domingo, 7 de outubro de 2007

Na Linha Da Utopia


Quantas Barragens?!

1. Há dias foi apresentado o Plano Nacional de Barragens. Sabemos que as necessidades de energia são muitas, sendo esta uma fatia fundamental de despesa habitual do país. Neste sentido, todo o esforço, tardio, é estratégico e por isso bem-vindo. Mas, serão três, quatro barragens? Cinco, já soaria a promessa exagerada! De forma alguma: a promessa é mesmo a construção não de sete ou oito, mas (números redondos) dez barragens! Claro, depois de dez estádios, dez barragens para 2020, é essa a última promessa, para produzir 7000 megawats nesse final da década de 20. (Bom, ao menos nestas barragens sabemos que, mais mês menos mês, ficarão cheias!...)
2. O discurso do 5 de Outubro elegeu, novamente, a “corrupção” como combate e (“inovadamente”) a EDUCAÇÃO como aposta decisiva. Sobre a primeira matéria, o Eng. João Cravinho, “aconselhadamente” agora emigrado, (em grande entrevista à Visão) continua a ver à distância o seu esforço da des-corrupção colocado na prateleira; quanto à educação, um forte apelo “cidadânico”, de empenho de pais e comunidade local desperta-nos para o sentido da hierarquia de prioridades, devendo-se destacar um sentido de exigência estimulante que (pro)mova a escola e a comunidade educativa como missão decisiva no “agarrar” os desmotivados, abandonados e auto-excluídos da escola. Que dramático o abandono escolar e a desqualificação dos portugueses que merecia a garantia de uma promessa para 2020!
3. Que democracia é esta que continuamente publicita e promete e tem ainda, “longemente”, por cumprir o que prometeu? (Os milhares de postos de trabalho?) É para levar a sério, ou será para não ligar?! Há dias falava-se que o “prometismo”, a forma elegante de fazer política, já chegou ao poder local… E ainda: porque é que os portugueses acreditam muitas vezes facilmente na proclamada “banha da cobra”?! Nos tempos em que estamos, é problemático (seja de que quadrante for) o prometer-se, como é sintomático da profundidade cívica (ou não!) o acreditar-se na promessa. Mas, já agora, quanto às dez barragens (sem derrapagens orçamentais!) previstas, para quê e para quem tanta energia, se a natalidade é o que é, a escola “idem aspas” e os cuidados de saúde são o que são?!
4. Será que continuamos a prometer ao lado?! As crianças, os doentes, idosos, desempregados, as pessoas com deficiências, os professores, escolas… também merecem uma promessa…! Sonhamos com o dia em que não se façam promessas, elas afastam-nos da autenticidade.

Alexandre Cruz

Para um mundo melhor



SÁBIA LIÇÃO DE VIDA

"Não há nada que esteja mal na América que não possa ser curado pelo que está bem na América"

Bill Clinton
(ex-Presidente dos EUA 1946 - )
Citado pelo PÚBLICO de hoje
:
Ora aqui está uma curta e simples, mas sábia lição de vida. Para a América e para todas as nações do mundo. Obviamente, também para Portugal, onde o que há de bom, conhecido e ignorado, supera, penso eu, o que possa haver, e há, de menos bom.
Aqui está uma bela proposta para todos nós: que saibamos tirar partido, sempre pela positiva, das nossas potencialidades, para chegarmos mais longe e mais alto. Sem lamúrias e sem preconceitos.
É garantidamente possível ultrapassar barreiras, vencer o que parece impossível, fazer melhor o que tem de ser feito, contribuir para uma sociedade mais fraterna, cultivando a partilha de bens e saberes, estimulando caminhadas de justiça social. Lutando, com franco optimismo, por um mundo melhor, afinal.

FM

ARES DO OUTONO


OUTONO

A chuva na cidade incerta e muda
planta subúrbios de crepúsculo
nos amarelos álamos do rio.

E, por dentro das minhas mãos,
pousadas de frio
nos rins tão fatigados da tarde
ou no áspero feno da insónia

Apagam-se (a asa é sempre pouca)
os pássaros que de sal
vestem minha pele,
tecem minha boca.

Armor Pires Mota

In TRISTES PÁSSAROS DE BABILÓNIA

Um artigo de Anselmo Borges, no DN


A ÚNICA VERDADEIRA
IGREJA DE JESUS CRISTO


Há anos, na Suíça, fui a Ecône, visitar o Seminário da Fraternidade S. Pio X, fundado pelo bispo M. Lefebvre, dissidente do Vaticano. Recebeu-me um padre simpático. Após conversa longa, apercebi-me de que o problema da Fraternidade não está propriamente na missa em latim. A questão essencial é o Concílio em temas fundamentais: a liberdade religiosa, o ecumenismo, o diálogo inter-religioso.
Depois do "Motu Proprio" "Summorum Pontificum", de Bento XVI, de 7 de Julho, ficou autorizada a Missa em latim segundo o Missal Romano promulgado por S. Pio V em 1570. A Fraternidade recebeu a medida com entusiasmo: trata-se de "um avanço capital na restauração da Tradição", comentou o secretário-geral.
Penso que comunidades cristãs vivas têm de assentar em três pilares fundamentais. Um é o apostolado da inteligência, que tem a ver com o diálogo da razão e da fé - a compreensão da fé, que não pode ignorar os avanços da ciência. Outro é o anúncio do Reino de Deus e a luta pela justiça. Depois, há as celebrações litúrgicas belas. É essencial acentuar a dimensão da beleza na liturgia e homilias que façam ponte entre a mensagem do Evangelho e a experiência actual de mundo. Mas não se vê onde esteja aí a necessidade ou importância do latim, sobretudo se a celebração se fizer de costas para o povo.
Os tradicionalistas têm outra razão maior de contentamento: o documento com "Respostas a algumas perguntas acerca de certos aspectos da doutrina sobre a Igreja". Tem a data de 29 de Junho, é assinado pelo cardeal W. Levada, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e foi aprovado pelo Papa.

Anselmo Borges
Pode ler todo o artigo em DN

sábado, 6 de outubro de 2007

AVEIRO: Abertura do Ano Pastoral




A CARIDADE É UMA SÁBIA
E SANTA FORMA DE EVANGELIZAR





Decorreu ontem, 5 de Outubro, no Seminário de Santa Joana Princesa, a abertura do ano pastoral, sob a presidência do Bispo de Aveiro, D. António Francisco dos Santos, e com a participação de centenas de responsáveis pelos diversos serviços diocesanos e paroquiais. O tema de fundo, “O serviço aos mais pobres é sinal visível e expressivo da verdadeira Igreja de Jesus Cristo”, foi reflectido numa perspectiva de desafio e meta para o ano pastoral de 2007/2008 e para além dele.
A abrir, D. António, citando S. Paulo, referiu: “porque a caridade não acaba nunca, o mundo pode acreditar na Igreja, onde há lugar para todos.” Reconhecendo a importância da Eucaristia na vida e acção das comunidades cristãs, lembrou que “a caridade é uma sábia e santa forma de evangelizar”, num mundo carente de apóstolos do amor. O Bispo de Aveiro ainda sublinhou que as visitas pastorais a iniciar no próximo mês de Janeiro, nos arciprestados de Estarreja e Murtosa, terão como tónica, de sua parte, a preocupação de estar com todos, tendo como horizonte a construção de uma Igreja renovada, sendo garantido que a Igreja se renova “quando os jovens forem Igreja”.
O Padre Lino Maia, pároco de Aldoar, Porto, e presidente da CNIS (Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social), foi o conferencista convidado para ajudar os católicos da Diocese de Aveiro a descobrirem o que dizem os pobres à Igreja, tendo em vista a promoção da justiça e o serviço da caridade.
Depois de frisar que a caridade (amor) é a fundamental característica dos discípulos de Jesus Cristo, desde os primórdios da Igreja - "vede como eles se amam"-, disse que “os pobres são a riqueza da Igreja, porque nos permitem viver com mais intensidade o mandamento novo”. Enfatizou a importância da Eucaristia, da evangelização e da catequese, mas logo adiantou que “sem caridade não há Igreja”.
O presidente da CNIS falou da partilha, como fundamental para o ser cristão, mas acrescentou que hoje, mais do que nunca, é essencial promover as pessoas. Urge, também, levá-las a descobrirem as suas próprias capacidades. Defendeu, entretanto, a necessidade de vivermos a caridade e a solidariedade muito para além dos cataclismos que costumam mobilizar as pessoas, e adiantou a premência de haver acções comunitárias coordenadas neste âmbito.
O Padre Lino Maia aconselhou os presentes a cultivarem o princípio de procurarem os pobres, não estando à espera que eles apareçam, e referiu a riqueza de contribuirmos para que o sorriso anime o rosto dos que sofrem.
Como causas primeiras da pobreza em Portugal, o presidente da CNIS apontou a desestruturação familiar, o desemprego e o abandono. Garantiu que a mobilidade profissional, os horários de trabalho, o hedonismo e o egoísmo estão na base de famílias desfeitas, e admitiu que os desempregados são, muitas vezes, uns abandonados. Sem ocupação, podem cair em vícios. É importante, por isso, ajudá-los a descobrir trabalho, encaminhá-los para as instituições vocacionadas para estas situações e propor-lhes a participação em iniciativas de formação, com vista a novo emprego.
Apreciando o Plano de Pastoral, com muitas propostas de reflexão e de intervenção na Igreja e na sociedade, é bom verificar pressupostos positivos animadores. Portugal, apesar de estar na cauda da Europa, “faz parte do chamado mundo desenvolvido, onde os padrões de vida são, na generalidade, bastante aceitáveis. A base da estabilidade social deve-se, em grande medida, ao acesso ao emprego, à educação e à estabilidade da família”.
Do Distrito de Aveiro, onde se integra a Diocese aveirense, diz-se que é dos que têm uma taxa de desemprego mais baixa. Sob o ponto de vista civil, há “algumas redes sociais criadas e a funcionar, nomeadamente ao nível das freguesias e dos municípios”. “Os meios de formação e educação estão disponíveis”, registando-se, por parte da Igreja, da diocese, das paróquias e de institutos religiosos, boas apostas nestes sectores.
Importa, portanto, sublinha o Plano, revitalizar a dimensão social e caritativa; consolidar o espírito de partilha, focalizando sempre a pessoa; desenvolver a consciência de que a presença da Igreja, no âmbito social, é sinal do Reino de Deus; valorizar os projectos e iniciativas já existentes; reflectir sobre o que falta fazer; promover a comunhão e entreajuda entre os diversos agentes; e dar visibilidade à acção social da Igreja Aveirense.

Fernando Martins
Fotos: Em cima, D. António Francisco; em baixo, Padre Lino Maia.
Fotos do meu arquivo.

Na Linha Da Utopia



Será a Europa um Estádio?

1. Um jogo de futebol bem jogado é interessante! Com equipas que aliem a táctica ao desportivismo de forma enérgica, audaciosa mas saudável, é fenómeno que motiva e trás consigo um entretenimento que contagia as cidades e a, também saudável, emoção pública. Na generalidade, quem não gosta de ver o clube da sua cidade ou do seu país, no justo respeito pelas regras do jogo, a vencer um bom jogo de bola?! (Dizemos, na generalidade…)
2. Mas há muito que o futebol deixou de ser esse jogo em campo, nas quatro linhas, sendo na actualidade um autêntico império comercial. E quando se chega a este ponto, a tentação de vencer a todo o custo vai crescendo, multiplicando todas as redes de contactos, publicidades à frente, fusões e confusões, tendo nos “apitos da corrupção” o seu ponto alto de um estado de sítio que parece tornar-se numa grande “ilusão mentirosa” com que se convive pacificamente. Haja adeptos que não pensem no que está por trás de tudo isto, mas que gritem e, sabe Deus como, sem condições, deixam até a família e a vida para trás para depositar toda a esperança na vitória (vir) para a frente!
3. Bem mais que o jogo em campo, o futebolismo europeu (qual movimento político ou religioso com os seus símbolos e os seus seguidores, onde quer que o clube vá!), fez de um desporto um jogo económico que vive fora do próprio campo relvado. É um facto! Que o digam a multidão dos que vivem à sombra da bola, por exemplo, os empresários de jogadores (que enriquecem num já) e os comentadores e jornalistas (que fazem toda a exegese e analítica, tantas vezes do “nada” fazendo a notícia) e as própria televisões (que hoje atingem proporções inimagináveis).
4. Quando em excesso, acaba por tal fenómeno ser o centro da vida, “onde estiver o teu tesouro, aí está o teu coração!” Muitos corações sofrem a vitória ou a derrota… A presente Liga dos Campeões Europeus atingiu um patamar sem precedentes na história europeia. Com aspectos bons, tal como o encontro de grande cidades europeias que hoje “combatem” no terreno futebolístico (ainda bem!), mas com um megaescândalo económico que ultrapassa todas as regras da razão económica. Jogadores a 30 milhões de Euros?! A tal preço muito farão pela Humanidade! Mau investimento, é o que está (mal)! Desporto já há pouco, olheiros muitos, a ver qual a seguinte jogada $! Quem diria que na Europa chegávamos a isto?! Sobreviverá a Europa sem futebol? UEFA = UE?!

Alexandre Cruz

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 42


A TERRA DO ANJO

Caríssima/o:
Falamos nós de JOC…
Pois bem, a Gafanha ficou certamente nos anais desse movimento já que vários de nós fomos responsáveis a nível da Diocese de Aveiro. Para além de outras funções, foram presidentes diocesanos: Manuel Eduardo Ribau, António da Rocha Vareta, Manuel Olívio da Rocha, Manuel Fernando da Rocha Martins, João Gandarinho Ramos e João Gandarinho Fidalgo. Na pessoa destes rapazes fica a minha homenagem e a minha saudação amiga a todos aqueles que passaram pela sede da Residência Paroquial e que, para além das nossas brincadeiras de juventude, muito nós fomos ajudando a crescer e, quiçá, a tornarmo-nos mais responsáveis. E passemos hoje pela Terra do Anjo…
Sabem qual é a Terra do Anjo?
Pois vejamos a lenda que nos pode dizer alguma coisa sobre esta questão. Vamos até à margem direita do Vouga, a duas léguas da cidade de Aveiro. Aí, há muitos anos, existia uma pequena aldeia de pescadores que trabalhava nas águas do rio.
E nessa comunidade havia um homem, já entrado na idade que nunca casara e vivia no sofrimento de não ter um filho a quem ensinar a sua arte e fosse a sua companhia no fim da vida.
A lenda não lhe guarda o nome mas regista que se tratava de uma pessoa extremamente devota a Nossa Senhora. Assim, constantemente lhe dirigia orações, por entre as quais lhe pedia um filho, nascesse este de mulher com quem casasse ou criança abandonada. Às vezes, desencantado com a falta de resposta de Nossa Senhora, dirigia as suas palavras ao rio, seu íntimo no quotidiano. E uma manhã, levando o seu barco de um lado para o outro, o pescador viu uma caixotinha a boiar nas águas, e dentro dela chorava uma criança. Doido de contentamento, agradeceu a Nossa Senhora, interrogando-a sobre o que ela queria em troca, naturalmente ela não lhe respondeu.
Assim o rapaz foi crescendo, aprendendo a vida com o velho pescador, que arranjou outro ânimo para encarar a vida. Toda a gente andava admirada com a felicidade daquela nova família! Porém, a partir de determinada altura, uma nuvem cinzenta começou a pairar nos olhos límpidos do rapaz. É que ele queria saber como é que viera ao mundo. Quem era sua mãe? E seu pai? A história, aliás verdadeira, do seu aparecimento nas águas, contada pelo velho pescador, não o consolava. Ele queria ser como os outros. E não conseguia. Num esforço para desanuviar a existência do seu rapaz, o velho pescador do Vouga levou-o com ele à cidade e foi falar com um padre que tinha fama de muito sabedor. Mas há casos em que os saberes não servem para nada. E ao padre apenas lhe serviu certa sabedoria no trato, mandando para casa os dois pescadores, recomendando-lhes que pensassem noutra coisa. Terá também dito que muitas vezes são insondáveis os desígnios do Altíssimo…
Bem, a vida continuou e, um dia, um clamoroso dia, soltou-se uma epidemia que começou a dizimar a população das margens do Vouga. O rapaz, mostrando a generosidade aprendida com o seu velho pai, atendeu aos doentes. Porém, por desgraça, também ele foi apanhado pela terrível doença. Prostrado no leito, a seu lado tinha o velho a lamentar-se de o ver naquele estado, que piorava em cada dia. E o pai voltou-se de novo para Nossa Senhora, implorando-lhe que lhe salvasse o filho. E à voz do ‘valei-me’, entrou no quarto uma mulher envolta em neve, dizendo: ‘Aqui estou’! Era Nossa Senhora das Neves, dizendo que vinha buscar o rapaz para a sua corte de anjos.
Assim como o dera, o levava para um lugar de glória, reservando-lhe a função de anjo da guarda daquela terra. Que terra? Angeja.” [V. M., 5]
E pronto, fiquemos por aqui que a gasolina da motorizada não nos leva mais longe, por hoje!


Manuel


Nota: De terras sem acentos nem cedilhas, veio a colaboração habitual do meu (nosso) amigo Manuel. Espero ter feito as correcções devidas. Se não aconteceu, estarei sempre a tempo de pôr certo o que está mal.

FM

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Falta de higiene em Hospitais

ASAE EM GRANDE A ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) está em grande momento de intervenção, na defesa dos interesses das populações, ao nível da segurança alimentar e económica. Notícias frequentes dão conta das suas inspecções e consequentes decisões, sem contemplação. Desta feita ousou entrar, e bem, em lugares onde seria normal haver muita higiene. E o que aconteceu? Detectou falhas na higiene em três cantinas e num bar hospitalares. Vejam só! Claro que foram logo encerrados, até se encontrarem em condições legais, isto é, respeitando as normas exigidas para estabelecimentos desta natureza. Sabe-se agora, conforme revelou o PÚBLICO, que 23 por cento dos Hospitais Públicos só fazem controlo microbiológico da alimentação de três em três meses, o que me parece, a mim leigo, um pouco estranho, já que nos estabelecimentos de Saúde não devem faltar meios para fazer análises com mais frequência. Penso que estes quatro casos serão uma pequeníssima percentagem dos Hospitais portugueses. Mas serão o suficiente, para, a partir desta intervenção da ASAE, todos começarem a olhar para a higiene que deve existir em toda a parte, em especial nos locais onde se cuida da saúde de muita gente.

Um artigo de D. António Marcelino

VALORES REPUBLICANOS E COLABORAÇÃO NO BEM DE TODOS

Políticos e intelectuais laicos referem-se frequentemente aos valores republicanos para justificar juízos, atitudes e acções, marcados pelo laicismo agnóstico ou na linha de fidelidade a objectivos sociais e políticos de associações laicas, antigas e modernas.
Se por “valor”, seja ele republicano ou monárquico, se continua a entender aquilo que vale sempre e para todos, sem excepção, ainda bem, tanto mais que a sobreposição pública de interesses pessoais e de grupos, vai tornando tudo relativo e a tudo faz perder a consistência de objectivo e de universal. Chega-se à conclusão de que já nada vale, a não ser o que interessa a cada um. Esta erosão atinge também os valores morais e éticos que determinam o viver em sociedade e os comportamentos necessários para uma vivência mútua, serena e construtiva, quem quer que seja que os propõe ou defende.
Normalmente quando se fala de valores republicanos dá-se como matriz a Revolução Francesa, com a proclamação da trilogia que lhe está historicamente associada: igualdade, liberdade fraternidade, não se esquecendo o valor da tolerância.
Os revolucionários não foram inovadores. Viviam na Europa, no seio de uma cultura com raízes cristãs e judaicas e os valores propostos eram património desta cultura, embora as contingências históricas por vezes os ocultassem onde eles deviam ser testemunhados com maior clareza e eloquência. As tensões provocadas pela Revolução, com o ódio programado contra a Igreja, bem como as desconfianças e atitudes negativas desta em relação ao que se proclamou como se fosse novo e sem paternidade e apenas fruto da ideologia reinante, explicam estas tensões e a sua continuação histórica.
Não fora o propósito de apagar a história e fazer dela uma leitura enviesada, e as coisas não tinham tomado o rumo que ainda hoje acoberta, com iguais sentimentos, muita gente por essa Europa fora. A discussão das raízes culturais cristãs da Europa, ainda que não únicas, faz-se a partir de uma leitura liberta e realista da história e nunca terá valor sério quando feita pela pré determinada direcção que se pretendeu impor-lhe. O redactor da proposta de uma constituição europeia, um francês de renome que vai ser aí recebido e homenageado por um bem concebido aparato ideológico, pensa que a Europa moderna se deve encontrar consigo mesma, rejeitando as suas raízes cristãs e explicar-se a si própria à luz dos valores republicanos que lhe dão forma e consistência.
A constituição deixou de o ser e tenta-se agora um simples tratado, que salve a situação e mantenha o mesmo silêncio em relação ao essencial. Esta pobreza, numa tão apregoada cidadania, pôs de parte a verdade histórica e alimenta-se de conveniências políticas e arranjos diplomáticos; vai mutilando as leis que deixaram de se orientar para o bem comum que é a sua razão de ser, para favorecer interesses diversos; vai deteriorando as relações humanas e sociais, europeias e internacionais, cedendo a pressões e a promessas; já não fala dos direitos humanos na sua globalidade e integralidade, porque as pessoas valem hoje menos que os resultados económicos, sempre prioritários e aglutinadores.
Afinal, da igualdade, da liberdade e da fraternidade, bem como da tolerância, menosprezada a matriz cristã que lhes pode dar consistência e sentido de universalidade, pouco pode restar. Ficará daí apenas a bandeira de apoio para os que, caídos no vazio cultural ou na intolerância odienta, mais não fazem do que destruir, por campanhas sem sentido de cidadania ou por perversão desta, tudo o que vai contra os propósitos de um determinado laicismo agnóstico?
A verdadeira laicidade respeita a autonomia e defende a inter-relação e a comunicação construtiva em todos os campos em que as pessoas se situam e sempre a favor destas. Não falta gente sensata que vê que este é o verdadeiro caminho. Dizer que “todos devem ser respeitados” exige o contributo dialogado de todos para que assim seja.
Isso não acontece quando, por falta de respeito às pessoas e ao legítimo pluralismo, se persegue quem sempre as defendeu, deitando mão de mentiras publicadas e de defesa de leis redutoras, impostas sem critérios do melhor bem que se tornam uma afronta dispensável a cidadãos deste país democrático.

António Marcelino

Claques de futebol


QUEM CONTROLA AS CLAQUES DO FUTEBOL?

É público que uma claque de futebol, os “SUPERDRAGÕES”, está a contas com a Justiça. Problemas de contrabando, segundo a comunicação social, estarão na base de algumas averiguações e detenções. A violência também costuma marcar comportamentos menos correctos nesta claque e noutras, aparentemente gozando da complacência das direcções dos clubes que elas apoiam.
Confesso que tenho alguma dificuldade em compreender certas atitudes demasiado agressivas das claques de futebol. Aprendi que o Desporto, em geral, é uma escola de virtudes e que ganhar, empatar e perder fazem parte do jogo, o qual deve ser, no fundo, uma festa e não uma guerra sem regras nem leis.
O que se vê hoje, em muitos campos de futebol, em especial, é que as claques, normalmente, têm como padrão comportamental a violência gratuita e estúpida, obviamente sem qualquer respeito pelos adversários e pela ética desportiva.
Geram nos campos e fora deles um clima ofensivo das boas normas das relações humanas, sendo conhecido que até pacatos cidadãos, quando integrados numa qualquer claque, perdem as estribeiras, ignoram as mais elementares regras da boa educação e ofendem tudo e todos, em nome dos clubes que apoiam cegamente.
Triste é pois o facto de ver que os dirigentes dos nossos clubes ficam indiferentes a estes desmandos, muitas vezes sem qualquer palavra de condenação perante actos que pessoas de bem têm de condenar.
Que fique claro, contudo, que aceito as claques organizadas, mas também acho que deviam ser estabelecidas regras para a sua existência, enquanto grupos de adeptos que se preparam para incitar os seus clubes. E quem não cumprir, que sofra as respectivas consequências.
Afinal, o desporto não é para sermos mais felizes?

FM