domingo, 28 de outubro de 2007

Na Linha Da Utopia



Casa Pia, ainda? Como é possível!



1. Talvez mais ainda em matérias delicadas e alarmantes como esta, e como as conclusões deste processo “casapiano” retardam indefinidamente, o pensar do cidadão espelha o encontro com a verdade do bom senso concreto. O cidadão, ainda que não conheça os mecanismos processuais e morosos (naturalmente sempre justificados) da justiça, manifesta por si ou a razoabilidade da circunstâncias (o que não é o caso) ou a incredulidade alarmante dos factos e dos processos em andamento neste “Casa Pia” sem fim à vista.
2. É, naturalmente, de uma abrangência que não captamos (aliás o bom senso nacional não entende) tudo o que está a acontecer. Os dados estão na praça pública. Após o choque do caso há já alguns anos, entra a justiça em acção pensando-se que “passado era passado”. As recentes declarações de Catalina Pestana (ao jornal Sol, 20 de Out.) como as de Pedro Namora (à Sic-Notícias, 27 Out.), sublinhando que o crime continua são de fazer arrepiar o país. Sai provedor entra provedor; sai juiz entra juiz; sai procurador entra procurador… Mas, pelas palavras de quem está dentro e garante que não se cala, o crime continua!(?).
3. De facto, custa a acreditar que assim seja. Se for mentira e tudo estiver já devidamente “purificado”, então que se chame a atenção dos declarantes (ainda não foram chamados). Mas é verdade que a crueldade pedófila prossegue, então torna-se difícil vislumbrar uma solução para Portugal. Neste país que precisa de um clima de confiança social, onde se deve sublinhar, promover e sensibilizar para os valores positivos na envolvência de todos na resolução dos problemas (que não faltam). Todavia, enquanto a JUSTIÇA não brilhar cintilante, são inexistentes as bases de uma sociedade democrática credível. Continuamos de “castelos no ar”, pois sem essas bases estruturais e edificantes de uma justiça (mais) eficaz e capaz toda a liberdade que se deseja fica turba…
4. Claro que é fácil dizer em cinco minutos aquilo que é um universo tão problemático como este de que falamos. Mas na sociedade portuguesa, a par do prolongamento (ineficaz?) deste caso a que se vieram juntar alguns aspectos da recente revisão do Código Penal nesta área, só o levantar da suspeita de que afinal estamos (quase) na mesma, deixa-nos sem palavras e sem ideias que vislumbrem um fim à vista. Tudo é estranho, tudo é longínquo, tudo parece adiado… que pensará o cidadão que vê recurso em cima de recurso, numa lentidão serena como que tivéssemos todo o tempo do mundo? Será mesmo verdade o que dizem essas recentes entrevistas que o crime continua? “Casa Pia” ainda? Como é possível!
5. Entre a palavra e o silêncio, entre o que se pode dizer / fazer, afinal, o que podem os cidadãos…por uma justiça mais justa? Ou será (esta mais uma) fatalidade as coisas terem de continuar assim mesmo…?! (Ou, ainda, teremos pressa demasiada?!)


Alexandre Cruz

DOCE COMUNHÃO




Do Livro "O PROFETA" de Khalil Gibran

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 44



A PROGENITORA
DO GRANDE POVO DA MURTOSA

Caríssima/o:

A vida tem destas coisas: era para seguir de motorizada pelas terras ribeirinhas que agora tinha encontrado boa companhia no Fernando e sua Kreidler (a minha era uma Zundapp!) - lembras-te da primeira vez que fomos ao Monte por um saco de batatas?!
Mas tenho que fazer uma pausa.
Conheci a Murtosa era eu muito jovem quando, na Gafanha, convivi com dois Homens: o professor Salviano e o padre Domingos. Ambos me abriram horizontes e continuam meus companheiros nos trilhos do Conhecimento e nos rasgos da Fé!
Rendo-lhes a minha sentida homenagem.
O padre Domingos, que agora se aparta de nós, certamente contará com a nossa oração e nos continuará a brindar com o seu sorriso. Bem haja!
E ouçamos o que tem para nos dizer o prof. Jaime Vilar:


«Diz-se, na tradição corrente,que a progenitora do grande povo da Murtosa terá sido uma moça muito bonita, chamada Teresa Carqueja, natural de Fermelã, desterrada para aqui em expiação de crime que a tradição não pormenoriza.
A Murtosa então, ainda sem nome, era terra de condenados ao desterro. Sozinha entre o céu e a terra lodosa, construiu a primeira casa de tábuas, uma arrecoleta ou recoleta na costa do Chegado, no local que ainda conserva o nome de “Chão das Figueiras”. Sobreviveu. Arroteou um pedaço de terreno, fez horta, semeou e viveu do que colhia.
Um dia, um pescador que passava encostou o barco à borda. Encontrou a Teresa sozinha. Falaram. Eram ambos moços. Amaram-se e casaram. Tiveram filhos. Entre fomes e farturas cresceram e multiplicaram-se no cumprimento do mandato genesíaco. Ele na água, pescando, arrancando o estrume para os campos. Ela tratando da terra. Ambos na simbiose característica da nossa gente “anfíbia” como, séculos depois, escrevia Raul Brandão.»
[Jaime Vilar, Lenda ou Tradição?, Boletim da Biblioteca Municipal da Murtosa, 1993, p. 1]


Manuel
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NOTA: Regressado de terras sem acentos nem cedilhas, o meu amigo e colaborador Manuel está de novo com a sua asssiduidade por lema a brindar-nos, domingo após domingo, com textos que nos levam a tempos passados, para ficarmos na companhia de amigos que nos foram comuns. Um bem-haja pelas suas preciosas recordações.

sábado, 27 de outubro de 2007

DIA DOS JORNALISTAS PELA PAZ

UMA SOCIEDADE QUE VIVA EM PAZ E PARA A PAZ

Celebra-se hoje, 27 de Outubro, o Dia dos Jornalistas pela Paz. A lógica diz-nos que, se há jornalistas que querem a paz, também haverá outros que tudo fazem para criar guerras entre pessoas e nações. E se os primeiros serão em maior número, os outros, os que querem a guerra, terão de ser catequizados e estimulados para aderirem ao grupo dos primeiros.
Um dia, num curso sobre jornalismo, o palestrante, um jornalista com responsabilidades ao nível sindical, perguntou, para promover o diálogo, qual é, verdadeiramente, a função primordial do jornalista. Choveram as respostas, qual delas a mais curiosa. A todas, o jornalista convidado ia dando a entender que ainda ninguém tinha batido na porta certa… Todos os “alunos” se olhavam, interrogativos, já com curiosidade sobre qual seria a resposta certa. Depois de muito ouvir, o palestrante adiantou com toda a naturalidade: A primordial função do jornalista é contribuir para um mundo melhor.
Aqui está a chave da questão. Se todos os profissionais da comunicação social assumissem esta asserção, decerto o mundo seria de facto um mundo de paz e nunca de guerra. O mundo seria mais justo, mais equilibrado, mais solidário, mais fraterno.
Eu sei, todos sabemos, que esses são os ideais definidos para uma sociedade mais humana e que é preciso lutar para os atingirmos. Mas também é verdade que há gente, na comunicação social e fora dela, por doença, por deformação genética, por taras inexplicáveis, por ódios acumulados sem sabermos como nem porquê, por raivas e interesses mesquinhos, que só estão bem fazendo a guerra, espezinhando a paz, promovendo o mal, fugindo do bem.
Ora, este Dia dos Jornalistas pela Paz devia ser um dia de reflexão, de procura de caminhos de justiça, de verdade, de amor, de liberdade, de democracia, de solidariedade e de caridade. Penso que só estes caminhos poderão conduzir a uma sociedade que viva em paz e para a paz.

Fernando Martins

GRANDE PRÉMIO TERRA NOVA


CENTENAS DE ATLETAS NAS RUAS DA GAFANHA DA NAZARÉ

Amanhã, domingo, as ruas da Gafanha da Nazaré vão encher-se de atletas para o Grande Prémio Terra Nova. Vindos de perto e de longe, pelo simples prazer de participar, já há mais de 800 inscrições, prevendo-se que tal número venha a ser ultrapassado. A meta está no centro da cidade, em frente da Junta de Freguesia, realizando-se as diversas provas, para todas as idades, da parte da manhã. Como também vem sendo hábito, não vão faltar os aplausos para premiarem quem corre, pelo simples gosto de praticar atletismo.

HORA DE INVERNO




Relógios atrasam 60 minutos na próxima madrugada. Às 2 horas, os ponteiros devem voltar para a 1 hora, para entrarmos na chamada "hora de Inverno".

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

FÁTIMA-3

Cristo e Nossa Senhora

Painel, lado esquerdo de quem olha

Painel, lado direito


Espelho de água



Altar com pedra do túmulo de S. Pedro, ao centro




Painel de Siza Vieira


UMA OBRA À MEDIDA DAS NECESSIDADES
ESPIRITUAIS DO MUNDO INTEIRO


Quando entrei na igreja da Santíssima Trindade, fiquei com a sensação de uma grande beleza. Uma beleza sóbria e imponente pelas formas e decorações de enorme riqueza artística. Também de uma beleza que convidava ao silêncio e ao recolhimento. Os meus olhos ficaram fascinados pelo que viram. Arte em todos os pormenores; sem saber que mais admirar. Se a variedade de expressões artísticas, oriundas um pouco de todo o mundo, se a luminosidade serena que tudo envolve, se a ausência de ruídos ou sons do exterior, se a serenidade de quem entra e sai, se a fuga aos estereótipos nos rostos de Cristo e de Nossa Senhora, se o painel atrás do altar, no presbitério, de ouro e terracota, com o título expressivo de “Chamamento Universal da Igreja” .
Depois, o piso inferior, onde sobressaem os painéis de azulejos Siza Vieira, em que o autor procurou representar “A Galilé dos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo”. Capelas, salas para encontros, espelhos de água, tudo acoplado a um claustro amplo e bem iluminado.
Era dia de semana, mas a igreja da Santíssima Trindade estava com visitas contínuas, sem possibilidades de ali se desenvolverem actos de culto ou encontros de formação e de espiritualidade. Eu engrossei o número de visitantes na quarta-feira última. Mas estou em crer que, muito em breve, naquele espaço, à sombra da Senhora de Fátima, um fervilhar de actividades dará outra vida ao novo templo e seus anexos. E os que agora criticam o dinheiro que ali se gastou hão-de reconhecer a mais-valia que representa esta obra grandiosa para o século XXI. Uma obra à medida das necessidades espirituais dos católicos do mundo inteiro.

Fernando Martins

Homenagem ao Padre Lé



HOMENAGEIA O SEU PÁROCO

A Paróquia da Gafanha da Encarnação vai homenagear, no próximo domingo, 28 de Outubro, o Padre Lé, que há 50 anos serve aquela comunidade como pároco. A homenagem tem o seu ponto alto na Missa Solene às 12.15 horas, seguindo-se almoço e convívio. O Padre Manuel Ribau Lopes Lé nasceu em 1922 e foi ordenado no dia 20 de Setembro de 1947.
Esta homenagem é, a todos os títulos, merecidíssima. As comunidades não podem, sob pena de se tornarem injustas e ingratas, ficar indiferentes a quem as serve, com dedicação indesmentível. O Padre Lé, que conheço desde que sou gente, é o exemplo perfeito de uma entrega sem limites à Gafanha da Encarnação e à Igreja, estando sempre na linha da defesa dos interesses da comunidade que serve há 50 anos. Não é todos os dias que vemos pessoas que trabalham sem pensarem na reforma e nas comodidades a que essa situação pode conduzir. Por isso, a justeza desta homenagem, que aplaudo vivamente.







FM

AMBIENTE NO PORTO DE AVEIRO


Por respeitar o ambiente e a segurança: Distinguida empresa química instalada no Porto de Aveiro


O Grupo Drovigo, da empresa APD Química, cujas instalações se situam no Porto de Aveiro, recebe, hoje, em Paris, o prémio «European Responsible Care 2007», que distingue projectos que defendam o meio ambiente, a segurança, e a saúde

Com uma actividade baseada na distribuição química, este grupo foi seleccionado entre outras 16 empresas, pelo Conselho Europeu da Indústria Química, que realiza, em França, o Forum Responsible Care, no âmbito do qual terá lugar a cerimónia de entrega deste galardão. O Grupo Drovigo é um operador logístico com sede em Espanha, mas que dispõe de delegações em Portugal desde 2001. Foi fundado nos anos 50, operando por toda a Península Ibérica. As instalações desta empresa no Porto de Aveiro têm capacidade para receber navios até cinco mil toneladas. No ano passado, facturou quase 26 milhões de euros, tendo distribuído cerca de 30 mil toneladas de mercadorias. A ADP Química, empresa em que se insere, tem uma capacidade de armazenamento de 12 mil metros cúbicos de líquidos, e um armazém com três mil metros quadrados. Atribuído anualmente, o prémio «European Responsible Care» tem como objectivo distinguir o melhor exemplo europeu de desempenho ao nível da actuação responsável, e é atribuído por um júri que integra personalidades independentes de diversas áreas, nomeadamente, membros da Comissão Europeia, do Parlamento Europeu, da imprensa e do próprio sector químico. A Actuação Responsável é a designação nacional do Responsible Care, um compromisso ético voluntário da indústria química mundial, que visa a melhoria contínua nas áreas da Saúde, Segurança, Ambiente e comunicação com os stakeholders, na rota do desenvolvimento sustentável. Em Portugal, a Actuação Responsável foi adoptada pela Associação Portuguesa das Empresas Químicas, há 22 anos, sendo, desde então, a entidade coordenadora nacional da Actuação Responsável, a par com associações químicas de outros 52 países. Há dois anos, o prémio foi entregue ao Painel Comunitário de Actuação Responsável de Estarreja.

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NOTA: Vezes sem conta denunciei, de forma construtiva, a falta de respeito pelo ambiente na Gafanha da Nazaré, mormente na área portuária. Ultimamente, porém, a questão ambiental tem vindo à baila, por mor da poluição com origem no Porto Comercial e que afecta esta cidade, passando mesmo para além dela. Os protestos choveram de todos os lados, políticos e outros, porque as pessoas precisam de respirar ares sadios.
Congratulo-me agora com este prémio atribuído a uma empresa sedeada no Porto de Aveiro, pela sua aposta no respeito pela natureza, nela incluindo, naturalmente, os muitos milhares de pessoas. Espero então que este prémio seja estímulo para todas as outras empresas instaladas no Porto de Aveiro.

FM

Na Linha Da Utopia




A Ciência terá limites?

1. Esta é uma pergunta retórica. Claro que a ciência, como tudo quanto é a percepção humana sobre a realidade, tem alcances e tem limites. Este é o título (“A Ciência terá limites?”) de conferência internacional que nestes dias (25 e 26 de Novembro) decorre na Fundação Calouste Gulbenkian (http://www.gulbenkian.pt/) e que conta com a presença de múltiplos especialistas de referência. Mas será um erro considerar-se que estas questões unicamente interessam aos especialistas e cientistas…
2. Tanto os esforços de divulgação científica merecem uma atenção dos cidadãos a estas questões, como o facto de que aquilo que se vai investigando vir a ter impactos decisivos na nossa vida diária (seja à distância de uma década) deverá sensibilizar todos (“qb”) para estas questões. Que o diga a história da Revolução Científica do séc. XVI-XVII, com os seus impactos na transformação de paradigmas (dos modos) sociais e pessoais de viver. Hoje será a revolução genética e comunicacional que nos está a transformar, a ponto de termos que REVER (quase) TUDO.
3. Felizmente que já ultrapassámos os tempos da surdez científica; felizmente que, hoje, a conjugação de esforços em diálogo de ciências torna todos mais comprometidos. Mas o desafio ético (da dignidade humana) apresentar-se-á como o eixo de equilíbrio, dando os pilares tanto dos alcances como das fronteiras da própria ciência. Já lá vão os tempos (?) tanto dos endeusamentos científicos como de pretensões unilaterais do tratamento das questões e da procura da verdade.
4. Os limites estão aí, todos os dias, a desafiar toda a proclamada sociedade do conhecimento. Numa ciência que saiba (sempre mais e melhor) dialogar com a realidade concreta, dir-se-á que os limites da ciência pairam nos limites da própria humanidade; mas não só, também os limites das culturas, das políticas, das religiões, das filosofias: enquanto a fome, a sede, a violência, o desequilíbrio ambiental, os esvaziamentos da DIGNIDADE HUMANA persistirem, os limites gritam e apelam a todas as formas de conhecimento para as resoluções inadiáveis.
4. Um dos nomes de referência convidados à conferência é George Steiner, que, partilhando dos limites da ciência, exemplifica dizendo que «não há nenhum instrumentos de observação, por mais sofisticado que seja que nos permita prosseguir para lá das “paredes douradas” externas ou internas do nosso possível universo local. […] O Concorde foi uma maravilha aerodinâmica, tecnológica. Não há qualquer intenção de o fazer voar.» Os dados estão aí. A viagem HUMANA, diferente, continua. Seja ela capaz de integrar todas as formas (humildes) de conhecimento ao serviço da sua própria dignidade. No reconhecimento dos limites estará, também, a ponte de aprendizagem dialogal.

Alexandre Cruz

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

FÁTIMA - 2




O AR QUE ALI SE RESPIRA SABE BEM

Fui a Fátima por necessidade espiritual de respirar um ar diferente. Também para ver ao vivo a nova igreja da Santíssima Trindade, cheia de arte e de símbolos que aos crentes nos mistérios cristãos dizem muito. E muito dizem, ainda, aos que vêem na arte uma dinâmica que nos eleva para o alto, catalisando os valores que nos enformam.
Não importa, a meu ver, dissecar o que se diz a favor e contra Fátima. Não foi a Igreja que impôs Fátima ao mundo, mas foi Fátima que se impôs na Igreja, como tantas vezes tenho ouvido dizer e lido. Importa, isso sim, sublinhar que debaixo da Azinheira me sinto abrigado e livre para assumir o mistério ali experimentado por milhões de crentes e não crentes.
Quando lá vou, sem preocupações de reuniões e de encontros, gosto de falar pouco. Vou mais para ouvir o que se diz e para me debruçar sobre expressões e rostos de gente com fé, na certeza que sinto que não há neles falsidades nem fingimentos. Há devoções que não sabemos medir, há a fé de imensas pessoas que só Deus saberá compreender. Por isso, não me atrevo a criticar quem se arrasta em promessas pelo passadiço agora polido, quem reza fervorosamente sem complexos, quem acende velas atrás de velas, quem fica quedo a meditar na Capela da Adoração, quem fica meditando junto da mais antiga capelinha de Nossa Senhora, quem participa nas missas na Basílica, quem apenas ciranda por ali, quantas vezes à procura de lembranças que de bom gosto pouco têm. Cada pessoa, em Fátima, é para mim um mundo interior onde não ouso penetrar. Deus saberá ler tudo isso.
Porém, permitam-me que apresente hoje um pequeno texto digitalizado, escrito em 1979 por uma jornalista-escritora, Fina d’Armada – FÁTIMA: O que se passou em 1917 –, em que a autora defende a tese de que se tratou de um fenómeno ovnilógico. Que eu saiba, nunca mais ninguém defendeu tal ideia nem esta colheu qualquer aceitação credível nos meios científicos dos mais variados quadrantes e muito menos nos teológicos. Então por que me refiro a este livro? Simplesmente porque Fina d’Armada, logo abrir o seu trabalho, no primeiro capítulo, diz o mais importante. Leiam.





De facto, Fátima “é realmente um bom local de meditação, um local mais próximo do divino, do sonho, do Bem”. Tudo o mais que vem no livro não terá grande interesse. Mas a sua abertura vem mesmo a propósito daquilo que milhões de pessoas buscam e sentem no Altar do Mundo. E foi por isso, então, que eu lá fui ontem.

Fernando Martins
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NOTA: As minhas reflexões sobre o que vi vão continuar neste meu espaço.

MEDOS E PERPLEXIDADE DOS MAIS IDOSOS



Como cuidadosa preparação da opinião pública, em ordem a um clima propício à aceitação da eutanásia, tal como já aconteceu em relação ao aborto, deu-se grande visibilidade a um inquérito nacional feito a idosos internados em lares diversos. Não faltaram opiniões variadas a fazer a leitura do resultado e títulos tendenciosos a orientar para conclusões. Já estamos habituados.
A situação pessoal e social dos mais idosos é talvez o problema mais preocupante e grave a que assistimos hoje. Cresce o número dos que não têm lugar na casa que construíram com muito amor e sacrifício, e que hoje é casa de filhos, demasiadamente ocupados para poderem ser sensíveis; cresce o número de famílias desestruturadas para as quais o idoso se tornou um intruso incómodo; é difícil a situação de muitas famílias em que o casal trabalha fora, vive em casa exígua e rendimento reduzido e leva, ainda e diariamente, o cuidado de um idoso querido que tem consigo e dos filhos que começa a distribuir, por instituições adequadas, ainda o sol vem longe; são muitos os idosos que vivem nos meios rurais com filhos emigrados no estrangeiro ou, embora cá dentro, a quilómetros de distância; não faltam idosos isolados, de quando em quando, roubados e espancados, sem se ver como protegê-los. O tempo de vida alargou-se, mas a vida de um idoso, ainda que em condições regulares de saúde e de conforto, tem exigências múltiplas, nem sempre com resposta fácil.
Por outro lado, surgem, por todo o lado, iniciativas que minimizem as carências e dêem alguma satisfação às situações existentes: casais que regressam à terra para cuidar dos seus idosos; estruturas regulares de apoio a partir de instituições de solidariedade, como lares, centros de dia, apoio domiciliário, acolhimento nocturno, centros de convívio; estímulos do Estado, traduzidos, por exemplo, em pensões sociais e desconto em medicamentos; são múltiplas as actividades de lazer, passeios turísticos, férias em zonas adequadas; preparam-se profissionais e voluntários para tratar idosos e lidar com eles; há literatura diversa a chamar a atenção para os idosos e seus problemas e até meios organizados para aproveitar e valorizar as suas qualidades e capacidades. As situações são muito diversas e o que de uns podem beneficiar, outros desconhecem-no.
Para todos, a família quando a têm, e o amor que dela se espera, porque a ele se tem direito, é e será sempre o maior e o mais indispensável apoio e estímulo ao viver de um idoso. Ninguém pode viver sem amor. Só pensa na morte, dela fala e a deseja, quem não se sente amado. Todos os outros meios, mesmo os mais válidos, ou têm o tempero do amor ou perdem, a pouco e pouco, o seu sentido e valor. Assim o inquérito o revela.
É uma preocupação lamentável a de muitos filhos, sem preocupação de procurar a melhor solução, tentarem internar os seus idosos em lares. Por isso há nestes listas de espera por todo o lado. Para muitos destes filhos, idoso internado é, depois, idoso pouco ou nada lembrado e visitado. E isto é o que mais dói a um idoso, arrumado e esquecido. Só o desabafa com quem confia, mina-lhe por dentro a alegria e a vontade de viver, tem a sensação de indesejado, a vida perdeu o sentido e, no horizonte, só a morte aparece.
A solução para estes casos, que infelizmente aumentam, não é a eutanásia, mas a humanização das relações familiares; o avivar da consciência dos filhos, que também são pais e têm, em relação aos seus idosos, uma dívida nunca paga; o fomento da solidariedade comunitária, que se torna família dos que a não têm; a preocupação dos lares serem lares de família com a família, e não armazéns de quantos mais melhor…
A casa onde viveu, ainda que pobre, é a que o idoso, em situação normal, sempre preferirá. Haja amor de quem o pode e deve dar e os idosos manifestarão a sua verdade. Todos, no seu juízo, preferem a alegria de viver, à pressa de morrer. Todos preferem, a seu lado, quem os ame e lhes prolongue a vida, a quem, anónimo, lhes apresse a morte.

António Marcelino

ARTE NA AUTO-ESTRADA




( Clicar nas fotos para ampliar)


ARTE NA AUTO-ESTRADA

Estou convencido de que muitos utentes das auto-estradas nem tempo têm, quando param nas zonas de serviços, para olhar para as decorações artísticas que as ornamentam. Por vezes, com sensibilidade e quase sempre com motivos históricos.
Pára-se a correr, para meter gasolina ou para tomar um café, e ala que se faz tarde.
Na viagem que fiz ontem a Fátima dei-me ao cuidado de olhar à volta para apreciar. Como, aliás, costumo fazer. E registei o que achei bonito, tendo notado que mais ninguém o fazia. Aqui fica o aperta…
Em Pombal e em Leiria lá estavam os motivos históricos, com o nosso rei D. Dinis num lugar de destaque, que bem o merece. Como rei fez coisas boas e coisas menos boas. Destas não valerá a pena falar. Mas das outras, que foram em grande número, o pela positiva tem aqui cabimento.
Foi realmente um rei empreendedor, com uma visão muito mais ampla do que era habitual, visão essa que bebeu na educação e na formação que recebeu, dos mestres que seu pai, D. Afonso III, lhe ofereceu. Dois mestres, um francês e outro português, que acabaram bispos no Reino. Ayméric d’Ebrard e Domingos Jardo (também formado em França) abriram no jovem Dinis os olhos ao mundo de então, e apuraram nele o gosto pela cultura, pelas artes e pelos saberes. Daí a criação dos Estudos Gerais, raiz da futura Universidade de Coimbra, em 1290, uma das mais antigas do mundo. Também a ele se deve a lei que estabelece como obrigatório o uso da Língua Portuguesa em documentos oficiais. Até aí eram escritos em Latim.
O que ficou dele, ainda, foi o gosto pela poesia, que ele tão bem cultivou e nos legou. Como é saboroso ler as suas cantigas de amor e de amigo.
Pois é uma dessas poesias que aqui deixo aos meus leitores. Com votos de que, a partir dessa, outras possam ler. Estão em qualquer boa antologia de poesia.
Fernando Martins

Na Linha Da Utopia



Admirável Mundo Plural



1. O mundo, como a vida, conjuga-se no plural. As realidades, tanto na sua grandeza como no seu limite têm sempre muitos ângulos da questão, não são lineares e uniformes, são plurais. Talvez a convivência com a pluralidade tenha sido a maior conquista da espécie humana, como sinal da capacidade de conviver com a diferença de ideias, de pensamento, de filosofias, de políticas, de religiões, de clubes, de modos de viver. Uma conquista angariada em séculos, tantas vezes sangrentos, em que do uniformismo intolerante (muitas vezes fundamentado por visões exclusivistas de foro sócio-político-religioso) foi-se realizando a viagem (humaníssima) até à convivência da pluralidade.
2. Mas não se pense que essa viagem está acabada. Existiram valores (alguns mesmo à revelia) que foram presidindo à construção do pensamento plural, de modo a que este seja a PRESENÇA de todos e não a ausência indiferente. Nos tempos em que estamos, o processo de alimentar as raízes da pluralidade reveste-se de uma urgência inadiável. Para o projecto humano não chega o dizer-se ou reconhecer-se que existem culturas diferentes, que “somos” num tempo plural, multicultural, multiétnico, etc. É bom mas representará só os “mínimos olímpicos”; é pouco para os tempos globais que vivemos! Não sendo preciso ir tão longe, olhe-se, por exemplo, para muitas das comunidades dos EUA, onde cada bairro representa cada comunidade, com exclusividade: comunidades fechadas, impermeáveis à mudança, à diferença e ao diferente.
3. Um dos breves escritos de Eduardo Lourenço (2007), caracterizando muito do indiferentismo do nosso tempo, lembra-nos que o pensamento de Friedrich Nietzshe (1844-1900) “não permite a indiferença”. Diremos que na indiferença não há pluralismo que resista por muito tempo. A pluralidade como um bem social terá, assim, de representar a grandeza da CONVIVÊNCIA HUMANA e não a ausência indiferente do bairro fechado. Que lugar para este alimentar dialogante da pluralidade? Onde e como ocorre esse diálogo constante como plataforma de encontro criativo? Só deste modo passaremos da observada multiculturalidade ao encontro intercultural que (em transculturalidade) nos diz que é muito mais o que nos une como humanos que as diferenças e incompatibilidades que tanto mais acentuamos. Deste modo dialogante já cada minoria terá a sabedoria de se reinterpretar, não vendo o diálogo com medo nem como perca de identidade mas como nova síntese na grandeza em ser humano com os outros.

Alexandre Cruz

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

JORNAIS EM PERIGO




”A rentabilidade da imprensa está cada vez mais em perigo. Se calhar hoje em dia 70% dos jornais portugueses dão prejuízo, portanto é óbvio que têm de arranjar soluções para reencontrar a sua rentabilidade num mercado cada vez mais difícil.”

Mário Arga Lima, proprietário e administrador de “A Bola”. Afirmação extraída de uma entrevista concedida ao Jornal de Negócios de hoje

Há muito se fala disto. Os jornais estão mesmo em perigo. Por isso, a carga, cada vez maior, dos descartáveis que os acompanham. Pagam-lhes para os suportarem e podem atrair leitores. Depois os livros, de graça, uns, e a preços baixos, outros. Outras ofertas, qual delas a mais exótica, também ajudam a vender jornais.
Quem está viciado na leitura de jornais tem pena de ver desaparecer alguns que fizeram história. Como já aconteceu tantas vezes. Então que fazer, sendo verdade que os vendedores de notícias estão a repetir-se até à náusea? Não sei. Só sei que está a generalizar-se a procura de noticiários on-line. O mundo está à nossa mão. A informação e a formação circulam a velocidades estonteantes. Novos hábitos crescem de forma acelerada. Há dias, enviaram-me um “site” com televisões gratuitas abertas aos cibernautas. Enviei-o para um amigo que está a viver um tanto ou quanto numa zona isolada. Seria para ele ocupar o tempo livre de forma saudável. Respondeu-me que já tinha um outro muito melhor…
Os jornais, claro, não poderão resistir a esta concorrência. Há também jornais gratuitos a serem distribuídos nos grandes centros. Tendo-os de borla, por que razão hão-de comprar-se outros? Só o farão, naturalmente, se o que se paga for mesmo muito bom…e diferente, para muito melhor.

FM