quarta-feira, 23 de maio de 2007

Filósofo Fernando Savater





Aumento da violência nas escolas
reflecte crise de autoridade familiar



Especialistas em educação reunidos na cidade espanhola de Valência defenderam que o aumento da violência escolar deve-se, em parte, a uma crise de autoridade familiar, pelo facto de os pais renunciarem a impor disciplina aos filhos, remetendo essa responsabilidade para os professores.
Os participantes no encontro “Família e Escola: um espaço de convivência”, dedicado a analisar a importância da família como agente educativo, consideram que é necessário evitar que todo o peso da autoridade sobre os menores recaia nas escolas.
“As crianças não encontram em casa a figura de autoridade”, que é um elemento fundamental para o seu crescimento, disse o filósofo Fernando Savater. “As famílias não são o que eram antes e hoje o único meio com que muitas crianças contactam é a televisão, que está sempre em casa”, sublinhou.
Para Savater, os pais continuam “a não querer assumir qualquer autoridade”, preferindo que o pouco tempo que passam com os filhos “seja alegre” e sem conflitos e empurrando o papel de disciplinador quase exclusivamente para os professores. No entanto, e quando os professores tentam exercer esse papel disciplinador, “são os próprios pais e mães que não exerceram essa autoridade sobre os filhos que tentam exercê-la sobre os professores, confrontando-os”, acusa.
“O abandono da sua responsabilidade retira aos pais a possibilidade de protestar e exigir depois. Quem não começa por tentar defender a harmonia no seu ambiente, não tem razão para depois se ir queixar”, sublinha.
Há professores que são “vítimas nas mãos dos alunos”. Savater acusa igualmente as famílias de pensarem que “ao pagar uma escola” deixa de ser necessário impor responsabilidade, alertando para a situação de muitos professores que estão “psicologicamente esgotados” e quase transformam “em autênticas vítimas nas mãos dos alunos”.
A liberdade, afirma, “exige uma componente de disciplina” que obriga a que os docentes não estejam desamparados e sem apoio, nomeadamente das famílias e da sociedade. “A boa educação é cara, mas a má educação é muito mais cara”, afirma, recomendando aos pais que transmitam aos seus filhos a importância da escola e a importância que é receber uma educação, “uma oportunidade e um privilégio”.
“Em algum momento das suas vidas, as crianças vão confrontar-se com a disciplina”, frisa Fernando Savater.
Em conversa com jornalistas, o filósofo explicou que é essencial perceber que as crianças não são hoje mais violentas ou mais indisciplinadas do que antes; o problema é que “têm menos respeito pela autoridade dos mais velhos”.
“Deixaram de ver os adultos como fontes de experiência e de ensinamento para os passarem a ver como uma fonte de incómodo. Isso leva-os à rebeldia “,afirmou. Daí que, mais do que reformas dos códigos legislativos ou das normas em vigor, é essencial envolver toda a sociedade, admitindo Savater que “mais vale dar uma palmada, no momento certo” do que permitir as situações que depois se criam.
Como alternativa à palmada, o filósofo recomenda a supressão de privilégios e o alargamento dos deveres.
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NOTA: Este texto foi-me enviado por pessoa amiga, de indiscutível credibilidade. Não assinou, pois presumo que também o recebeu de alguém. Aqui fica para todos os pais meditarem.

Gráfica do Vouga

Ao lado da Sé, do lado esquerdo,
fica a Livraria Santa Joana, em baixo,
e o Correio do Vouga, no primeiro andar do edifício


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LIVRARIA DE SANTA JOANA FAZ 50 ANOS
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A livraria diocesana está a completar o meio século de existência. No dia 25 de Maio de 1957, a “Gráfica do Vouga” iniciou actividades, com a elaboração do Correio do Vouga (fundado em 1930) e a abertura de um estabelecimento para venda de livros e artigos religiosos, que veio a chamar-se Livraria Santa Joana.
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Os meios de comunicação social – livros, jornais, cinema, radiodifusão, televisão, internet e outros – são agentes importantíssimos para a formação ou deformação das pessoas e das sociedades; tanto podem transmitir a cultura, unir os povos e servir os valores e os ideais mais nobres, como podem colaborar na difusão de conceitos aviltantes, de erros imorais ou de mentiras conscientes. A Igreja Católica, para a difusão da mensagem do Evangelho, jamais pôs de parte a palavra escrita, divulgada por qualquer veículo. Os redactores bíblicos deixaram-nos as suas mensagens; os apóstolos escreveram o Novo Testamento; os apologistas e os doutores da fé defenderam e expuseram a verdade cristã; os pensadores e os mestres do nosso tempo continuam no encalço daqueles que enriqueceram e espalharam a doutrina; os jornalistas repartem o pão que alimenta e fortalece a fé. Na verdade, a Igreja “considera seu dever servir-se dos instrumentos de comunicação social para pregar a mensagem da salvação aos homens e às mulheres” – lê-se no número três do decreto “Inter mirífica” do II Concílio Ecuménico do Vaticano. Convencidos de que “o ministério da pena ao serviço da Igreja é um verdadeiro apostolado” (Pio XII) e de que “a imprensa é o meio de chegar às massas populares, de fazer penetrar a luz da verdade nas camadas sociais indiferentes e descristianizadas, de refutar os erros, de resolver objecções e de encaminhar as consciências” (S. Pio X), os responsáveis da Diocese de Aveiro, desde a primeira hora, incentivaram a palavra escrita. Como testemunho disso, para lá dos boletins paroquiais e das folhas dominicais, temos o semanário diocesano “Correio do Vouga”, com setenta e sete anos de existência, onde se encontram milhares de comunicações, homilias e artigos dos nossos bispos.
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Leia mais no Correio do Vouga

Feira do Livro em Aveiro


POUCA GENTE NA FEIRA DO LIVRO
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Ontem, ao fim da tarde, havia pouca gente na Feira do Livro. O Rossio, uma das salas de visita de Aveiro, estava deserto. Consumidores de livros ou simples curiosos não passavam por lá. Deu-me pena ver tão pouca curiosidade pelos livros. Talvez o tempo, frio e chuvoso, não deixasse. Pode ser que por estes dias haja por ali mais pessoas, à cata de uma obra curiosa. De edições recentes ou mais antigas. Há um pouco de tudo na Feira do Livro, em Aveiro.

Um artigo de Alexandre Cruz


As cidades e as contas


1. A vida é feita de apostas que procuram abrir o melhor futuro para todos. Naturalmente que para a consistência de projectos o “fazer contas à vida” será pressuposto essencial, a fim de se levar a bom porto o ideal que se pretende construir. Sendo certo que existirão circunstâncias e visões estratégicas que poderão representar forte investimento no presente de que se colherá frutos no futuro, todavia, só na cuidada e rigorosa atenção sensível e responsável se poderá garantir a básica sustentabilidade real para os projectos em mente e em mãos.
“Ter mais olhos que barriga” poderá, tantas vezes, significar o viver acima (de mais) das possibilidades o que fará ruir as pontes do futuro. Aliar a ambição expansionista de projectos reformistas ao equilíbrio de realizações com gradualidade sustentada significará o assumir de uma visão política integral, onde se alia o rasgo futurista à realidade presente, não se perdendo nos calores emocionantes da obra feita mas vivendo o autêntico espírito de serviço à comunidade. Lideranças e oposições ter-se-ão de remodelar em consensos estratégicos, pois se não nos alicerçamos, não olhando a meios para atingir fins, a casa pode ruir por dentro. Hoje são uns, amanhã outros…
2. Olhemos para a autarquia da capital no país, Lisboa. O que vemos e ouvimos por estes dias, no concerne ao diagnóstico da situação, nada dignifica a cidade cosmopolita que outrora despertou sonhos (d)e novos mundos. A situação presente na cidade que deveria ser modelo e paradigma referencial para as outras cidades do país é fruto de décadas de (des?)governo do passado e o seu eco estende-se como hábito de gestão por muitas cidades do país. (Se a capital faz porque não eu?!) Como os cidadãos (cumpridores) sentem a gestão da cidade que não cumpre os seus deveres para com os cidadãos? Que atitudes e (des?)credibilidades gerará esta incoerência interna da actividade política autárquica e política em geral?
Talvez, ainda na luta pela sobrevivência, esteja no nosso sangue a despreocupação com aquilo que não nos atinge directamente; talvez nós cidadãos tenhamos deixado andar, gerando-se o costume laxista que foi comprometendo o rigor necessário. Talvez o ponto a que chegámos seja a “meta” que nos mostra que a caminhada que nestas décadas temos percorrido foi um percurso em crescendo, tanto em realidades boas nas lindas cidades portuguesas, mas como também num impressionante desequilíbrio litoral/interior a par do mau hábito de deixar a casa sempre desarrumada. Esta desarrumação foi minando a seriedade e dignidade políticas.
3. «Dêem-me todo o dinheiro do mundo que farei toda a boa obra, pois não preciso de me preocupar com o “depois”», dirá o cidadão. Vivemos o “depois” dramático de muitos “depois” não pensados e ingeridos. Adiar indefinidamente a consistência e sustentabilidade do governo equilibrado das cidades é comprometer o futuro; as grandes cidades, de que hoje muita gente foge (deixando-as ocas) e onde se torna difícil sentir a vida saudável e a cultura, tal o (dês?)ordenamento que ela vive. O problema, arrastado nas últimas décadas, não encontrará soluções instantâneas nem simplistas, embora algumas decisões nomeadamente ecológicas (também para uma melhor mobilidade) sejam inadiáveis.
Não se trata de uma cidade qualquer, falamos de Lisboa, a capital política que dá este sinal desnorteado ao país. Lisboa que, como alguém dizia, não é só dos lisboetas, é do país. Às vezes impressiona como os candidatos (que têm de mostrar toda a valentia) não têm um mínimo (humano) de medo e receio de não ser capazes de por as contas (sociais, culturais e económicas) em dia. A desordem das contas que é espelho da desordem de ideias… Das duas uma: os candidatos ou não se aperceberam da realidade da situação tornando-se exteriores à vida concreta, ou interessará bem mais a “partidarite” da vitória que a gestão complexa do bem comum. Nos últimos anos temos perdido nas campanhas eleitorais autênticas oportunidades de ver (com olhos de ver) como vamos e o que queremos. Será mais do mesmo? Em democracia viva a actividade política é o que o povo quiser que seja. Queremos algo de novo (não só denunciar mas propor concertadamente)? Ou já só navegamos na democracia virtual?!

terça-feira, 22 de maio de 2007

Professores avaliados?




AVALIAR ALUNOS É TAMBÉM
AVALIAR PROFESSORES

Por notícias de hoje, parece que alguns professores estão um pouco incomodados com as avaliações a que estão a ser sujeitos os alunos dos 4º e 6º anos. Dizem eles que, pelos vistos, são os professores de Português e de Matemática que estão a ser avaliados. E a ser assim, o Ministério da Educação devia dizê-lo abertamente. Há aqui um equívoco qualquer, isto é, há professores que pensam que os alunos avaliados não mostram, muitas vezes, o trabalho dos seus professores. Mostram sempre, mas ainda mostram capacidades e incapacidades de alunos e de docentes, ambientes nada favoráveis à aprendizagem, falta de recursos didácticos e de pessoal de apoio, entre outras razões, certamente.
É sabido que há professores sem vocação para o ensino, sem capacidade para estabelecerem empatias com alunos, sem estabilidade profissional, longe das suas famílias, sem ligação efectiva e afectiva às escolas onde trabalham, sem qualquer apoio da comunidade educativa, sem conhecimentos do meio, em suma, sem condições que lhes assegurem trabalhos rentáveis.
Penso que nos dias de hoje todos temos de ser avaliados. Seja em que profissão for, a produtividade e a competitividade exigem gente trabalhadora, competente, disponível, com capacidade de adaptação às novas tecnologias, aberta à inovação. E os professores, mais do que ninguém, têm de ser exemplo disso, porque deles depende, em grande parte, a formação das novas gerações.
Sei que há alunos difíceis, famílias destroçadas que dão às escolas alunos vencidos à partida e revoltados contra tudo e contra todos.
Sei que certos professores não encontram condições ideais para um trabalho digno, condições essas que levem os alunos a entusiasmarem-se pela escola e pela beleza de saber mais.
Sei que há turmas terrivelmente indisciplinadas e crianças e jovens desmotivados. Mas também sei que há professores que não têm nenhuma vocação para o ensino e para lidarem com crianças e jovens de comportamentos anormais.
Em resumo, a avaliação de alunos conduz, inevitavelmente, à avaliação dos professores. E não é preciso o Ministério andar a dizer isso. Toda a gente de bom senso sabe que é assim. Porém, é importante que se diga que será urgente averiguar a razão do fracasso, se os alunos mostrarem que estão mal preparados. É que a culpa pode não ser apenas deles.


Fernando Martins

Um artigo de António Rego


MOTE
PARA UMA TELENOVELA



Primeiro, a imaginação. Nem censura, nem re-pressão, nem redução de meios, nem diminuição de notícias. Apenas isto: libertar o povo da inquietação desatinada dos telejornais. Caiu um avião com 400 pessoas na Patagónia? Não há necessidade de afligir potenciais viajantes com essa notícia. Um tornado arrasou 20 cidades? Que adianta a notícia? Explodiram 20 bombas e mataram 800 pessoas? O vereador roubou e fugiu? Mais uma criança raptada? O desemprego aumenta? Mas não há outras novidades?
Para tranquilidade do povo, as televisões fizeram um pacto: dar apenas boas notícias, agradáveis, que o povo já tem muito com que se atribular. Assim, uma troca de horário: às 20 horas a telenovela em forma de notícias. Depois, em ficção, todos os dramalhões da terra, que são verdade, mas não naquela hora. As pessoas divertir-se-iam com a violência da irrealidade e a irrealidade do bem e da paz. Longe da fúria e da barbaridade das imagens acontecidas no dia, na hora, em directo.
Que há, neste todo, de mentira e verdade? Como ficam um cidadão e uma sociedade navegando nestas águas que ninguém sabe analisar como límpidas ou salobras?
Vem a pergunta: o problema será da tecnologia que tornou inevitável sabermos tudo sobre a hora ou mesmo antes de acontecer? E a rádio, a televisão, o telemóvel, a net e o correio electrónico?
De que falam as pessoas? Que factos e fantasias enchem as suas mentes, alimentam os seus monólogos, diálogos, discussões, afirmação, recusa, instintos e nobreza? Falam bem do chefe, do colega, da sogra, do presidente? Em cada ser começa esta complexidade. Na educação das crianças com as suas agressões, transgressões, mentiras. Nos jovens que desafiam, em rotura, qualquer lei convencionada e sobretudo imposta. E por aí adiante, nos mecanismos do afecto, da sexualidade, da auto-afirmação, da defesa como castelo do eu, da intriga, divertimento... ou nos simples desaires da aldeia…
Será o ser humano apenas um animal com vastas áreas de selva e curtas fímbrias de nobreza e transcendência? Será que o bem, o belo, a dádiva, a festa, a harmonia, não têm dimensão e brilho suficientes para preencher o quadro da vida que todos nós gostamos de desenhar na nossa existência?
Uma pergunta mais: os agentes de comunicação sujeitos ao poder económico e político como podem gerar outro tipo de media? E quem teria autoridade e capacidade de os controlar? O poder? Económico, político, popular anónimo?
Bom mote para uma telenovela não muito cor-de-rosa.

domingo, 20 de maio de 2007

Monumentos de Aveiro



EGAS MONIZ NÃO ESTÁ ESQUECIDO
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O sábio avancanense e Prémio Nobel da Medicina não está esquecido. Quem vai ao Hospital Infante D. Pedro, logo à entrada, do lado direito, pode apreciar um singelo monumento de homenagem ao médico, docente universitário, político, investigador, diplomata, coleccionador e escritor, que elevou bem alto o nome de Portugal. Egas Moniz, personalidade multifacetada, ainda pode e deve ser recordado, para que as actuais gerações nele se inspirem, cultivando, ao máximo, as suas capacidades. Dizem que no dia-a-dia apenas aproveitamos ou utilizamos cerca de 10 por cento dos dons que Deus nos deu. Então, urge dar um pouco (ou muito mais!) do que possuímos. Para nosso bem e para bem da sociedade.




Dia Mundial das Comunicações Sociais


DEVEMOS ACEITAR O BOM
E REJEITAR O MAU



Há muitos anos que o Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado no Domingo da Ascensão do Senhor, me leva a reflectir sobre a importância da comunicação, em geral, e sobre os órgãos de comunicação social e jornalistas, em especial. Vivemos na era da comunicação, com novas tecnologias a transformarem o mundo numa aldeia global, onde tudo se torna vizinho. Era suposto sentirmo-nos próximos uns dos outros, mas nem sempre isso acontece. E quando acontece, a solidariedade universal deixa raízes no coração do homem sensível.
Como a comunicação se transformou numa indústria, que inevitavelmente tem como uma das suas metas o lucro, às vezes a qualquer preço, este Dia Mundial das Comunicações Sociais leva-me a sugerir que se incremente a formação para a utilização dos media por cada um nós, numa perspectiva de podermos fazer, com capacidade crítica, a selecção daquilo que podemos e devemos ler, ver e ouvir. Do mundo das notícias, das informações, das propagandas e das publicidades, das formações e do entretenimento, das reportagens e das propostas ideológicas, urge saber distinguir, com lucidez, aquilo que importa guardar e aquilo que deve ser rejeitado e atirado de imediato para o caixote do lixo.
Não é possível, numa sociedade com tantas solicitações, umas boas e outras más, umas que nos enriquecem culturalmente e outras que embrutecem os menos cautos, dar atenção a tudo o que nos chega, via rádio, televisão, internet, jornais, revistas, filmes, vídeos e por tantas outras formas. Sendo assim, a auto-educação é uma obrigação que se impõe a todos nós e, a partir de nós, a quantos nos cercam.
Partindo do princípio de que há nos mais diversos órgãos de comunicação social gente honesta e bem formada, com o sentido das responsabilidades apurado, não podemos ignorar que também há profissionais tendenciosos e desonestos, não faltando patrões para quem o lucro justifica todos os meios. Estas realidades devem fazer-nos pensar, para depois agirmos em conformidade, isto é, aceitando o bom e rejeitando o mau.

Fernando Martins
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Nota: Aconselho a leitura das mensagens do Papa e do Bispo de Aveiro para o Dia Mundial das Comunicações Sociais.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 24


A BRUXA
COM A ASICA PARTIDA


Caríssima/o:

Pedalando por terras de Vagos, forçoso é ir de abalada até Vimioso, concelho de onde, menina e moça, veio um dia para a Gafanha uma das minhas Avós. Teve artes de encantamento e por cá lançou profundas raízes.
Num livro que está para ali esquecido, cheio de poeira, podemos ler, diria antes, relembrar, estórias da nossa meninice, quando, assustadiços, nos metíamos no xaile de nossas mães enquanto uma das mais velhas ia desfiando...

“Feiticeiras há muitas,
Diz um velho desta povoação;
Devemos crer que as há,
Mas não crer quem são.”

Lê-se na página 313 , de «Vimioso – notas monográficas», de padre Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal, e dr. Adrião Martins Amado, Coimbra, 1968 [tudo leva a crer que foi escrito entre 1946 e 1948], informando que esta quadra foi colhida em São Joanico, concelho do Vimioso.
E logo nas páginas 317/318, nos delicia com esta asica da bruxa Berta:


«Ao nosso diligente e culto informador padre Félix Lopes contou-lhe a tia Letícia Cleto Fernandes, do Vimioso, velhota de 81 anos, que seus avós tiveram uma vaca de raça fina que parira um vitelo igualmente arraçado, amamentando-o a primor. Tempo andando, o vitelo entrou a definhar e atribuindo o caso a feitiçarias, ficou na quadra uma noite o criado à espreita. Alta noite, entrou uma [bruxa] pelo buraco da porta e chupou o leite todo à vaca sem nada ficar para o bezerro.
O criado agarrou a bruxa, chamou pelo amo, que a manteou bem manteada com um cacete, só a largando quando prometeu de não mais o maleficiar, pedindo-lhe ela que a não descobrisse.
Passado pouco tempo, uma filha do dono da vaca, vendo passar junto à cortinha, onde andava com os cordeiros, uma velhota chamada Berta com um ombro empalmado, perguntou-lhe que tinha no ombro: se era reumatismo. «Não, filha, volvera a velhota, foi teu pai que me partiu a asica deste ombro com uma paulada, mas deixa estar que as não botou em saco roto, ele mas pagará».


E efectivamente, acrescentava a tia Letícia com ares de convicção inabalável, que diríamos convincente, se não fosse chochice, passado pouco tempo seu avô mandava baptizar um filho, um primor de criança, mas a tia Berta foi à igreja, pôs nele um olhar repassado, a criança entrou a chorar convulsivamente e morreu dentro de poucos dias.
Pelos dizeres da tia Letícia, há 103 anos que isto sucedeu.»
Para poderes entrar bem na trama, silencio-me.

Manuel

Um artigo de Anselmo Borges, no DN


DEBATE SOBRE A RELIGIÃO
NO GRANDE ORIENTE LUSITANO



No passado dia 5, o Grande Oriente Lusitano realizou o Encontro Internacional de Lisboa - Religiões, Violência e Razão, onde me coube falar sobre os fundamentos essenciais do diálogo inter-religioso.
Crentes, agnósticos, ateus vivem no mesmo mundo, cuja realidade ambígua exige interpretação. Ora, como nota o teólogo Andrés Torres Queiruga, não é porque se é crente, agnóstico ou ateu que se interpreta o mundo de uma determinada maneira; pelo contrário, é-se crente, agnóstico ou ateu, porque a fé ou a não crença aparecem ao crente e ao não crente, respectivamente, como a melhor forma de interpretar o mundo comum.
É neste horizonte que se enquadra o diálogo entre as religiões, com quatro pilares fundamentais.
1. Desde que se não oponham ao Humanum, pelo contrário, o afirmem e promovam, todas são reveladas e verdadeiras, o que não significa que sejam iguais.
2. Todas são relativas, num duplo sentido. São relativas porque nasceram num determinado contexto geográfico, social, económico e até religioso. São relativas também no sentido de que estão todas referidas ao Sagrado, mas nenhuma o diz plena e adequadamente. Precisamente por isso, devem dialogar para melhor tentarem dizer o Mistério que a todas reúne e transcende.
Assim, o diálogo inter-religioso não se impõe apenas pragmaticamente, para evitar a violência, nem é simples tolerância, que ainda diz, subtilmente, superioridade face ao outro tolerado. Ele é exigido pela própria compreensão autêntica do que significa ser religioso, portanto, em relação com o Sagrado Infinito, que nenhuma religião nem mesmo todas juntas podem dizer.
Precisamente porque é necessário salvaguardar a transcendência do Sagrado, impõe-se a separação das Igrejas e do Estado. A distinção entre a esfera política e a esfera religiosa não é decisiva apenas em ordem à paz e à convivência pacífica entre todos os cidadãos. É exigida pela religião, que tem consequências políticas, mas não pode aceitar que o Sagrado seja transformado num ídolo político ou instrumentalizado para legitimar interesses económico-políticos.
Torna-se claro que é necessário tirar outra consequência fundamental. Se as diferentes religiões nascem num determinado contexto histórico, geográfico, cultural, moral e até religioso, isso também implica que os textos sagrados das diferentes religiões não são ditados de Deus e, por conseguinte, não podem ser lidos literalmente - exigem uma leitura histórico-crítica.
Ao contrário do que possa pensar-se, isto não significa de modo nenhum relativismo, pois é de perspectivismo que se trata. O relativismo implica negação da verdade. O perspectivismo, ao contrário, afirma a verdade, mas sempre presente ao Homem em várias perspectivas.
3. Deste diálogo fazem parte todos os seres humanos, também os ateus. Por duas razões fundamentais. Em primeiro lugar, porque o que, antes de mais, nos une a todos é a humanidade e o que se refere à Humanidade. Ora, também a religião e as religiões são questão da Humanidade. Depois, porque foram e são eles - os ateus e os agnósticos - que podem prevenir para o perigo da superstição e da desumanidade das religiões.
4. Se a religião e as religiões estão ligadas ao Mistério, ao Sagrado, que tudo penetra e envolve, o respeito pelo outro ser humano, crente ou ateu, e a salvaguarda da criação, não são algo acrescentado à religião - são exigidos pelo seu próprio dinamismo.
Critério decisivo da religião verdadeira é o ethos a favor de todo o Homem e do Homem todo. Seria levado a pensar que é neste sentido que as Constituições dos Franco-Maçons, 1723, declaram: "Embora nos tempos antigos os maçons fossem obrigados, em cada país, a ser da Religião, qualquer que ela fosse, desse país ou nação, julga-se agora mais conveniente obrigá-los apenas àquela Religião com a qual todos os Homens concordam, deixando a cada um a sua opinião particular, isto é, serem Homens bons e verdadeiros, ou Homens de Honra e Honestidade, quaisquer que sejam as denominações ou crenças que os possam distinguir."