sábado, 27 de outubro de 2007

HORA DE INVERNO




Relógios atrasam 60 minutos na próxima madrugada. Às 2 horas, os ponteiros devem voltar para a 1 hora, para entrarmos na chamada "hora de Inverno".

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

FÁTIMA-3

Cristo e Nossa Senhora

Painel, lado esquerdo de quem olha

Painel, lado direito


Espelho de água



Altar com pedra do túmulo de S. Pedro, ao centro




Painel de Siza Vieira


UMA OBRA À MEDIDA DAS NECESSIDADES
ESPIRITUAIS DO MUNDO INTEIRO


Quando entrei na igreja da Santíssima Trindade, fiquei com a sensação de uma grande beleza. Uma beleza sóbria e imponente pelas formas e decorações de enorme riqueza artística. Também de uma beleza que convidava ao silêncio e ao recolhimento. Os meus olhos ficaram fascinados pelo que viram. Arte em todos os pormenores; sem saber que mais admirar. Se a variedade de expressões artísticas, oriundas um pouco de todo o mundo, se a luminosidade serena que tudo envolve, se a ausência de ruídos ou sons do exterior, se a serenidade de quem entra e sai, se a fuga aos estereótipos nos rostos de Cristo e de Nossa Senhora, se o painel atrás do altar, no presbitério, de ouro e terracota, com o título expressivo de “Chamamento Universal da Igreja” .
Depois, o piso inferior, onde sobressaem os painéis de azulejos Siza Vieira, em que o autor procurou representar “A Galilé dos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo”. Capelas, salas para encontros, espelhos de água, tudo acoplado a um claustro amplo e bem iluminado.
Era dia de semana, mas a igreja da Santíssima Trindade estava com visitas contínuas, sem possibilidades de ali se desenvolverem actos de culto ou encontros de formação e de espiritualidade. Eu engrossei o número de visitantes na quarta-feira última. Mas estou em crer que, muito em breve, naquele espaço, à sombra da Senhora de Fátima, um fervilhar de actividades dará outra vida ao novo templo e seus anexos. E os que agora criticam o dinheiro que ali se gastou hão-de reconhecer a mais-valia que representa esta obra grandiosa para o século XXI. Uma obra à medida das necessidades espirituais dos católicos do mundo inteiro.

Fernando Martins

Homenagem ao Padre Lé



HOMENAGEIA O SEU PÁROCO

A Paróquia da Gafanha da Encarnação vai homenagear, no próximo domingo, 28 de Outubro, o Padre Lé, que há 50 anos serve aquela comunidade como pároco. A homenagem tem o seu ponto alto na Missa Solene às 12.15 horas, seguindo-se almoço e convívio. O Padre Manuel Ribau Lopes Lé nasceu em 1922 e foi ordenado no dia 20 de Setembro de 1947.
Esta homenagem é, a todos os títulos, merecidíssima. As comunidades não podem, sob pena de se tornarem injustas e ingratas, ficar indiferentes a quem as serve, com dedicação indesmentível. O Padre Lé, que conheço desde que sou gente, é o exemplo perfeito de uma entrega sem limites à Gafanha da Encarnação e à Igreja, estando sempre na linha da defesa dos interesses da comunidade que serve há 50 anos. Não é todos os dias que vemos pessoas que trabalham sem pensarem na reforma e nas comodidades a que essa situação pode conduzir. Por isso, a justeza desta homenagem, que aplaudo vivamente.







FM

AMBIENTE NO PORTO DE AVEIRO


Por respeitar o ambiente e a segurança: Distinguida empresa química instalada no Porto de Aveiro


O Grupo Drovigo, da empresa APD Química, cujas instalações se situam no Porto de Aveiro, recebe, hoje, em Paris, o prémio «European Responsible Care 2007», que distingue projectos que defendam o meio ambiente, a segurança, e a saúde

Com uma actividade baseada na distribuição química, este grupo foi seleccionado entre outras 16 empresas, pelo Conselho Europeu da Indústria Química, que realiza, em França, o Forum Responsible Care, no âmbito do qual terá lugar a cerimónia de entrega deste galardão. O Grupo Drovigo é um operador logístico com sede em Espanha, mas que dispõe de delegações em Portugal desde 2001. Foi fundado nos anos 50, operando por toda a Península Ibérica. As instalações desta empresa no Porto de Aveiro têm capacidade para receber navios até cinco mil toneladas. No ano passado, facturou quase 26 milhões de euros, tendo distribuído cerca de 30 mil toneladas de mercadorias. A ADP Química, empresa em que se insere, tem uma capacidade de armazenamento de 12 mil metros cúbicos de líquidos, e um armazém com três mil metros quadrados. Atribuído anualmente, o prémio «European Responsible Care» tem como objectivo distinguir o melhor exemplo europeu de desempenho ao nível da actuação responsável, e é atribuído por um júri que integra personalidades independentes de diversas áreas, nomeadamente, membros da Comissão Europeia, do Parlamento Europeu, da imprensa e do próprio sector químico. A Actuação Responsável é a designação nacional do Responsible Care, um compromisso ético voluntário da indústria química mundial, que visa a melhoria contínua nas áreas da Saúde, Segurança, Ambiente e comunicação com os stakeholders, na rota do desenvolvimento sustentável. Em Portugal, a Actuação Responsável foi adoptada pela Associação Portuguesa das Empresas Químicas, há 22 anos, sendo, desde então, a entidade coordenadora nacional da Actuação Responsável, a par com associações químicas de outros 52 países. Há dois anos, o prémio foi entregue ao Painel Comunitário de Actuação Responsável de Estarreja.

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NOTA: Vezes sem conta denunciei, de forma construtiva, a falta de respeito pelo ambiente na Gafanha da Nazaré, mormente na área portuária. Ultimamente, porém, a questão ambiental tem vindo à baila, por mor da poluição com origem no Porto Comercial e que afecta esta cidade, passando mesmo para além dela. Os protestos choveram de todos os lados, políticos e outros, porque as pessoas precisam de respirar ares sadios.
Congratulo-me agora com este prémio atribuído a uma empresa sedeada no Porto de Aveiro, pela sua aposta no respeito pela natureza, nela incluindo, naturalmente, os muitos milhares de pessoas. Espero então que este prémio seja estímulo para todas as outras empresas instaladas no Porto de Aveiro.

FM

Na Linha Da Utopia




A Ciência terá limites?

1. Esta é uma pergunta retórica. Claro que a ciência, como tudo quanto é a percepção humana sobre a realidade, tem alcances e tem limites. Este é o título (“A Ciência terá limites?”) de conferência internacional que nestes dias (25 e 26 de Novembro) decorre na Fundação Calouste Gulbenkian (http://www.gulbenkian.pt/) e que conta com a presença de múltiplos especialistas de referência. Mas será um erro considerar-se que estas questões unicamente interessam aos especialistas e cientistas…
2. Tanto os esforços de divulgação científica merecem uma atenção dos cidadãos a estas questões, como o facto de que aquilo que se vai investigando vir a ter impactos decisivos na nossa vida diária (seja à distância de uma década) deverá sensibilizar todos (“qb”) para estas questões. Que o diga a história da Revolução Científica do séc. XVI-XVII, com os seus impactos na transformação de paradigmas (dos modos) sociais e pessoais de viver. Hoje será a revolução genética e comunicacional que nos está a transformar, a ponto de termos que REVER (quase) TUDO.
3. Felizmente que já ultrapassámos os tempos da surdez científica; felizmente que, hoje, a conjugação de esforços em diálogo de ciências torna todos mais comprometidos. Mas o desafio ético (da dignidade humana) apresentar-se-á como o eixo de equilíbrio, dando os pilares tanto dos alcances como das fronteiras da própria ciência. Já lá vão os tempos (?) tanto dos endeusamentos científicos como de pretensões unilaterais do tratamento das questões e da procura da verdade.
4. Os limites estão aí, todos os dias, a desafiar toda a proclamada sociedade do conhecimento. Numa ciência que saiba (sempre mais e melhor) dialogar com a realidade concreta, dir-se-á que os limites da ciência pairam nos limites da própria humanidade; mas não só, também os limites das culturas, das políticas, das religiões, das filosofias: enquanto a fome, a sede, a violência, o desequilíbrio ambiental, os esvaziamentos da DIGNIDADE HUMANA persistirem, os limites gritam e apelam a todas as formas de conhecimento para as resoluções inadiáveis.
4. Um dos nomes de referência convidados à conferência é George Steiner, que, partilhando dos limites da ciência, exemplifica dizendo que «não há nenhum instrumentos de observação, por mais sofisticado que seja que nos permita prosseguir para lá das “paredes douradas” externas ou internas do nosso possível universo local. […] O Concorde foi uma maravilha aerodinâmica, tecnológica. Não há qualquer intenção de o fazer voar.» Os dados estão aí. A viagem HUMANA, diferente, continua. Seja ela capaz de integrar todas as formas (humildes) de conhecimento ao serviço da sua própria dignidade. No reconhecimento dos limites estará, também, a ponte de aprendizagem dialogal.

Alexandre Cruz

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

FÁTIMA - 2




O AR QUE ALI SE RESPIRA SABE BEM

Fui a Fátima por necessidade espiritual de respirar um ar diferente. Também para ver ao vivo a nova igreja da Santíssima Trindade, cheia de arte e de símbolos que aos crentes nos mistérios cristãos dizem muito. E muito dizem, ainda, aos que vêem na arte uma dinâmica que nos eleva para o alto, catalisando os valores que nos enformam.
Não importa, a meu ver, dissecar o que se diz a favor e contra Fátima. Não foi a Igreja que impôs Fátima ao mundo, mas foi Fátima que se impôs na Igreja, como tantas vezes tenho ouvido dizer e lido. Importa, isso sim, sublinhar que debaixo da Azinheira me sinto abrigado e livre para assumir o mistério ali experimentado por milhões de crentes e não crentes.
Quando lá vou, sem preocupações de reuniões e de encontros, gosto de falar pouco. Vou mais para ouvir o que se diz e para me debruçar sobre expressões e rostos de gente com fé, na certeza que sinto que não há neles falsidades nem fingimentos. Há devoções que não sabemos medir, há a fé de imensas pessoas que só Deus saberá compreender. Por isso, não me atrevo a criticar quem se arrasta em promessas pelo passadiço agora polido, quem reza fervorosamente sem complexos, quem acende velas atrás de velas, quem fica quedo a meditar na Capela da Adoração, quem fica meditando junto da mais antiga capelinha de Nossa Senhora, quem participa nas missas na Basílica, quem apenas ciranda por ali, quantas vezes à procura de lembranças que de bom gosto pouco têm. Cada pessoa, em Fátima, é para mim um mundo interior onde não ouso penetrar. Deus saberá ler tudo isso.
Porém, permitam-me que apresente hoje um pequeno texto digitalizado, escrito em 1979 por uma jornalista-escritora, Fina d’Armada – FÁTIMA: O que se passou em 1917 –, em que a autora defende a tese de que se tratou de um fenómeno ovnilógico. Que eu saiba, nunca mais ninguém defendeu tal ideia nem esta colheu qualquer aceitação credível nos meios científicos dos mais variados quadrantes e muito menos nos teológicos. Então por que me refiro a este livro? Simplesmente porque Fina d’Armada, logo abrir o seu trabalho, no primeiro capítulo, diz o mais importante. Leiam.





De facto, Fátima “é realmente um bom local de meditação, um local mais próximo do divino, do sonho, do Bem”. Tudo o mais que vem no livro não terá grande interesse. Mas a sua abertura vem mesmo a propósito daquilo que milhões de pessoas buscam e sentem no Altar do Mundo. E foi por isso, então, que eu lá fui ontem.

Fernando Martins
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NOTA: As minhas reflexões sobre o que vi vão continuar neste meu espaço.

MEDOS E PERPLEXIDADE DOS MAIS IDOSOS



Como cuidadosa preparação da opinião pública, em ordem a um clima propício à aceitação da eutanásia, tal como já aconteceu em relação ao aborto, deu-se grande visibilidade a um inquérito nacional feito a idosos internados em lares diversos. Não faltaram opiniões variadas a fazer a leitura do resultado e títulos tendenciosos a orientar para conclusões. Já estamos habituados.
A situação pessoal e social dos mais idosos é talvez o problema mais preocupante e grave a que assistimos hoje. Cresce o número dos que não têm lugar na casa que construíram com muito amor e sacrifício, e que hoje é casa de filhos, demasiadamente ocupados para poderem ser sensíveis; cresce o número de famílias desestruturadas para as quais o idoso se tornou um intruso incómodo; é difícil a situação de muitas famílias em que o casal trabalha fora, vive em casa exígua e rendimento reduzido e leva, ainda e diariamente, o cuidado de um idoso querido que tem consigo e dos filhos que começa a distribuir, por instituições adequadas, ainda o sol vem longe; são muitos os idosos que vivem nos meios rurais com filhos emigrados no estrangeiro ou, embora cá dentro, a quilómetros de distância; não faltam idosos isolados, de quando em quando, roubados e espancados, sem se ver como protegê-los. O tempo de vida alargou-se, mas a vida de um idoso, ainda que em condições regulares de saúde e de conforto, tem exigências múltiplas, nem sempre com resposta fácil.
Por outro lado, surgem, por todo o lado, iniciativas que minimizem as carências e dêem alguma satisfação às situações existentes: casais que regressam à terra para cuidar dos seus idosos; estruturas regulares de apoio a partir de instituições de solidariedade, como lares, centros de dia, apoio domiciliário, acolhimento nocturno, centros de convívio; estímulos do Estado, traduzidos, por exemplo, em pensões sociais e desconto em medicamentos; são múltiplas as actividades de lazer, passeios turísticos, férias em zonas adequadas; preparam-se profissionais e voluntários para tratar idosos e lidar com eles; há literatura diversa a chamar a atenção para os idosos e seus problemas e até meios organizados para aproveitar e valorizar as suas qualidades e capacidades. As situações são muito diversas e o que de uns podem beneficiar, outros desconhecem-no.
Para todos, a família quando a têm, e o amor que dela se espera, porque a ele se tem direito, é e será sempre o maior e o mais indispensável apoio e estímulo ao viver de um idoso. Ninguém pode viver sem amor. Só pensa na morte, dela fala e a deseja, quem não se sente amado. Todos os outros meios, mesmo os mais válidos, ou têm o tempero do amor ou perdem, a pouco e pouco, o seu sentido e valor. Assim o inquérito o revela.
É uma preocupação lamentável a de muitos filhos, sem preocupação de procurar a melhor solução, tentarem internar os seus idosos em lares. Por isso há nestes listas de espera por todo o lado. Para muitos destes filhos, idoso internado é, depois, idoso pouco ou nada lembrado e visitado. E isto é o que mais dói a um idoso, arrumado e esquecido. Só o desabafa com quem confia, mina-lhe por dentro a alegria e a vontade de viver, tem a sensação de indesejado, a vida perdeu o sentido e, no horizonte, só a morte aparece.
A solução para estes casos, que infelizmente aumentam, não é a eutanásia, mas a humanização das relações familiares; o avivar da consciência dos filhos, que também são pais e têm, em relação aos seus idosos, uma dívida nunca paga; o fomento da solidariedade comunitária, que se torna família dos que a não têm; a preocupação dos lares serem lares de família com a família, e não armazéns de quantos mais melhor…
A casa onde viveu, ainda que pobre, é a que o idoso, em situação normal, sempre preferirá. Haja amor de quem o pode e deve dar e os idosos manifestarão a sua verdade. Todos, no seu juízo, preferem a alegria de viver, à pressa de morrer. Todos preferem, a seu lado, quem os ame e lhes prolongue a vida, a quem, anónimo, lhes apresse a morte.

António Marcelino

ARTE NA AUTO-ESTRADA




( Clicar nas fotos para ampliar)


ARTE NA AUTO-ESTRADA

Estou convencido de que muitos utentes das auto-estradas nem tempo têm, quando param nas zonas de serviços, para olhar para as decorações artísticas que as ornamentam. Por vezes, com sensibilidade e quase sempre com motivos históricos.
Pára-se a correr, para meter gasolina ou para tomar um café, e ala que se faz tarde.
Na viagem que fiz ontem a Fátima dei-me ao cuidado de olhar à volta para apreciar. Como, aliás, costumo fazer. E registei o que achei bonito, tendo notado que mais ninguém o fazia. Aqui fica o aperta…
Em Pombal e em Leiria lá estavam os motivos históricos, com o nosso rei D. Dinis num lugar de destaque, que bem o merece. Como rei fez coisas boas e coisas menos boas. Destas não valerá a pena falar. Mas das outras, que foram em grande número, o pela positiva tem aqui cabimento.
Foi realmente um rei empreendedor, com uma visão muito mais ampla do que era habitual, visão essa que bebeu na educação e na formação que recebeu, dos mestres que seu pai, D. Afonso III, lhe ofereceu. Dois mestres, um francês e outro português, que acabaram bispos no Reino. Ayméric d’Ebrard e Domingos Jardo (também formado em França) abriram no jovem Dinis os olhos ao mundo de então, e apuraram nele o gosto pela cultura, pelas artes e pelos saberes. Daí a criação dos Estudos Gerais, raiz da futura Universidade de Coimbra, em 1290, uma das mais antigas do mundo. Também a ele se deve a lei que estabelece como obrigatório o uso da Língua Portuguesa em documentos oficiais. Até aí eram escritos em Latim.
O que ficou dele, ainda, foi o gosto pela poesia, que ele tão bem cultivou e nos legou. Como é saboroso ler as suas cantigas de amor e de amigo.
Pois é uma dessas poesias que aqui deixo aos meus leitores. Com votos de que, a partir dessa, outras possam ler. Estão em qualquer boa antologia de poesia.
Fernando Martins

Na Linha Da Utopia



Admirável Mundo Plural



1. O mundo, como a vida, conjuga-se no plural. As realidades, tanto na sua grandeza como no seu limite têm sempre muitos ângulos da questão, não são lineares e uniformes, são plurais. Talvez a convivência com a pluralidade tenha sido a maior conquista da espécie humana, como sinal da capacidade de conviver com a diferença de ideias, de pensamento, de filosofias, de políticas, de religiões, de clubes, de modos de viver. Uma conquista angariada em séculos, tantas vezes sangrentos, em que do uniformismo intolerante (muitas vezes fundamentado por visões exclusivistas de foro sócio-político-religioso) foi-se realizando a viagem (humaníssima) até à convivência da pluralidade.
2. Mas não se pense que essa viagem está acabada. Existiram valores (alguns mesmo à revelia) que foram presidindo à construção do pensamento plural, de modo a que este seja a PRESENÇA de todos e não a ausência indiferente. Nos tempos em que estamos, o processo de alimentar as raízes da pluralidade reveste-se de uma urgência inadiável. Para o projecto humano não chega o dizer-se ou reconhecer-se que existem culturas diferentes, que “somos” num tempo plural, multicultural, multiétnico, etc. É bom mas representará só os “mínimos olímpicos”; é pouco para os tempos globais que vivemos! Não sendo preciso ir tão longe, olhe-se, por exemplo, para muitas das comunidades dos EUA, onde cada bairro representa cada comunidade, com exclusividade: comunidades fechadas, impermeáveis à mudança, à diferença e ao diferente.
3. Um dos breves escritos de Eduardo Lourenço (2007), caracterizando muito do indiferentismo do nosso tempo, lembra-nos que o pensamento de Friedrich Nietzshe (1844-1900) “não permite a indiferença”. Diremos que na indiferença não há pluralismo que resista por muito tempo. A pluralidade como um bem social terá, assim, de representar a grandeza da CONVIVÊNCIA HUMANA e não a ausência indiferente do bairro fechado. Que lugar para este alimentar dialogante da pluralidade? Onde e como ocorre esse diálogo constante como plataforma de encontro criativo? Só deste modo passaremos da observada multiculturalidade ao encontro intercultural que (em transculturalidade) nos diz que é muito mais o que nos une como humanos que as diferenças e incompatibilidades que tanto mais acentuamos. Deste modo dialogante já cada minoria terá a sabedoria de se reinterpretar, não vendo o diálogo com medo nem como perca de identidade mas como nova síntese na grandeza em ser humano com os outros.

Alexandre Cruz

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

JORNAIS EM PERIGO




”A rentabilidade da imprensa está cada vez mais em perigo. Se calhar hoje em dia 70% dos jornais portugueses dão prejuízo, portanto é óbvio que têm de arranjar soluções para reencontrar a sua rentabilidade num mercado cada vez mais difícil.”

Mário Arga Lima, proprietário e administrador de “A Bola”. Afirmação extraída de uma entrevista concedida ao Jornal de Negócios de hoje

Há muito se fala disto. Os jornais estão mesmo em perigo. Por isso, a carga, cada vez maior, dos descartáveis que os acompanham. Pagam-lhes para os suportarem e podem atrair leitores. Depois os livros, de graça, uns, e a preços baixos, outros. Outras ofertas, qual delas a mais exótica, também ajudam a vender jornais.
Quem está viciado na leitura de jornais tem pena de ver desaparecer alguns que fizeram história. Como já aconteceu tantas vezes. Então que fazer, sendo verdade que os vendedores de notícias estão a repetir-se até à náusea? Não sei. Só sei que está a generalizar-se a procura de noticiários on-line. O mundo está à nossa mão. A informação e a formação circulam a velocidades estonteantes. Novos hábitos crescem de forma acelerada. Há dias, enviaram-me um “site” com televisões gratuitas abertas aos cibernautas. Enviei-o para um amigo que está a viver um tanto ou quanto numa zona isolada. Seria para ele ocupar o tempo livre de forma saudável. Respondeu-me que já tinha um outro muito melhor…
Os jornais, claro, não poderão resistir a esta concorrência. Há também jornais gratuitos a serem distribuídos nos grandes centros. Tendo-os de borla, por que razão hão-de comprar-se outros? Só o farão, naturalmente, se o que se paga for mesmo muito bom…e diferente, para muito melhor.

FM

Na Linha Da Utopia



A MOEDA FAZ A DIFERENÇA!

1. Todos sabemos que nos hipermercados ou em centros grossistas os carrinhos de compras são instrumentos práticos, preciosos na tarefa de mais facilmente percorrer o local e realizar a finalidade dessa deslocação ao mercado. Todos sabemos, também, do incómodo que será chegar a um estacionamento e o espaço estar bloqueado com carros de compras a inundar a área reservada para o carro (sim mas), automóvel.
2. Vamos periodicamente a um desses espaços grossistas da região. Se vai havendo algumas mudanças (a par de obras de melhoramentos, normalmente também nas subidas dos preços!), todavia, algo se mantém como uma constante quase dogmática e infalível: os carros de compras desarrumados! E os mesmos carros de compras que a pessoa ao chegar verifica que atrapalham o estacionamento são os mesmos carros que são deixados para atrapalhar outros frequentadores.
3. Ainda assim, poderemos com facilidade detectar uma diferença: quando o carro tem moeda então esse é mesmo arrumado cuidadosamente, a fim de se poder tirar a moeda que lá se colocou. Ou seja, chegaremos à efectiva conclusão de que a moeda faz a diferença, como também a agradecemos a invenção da moeda no carrinho, pois imagine-se se os grandes hipermercados não contemplassem os seus carros de compras com esse estratégico equipamento: seria impossível lá entrar!
4. Por muito que se batalhe no fenómeno da formação humana e da educação cívica, enquanto não arrumarmos o carro a “pensar no outro” não iremos lá. Serão as coisas pequenas que são, afinal, as grandes demonstrações desses valores fundamentais de uma cidadania activa nas tarefas mais simples. Que pena que ainda estamos a “aprender a arrumar” o carro de compras! Será que para todas estas realidades mais simples do cumprimento dos deveres de cidadão…será para tudo necessário a invenção de uma moeda?! Será que só por interesse lá iremos e não tanto pelo VALOR JUSTO das coisas? (Claro, como tudo o que escrevemos, é um modo - simples - de dizer…)


Alexandre Cruz

Postal ilustrado


Da ilha de São Jorge, nos Açores, recebi este postal ilustrado do João, leitor do meu blogue. Ali trabalha e vive há tempos e quis partilhar comigo e com os meus amigos esta terra bonita, Calheta de seu nome, porque o que é belo é para se ver. Não sei o que é viver numa ilha, com os horizontes a perderem-se no mar, estendendo-se depois ao sabor da imaginação. Penso que em qualquer ponto da vila ou da ilha se ouve, sobretudo no silêncio da noite, o rumor do mar a atirar-se à terra, ora mansamente ora com bravura. Imagino só, mas quem sabe se um dia não hei-de experimentar, ao vivo, essas sensações de sonho.

FÁTIMA - 1




Hoje estive em Fátima. Sentia, há muito, a necessidade de lá ir. Há mais de um ano que andava a adiar a visita. Incómodos de saúde obrigaram-me a isso. Mas hoje arranjei coragem e lá fui, bem acompanhado. O ar que ali costumo respirar e a igreja da Santíssima Trindade, oferecida ao mundo em 12 de Outubro, estiveram na origem desta minha decisão. Valeu a pena. Do que vi e senti darei notícia nos próximos dias. Sem pressas, porque regressei de Fátima satisfeito. Depois direi porquê.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Museu Marítimo de Ílhavo


MUSEU MARÍTIMO DE ÍLHAVO CANDIDATO AO PRÉMIO "MUSEU EUROPEU DO ANO 2008"


O Museu Marítimo de Ílhavo (MMI) apresentou a candidatura ao prémio "Museu Europeu do Ano 2008", instituído pelo European Museum Fórum (EMF). A avaliação técnica será feita no próximo dia 29, durante uma visita dos membros do júri do concurso criado em 1977 com o objectivo de incentivar a excelência e a inovação no campo da museologia.
Sem querer alimentar expectativas, o director do MMI, Álvaro Garrido, destaca o facto de a candidatura já ter ultrapassado com sucesso a fase inicial. "Já estamos no grupo de finalistas, o que é muito interessante", avalia Álvaro Garrido. A apresentação desta candidatura permitirá, sobretudo, "desenvolver um exercício de autocrítica, partilha e reflexão". "Colocámo-nos à prova num prémio internacional de grande prestígio e exigência onde estão muitos parceiros com ambições e um belo trabalho quotidiano", sublinha.
A celebrar 70 anos de existência, o MMI pretende consolidar o processo de internacionalização, continuando a apostar no crescimento e na qualificação do trabalho que está a ser realizado. "Queremos diversificar a amplitude geográfica e social das pessoas que gostam do museu e o visitam", assume Garrido, adiantando que o MMI "terá tanto mais futuro quanto souber consensualizar o seu projecto de uma forma firme e fundamentada com a sua crescente comunidade de públicos, sem perder o seu enfoque marítimo e as suas ancoragens regionais".


José Carlos Sá


Igreja portuguesa apresentada no Vaticano



D. Carlos Azevedo, Secretário da CEP, antecipa visita dos Bispos ao Papa, a primeira em oito anos


AE - Não era preferível dar algumas tarefas aos leigos para aliviar o trabalho dos padres?
CA - Os padres devem dedicar-se mais à sua missão específica.
AE - Qual é essa missão específica?
CA - Verem-se livres de tarefas adjacentes que foram acumulando ao longo da história. Têm alguma dificuldade em se desprenderem do que acumularam. Um padre não tem que ser gestor de centros sociais. O padre não tem que ser administrador dos bens de uma paróquia ou diocese. O padre não tem que ser o burocrata de serviço da paróquia. A sua missão específica é evangelizar e formar cristãos. Ser mistagogo. Esta é outra dimensão que tem sido descuidada.
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Ler toda a entrevista em Ecclesia

No funeral do Padre Domingos

AS AMIZADES QUE PERDURAM Diz-se, com alguma razão, que há amigos que só se vêem de longe em longe, em situações especiais, mormente em funerais. E depois, como hoje mesmo verifiquei, no meio da tristeza vive-se a alegria do reencontro. Amigos de infância, com quem senti, há décadas, a amizade comum com um sacerdote que tinha uma forma muito especial de lidar connosco. Sempre do mesmo modo. Com um sorriso aberto, límpido, terno. Com palavras e conselhos evangélicos. Todas as situações eram oportunidades para nos brindar com a mensagem certa. Ao abraçá-los, abracei tempos que não voltam… tempos com marcas de amizades que perduram… leais, francas, sinceras… cristãs. Na missa de corpo presente (como presente estava também em todos a alma do nosso querido amigo), D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro, recordou “o servidor generoso da Igreja” que o Padre Domingos foi, tão expressivamente, em especial junto dos que mais sofriam, no corpo e no espírito. Incansável no zelo e na preocupação de ser “pedra viva”, com uma maneira muito peculiar de estar com as pessoas, em comunhão plena com os Bispos da Diocese de Aveiro, com o presbitério, com todos, afinal. Evocado por D. António e confirmado por muitos foi ainda o seu amor para com a Mãe de Deus e nossa Mãe, que encaminhou o Padre Domingos para testemunhar, no dia-a-dia, a ressurreição de Cristo. Despedi-me de amigos com a certeza de que este encontro nos serviu de estímulo para o imitarmos dentro dos nossos limites e sensibilidades, na convicção de que não há dois testemunhos iguais, duas maneiras iguais de viver os valores em que acreditamos, dois caminhos iguais neste mundo carregado de contrastes. Por mais voltas que dêmos, cada um de nós partilhará o que tem para partilhar, à medida dos seus horizontes e da claridade espiritual que dá ânimo, cor e sentido à vida. FM

ÍLHAVO: Semana da Educação


A Câmara Municipal de Ílhavo promoveu a Semana da Educação, que se vai desenvolver até 26 de Outubro. O programa inclui encontros entre os responsáveis autárquicos e diversos agentes da comunidade educativa, incluindo associações de pais. Se bem aproveitada, a Semana será uma mais-valia para o ensino e para a educação que se vive e pratica entre nós. Mais encontros, nesta linha fundamental da formação de cidadãos mais comprometidos com os interesses colectivos, serão sempre importantes, não se ficando por iniciativas que têm princípio e fim no curto espaço de uma semana. Há urgências que não podem ficar mais de 50 semanas à espera da Semana de Educação que ano após ano a autarquia ilhavense promove, e bem.
Isto vem a propósito da fraca participação dos pais das nossas crianças e jovens nas reuniões programadas pelas escolas. É conhecidíssimo o divórcio que existe entre os vários membros da comunidade educativa, ficando os alunos, na sua grande maioria, entregues apenas às escolas, as quais não têm capacidade para dar respostas às múltiplas exigências de todos os alunos, quer no campo do ensino, quer da educação.
Neste contexto, urge criar mecanismos para alertar os pais para a premência de viverem a educação e o estudo dos seus filhos com mais atenção, empenhando-se, regularmente, nas associações de pais e nos projectos das respectivas escolas.

Quem tem medo da Europa unida?


Para alguns analistas os tempos nunca são bons. Sobretudo nas vésperas duma crónica ou comentário, os tempos são os piores que a história já conheceu. Há críticos tão mal dispostos cuja alegria única é azedar o maior número de pessoas possível. Isto acontece com quase tudo: na política, economia, cultura, ou mesmo religião. Não há milagre que valha.
Mas falemos, para não irmos mais longe, da Europa. Do nosso Continente, da nossa matriz e memória. Do nosso passado e do nosso futuro. Com as glórias e desaires que vamos conhecendo e adivinhando. Entre lutas, opressões, pecados mortais contra a humanidade e contra Deus. Terra de heróis e santos, sábios e místicos, aventureiros e contemplativos. Ponto de irradiação de tantos sinais luminosos que ajudaram a desenhar o planeta que habitamos.
Não esquecemos as guerras e mortes. Não esquecemos o pós-guerra e as iniciativas de ressurgimento que surgiram. Ligada ao que chamamos Ocidente, a Europa deu corpo aos tempos novos que vivemos. A União Europeia começou, como sabemos, por ser uma estratégia económica de muito poucos. A história e o espírito empreendedor de alguns foi rasgando horizontes, abrindo portas, alargando a comunidade. Com maiores e menores, mais ricos e mais pobres. O Tratado há pouco aprovado em Lisboa pelos líderes da União Europeia, surge na esteira de entendimento entre os mais e menos velozes na caminhada do progresso. Se são os mais pequenos que correm mais riscos - e são - também em muitos aspectos serão os que recebem maiores benefícios com a aproximação. A solidariedade favorece mais os mais fracos.
Certamente poucos pacientes lerão o complexo texto do Tratado. Mas o essencial está dito e entendido, foi sendo relatado ao longo de anos com total abertura para os protestos e achegas em ordem ao respeito por todos e à solidariedade dum Continente que conhece a sua importância no concerto das Nações.
A questão que agora se coloca é esta: quem explicará todo o articulado do Tratado de Lisboa para o colocar em Referendo? Como pode o povo dizer sim ou não a um todo que é muito mais que meia dúzia de chavões? Para que servem os eleitos do povo se não para estudarem e decidirem questões na especialidade? O gosto pelo desprazer não justifica o número de objecções artificiais que agora se podem levantar. Nem, a esta hora, o pretenso arranjo dum tijolo deve colocar em risco todo o edifício.

António Rego

Na Linha Da Utopia



Sociedade de (des)confiança?

1. As recentes declarações do (PGR) Procurador-Geral da República têm proporcionado os mais variados sentimentos, e vindo despertar mesmo uma opinião pública tantas vezes longínqua destes mecanismos essenciais do Estado de Direito. Ao fim de um ano na gestão de órgão tão importante para a credibilidade democrática, o que está declarado, declarado está, a ponto de o próprio Procurador-Geral, dono da “tutela”, sentir alguns “sons” no telefone. No mínimo estranho, no máximo alarmante; mas está dito, e em entrevista não formal, o que torna as coisas mais verdadeiras.
2. Como comentário ao “comentário” do PGR, muitas vozes se fazem sentir, algumas mesmo estando contra a realização de qualquer escuta telefónica e outras a favor da sua generalização, dizendo que só com um sistema fiscalizador constante (quase inquisitorial) é que conseguiremos instaurar uma ordem de justa justiça. Dir-se-á que tudo isto (da realidade ao comentário) é muito preocupante, mas tanto mais quando o “dono” da casa partilha a sua impotência no lidar com este barco social que, diremos, mais que imposição de uma ordem pela “força” terá de ser capaz de instaurar uma ordem educativa, numa (insistente) ética transversal, pessoal e social.
3. Há breves anos, quando da obra Portugal, o Medo de Existir, do filósofo-ensaísta José Gil, muito se falou sobre a “inveja” como manifestação cultural de menoridade (se o vizinho tem, também tenho de ter!). Alguns pensadores vão sublinhando que, em comparação com outros países europeus, a CONFIANÇA terá de ser a base de construção da nossa comunidade. Mas como assumir a confiança, como factor decisivo, diante de sistemas de corrupção e crime organizado? Se o “combate” tem de ser em todas as frentes (dos sistemas judiciais aos da educação ética), uma coisa será certa: não se pode() generalizar a desconfiança, tanto na comunidade em geral, como fundamentalmente naqueles de cuja acção depende a esperança de sociedade justa.
4. O eco das declarações do PGR estão aí, pairando no ar. Um ar poluído que carece de purificação. Novamente, só a ética nos pode salvar! Como multiplicá-la como antídoto para todas as desconfianças?

Alexandre Cruz

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

ARES DO OUTONO



Pisei a areia da praia
à cata do silêncio terno
do teu olhar
E vi no teu andar
ao longe
a ternura que brota
sempre
da tua caminhada
Segura
serena
feliz
É a certeza da paz
que me dás
É a garantia
que aceito
e anseio
Numa tardinha quente
do Outono
Fernando Martins

Um livro de Georgino Rocha




“AO SERVIÇO DA FÉ
NA SOCIEDADE PLURAL”

Acaba de sair mais um livro do Padre Georgino Rocha, que vai merecer, decerto, a atenção dos agentes de pastoral, clérigos, religiosos e leigos. “Ao Serviço da Fé na Sociedade Plural” reveste-se de uma oportunidade evidente, ou não fosse a sociedade globalizada um desafio constante para todos, sobretudo para quantos acreditam que a acção da Igreja Católica tem de estar em sintonia com as exigências dos tempos que correm.
A obra, editada pela Princípia, reúne 12 ensaios deste sacerdote da Diocese de Aveiro, os quais reflectem uma boa diversidade de documentos do Magistério Pontifício e da Conferência Episcopal Portuguesa. São fruto, sem dúvida, do seu labor académico e das suas vivências pastorais, como pessoa aberta às realidades concretas da vida, em todas as suas vertentes.
Na apresentação, o autor sublinha que, “Para ter consciência recta e agir livremente, a consciência necessita de estar bem informada e de ser bem formada”, porque “só assim se defenderá do relativismo e do subjectivismo”. Adianta que “os direitos humanos fundamentais e a mensagem cristã devem destacar-se entre os conteúdos substanciais da informação e da formação” e frisa que a construção da sociedade, tendo como sonho utópico o lema de São Paulo –“Tudo é vosso, vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” –, “é desafio que indicará o rumo de todo o progresso, mobilizará todas as energias humanas e dará sentido a todas as opções fundamentais alicerçadas nesta escola de valores e nas respectivas realizações”.
No Prefácio, D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro, recorda que o autor tem “credenciais que o recomendam” e acrescenta que a sua vida tem sido “dedicada à formação dos mais diversos agentes pastorais”. Fala das experiências pessoais e reflexões do Padre Georgino Rocha, da preocupação de diálogo com “as realidades sociais e culturais mais diversas”, da “capacidade de entender e dar sentido à vida diária dos cristãos” e, ainda, da “sua vivência conciliar diária, numa Igreja diocesana que não se cansa de fazer esforços para ser fiel aos tempos que vive e aos desafios que enfrenta”.
“Ao Serviço da Fé na Sociedade Plural” comporta temas elaborados em épocas distintas para situações concretas, tendo merecido, agora, uma actualização, na certeza de que nada neste mundo é estático. No fundo, este trabalho vai ser, indubitavelmente, uma mais-valia para a formação e informação dos que não se resignam a ficar parados a ver passar a carruagem da globalização, característica fundamental das gerações do presente e do futuro.
Ao ler este trabalho, com o cuidado que ele merece, senti, de forma bem palpável, em cada tema, direi mesmo em cada parágrafo, vontade de parar, para meditar cada ideia e cada proposta, que o autor nos oferece para estes dias de correrias, quantas vezes sem sentido.
Como estímulo a quem busca um trabalho de referência, nem que seja simplesmente para a sua autoformação, é pertinente indicar alguns temas que o autor desenvolveu, com citações que são outras tantas pistas de estudo: Educação e Pastoral dos Direitos Humanos; Por uma Evangelização Eficaz; Propor a Fé com Ousadia Confiante; Conversão Cristã e Propostas Pastorais; Evangelizar o Social, Missão Urgente; Função dos Bens e Consumo Responsável; Cristãos com Cristo? Provocação Oportuna; e Testemunhas e Arautos da Fé.

Fernando Martins

Na Linha Da Utopia



A IMPORTÂNCIA DE REFLECTIR

1. Não se pode fazer omeletas sem ovos! As omeletas serão a vida diária, os ovos poderão ser a reflexão, o pensar, o interiorizar. Reflectir, criar a própria (equi)distância em relação às coisas e à vida agitada, discernindo o essencial (Ser) dos acessórios relativos será, hoje, a base fundamental da construção. Garantirá a continuada “reciclagem” da frescura e do equilíbrio da gestão da própria vida e do que cada “hora” temos em mãos, sempre para que tudo seja para o bem de todos. No tempo sociológico presente, onde é exigido qualidade em quantidade, redescobrindo cada dia essa novidade de sentidos e de sabedoria poderemos, bem melhor, aliar a criatividade à responsabilidade o ser pessoal ao compromisso comunitário.
2. Não dando lucro imediato, não se enquadrando na lógica do pragmatismo que nos pode ir cegando os horizontes, a “reflexão” assumirá hoje um lugar decisivo, determinante, para ser possível reinventar cada dia o sentido da própria vida, lendo-a acima das coisas acidentais. E quanto mais as tecnologias (da velocidade) nos inundam tanto mais, em proporção, deverão ser as oportunidades criadas como tempo e espaço diferentes, da profunda paz criativa, esta que saberá da escuridão vislumbrar a luz da esperança. No ano passado, em iniciativa internacional sobre o papel da Educação Artística destacava o investigador António Damásio que está a ocorrer uma profunda transformação especialmente verificada nas idades mais novas que acolhem todo o impacto as novas tecnologias, facto que está fortemente a limitar a criatividade gerando posturas como a apatia ou a indiferença. Será este (já) o futuro?
3. Há dias em conversa com um grupo de adolescentes, deparámo-nos com uma pergunta inquietante: “O que é reflectir?” Surpreendidos, procurámos, da forma possível, explicar que reflectir é pensar, ter uma visão crítica de tudo, ter ideias, e que é algo tipicamente humano… Após essa conversa (ao que parece pouco frutífera), a inquietação interrogante ficou-nos a pairar o pensamento sobre, afinal, o que andamos a ‘fazer’ e que mensagens conseguimos passar… Como às mãos cheias de telemóveis dizer que o essencial são os VALORES que se sentem no coração e que as “coisas” pouco valem?... Precisamos de valorizar mais a reflexão, o pensamento, as ideias (para mais e melhor agir); seja valorizada a “sabedoria”, esta que requer tempos e modos: a sabedoria que se vive, que se partilha, que se apr(e)ende. Mas, quem a ensina? Onde ela se aprende? (Ninguém dá o que não tem…) Precisamos mesmo de “reflectir” sobre estas questões. Quando não, vamos perdendo características de sermos humanos…

Alexandre Cruz

TODOS EM MISSÃO


HÁ AINDA MUITO A FAZER

Onde quer que estejas. Seja qual for a tua idade e profissão. Cultives os sonhos e projectos que cultivares. Tenhas as aspirações que tiveres. A missão é a força dinâmica da vida a que estás chamado.
Estar em missão é sentir a urgência do amor com que Deus ama o mundo. É deixar-se envolver por Jesus Cristo na sua paixão pela humanidade. É viver em sintonia com o Espírito que, de forma irreversível, quer suscitar em nós um “coração novo” e renovar a face da terra, suas estruturas e organizações.
Há ainda muito a fazer. Há horizontes a prosseguir, caminhos a percorrer, iniciativas a promover.
Os problemas parecem maiores do que os esforços empreendidos. Só a fé alicerçada no amor alimenta a esperança num mundo melhor, numa sociedade digna da condição humana, numa Igreja que, graças ao Espírito Santo, permanece fiel ao mandato de Jesus Cristo e o prolonga no tempo por meio de nós.
A coragem de evangelizar é a medida do amor. Agir com o coração em benefício de todos, sobretudo dos mais necessitados. Dando e recebendo o que há de melhor na vida: Colaborar com Deus no projecto de salvação; estar disponível para a missão, pronto para servir sem hesitação, firme na convicção.
Esta é a fonte da nossa alegria. Esta é a razão da nossa maior responsabilidade. Colaborar com Deus para que Jesus realize a sua obra e todos possam descobrir e apreciar o amor com que somos amados.
Então, encher-se-ão de brilho os olhos da humanidade inteira, de contentamento os corações amargurados, de alimento os estômagos atrofiados, de esperança as aspirações silenciadas, de harmonia o universo, liberto de tudo o que desumaniza e aberto à plenitude que, sorridente, nos atrai à família dos filhos de Deus reunidos à mesa do Pai comum a celebrar festivamente a sua vida em família.
O serviço à missão reveste muitas e atraentes modalidades. Umas já estão experimentadas com êxito, outras terão de ser criadas pela “fantasia da caridade”. É o desafio que o Espírito nos faz por meio das situações provocantes que exigem soluções concretas
A oração é o primeiro e principal contributo missionário. É tempo de rezar mais e, sobretudo, melhor. Procurar a sintonia e o ritmo do coração de Cristo. Escutar o desabafo que sempre nos segreda: Vim para que tenham vida em abundância. Ide até aos confins da terra e comunicai esta boa nova a todas as pessoas que Deus ama. A vós, a ti confio esta missão, fruto do meu amor e prova da tua fé.

Georgino Rocha

domingo, 21 de outubro de 2007

Faleceu o Padre Domingos Rebelo Santos

DEUS JÁ O TEM NO SEU SEIO

Acabo de receber a triste notícia do falecimento do Padre Domingos José Rebelo dos Santos. Ainda no domingo o vi, com a alegria a que sempre me habituou. Mas se a sua partida me comoveu, conforta-me a certeza de que regressou ao seio de Deus, momento que ele está a viver na plenitude do bem que fez a muita gente. Ao Padre Domingos, o meu prior como sempre o tratei, muito fiquei a dever, como crente que sou e como comprometido na construção do Reino de Deus que ele me ajudou e estimulou a compreender.
É muito difícil, num momento como este, recordar, com a riqueza de pormenores que a sua memória merecia, a fé que ele me ensinou a viver, o testemunho de entrega à vontade de Deus que ele incutiu em mim. O Padre Domingos viveu intensamente o sacerdócio, como discípulo amado de Deus que ele tanto amou, como arauto do Evangelho que tão bem assumiu, como homem de fé que nunca regateou o serviço à Igreja, especialmente no apostolado junto dos que mais sofriam, no hospital ou em suas casas. Também o conheci na situação de doença, na flor da minha juventude inquieta. Estou a vê-lo, aos pés da minha cama, a esclarecer-me dúvidas de fé, com um entusiasmo que nunca tinha visto. Nem nunca mais vi. Por isso, a amizade que nutria por ele, o carinho que lhe dedicava, sempre que o via e com ele falava. Ainda no meu último internamento hospitalar, lá foi ele ao meu encontro com a preocupação que só uma grande empatia justificava.
Deus já o tem Consigo. E junto d’Ele, o Padre Domingos não se esquecerá de nós.

Fernando Martins

Nota: O Padre Domingos foi prior da Gafanha da Nazaré entre Dezembro de 1955 e Abril de 1973. O funeral será na Murtosa, na terça-feira, às 10 horas.

Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro



Rumar a MAR ALTO

Não sei se as gentes da Ria de Aveiro já se aperceberam da importância da abertura da Barra há dois séculos, que os completará em 3 de Abril de 2008. Diz a história, contada pelo Comandante Silvério da Rocha e Cunha, que, “Às 7 horas da tarde, em segredo, acompanhado por Verney, pelo marinheiro Cláudio e poucas pessoas mais, arrancam a pequena barragem de estacas e faxinas que defendia o resto da duna na Cabeça do Molhe. Cortam a areia com pés e enxadas, e Luís Gomes, abrindo um pequeno sulco com o bico da bota no frágil obstáculo que separava a Ria do mar, dá passagem à onda avassaladora da vazante para a conquista da libertação económica de Aveiro, depois de uma pressão que durava há 60 anos”. Como sublinha, na parte final deste pequeno mas elucidativo texto, aquele gesto deu passagem à onda avassaladora da vazante para a conquista da libertação económica de Aveiro. Eu acrescentarei: de toda a região.
Direi ainda que as águas estagnadas da laguna eram, frequentemente, causa de doenças que afectavam as populações ribeirinhas. A importância económica e social da abertura da barra está à vista de todos, residentes e visitantes. E se mais progresso não tem havido à sombra da ria e do Porto de Aveiro, tal ficará a dever-se à falta de visão dos responsáveis políticos, que não souberam, em muitas circunstâncias, criar incentivos e condições que mobilizassem as populações para mais notório desenvolvimento económico, social, cultural e turístico. Quantas vezes tenho ouvido dizer que a nossa laguna, em países com visão estratégica no campo do turismo, teria possibilidades, com as suas potencialidades, para se tornar num dos mais apetecidos destinos de quem passeia e gosta de gozar férias em recantos paradisíacos.
Isto vem a propósito da exposição “Rumar a MAR ALTO” que está patente ao público no Teatro Aveirense até 12 de Novembro e que precisa de ser visitada por todos. Eu já lá fui. Encontrei muito pouca gente. Enquanto estive a apreciar pintura, escultura, fotografia e desenho, tudo de braço dado com instalação multimédia, só vi um jovem casal mais preocupado com o amor que estava a sentir, e a viver, do que com a arte exposta.
De qualquer forma, aqui ficam algumas fotos da exposição organizada pelo Teatro Aveirense e pela Comissão do Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro. Se lá forem, e julgo mesmo que vão, hão-de reconhecer que a arte, qualquer que ela seja, é sempre uma mais-valia para qualquer comemoração.

Fernando Martins