quarta-feira, 18 de junho de 2008

O Beira-Mar não vai por água abaixo


Tenho estado atento às dificuldades sentido pelo Beira-Mar. Clube alicerçado na cidade dos canais é, sem dúvida, um certo símbolo de Aveiro. Tem dado a todos os aveirenses grandes alegrias, mobilizando, nessas alturas, multidões de sócios e simpatizantes. Nesses momentos de entusiasmos esfusiantes, as multidões seriam capazes de lhe dar tudo. O pior é depois…
Depois, quando está na mó de baixo, a debandada é quase geral. Tenho pena destas gentes que só sabem cantar Beira-Mar… Beira-Mar…. Beira-Mar em tempos de vitórias e de euforias. Nas horas de tristezas, fogem com o rabinho entre as pernas…
Ainda bem que foi possível encontrar quem segure o leme…
O Beira-Mar não vai nem pode ir por água abaixo…

As mulheres amanham a terra

“Nas Gafanhas da Nazaré, da Encarnação, na d'Aquém, na do Carmo, na Vagueira,... em todas as Gafanhas de Ílhavo, as mulheres amanham a terra..." Leia mais em GALAFANHA

Projecto de qualificação urbana da Gafanha alterado



O edifício da Junta de Freguesia da Nazaré será ampliado e, na sua envolvente, será criado um piso subterrâneo para estacionamento e uma área comercial
A autarquia ilhavense decidiu proceder a algumas alterações ao projecto base de qualificação urbana da área envolvente ao antigo Mercado da Gafanha da Nazaré, que havia sido seleccionado no concurso de ideias. De acordo com o vereador das Obras e Equipamentos, Fernando Caçoilo, foram-lhe acrescentadas algumas valências consideradas necessárias, nomeadamente um espaço subterrâneo (espécie de cave com 25 mil metros quadrados), com capacidade para acolher cerca de 100 viaturas, a criação de uma zona comercial nas laterais dessa zona envolvente, “de forma a criar um intercâmbio com a Junta de Freguesia, e o aumento da parte do edifício em que funcionarão os serviços da Junta de Freguesia em cerca de 20 por cento, “para que reste mais espaço para os CTT”, bem como para a instalação de um bar.
Estas intervenções, que passam a representar um investimento de cerca de 3.800.000 euros (mais 300 mil euros que o projecto inicial), serão executadas pela sociedade Mais Ílhavo, SA.
E tendo em conta a entrega da obra a este consórcio privado, João Roque, vereador da oposição socialista, questiona a futura legitimidade de posse por parte da Junta de Freguesia da Nazaré, ao que Ribau Esteves responde estar assegurada. “O nosso trabalho é desenvolvido em conjunto com a Junta de Freguesia, enquanto seu proprietário e utilizador exclusivo”, sublinha o autarca.
À questão de João Roque acerca das acessibilidades para deficientes, o edil garante estarem previstas, com um “elevador para circulação entre os dois pisos do edifício”.


Manuel Serra congratula-se com as obras

Manuel Serra, presidente da Junta da Gafanha da Nazaré, entidade parceira neste projecto, congratula-se pelas obras que serão efectuadas, considerando que “vêm ao encontro das necessidades sentidas e constituem uma resposta ao desenvolvimento futuro” daquela freguesia.


PONTES DE ENCONTRO


Os protestos de hoje e as opções (urgentes) para o futuro

Nas primeiras duas semanas deste mês de Junho, o país foi confrontado com a greve dos pescadores e com o bloqueio dos camionistas. Seguiu-se a paragem dos carros de reboque, sobretudo na zona Sul e, ontem, os buzinões rodoviários, fizeram-se ouvir, um pouco por todo o país. As ameaças de novas suspensões, caso das ambulâncias, taxistas e manifestações dos agricultores já se fizeram, também, anunciar. Motivo: a escalada dos preços do petróleo e os custos acrescidos que representam para estes (e outros) sectores de actividade. Em alguns países europeus (França, Itália, Holanda e Espanha, por agora), alguns destes protestos também têm tido lugar, pelo que não é sério dizer (ou tentar induzir) que se trata de um problema só português, como tenho ouvido.
Com mais ou menos habilidade, com algumas vulnerabilidades à mistura ou, como referiu a oposição, com uma total incapacidade em prever estes acontecimentos e da falta de autoridade demonstrada, o Governo português tem negociado com os representantes dos sectores em luta e as coisas têm voltado, para já, ao ritmo normal de funcionamento. Ao mesmo tempo, o Governo vai dizendo que aquilo que concede às reivindicações, que estão na base destas lutas, não põe em causa o equilíbrio das contas públicas, ainda que sejam os contribuintes, como sempre, a pagar a factura. Seja como for, tudo o que se está a fazer, não passa de paliativos de curto alcance. O problema de fundo (o preço de petróleo) persiste sem solução e parece não querer inverter a tendência de subida. Deste modo, se nada mais for feito, as preocupações, os conflitos generalizados, as lutas e convulsões sociais irão agravar-se, nestes e noutros sectores que, até agora, ainda não se manifestaram. A nível interno, o Governo pode descer o ISP (demasiado elevado para o nível de vida português) ou não permitir que as gasolineiras tenham tanto lucro. Mas, mesmo que o venha a fazer (o que acho muito pouco provável), não passariam de medidas com efeitos de médio prazo e não orientadas para um futuro que tem que assentar num consumo cada vez menor de petróleo, não só porque este não é eterno, os seus preços tornar-se-ão incomportáveis e a transição para uma sociedade pós-petróleo é uma realidade reconhecida como inevitável e algumas medidas, insuficientes, têm sido dadas nesse sentido, à escala mundial.
De resto, querer manter o estilo da baixa e velha política, em que tudo serve para o bota abaixo e os argumentos utilizados falam de tudo menos dos novos desafios de hoje e amanhã, sugerem que alguns ainda não entenderam (ou fazem que não entendem) que o mundo está a viver uma crise diferente das anteriores e que esta vai obrigar, a bem ou a mal, a alterar, radicalmente, os hábitos de vida pessoal das populações, a nível global, mesmo sabendo que há sempre alguém que passa ao lado de tudo isto.
O país necessita, pois, de intervenções lúcidas e corajosas e de responsáveis capazes de as levarem a cabo. Destaco a excessiva e crónica dependência petrolífera que o afecta e a insuficiente aposta que se tem feito na rede ferroviária, que deve ser modernizada, ampliada e incentivada, para o transporte de pessoas e mercadorias. Se no caso do petróleo deve haver uma política coordenada com a União Europeia, para que esta aposte, em conjunto, na diversificação das suas fontes energéticas, no segundo caso, há que deixar de apostar tanto nas vias rodoviárias. Deste modo, o Governo tem o dever e a obrigação de deixar de lançar concursos atrás de concursos de novas auto-estradas ou SCUT, pelo que irá ter de rever todos os seus projectos neste tipo de infra-estruturas, que tão onerosas são para o país, apostando na ferrovia, na modernização da frota comercial, com veículos menos poluentes e económicos, e na revitalização das estruturas portuárias. Também o plano aeroportuário nacional vai ter que ser adaptado a estas novas realidades, a fim de não se criarem autênticos elefantes brancos que podem comprometer gerações e gerações de portugueses e o futuro do país.
Ainda que tudo isto não traga resultados a curto prazo, urge que as medidas para a sua implementação não fiquem esquecidas algures numa secretária e se tornem prioritárias. De outro modo, haverá toda a razão para dizer que o Governo (este ou outro) não soube ler os sinais dos tempos nem prever o futuro das gerações vindouras.

Vítor Amorim

terça-feira, 17 de junho de 2008

Igreja católica cria conselho nacional para harmonizar gestão de bens culturais

A Igreja católica portuguesa vai reunir pela primeira vez quarta e quinta-feira o seu novo Conselho Nacional dos Bens Culturais para optimizar a gestão do património existente.
«A Igreja tem de estruturar melhor a gestão dos bens culturais nas dioceses», considerou o bispo do Porto e presidente da Comissão Episcopal da Cultura, na véspera do primeiro encontro magno dos organismos católicos nesta matéria. Na primeira assembleia do Conselho Nacional, representantes de todas as dioceses vão apresentar a avaliação dos bens existentes para depois estabelecer regras comuns de gestão «desde a organização dos serviços diocesanos vocacionados até à definição de políticas globais de actuação nas mais diversas áreas patrimoniais (material e imaterial)», refere a organização do encontro.
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NA LINHA DA UTOPIA

Valores comuns?
1. Foi na América que há dias um acidente especial foi notícia de destaque. Tratava-se de um senhor idoso que ao atravessar uma estrada foi atropelado. Ficou caído no chão. Veio o carro seguinte e passou por cima. As pessoas, quer dos carros quer dos passeios da berma abrandavam um pouco, mas logo seguiam a sua vida. A pessoa atropelada logo viria a falecer. Mas o mais gritante do acontecimento foi a passividade dos transeuntes até alguém “pôr a mão” ao acidentado. A notícia foi badalada, e abordada mesmo a questão de fundo do individualismo e da indiferença dos caminhantes perante um “irmão humano” estendido na estrada. Foram as imagens da câmara de filmar da estrada que gravaram esse indiferentismo e o salve-se quem puder da vida tida de moderna das designadas grandes cidades do mundo. Mesmo sem as generalizações sempre injustas, dá muito que pensar sobre o modelo de civilização em andamento pelas estradas da vida ocidental. 2. Foi já no mês passado que um grupo musical francês, da chamada arte de música electrónica, provocou um aceso debate sobre a polémica de um vídeo colocado na internet, no Youtube. A arte do vídeo da música tinha como título «stress». As imagens, acompanhadas de enérgica música electrónica, mostravam um grupo de jovens dos subúrbios de Paris a saírem do seu bairro e, por onde iam passado, a provocarem graves distúrbios públicos: «Roubo, assédio, destruição de um café, confrontos com a polícia, carjacking, terminando com a queima de um veículo», foram as fortes imagens seleccionadas para passar a mensagem musical. Polémica instalada, os defensores deste estilo de liberdade respondem com arte cinematográfica, dizendo que o vídeo é uma magnífica obra de arte semelhante a filmes como «O Ódio» e «Manual de instruções para crimes banais». Títulos evocadores de arte mortífera. 3. Deste caso francês, que quase regista os motins dos bairros pobres incitando a violência, o grupo musical e a respectiva editora dizem que se trata de arte e que é inofensivo, pretendendo caracterizar a cobertura que os média fazem quando ocorrem os motins dos subúrbios de Paris. Dá que pensar, e para mais novamente no país da razão que parece continuar a extravasar a própria ordem da racionalidade. A montante e a jusante, quer como facto polémico quer na sua resposta, sente-se que um certo património de valores comuns de dignidade da pessoa humana e da não-violência se vão expirando. Claro que há que ter cuidado com a referência a «valores comuns» em tempos da proclamação exaltada dos «valores individuais». Não existam ilusões, sem sobreposições, precisamos mesmo de valores comuns na base da dignidade da Pessoa, esta na sua vocação ao sentido de pertença e de comunidade. Quando não, este género de «acidentes» tem grave tendência para a multiplicação. A sensibilidade e o bom senso, enxertados na sólida formação humana e cívica, serão os valores comuns que garantem a dignificação pessoal e o sentido da história comum. Mas que lugar estes ocupam na formação contemporânea?

Peditórios

Com muita frequência, sou abordado, em casa ou na rua, com pedidos de contribuição para instituições diversas, maioritariamente dedicadas, segundo me dizem, a apoiar toxicodependentes em recuperação, doentes com SIDA e crianças abandonadas. Há tempos, ao indagar a sede da instituição que pedia o meu apoio, recebi como resposta que se situava numa rua por sinal perto da minha. Fiquei espantado. E disse que achava estranho existir uma instituição com essa vocação tão perto de mim sem eu saber. Eu que julgava conhecer a minha terra e a sua vocação para apoiar quem sofre. Claro que se tratava de mais um grupo que anda por aí a governar a vidinha à custa da boa-fé dos outros. A partir daí, confesso que fiquei mais desconfiado. Hoje aconteceu mais um desses peditórios. Vêm de longe, aterram e pedem. E se porventura não contribuímos, não faltam, por vezes, os azedumes… E se pergunto, como perguntei, se o Estado não apoia a sua instituição, logo vem a resposta de que não, o que as abriga a recorrer às pessoas para poderem sobreviver. Eu gostava de saber se as autoridades não têm possibilidades de averiguar a honestidade e veracidade destas instituições. Penso que as forças policiais, delicadamente, podem muito bem fazer isso, sem molestar ninguém. Não serão essas pessoas obrigadas a apresentar credenciais para poderem fazer esses peditórios? FM

Congresso Missionário, Oportunidade a Valorizar

Carmelo de Aveiro

"Recomendo insistentemente a todos os párocos que valorizem os subsídios recebidos da Comissão Episcopal das Missões e do nosso Secretariado Diocesano de Animação Missionária. Peço que se aproveite o envio dos jovens voluntários que nos meses de Verão fazem experiências missionárias e se promovam encontros de reflexão e de oração, convívios e festas em que haja espaço para a partilha de bens e para o testemunho. Exorto vivamente as famílias, sobretudo as que sentem a urgência da causa missionária, a que tomem iniciativas que julguem adequadas e acompanhem com solicitude e gratidão os que se dedicam inteiramente à Missão."

Nota Pastoral do Bispo de Aveiro sobre o Congresso Missionário 2008

Uma Europa de Valores

Mais uma vez, a União Europeia foi despertada do seu adormecimento institucional pelos cidadãos. Neste caso, o «Não» da Irlanda tem um impacto que ultrapassa, em muito, o âmbito nacional, podendo colocar em risco o Tratado de Lisboa de que os governantes portugueses tanto se orgulham. Os cidadãos europeus parecem ser um problema para quem lidera a União e está, muitas vezes mergulhado em questões menores ou demasiado virado para si mesmo: quando os europeus não participam, há queixas do seu alheamento; quando participam, são pouco dóceis aos desígnios comunitários e têm o mau hábito de se lembrarem dos problemas com que convivem no seu dia-a-dia e castigarem quem comanda os seus destinos. “Bruxelas” está a deixar de ser o símbolo de paz e unidade europeias para passar a ser uma espécie de papão para as faixas da população mais desprotegidas. Se quiserem ser levados a sérios, os mentores desta nova Europa (reunificada, para os políticos; reconciliada, para a Igreja) têm de estar atentos às necessidades concretas das populações que são chamados a servir – esse fim nobre da política que cada vez mais parece mais esquecido... Enquanto a vida passa lá fora e a União discute sobre o que há-de fazer com os seus documentos, o preço do petróleo não pára de aumentar, as greves e as manifestações de descontentamento multiplicam-se, a crise alimentar adensa as nuvens negras no horizonte. O papão não será o culpado de tudo, mas tem de fazer mais para esclarecer e ajudar os habitantes deste Velho Continente, uma referência para todo o mundo. A Europa dos 27 precisa de redescobrir-se, nos valores que lhe deram origem e nas intuições que fundamentam esses valores, de forma a querer ser “seguida” pelos seus e pelo mundo. Negligenciar este património é comprometer o futuro deste projecto político. Neste contexto, é impossível neglicenciar a importância do diálogo com a sociedade civil e com as confissões religiosas. A presença da Igreja neste continente é um dado incontornável, visível na construção dos valores que moldaram a Europa e, pelo seu património cultural, praticamente nas ruas de cada cidade. O diálogo com o passado tem neste campo dos Bens Culturais da Igreja um desafio particular, simbólico. Vale a pena investir naquilo que distingue a nossa casa e nos ajuda a reconhecê-la.
Octávio Carmo

Espírito de Entreajuda

"Afinal, como tantas vezes me confidenciou o tio João, as rivalidades não eram as-sim tantas entre os diversos lugares da Gafanha da Nazaré. Aliás, tem-se mantido na índole dos gafanhões das diversa gerações um certo espírito cordato e de cooperação mútua, bem patente nas inúmeras associações que ao longo dos tempos nasceram e se desenvolveram nesta terra."
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PONTES DE ENCONTRO


Deus: Criador do Homem e do Universo!

E se, de repente, qualquer um de nós tivesse um contacto com um ser extra-terrestre, o que aconteceria, para além da natural estupefacção e possível receio de tão inesperado encontro?
Não é fácil de responder a uma questão destas, sobretudo quando colocada no campo das hipóteses ou das probabilidades de poder, um dia, acontecer. No entanto, esta é uma questão que exige uma séria e profunda reflexão, tanto pela parte dos que acreditam em Deus, como por parte daqueles que não são crentes.
Para aqueles que acreditam no Deus Único, Trinitário, Criador de todas as coisas do Universo e de todos os seres vivos nele existentes, a sua fé ficaria inalterada, seria motivo para a pôr em dúvida ou mesmo deixar de acreditar?
Recordo, em especial, os muitos cristãos que rejeitam, em absoluto, qualquer forma de vida para além do planeta Terra e os que fazem interpretações literais de algumas passagens bíblicas.
No inicio do mês de Maio, do corrente ano, o Director do Observatório Astronómico do Vaticano, o padre jesuíta José Gabriel Funes, de 45 anos de idade, concedeu uma entrevista ao jornal oficial da Santa Sé, L´Osservatore Romano, cujo título é “O extra-terrestre é meu irmão”. Nessa entrevista, o sacerdote argentino indicou acreditar na possível existência de vida extraterrestre e que esta, a existir, não se opõe necessariamente à doutrina católica.
O Padre Funes disse que "a astronomia tem um valor profundamente humano. É uma ciência que abre o coração e a mente. Ajuda-nos a colocar, na justa perspectiva, a nossa vida, nossas esperanças e os nossos problemas. Neste sentido – e aqui falo como sacerdote e como jesuíta – é também um grande instrumento apostólico que pode aproximar-nos de Deus", explica na entrevista, realizada por Francesco M. Valiante.
Em relação à origem do Universo, o presbítero argentino precisou que, pessoalmente, considera que a teoria do "Big Bang" parece ser a mais plausível, e que não contradiz a Bíblia. "Não podemos pedir à Bíblia uma resposta científica. Ao mesmo tempo, não sabemos se, num futuro próximo, a teoria do “Big Bang” não será superada por uma mais completa e precisa sobre a explicação da origem do Universo".
Ao ser-lhe perguntado pela existência de vida extraterrestre, o Padre José Funes indicou que "é possível, mesmo se, até agora, não temos prova dela. Certamente, em tão grande Universo, esta hipótese não pode excluir-se", assinalando que "assim como existe uma multiplicidade de criaturas sobre a Terra, assim também pode haver outros seres, inclusive inteligentes, criados por Deus. Esta não é uma contradição com a nossa fé, porque não podemos estabelecer limites à liberdade criadora de Deus.”
"E o que se passaria se fossem pecadores?", questionou Valiante. "Jesus encarnou uma vez e para sempre. A encarnação é um evento único. Então, estou seguro que eles, de algum modo, teriam a opção de desfrutar da misericórdia de Deus, assim como aconteceu com os seres humanos", respondeu o sacerdote. "Como astrónomo, continuo a acreditar que Deus seja o Criador do Universo e que nós não somos um produto do acaso, mas filhos de um Pai bom" – acrescentou, durante a entrevista.
"Observando as estrelas, emerge claramente um processo evolutivo, e este é um dado científico, mas não vejo nisso uma contradição com a fé em Deus."
O Observatório do Vaticano tem a sua sede em Castel Gandolfo (perto de Roma), e o observatório no Estado do Arizona (EUA). Foi fundado em 1891, pelo Papa Leão XIII, já que “a Igreja e os seus pastores não se opõem à ciência autêntica e sólida, tanto humana como divina.”

Vítor Amorim

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Câmara Clara sem Sombras

Germana Tânger (foto de 1962)


Ontem à noite, na RTP2, assisti ao programa "Câmara Clara", de Paula Moura Pinheiro. A conversa, de mistura com recordações e informações culturais, teve, como ponto de partida e fonte, Germana Tânger, uma senhora na arte de dizer poesia. Dizer e não declamar, como sublinhou. Arte que ensinou a outros artistas, alguns dos quais ainda hoje a consultam. Com a serenidade dos seus 88 anos, falou, com palavras bem medidas e bem ditas, da sua convivência com grandes poetas e vultos da cultura lusa. Simplesmente belo o momento em que disse de cor o poema Aniversário de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), um poeta que lhe é muito caro.
Almada Negreiros, José Régio, João Villaret, Mário Sá-Carneiro, Mário Viegas, Vitorino Nemésio e Fernando Pessoa, entre outros, vieram até nós pela memória de Germana Tânger, com a ajuda ou desafio da responsável pelo programa. Foram momentos agradáveis.
Depois deste momento televisivo, dei comigo a pensar na mediocridade que reina nas nossas TVs. Há programas bons, é verdade, mas também muitos outros de lixo autêntico. Não há por aí um caixote perto?
FM
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Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui - ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas - doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


Álvaro de Campos

NA LINHA DA UTOPIA

As mazelas da Competitividade
1. Já são várias as ocasiões em que pais de crianças e adolescentes, verdadeiramente interessados com a melhor educação dos seus filhos, o maior tesouro, manifestam uma profunda preocupação com os efeitos maléficos da competitividade feroz. Já não é só no 12º ano de escolaridade, na fronteira delicada de grandes decisões e transições, que os adolescentes sofrem os abalos de um sistema de vida que coloca os resultados práticos acima de quaisquer valores, mesmo, muitas vezes, acima dos valores da ética pessoal e social. Logo a partir de uma «publicidade férrea» nos meios de comunicação, no dizer de Lipovetsky, os mais novos vão entrando numa lógica em que o outro se apresenta mais como “concorrente” e menos como um “irmão”; que o digam muitos dos entretenimentos reinantes, onde a força e o domínio do outro é o objectivo primordial. 2. A reafirmação contínua da competitividade nos grandes discursos sócio-políticos faz transferir para o quadro educativo das gentes mais novas a lei da superioridade. O delicado refrão de que os melhores é que triunfam na vida pode fazer regressar a lei de Darwin, fazendo emergir uma selecção natural dos mais fortes por vezes menos respeitadora e integradora das diversidades. Não são casos isolados, já entre alunos do básico e secundário, os registos de desumana “inveja” escolar, de egoísmo na não partilha de conhecimentos, de angústias profundas ou mesmo cansaços (e até quase-esgotamentos) diante de resultados não tão excelentes. Parece que tudo se encontra formatado mais na ordem do melhor sucesso para mais dinheiro ganhar no futuro, que propriamente na ordem da descoberta progressiva da vocação a uma área de conhecimento para servir a sociedade. 3. Pode ter efeitos bloqueadores da totalidade da experiência humana a focalização exclusiva na obtenção dos melhores resultados para mais e melhor poder competir. É verdade, sem dúvida, que o esforço, rigor e trabalho, terão de acompanhar o crescimento da vida. Mas quase que valerá a pena pedir-se que as crianças sejam crianças e que os adolescentes não sejam adultos competitivos antes do tempo. Uma vida equilibrada na razoabilidade é que proporcionará o cidadão humano do futuro, aquele que sabe que a vida é um todo social e não uma caminhada solitária em leituras de vida vividas na competitividade como valor absoluto. As mazelas deste modelo de sociedade estão aí, espelhadas nas ansiedades stressantes acalmadas com milhões de anti-depressivos. A vida é desafio diário; mas quanto mais desenvolvermos as capacidades de humanidade pessoal e social mais conseguiremos ser resposta estimulante.

Histórias do Mar e da Ria


Por iniciativa da Rádio Terra Nova, em cooperação com a Comissão das Comemorações do Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro, decorreu um concurso literário sobre “Histórias do Mar e da Ria”.
Para além dos prémios, que são sempre um estímulo à participação, é justo realçar a importância destes concursos, nem sempre acarinhados devidamente pelas nossas escolas e outras instituições educativas e culturais.
Quando tanto se fala da Língua Portuguesa, como riqueza nacional que urge preservar e valorizar, impressiona-me a indiferença que há face a iniciativas que a promovem, aceitando, passivamente, que ela seja bombardeada no dia-a-dia por novos termos oriundos de outras latitudes, sobretudo nas conversas entre jovens, nas mensagens via telemóvel e nas comunicações pela Internet.
Se o estudo do Português fosse mais apoiado e se os nossos jovens fossem sensibilizados para a participação em Concursos Literários, talvez houvesse mais gosto por falar e escrever com correcção a Língua Portuguesa.
Porém, não é com o alheamento de tantos professores, escolas e instituições que poderemos acreditar no futuro do Português. Mais do que ensinar as regras gramaticais, importa estimular a nossa juventude a escrever com sentido estético, sendo certo que a participação em concursos pode ser uma excelente forma de a levar a gostar da nossa Língua.

FM

PONTES DE ENCONTRO


BENTO XVI: ENTRE O ESTRANHAR E O ENTRANHAR

Durante a visita que o Papa Bento XVI efectuou aos EUA, entre15 a 21 de Abril, do corrente ano, recordei-me da célebre expressão de Fernando Pessoa (1888-1935) que “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”.
Esta lembrança e a relação que dela fiz fizeram-me recuar ao dia 19 de Abril de 2005, altura em que o Cardeal Joseph Ratzinger foi eleito para a Cátedra de São Pedro.
Lembro-me muito bem das manifestações de júbilo que se viam no rosto das milhares de pessoas que aguardavam, na Praça de São Pedro, que o “fumo branco” saísse da chaminé da Capela Sistina e de muitas outras expressões de alegria que os Órgãos de Comunicação Social transmitiam, incessantemente, um pouco de todo o lado do mundo, logo após a eleição papal.
A esta realidade contrapunha-se, em simultâneo, uma outra, onde um estado de ânimo, menos exuberante, porventura mais céptico ou de desilusão, era bem visível.
De tudo isto me recordo e, até, de algumas afirmações (e dos seus autores) feitas, poucos minutos, depois do anúncio “Habemus Papam”.
Bento XVI sucedia a um Papa – João Paulo II – que tinha exercido um pontificado de cerca de 27 anos, tempo este que está para lá do próprio “entranhar” de Pessoa, para se situar no nível daquele que já se identifica connosco e nós com ele, numa unidade construída de ternura e afecto espiritual e que está para além da admiração e do respeito.
Para alguns, o Cardeal Joseph Ratzinger, trazia consigo referências pouco favoráveis, das quais se destaca o ser uma pessoa conservadora e o ideólogo da linha dura da Cúria Romana. Provavelmente, os seus 24 anos como Prefeito da Congregação Para a Doutrina da Fé muito podem ter contribuído para o surgimento destas opiniões.
Algum tempo, após a sua eleição, Bento XVI começou a despertar a compreensão e o acordo dos mais cépticos e os discursos e outros escritos seus, analisados à lupa, tanto por crentes, católicos ou não, como por ateus e agnósticos muito ajudaram a alterar a opinião inicial que havia sobre ele.
Durante a visita de Bento XVI, aos EUA, ouvi um padre americano afirmar que, enquanto Prefeito, não podia ser bom, pois o cargo não dava para isso, pelo que só depois de ser eleito Papa passou a ter condições para o poder ser, ou seja, a velha questão entre a liberdade da pessoa e a sua lealdade à instituição que serve.
Dizem alguns, que o homem é ele e as suas circunstâncias, pelo que as contradições destas duas dimensões podem ser incompatíveis. Assim, quem se vergue à força dos circunstancialismos de um momento, de um lugar ou de uma tarefa está a deixar de lado o seu próprio eu. Quem diz isto parece, contudo, esquecer-se que as circunstâncias também podem ajudar o homem na procura das certezas que não tem, na satisfação e na coerência que descobre e que o podem levar a mudar as próprias circunstâncias. Estamos, pois, perante uma questão para a qual não há uma só saída, mas que não nos pode inibir de tomar opções, em função do que somos e conhecemos, em vez de ficarmos à espera que algo surja, fale, pense e aja por nós.
O Padre Anselmo Borges escreveu, um dia, que “qualquer homem existe compreendendo e interpretando, mas de tal modo que nunca interpreta de modo adequado e pleno o que quer compreender”, pelo que o homem,só se vai completando através do futuro que atravessa e vive e, mesmo assim, não deixa de ser um homem inacabado.
A afirmação do padre americano, não sendo única, é um mau exemplo do que se pode fazer, mesmo sem intenção, para rotular, negativamente, uma pessoa e o seu carácter, sobretudo quando se pensa que a liberdade, a responsabilidade, o descobrir o nunca atingido ou a satisfação pela realização do bem variam em função da hora, do local e do cargo que se exerce. No fundo, é querer fazer do homem um irresponsável, prisioneiro do tempo e do espaço, quando ele está para além da sua e da nossa compreensão.

Vítor Amorim