férias não têm de ser, necessariamente, tempos de correrias, de desgaste físico e mental, de canseiras enervantes, de sacos cheios de futilidades. Férias podem ser momentos de encontro com os nossos gostos nem sempre usufruídos, com leituras repousantes. Se possível, ao som, tranquilo, de melodias que foram, porventura, abafadas, nem sabemos porquê. Boas Férias para todos.
FM

PONTES DE ENCONTRO

A verdade da fome e a mentira da fartura!
“Estamos no século XXI. Devemos e podemos alimentar o planeta e não o fazemos. A cada 30 segundos, há uma criança que morre de fome, a cada dia há 25 000 seres humanos que perdem a vida porque têm fome. E há 850 milhões que sofrem com a fome. Esta é a situação. Ninguém, seja do Norte ou do Sul, pode aceitar esta situação. Ninguém. É preciso, portanto, agir e agir imediatamente. Agir significa o quê? Significa um objectivo simples: dobrar a produção alimentar mundial até 2050. Esta é a condição. E nós devemos dobrar a produção alimentar mundial preservando ao mesmo tempo o planeta.” Já há algum tempo que não escrevia sobre a falta de alimentos e da fome que daí resulta, neste espaço do Pela Positiva. De quando em quando, na vida, há a necessidade de deixarmos assentar as coisas, para que elas se tornem mais perceptíveis e óbvias, a fim de se evitar cair num nível de incompreensão, desorientação e de saturação pessoal e colectiva, que acabam por nos tirar o discernimento necessário para compreender o que nos rodeia e torna-nos insensíveis e indiferentes, mesmo perante os mais horríveis e cruéis problemas humanos de que falamos ou ouvimos falar. Tudo passa a ser banal! O ser humano, em regra e numa primeira fase, perante os factos negativos, tende a funcionar por impulsos momentâneos, passageiros e inconsequentes, recusando, negando ou até manipulando a sua existência e realidade. Procura, assim, mesmo que o possa fazer de uma forma não programada, não se comprometer com aquilo que verdadeiramente o incomoda e aflige. Por outro lado, quando não consegue abstrair-se das situações negativas ou estas se tornam uma presença constante, tende a resignar-se e a aceitá-las como naturais e inevitáveis, pelo que deixa de lutar contra elas, ou melhor, deixa de lutar por aquilo que é ou já desistiu de ser. Já não vale a pena. A excepção passou a ser a normalidade. Basta-nos recordar quando alguém é atingido por uma doença grave, para compreender melhor este tipo de comportamentos. No caso da fome, ela contínua aí, e em força! E para que não se diga que eu sou o mensageiro das desgraças, comecei este texto com uma citação do discurso do Presidente francês, Nicolas Sarkosy, proferida em Roma, em 3 de Junho, durante a Conferência de Alto Nível Sobre Segurança Alimentar da FAO (Organização da ONU Para a Agricultura e Alimentação), onde 181 países, durante três dias, procuram encontrar respostas e soluções para o drama humanitário e civilizacional da fome. Não se está, pois, perante um perigoso pacifista, um simples idealista ou um lunático de causas perdidas, rótulos que alguns não se coíbem de colocar, muito facilmente, em quem defende e luta por algumas das causas do sofrimento humano e das injustiças que lhes estão subjacentes. Nicolas Sarkozy, durante o seu discurso, reconheceu que as políticas alimentares do passado recente fracassaram. Diz ele: “Essa estratégia [dar subsídios aos países pobres] não deu certo. Ela era generosa, mas fracassou. A segunda estratégia, a do futuro, deve repousar no desenvolvimento das agriculturas locais. Esta é a única solução.” Mas, como diz o provérbio da sabedoria popular, “de boas intenções está o inferno cheio” e esta reunião da FAO veio, mais uma vez a confirmá-lo, já que nada de concreto saiu dela, assim como foram bem visíveis os múltiplos interesses em confronto, por parte dos países desenvolvidos que estiveram representados em Roma. Nós somos assim: complicados e pouco dados a querer perceber, ou a fazer que não percebemos, a verdadeira razão das coisas, sejam as nossas ou a dos outros. Sarkozy sabe disso. Por isso, ele fez o discurso que fez: correcto nos princípios e na análise, mas sem consequências práticas. Nada disto é fruto do acaso ou do infortúnio. É, antes, próprio de uma sociedade que vai preferindo uma boa mentira do que uma má verdade e onde poucos são os que se querem incomodar com o que realmente conta para um futuro melhor para todos. Até quando, ainda, é possível manter tudo isto?
Vítor Amorim

quinta-feira, 24 de julho de 2008

POR UM MUNDO MELHOR…

Ana Teresa Silva
O Pela Positiva nasceu com o propósito de apostar no que a vida nos oferece de bom. O projecto, embora muito simples, continua a fazer-me crer de que é possível e necessário ir por aí… Porém, nem sempre terei cumprido com rigor esse objectivo. Obviamente, por incapacidade minha. Depois de férias, quero dar mais um passo, convidando mais amigos para me ajudarem nessa tarefa de contribuir para um mundo mais harmonioso, de gente mais feliz. Hoje, contudo, fui alertado para mais uma aposta, nessa linha, de acreditar que há acções e projectos que reflectem o bom que a vida nos dá. Chama-se IM Magazine, de Ana Teresa Silva, jornalista, que se fez reunir de muitos amigos e colaboradores com ideias positivas, no sentido de oferecer “O melhor que se faz no mundo para um mundo melhor”. Aqui ao lado, em CULTURA, pode consultar o IM MAGAZINE todos os dias.

UM PROJECTO QUE PAROU OU UM PROPÓSITO ESQUECIDO?

Num documento que pretendeu marcar o ritmo da Igreja para o terceiro milénio, João Paulo II, ao falar da ne-cessidade e das exigências de uma espiritualidade de co-munhão, disse textualmente: “Depois do Vaticano II já muito se fez nomeadamente quanto à reforma da Cúria Romana, à organização dos Sínodos, ao funcionamento das Conferências Episcopais; mas certamente há ainda muito que fazer para valorizar o melhor possível as poten-cialidades destes instrumentos de comunhão, hoje parti-cularmente necessários, tendo em vista a exigência de dar resposta pronta e eficaz aos problemas que a Igreja tem de enfrentar nas rápidas mudanças do nosso tempo” (NMI 44). A justeza destas palavras parece estar a esquecer-se ou, então, o projecto parou, não se sabe se por inércia, se por interferência de quem parece não ter entendido ainda nem a razão de ser da Igreja, como serviço ao Povo de Deus e ao mundo a evangelizar, nem os sinais dos tempos, tão eloquentes e exigentes no estímulo a caminhos novos, que não se compadecem com demoras.
António Marcelino Clique aqui para ler todo o artigo