sexta-feira, 4 de abril de 2008

BICENTENÁRIO DA ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO - 1

Antiga Capitania: Aqui se iniciaram as celebrações do dia 3 de Abril

O dia de ontem foi de muitas emoções. O ter participado nas cerimónias oficiais do BICENTENÁRIO DA ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO, ouvindo especialistas na matéria, o administrador da APA (Administração do Porto de Aveiro), autarcas e membros do Governo, mas vendo e convivendo, também, com amigos, ligados, de alguma forma, às coisas do mar e da ria, despertaram em mim muitas emoções. No fundo, saí das comemorações, dignamente vividas por toda a gente, penso eu, cansado, mas reconfortado pelo prazer do que vi, ouvi e senti.
Para não postar aqui um texto demasiado pesado, pelo número de caracteres e pelas diversas referências sempre importantes, tenciono, durante o dia e provavelmente ao longo de vários dias, repartir, por textos mais curtos, o que me ocorrer sobre esta efeméride, de incalculável importância para toda a região e para o País. Espero, naturalmente, que venham achegas dos meus leitores. Se vierem, como espero, serão preciosos contributos para o conhecimento que todos buscamos.

Fernando Matins

A PALAVRA E O TESTEMUNHO

Se é irrefutável que, no mundo contemporâneo, nunca se disseram tantas palavras – escritas ou não – como hoje, não é um dado adquirido, nem seguro, que no seu centro e atenção esteja a dignidade do homem, nem que estas, no geral, estejam para o servir a desenvolver-se e a crescer, integralmente, enquanto pessoa e cidadão.
Poderão alguns pensar que escrever na Comunicação Social, escrita ou falada, ou, como é o caso, num blogue, é um acto para alguns privilegiados ou apenas destinado a predestinados – uma espécie de sábios da pós-modernidade – que sabem, vá lá saber-se porquê, de tudo um pouco.
Confesso que sempre fui muito céptico relativamente às palavras, ditas ou escritas, pois elas próprias podem enganar, manipular, confundir ou induzir em erro não só quem as lê, mas, também, quem as redige ou profere.
Madre Teresa de Calcutá dizia que “todas as palavras são inúteis se não vierem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão".
Também alguém, cujo nome, de momento, não me recordo, dizia que “a palavra tem que ser o espelho da alma: tal homem tal palavra".
E se isto de escrever ou não escrever, dizer ou não dizer já não fosse um assunto sério e delicado, vou verificando que há uma tendência para reduzir as realidades concretas e reais das pessoas a palavras (já agora, também a números) com roupagens conceptuais e intelectuais.
Se é bom, e necessário, que se fale e escreva sobre ecologia, religião, economia, abusos sexuais das crianças, sucesso ou insucesso escolar e de tudo aquilo a que ao homem, diz respeito, não deixa de ser perigoso que estes assuntos sejam transformados em conceitos intelectualizantes, só ao alcance de poucos, que, não sei porquê, põem-se logo a dar opiniões, sugestões, a teorizar, tantas vezes desligados das realidades de que falam.
Criam-se comissões, fazem-se assembleias, simpósios, pedem-se relatórios, chamam-se peritos, mas, na realidade, na vida real, os problemas continuam presentes, sem soluções à vista, e tudo se arrasta de gabinete em gabinete ou de assinatura em assinatura.
Enquanto cristão, se pudesse, gostava de perguntar a Cristo, porque é que Ele nunca escreveu durante a Sua missão na terra, excepto no episódio da mulher adúltera, em que escreveu, não se sabe o quê, com o dedo no chão (cf. Jo 8,1-11).
Mas, mesmo neste episódio evangélico, este gesto da escrita de Jesus está inserido num acto de libertação, neste caso de uma mulher adúltera, que os escribas e fariseus queriam delapidar, até à morte, de acordo com a Lei de Moisés.
Terá Jesus, neste seu gesto singular, querido dizer-nos que, para além das circunstâncias e das realidades do tempo e do espaço a palavra, neste caso a palavra escrita, deve, acima de tudo, ter uma acção libertadora?
Em verdade e em rigor, não sei qual a Sua intenção. Sei, contudo, que a “caneta” e o “papel” de Cristo foram o Seu testemunho. Um testemunho que, ía ao encontro da vida real e autêntica dos homens de todos os tempos e da sua salvação. Por isso, e por nós, ofereceu a Sua vida!
Recordo as palavras de Paulo VI, no ano de 1975: “O homem contemporâneo escuta com melhor vontade as testemunhas que os mestres, ou, então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” (cf. E.N. 41).
As palavras podem e devem ser pérolas valiosas, sempre que, quem as escreve ou as solta dos seus lábios, as souber fazer exemplo de vida para si próprio.
Agora que termino estas palavras de partilha, sinto que elas me inquietam e incomodam.

Vítor Amorim

Exposição no Museu Marítimo de Ílhavo

A propósito do texto que publiquei ontem sobre a exposição que vai ser inaugurada amanhã, sábado, pelas 17 horas, no Museu Marítimo de Ílhavo, recebi, do meu assíduo leitor João Marçal, o seguinte comentário, que está anexo à notícia que dei. Dada a sua importância, para aqui o transportei, na certeza de que vai ser mais lido, enriquecendo, sobremaneira, quem gosta destas coisas do mar, dos navios e da nossa gente.
FM
Esta agulha magnética pertenceu ao NTM "Creoula" e o seu destino era a sucata quando o navio foi remodelado para as actuais funções. Numa visita que fez ao estaleiro o Cap. Marques da Silva viu-a entre outras peças numa lixeira e aproximou-se como que para lhe dizer um último adeus, depois de algumas viagens em que esta o orientou no mar. Alguém o observou de longe e veio-lhe perguntar se a queria. Transportaram-lha para casa, ele recuperou-a e hoje é uma bonita peça de museu e capa do convite para a exposição dos seus trabalhos relacionados com o tema da vida que abraçou: a Pesca do Bacalhau.
JM

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Na Linha Da Utopia


À Janela

1. O mundo corre depressa, demais, sem tempo para saborear os momentos, os instantes, os pormenores, ávida. É a nova lei da sobrevivência. A lógica da quantidade invade todos os terrenos que precisam respirar “sentido”, horizonte, para “ser” qualidade. Vivemos muito do tempo em “janelas” de comunicações informáticas, nas novas tecnologias que nos vão (tele)comandando. Um bem extraordinário, mas mais um desafio a saber conviver quanto baste com elas para haver tempo(s) de convivência com aqueles que são a razão de ser da vida, as pessoas... Para não nos deixarmos “afogar” nas “coisas” utilitárias, o autodomínio e a distância crítica serão, hoje, uma alavanca decisiva em ordem a preservar a humanidade da Humanidade.
2. Um dia destes, na nossa cidade, no momento em que o sinal vermelho obriga a parar, reparo num rosto de uma pessoa, de seus 70-80 anos que estava à janela de uma casa. O dia estava de um sol que brilhava, iluminando as ruas e as relações das pessoas. O rosto dessa pessoa idosa, que parecia estar em pé com muleta, era como quem, procurando fugir daquela solidão que “mata”, anseia por uma réstia de luminosidade que seja o sentir a vida da cidade. O semáforo passou a verde, tem de se acelerar, senão uma buzinadela faz assustar os transeuntes do passeio. Uma última olhadela nessa pessoa e, até sempre. Quantas janelas falam solidão pelo olhar de quem ela é o único fio de contacto com a cidade dos vivos! Quantas janelas, do lado de dentro, gritam um silêncio perturbador da inquietação do “não há tempo” para amar a vida dos que nos deram a vida?!...
3. O único remédio parece ser mesmo “remediar”. Os modelos de sociedade, de quando em quando com impulsos que cortam o resto de tempo para conviver, caminham na ordem do pragmatismo alucinante. Este, muitas vezes, dependendo do património de valores, é inimigo da “companhia”, da sensibilidade, do tempo para estarmos mais uns com os outros. Mas também, noutras circunstâncias, quando esse tempo sobra não existe um “coração” afável que saiba cuidar do essencial. Este é o tempo das opções com sentido de humanidade. Quanto mais ampararmos mais seremos amparados... Se não cuidarmos dessa árvores da vida, com afecto, amor e presença, também é essa janela que nos (des)espera. Tem de haver tempo…para que o sol de todos os dias possa entrar por essas janelas de um coração humano!

Alexandre Cruz

Exposição no Museu Marítimo de Ílhavo

No próximo sábado, 5 de Abril, pelas 17 horas, vai ter lugar, no Museu Marítimo de Ílhavo (MMI), a assinatura do protocolo de depósito da "Colecção Capitão A. Marques da Silva", que vai ficar exposta, temporariamente, naquele museu ilhavense. Na mesma altura será apresentado o respectivo catálogo.
Segundo o director do MMI, Álvaro Garrido, o depósito e exposição da colecção do Capitão A. Marques da Silva "acrescenta riqueza às memórias materiais da 'faina maior', visto que a maioria das peças permitem ao Museu novos e belos suportes de discurso para as memórias que pretende evocar".

Ponte da Barra quase pronta



Folgo em saber, pela Rádio Terra Nova, que as obras da Ponte da Barra deverão ficar concluídas no próximo dia 24 de Maio. Isto significa que, no Verão, que vem aí a correr, os moradores e veraneantes já não terão problemas no acesso às praias da Barra e Costa Nova. Há décadas que a ponte estava a necessitar de obras, que garantíssem a segurança de quem por ela passava. Era bem visível uma depressão na estrutura, que na altura denunciei. Depois garantiram-me que não havia perigo, mas sempre restava a dúvida de a ponte ruir, de um dia para o outro. Não conteceu, felizmente. Mas aconteceu na velha ponte de madeira, que ligava o Forte à praia da Barra, e na ponte, de cimento armado, que estabece a ligação da Gafanha da Nazaré a Aveiro.

FM

BARRA DE AVEIRO: DIA DE ANIVERSÁRIO




A Barra de Aveiro vive hoje um dia diferente. Dois séculos de vida não podem ficar esquecidos. Como já neste espaço referi, teremos um dia de festa, com um conjunto de iniciativas dignas de louvor. Sem pretender repetir o que já divulguei, permitam-me que sublinhe a edição e lançamento de um livro, "Porto de Aveiro: Entre a Terra e o Mar”, de Inês Amorim, que mostrará a génese e o desenvolvimento do Porto de Aveiro, ao longo destes dois séculos. No entanto, penso que todos, neste dia histórico, podemos e devemos homenagear a Barra de Aveiro, visitando-a e apreciando-a, como ela merece. Em jeito de agradecimento ao que ela representou, e representa, para toda a região. Contudo, os gafanhões, os que lhe estão mais próximos, têm acrescidas razões para olharem a sua Barra, chamada Barra de Aveiro.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

OS FOLARES


Na Páscoa, ofereceram-me um folar caseiro. Digo caseiro porque foi feito em casa, ao natural, em forno de lenha, como é hábito entre nós. Toda a família gostou e até o elegeu como o melhor que se comeu à nossa mesa. Quando demos os parabéns a quem no-lo ofereceu, logo a ofertante adiantou que, este ano, se limitou a orientar as operações, já que a filha e a nora apostaram em aprender. Bom exemplo.
Face a este exemplo, e porque é importante manter as tradições, lembrei-me de sugerir, o que faço por esta forma, ao Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, que promova, na próxima Páscoa, a confecção de folares, na Casa Gafanhoa, já que forno ela tem.
Se isso acontecer, lá estarei para recordar os folares que minha mãe fazia. Sempre me há-de calhar um!

FM

DIA INTERNACIONAL DO LIVRO INFANTIL

Celebra-se hoje o Dia Internacional do Livro Infantil. Mesmo sem tempo para reflectir sobre o tema, não quero deixar em branco este espaço, nem perder a oportunidade de dizer alguma coisa, por mais simples que seja. Para já, devo sublinhar que este Dia Internacional deve levar-nos a pensar nas crianças, que precisam de criar hábitos de leitura. Sem esse hábito, não teremos leitores no futuro, sendo certo que os livros ainda são uma extraordinária fonte de saberes e de prazeres.
Quando vejo tantas crianças e jovens dominados pela TV e pela Net, pondo de lado os livros, fico a pensar no futuro de quem está a crescer. Ensinados ou treinados na utilização da Internet, onde facilmente catam os conhecimentos de que necessitam, sem grande esforço nem reflexão, penso que não chegarão longe. Vida fácil nunca enriquece ninguém.
Há, pois, que cultivar nas crianças o gosto pelos livros, onde as histórias, os contos e a poesia têm outro sabor.

FM

PRONTO-A-VESTIR E DIVÓRCIO NA HORA


Em período nenhum da nossa história, pelo que sei, se praticaram tantos e tão grandes ataques e desconsiderações em relação à família, como no tempo presente. Ainda há muita gente entre nós a viver de um ódio inconsistente e doentio, que colou valores fundamentais a sistemas políticos transitórios. A trilogia Deus, Pátria e Família continua a ridicularizar-se, como reminiscência de uma realidade fascista a abater.
Sem qualquer discernimento crítico sobre o que poderia ter sido exagerado e redutor nos referidos sistemas e o que constituía preocupação por defender e promover realidades e valores a respeitar e fontes inspiradoras a defender para segurança e bem da vida pessoal e comunitária, abriu-se caminho ao “bulldozer” arrasador de tudo o que parece a alguns ser património nefasto de um passado recente, que se quer renegar, mas acerca do qual não se procurou aprofundar nem a sua história, nem o seu sentido.
O ódio e a incultura, pela cegueira que comportam, são sempre inimigos da sociedade.
Os novos corifeus do poder político, que dizem emanado de um povo que não ouvem nem respeitam, e os do poder intelectual, narcisistas, que pararam no século das luzes, dizem-se, na sua maioria, em relação a Deus, agnósticos, à Pátria, estrangeiros, à Família, indiferentes. Tomam posturas cegas ao dizerem que só lhes interessa quem concorda com eles, não se importam, perante interesses pessoais e ideológicos, de negar hoje o que afirmaram ontem, ou de se manifestarem, com manha e hipocrisia, de acordo com tudo e com todos, se deste modo esperam tirar maior proveito.
As ideologias esvaziaram-se, a palavra já não é de honra, o povo é o seu grupo de apoiantes, a verdade e os valores universais relativizaram-se, quem diverge é inimigo, quem apoia espera favores, quem pensa está fora da realidade, quem não pensa é promovido… A vida política entrou em descrédito, os arrivistas invadem a rua e não só a rua, o programa da terra queimada vai alastrando, multiplica-se o número dos dogmáticos entre os que sempre reagiram a dogmas, o projecto é de mais jogos e menos pão, renasce o ditado de que “com bolos se enganam os tolos”. Parece que o céu se foi fechando, o sol deixando de iluminar, aumentando o clamor do “salve-se quem puder”.
Instala-se, assim, um clima que fere de morte instituições básicas e mata o interesse das pessoas sérias em relação ao serviço público à comunidade.
A visão parece catastrófica. Porém, nunca a esperança se desvanece em quem acredita que a morte já foi para sempre vencida. Mais se trata de um grito que convida a acordar, a agir, a ler a realidade com os ventos perigosos que traz no seu seio, do que de um pregão de desgraça, que convida a desistir, fugir da convivência, ou mesmo a emigrar.
Uma situação cheia de consequências, que gera preocupação e suscita repulsa, está à vista na destruição programada da família. À revelia da Constituição, do bem senso e do respeito pelos outros, deixou de ser considerada fundamento da vida em sociedade e espaço indispensável da dignificação e humanização dos seus membros, mormente dos mais indefesos, sejam eles crianças ou idosos. Os legisladores, apoiados numa votação favorável, por demais garantida, voltaram-se para a presumível solução e satisfação de casos e interesses individuais, para o caso de muitos deles, os seus próprios interesses.
Haja em vista o que acontece em relação ao divórcio. A pretexto de uma solução possível, ainda que sempre manca, de alguns problemas graves que, infelizmente, não faltam, as leis que aí temos denunciam que a família é uma ilusão e um prejuízo, a que não vale a pena dar qualquer atenção. Até se beneficia com isso. Ante os devaneios de quem casou, sabe-se lá porquê, sem dar sentido de responsabilidade ao acto, põe-se-lhe ali à mão, ao lado do “pronto-a-vestir”, o “divórcio na hora”. Favor a quem não quer lutar e castigo a quem diz que família é coisa séria. Voltarei a este tema, que o pano dá. Mas, ao menos, temos um Portugal mais moderno e mais considerado fora de portas!...

António Marcelino