quinta-feira, 3 de maio de 2007

Dia Mundial da Liberdade de Imprensa

OS JORNALISTAS HONESTOS
APENAS QUEREM
UMA SOCIEDADE MAIS FRATERNA
Ao pensar no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que hoje se comemo-ra, sinto que ainda temos muito que caminhar nessa linha. Há imensa gente que gosta de aproveitar, com regularidade, a imprensa em geral, nas suas mais variadas facetas, mas quando é chamada a colaborar, não está para aí virada. Depois, contudo, sabe criticar a falta de objectividade que alguma imprensa patenteia. Como jornalista, senti na pele essa dificuldade, mesmo em sectores que deviam pautar a sua conduta por uma colaboração atenta e oportuna. Refiro-me, por exemplo, a responsáveis de Igrejas, onde encontrei alguns avessos à comunicação social, e frequentemente desconfiados face aos jornalistas. Estavam normalmente de pé atrás, remetendo as suas respostas às questões levantadas para depois, e fugindo, inúmeras vezes, a entrevistas, alegando que os profissionais deturpavam tudo. È verdade que há jornalistas um tanto ou quanto desfasados da linguagem e temas religiosos, mas também é correcto pensar que da parte das Igrejas, cristãs ou outras, não tem havido um espírito de abertura aos media, compatível com as exigências do nosso tempo, muito embora a grande maioria dos jornais regionais do País seja de expressão católica. Vivemos na era da comunicação social, com meios cada vez mais sofisticados, mas nem sempre os utilizamos como forma extraordinária de estar no mundo. Exige-se, pois, de cada um, a cooperação atenta e responsável, a colaboração aberta e solidária, no sentido de levar às pessoas a informação e a formação o mais completas possível, porque uma sociedade mais informada e mais formada é, sem sombra de dúvida, uma sociedade mais livre, mais democrática, mais justa. Os jornalistas, quando sentem que há alguém disponível para ajudar, que há fontes responsáveis e credíveis, até se dispõem mais a dar voz a quem não a tem, mais vez a quem nunca é ouvido. Urge, portanto, erradicar a desconfiança em relação aos jornalistas honestos, acreditando que eles, no fundo, apenas querem contribuir para uma sociedade mais fraterna.

Aveiro em festa

12 de Maio, Dia de Santa Joana e Dia do Município


FESTA PARA TODOS OS AVEIRENSES


De 5 a 20 de Maio, será comemorado o Dia do Município – 12 de Maio, através da realização de inúmeras actividades culturais, lúdicas e desportivas dirigidas a todos os tipos de público. De destacar os vários concertos musicais, as provas desportivas na Ria de Aveiro, as várias exposições patentes nas galerias, os ateliers e oficinas para as crianças, a caminhada para os idosos e, em especial, a sessão solene de entrega das Distinções Honoríficas.
Os objectivos desta iniciativa são dinamizar as freguesias através das suas associações; dar resposta às necessidades culturais sentidas pela população; rentabilizar os recursos naturais; fomentar a participação da população e a interacção entre as diversas instituições; descentralizar a cultura; dar a conhecer e desenvolver o gosto pelas diversas formas de expressão artística; ajudar a desenvolver o sentido crítico, artístico e criativo das populações; sensibilizar a apetência da população para as diversas actividades culturais; e, envolver e sensibilizar grande parte da população e das associações para as actividades de animação apresentadas
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Fonte: "Site" da CMA
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Banco Alimentar recolhe alimentos

São os pequenos gestos que fazem os grandes heróis




BANCO ALIMENTAR EM CAMPANHA
DE RECOLHA DE ALIMENTOS
NO PRÓXIMO FIM-DE-SEMANA



Os Bancos Alimentares Contra a Fome voltam a recolher alimentos no fim-de-semana de 5 e 6 de Maio em 813 estabelecimentos comerciais localizados nas zonas de Lisboa, Porto, Coimbra, Évora, Aveiro, Abrantes, S. Miguel, Setúbal, Cova da Beira, Leiria-Fátima, Oeste, Algarve e Portalegre.
A campanha deste fim-de-semana constituirá uma nova oportunidade para os portugueses evidenciarem a sua habitual postura solidária com as pessoas mais desfavorecidas da sua região. Esse é, aliás, precisamente o sentido do anúncio relativo desta campanha de recolha de produtos alimentares: "Com a coragem e a bravura de muitos heróis, o Banco Alimentar consegue fazer chegar alimentos a milhares de pessoas durante o ano inteiro. Por mais simples que seja a sua contribuição, sempre fez, faz e fará a maior diferença. Continue a ser o herói de muitos milhares de pessoas carenciadas".
A campanha deste fim-de-semana decorre nos moldes tradicionais: voluntários dos Bancos Alimentares Contra a Fome, devidamente identificados, solicitam a participação à entrada de cada um dos estabelecimentos comerciais. Para participar nesta campanha basta aceitar um saco de plástico do Banco Alimentar e nele colocar bens alimentares para partilhar com quem mais precisa. São privilegiados os produtos não perecíveis, tais como leite, conservas, azeite, açúcar, farinha, bolachas, massas, óleo, etc.
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Leia mais em Banco Alimentar

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Um artigo de Joaquim Franco, na Sic online


OS BONS E OS MAUS



Multiplicam-se neste tempo experiên-cias e propostas de religiosidade, como procuras insaciáveis de um transcendente inexplorado e inatin-gível. A transversalidade tecnológica acentua ilusões de proximidade e alimenta vazios.
Ao “info-excluído”, junta-se o que se agarra às novas tecnologias na esperança de preencher espaços exclusivos para a “presença”. Como se fosse possível subverter os códigos inerentes à própria existência humana, vocacionada para o “encontro”.
Neste cenário de profundos equívocos, de duvidosas “certezas” e “verdades” relativas, constroem-se medos e fobias sociais. Estamos na espiral da incompreensão, também na dimensão religiosa da vida.
As novas linguagens de relação entroncam na lógica da linguagem mediática e criam novas percepções. O “eu” relacional resvala por valores efémeros e desagua no abismo fundamentalista, um terreno pantanoso que, apesar de tudo, tem contornos palpáveis e balizas “seguras”.
A resposta do radicalismo islâmico ao tempo ocidental, reduziu o mundo á dicotomia infantil. Os “bons” contra os “maus”. E a reacção dos líderes ocidentais á resposta destes radicalismos escreve-se com os mesmos valores. Num raciocínio “a preto e branco” que reforça o patamar dos estereótipos mais básicos para reconstruir campos de leitura.
A diversidade, ampliada pela mediatização, transformou-se, em alguns círculos de influência, numa perigosa ameaça ao “status” religioso.
Não surpreende, portanto, que alguns novos pregadores – como novos profetas de desgraça - insistam na ideia de uma sociedade “inimiga”. Uma “coisa” indefinida - que todos representa e ninguém responsabiliza –“culpada” pelos males intoleráveis e pelos fantasmas que atormentam… da sangria de juventude nas igrejas ao relativismo na vivência religiosa.
Com discursos simplista e balofos, agarram-se à “norma” com pulso inflexível, “diabolizam” e vitimizam-se facilmente. Usam a vertigem do desconhecido - a incompreensão - para oferecer falsas alternativas, congregando sob a capa de um certo revivalismo - seja ritualista ou estrutural -, num regresso ao “gueto” religioso que garante a segurança imediata, mas atenta contra a dignidade.
Mesmo a navegação “contracorrente” - seja por instinto ou por teimosia - implica um conhecimento dos mares navegados ou por navegar, sob o risco de um naufrágio absoluto.

Ares da Primavera


PRIMAVERA NA VAGUEIRA
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O mar da Vagueira, no concelho de Vagos, estava um pouco agitado, nada de acordo com a Primavera. Nem por isso deixou de ser belo, com as ondas a espumar o desejo de ver mais gente por ali. Lá para o Verão, os já nos fins-de-semana de Sol a brilhar, estou em crer que não hão-de faltar veraneantes, daqueles que não passam sem o cheiro a maresia e sem uma saborosa caldeirada de enguias. A Vagueira, que é terra das nossas gentes, bem merece uma visita. Na Primavera ou em qualquer outras época do ano.

Concurso de fotografia

Entrega de trabalhos até 2 de Novembro


"A BARRA DE AVEIRO E O PORTO DE AVEIRO"


A Comissão das Comemorações do Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro promove um Concurso de Fotografia aberto a todos os fotógrafos profissionais e amadores.
O Tema do Concurso é "A Barra de Aveiro e o Porto de Aveiro", em todas as suas vertentes, e tem carácter nacional, podendo ser apresentadas fotografias a cores ou a preto e branco.
2 de Novembro de 2007 é a data limite para a entrega dos trabalhos.
A Comissão Organizadora conta expor, em sala e na web, as fotos premiadas, podendo alargar ainda o leque das fotos expostas a trabalhos que, não tendo sido premiados, justifiquem a sua integração nas exposições previstas.
O conjunto dos prémios totaliza 2500 euros.

Um artigo de António Rego


O ABORTO
COMO PRETEXTO



Que tipo de deserto atravessamos? Uma faixa intermédia entre a crise e a esperança? Uma tempestade avassaladora com dunas intransponíveis, nuvens opacas, planícies abrasadoras? Que terra vem a seguir, que refúgios se avizinham, que oásis se vislumbram? Que sombra ou que sol nos virá visitar?
Há quem pense que não estamos em nenhuma crise. O discurso da crise - dizem - é duma potestade espiritual e religiosa ressentida com a perda de influência na vida social, cultural e política, ou resultante dos discursos gastos sobre a fé e a moral. Pelo contrário – acrescentam - o mundo está melhor que nunca, autónomo, livre, liberto enfim, dos moralistas que nada entendem do que está a nascer de novo. O laicismo é o triunfo sobre todos os obscurantismos que durante milénios assolaram a história, deixando rastos de traumas e depressões oriundas de leis estreitas e cruéis. A crise é uma invenção dos perdedores desta batalha.
Por estas e por outras palavras vamos ouvindo um pouco de tudo isto. E sentindo que estes pressupostos, ainda que não ditos deste modo, vão gerando um novo discurso social e cultural. No nosso caso concreto, tendo como pólos a Igreja Católica e a moderna sociedade laica. Possivelmente o Referendo sobre o aborto foi uma fronteira de referência deste novo credo. Que é, antes de tudo, ambíguo e interesseiro. Pertence a um grupo estreito que grita em diferentes megafones mas não representa, como se faz crer, a comunidade, a história e a alma do povo a que pertencemos. O Referendo sobre o aborto, com todos os equívocos com que foi lançado (e continuado nos despachos sinuosos da Presidência da República e nos malabarismos retorcidos do Governo) não é, possivelmente, sintoma da viragem que se alardeia na comunidade portuguesa. Mas é um acontecimento que merece reflexão serena, sem traumas nem conclusões aceleradas.
O debate dos jornalistas com D. Manuel Clemente e D. Carlos Azevedo, no lançamento do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais, sobre este e outros temas, pode ajudar a melhor estabelecer a relação Igreja-Mundo, no terreno concreto que pisamos. Onde todos temos a aprender com o ontem e com o hoje.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Citação

"Teoricamente, todos gostaríamos que o mundo fosse justo. Na prática, ninguém protesta se ele for injusto a nosso favor"
Rui Tavares,
no PÚBLICO de hoje

Dia do Trabalhador


Igreja de Nossa Senhora dos Campos

PRIMEIRO DE MAIO, JORNADA DE FESTA

Celebra-se hoje o Dia do Trabalhador, que é, também, o Dia de S. José Operário. Se o Dia do Trabalhador continua a ser festa e encontro de muitos trabalhadores, já o Dia de S. José Operário começa a ficar de lado. Estou convencido de que muitos, no meio da alegria dos festejos próprio do 1º de Maio, se esquecerão do patrono dos trabalhadores, que é S. José, lembrado, no entanto, pela Igreja Católica. E seria bom que os trabalhadores não se esquecessem do mais famoso carpinteiro da história, ou não tivesse sido ele o pai adoptivo de Jesus Cristo.
Não importará, neste dia, voltar a falar das lutas travadas há muitas décadas pelos trabalhadores, quando reivindicavam melhores condições de trabalho e horários justos. Importa, isso sim, apoiar quantos, ainda hoje, não têm ambientes de trabalho justos, dignos e, por isso, humanizados.
Não sou dos que dizem que os sindicatos não fazem falta. Eles são, como os partidos políticos, alavancas fundamentais da democracia. Daí que todos os trabalhadores deviam esforçar-se para se filiarem nos sindicatos e para aí terem voz activa, na defesa dos seus direitos.
Eu sei, como toda a gente sabe, que algumas vezes os sindicatos são cegos face à realidade económica do País, reivindicando o impossível. Mas também é verdade que noutras tantas vezes, se não fossem as campanhas sindicais, a injustiça seria muito maior e muito mais flagrante. Aí, os trabalhadores deviam ter uma palavra a dizer, participando, concretamente, nos plenários sindicais, e não deixando, como muitos fazem, que as chefias se deixem levar por pressões partidárias.
O princípio da separação entre sindicatos e partidos políticos seria o ideal, mas como isso é muito difícil, então só há uma resposta a essa realidade, que tem de passar, inevitavelmente, pela militância sindical dos trabalhadores, na defesa de organizações sindicais independentes, numa sociedade democrática.
Hoje, a festa estende-se a todo o mundo livre. Também em Portugal não faltam manifestações de alegria, com convívios por todo o lado. Aqui na região, o encontro mais importante será na Colónia Agrícola da Gafanha. Trabalhadores de todo o lado começaram a concentrar-se ontem ao fim da tarde, no largo central, marcado pela presença da igreja de Nossa Senhora dos Campos. A festa, logo mais, depois do almoço, por ali improvisado, será rija. Se quiser ver como é, passe por lá.
Bom 1º de Maio para todos os trabalhadores, que somos nós todos, de uma forma ou doutra.

Fernando Martins

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Área social descurada pela Igreja?

Trabalho levado a cabo nos vários âmbitos da pastoral serve como ponto de partida para a análise da sociedade



DIOCESE QUER CONHECER
REALIDADE SOCIAL
DE AVEIRO



A pastoral social é uma das mais vastas áreas que a Igreja se dedica. Uma das mais vastas, mas talvez uma das mais descuradas, segundo o Padre João Gonçalves Vigário Geral da Pastoral, em Aveiro.
Esta diocese vai dedicar-se a um levantamento da sua realidade social, a que promete dedicar-se no próximo ano pastoral. Por entendimento do Bispo diocesano, D. António Francisco dos Santos, que dedica uma atenção especial a esta área, foi criada uma vigararia, que tem como finalidade a promoção, desenvolvimento, ajuda e formação de todas as pessoas que estão ligadas à pastoral social.
É uma área, que nesta diocese, engloba cinco campos de acção: a solidariedade presente nas Instituições da Solidariedade Social, a mobilidade humana e as migrações, a saúde, o voluntariado e as prisões. Cada uma apresenta grandes diferenças e problemas específicos. A pastoral social de uma forma geral nas dioceses “não é prioritária”, afirma o Padre João Gonçalves. A evangelização, a liturgia, são as grandes áreas, “a parte social necessita de um maior arranque”, um impulso que a Encíclica Deus Caritas Est pode trazer, uma vez que sublinha o “fundamento do amor e a caridade organizada” como essencial para os cristãos.
A área “mais descurada”, é apontada como a pastoral prisional, que não conta com uma organização paroquial como acontece nas outras áreas. A prevenção da criminalidade, a atenção à família dos reclusos, a reinserção social são pontos que, o também coordenador nacional da pastoral prisional, aponta como alvo de um maior trabalho “não apenas na diocese de Aveiro, mas em todas no geral”.
Sobre estas questões debruçou-se o XIX Encontro Diocesano de Grupos Cáritas Paroquiais, que contou com o contributo do Padre João Gonçalves e a sua reflexão sobre a “Missão/Papel dos Grupos Cáritas Paroquiais na Pastoral Social”.
A Caritas é uma instituição que na diocese de Aveiro ganha terreno a nível paroquial, não sendo a única, claramente. “Manifesta uma atenção próxima às famílias”, mas há muito a fazer “com respostas organizadas e adequadas”, especialmente com as novas formas de pobreza que surgem.
Problemas de alimentação, de roupas “inclusivamente roupas de camas”, o alcoolismo, a toxicodependência, as famílias desestruturadas, o desemprego, “são áreas que nos preocupam pois são situações algumas emergentes e a sua maioria urgentes”, sublinha o vigário geral da Pastoral, que precisam de uma atenção permanente, individualizada, inclusivamente para os próprios agentes “que precisam de formação”. Algumas destas respostas podem ser dadas a nível paroquial, “e estão já a ser dadas”.
Aveiro investe num retrato social a ser realizado durante o próximo ano pastoral. “Há um trabalho que vamos fazer”, com maior profundidade, com objectivo de “conhecendo melhor a diocese, dar melhor formação aos grupos e às paróquias”.
Criar nas pessoas uma mentalidade de rede e de parcerias é a chave para um trabalho eficaz, assim como a formação a dar quer a “quem faz caridade como aos que trabalham em solidariedade”, ligados a paróquias, hospitais, dirigentes das IPSS, e de voluntariado.
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Fonte: Ecclesia
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Foto do meu arquivo - Padre João Gonçalves

Dia Nacional do Associativismo

NÃO PODEMOS SER UMA ILHA
Hoje, 30 de Abril, é o Dia Nacional do Associativismo. Porquê celebrar este dia? Pela simples razão de que temos de lutar contra a ideia de vivermos como se fôssemos uma ilha. E é isso que muitos de nós somos: ilhas sem qualquer ligação ao mundo, próximo ou mais alargado. O homem é, por natureza, um ser solidário e social. Não pode nem deve viver apenas para si. Tem de experimentar, no dia-a-dia, o prazer de estar com os outros, partilhando emoções e sensações, ideias e projectos, alegrias e tristezas. Tem de se associar com todos os que quiserem trabalhar na comunidade e para a comunidade, na certeza de que a união faz a força. Tem de apoiar associações e outras instituições, na esperança de que o contributo de todos e de cada um, em ligação com mundo agora mais global, possa tornar a humanidade mais fraterna e mais solidária. Em qualquer canto do País há associações, as mais diversas, capazes de nos ajudarem na integração e na partilha, mas também na valorização das nossas capacidades. Ninguém é tão pobre que não tenha nada para dar, nem tão rico que não tenha nada para receber. É na partilha que nos transformamos em gente mais capaz de dar e de receber. E nas associações, por norma, há sempre alguém que nos abre portas para sermos mais felizes com os outros. Sozinhos, fechados, é que não iremos a lado nenhum.

CALDEIRA DO FORTE DA BARRA
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Desde menino que convivi com a Caldeira do Forte da Barra, a mesma que o Ângelo Ribau me ofereceu um dia destes. Hoje, tudo isto está transformado ou em vias de transformação. O progresso é fundamental à vida das regiões e das pessoas. Não sou dos que protestam contra tudo e contra todos, pelo facto de nem sempre se preservarem as nossas memórias. A vida é assim. Porém, as novas tecnologias permitem-nos tornar presente o que outrora nos encantou. E se olharmos bem à nossa volta, verificaremos que coisas bonitas, que já desapareceram, acabaram por dar lugar a outras. Será este o caso?

Escola de Música Gafanhense



JOVENS NÃO FALTAM
NA ESCOLA DE MÚSICA GAFANHENSE



A região de Ílhavo, como outras por aqui à volta, está cheia de instituições para todos os gostos e necessidades. Desde culturais e desportivas até de solidariedade social e religiosas. Umas mais conhecidas do que outras, mas todas apostando na valorização das pessoas, sejam elas jovens ou mais idosas.
No sábado passado participei, como sócio, que o sou há 25 anos, na festa das Bodas de Prata da Escola de Música Gafanhense, uma instituição que promove o ensino e a divulgação da arte musical.
Para além de tudo o que me foi dado ver, desde o empenhamento dos dirigentes à cooperação com outras instituições que comungam dos mesmos propósitos, nomeadamente a Filarmónica Gafanhense, onde nasceu a Escola de Música, quero realçar, hoje aqui, a participação da juventude. Vi, de facto, muitos jovens como executantes dos mais diversos instrumentos, alguns dos quais, pelo seu tamanho, só próprios de adultos. Mas os jovens, alguns ainda crianças, lá estavam todos compenetrados a dar o seu melhor nos concertos que ofereceram a convidados e à população em geral.
Presentemente, a Escola de Música Gafanhense tem 45 alunos, distribuídos pelas diversas classes actualmente existentes. E pretende, com eles e com os que quiserem aderir, continuar a ensinar música e a dinamizar uma orquestra ligeira, fundamentalmente para unir os jovens. E também para que os mesmos possam, mais tarde, representar a Escola e a Gafanha da Nazaré.
Os meus parabéns pelo trabalho desenvolvido durante estes 25 anos de vida, com votos de que prossigam com o ensino da música, que é, como todos sabem, a rainha das artes.

domingo, 29 de abril de 2007

FÓRUM::UNIVERSAL, NO CUFC

A NÃO PERDER - 2 de Maio

Para ver melhor, clique na foto


NOTA: Ouço, por aí, muitas pessoas a protestar contra tudo e contra todos, por pouco ou nada se fazer, segundo dizem, nas nossas comunidades, de âmbito cultural e formativo. Os que protestam, tenho-o constatado, não têm razão. Há muitas ofertas, a vários níveis, para a formação de todos. O que acontece é que muitos não olham para o lado, para depois seleccionarem e optarem pelo que há de melhor.
O tema proposto pelo CUFC - A fome que nos (pré) ocupa - é por demais interessante e merecedor de uma reflexão profunda. Mas as pessoas, novas ou velhas, as que se envolvem nestes assuntos, têm de participar, quando temas como este nos são oferecidos. Como é o caso. A entrada é livre.

Ares da Primavera

Recanto do Porto. Foto de Manuel Olívio

PRIMAVERA COM FLORES E ÁGUA
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A Primavera, tão conhecida pelo seu habitual clima ameno, casa bem, ao que julgo, com flores e água. A oferta de hoje, que veio do Porto, cidade a que estou bastante ligado, diz isso mesmo. O convite que aqui deixo vai na linha de aconselhar os meus amigos a descobrirem, por aí, onde quer que vivam ou por onde passem, esses sinais curiosos e bonitos da Primavera, que tem andado, este ano, um pouco menos amena. Depois, é só partilhar com os outros aquilo de que gostaram.

Um artigo de Anselmo Borges, no DN


OS OSSÁRIOS
DA FAMÍLIA DE JESUS


N o passado domingo, 15, em horário nobre, a televisão passou um longo documentário sobre uma descoberta de 1980, em Jerusalém. A partir de um túmulo com nomes fundamentais do Novo Testamento - Jesus, filho de José; Maria; José; Mariamne (Maria Madalena?); Judas, filho de Jesus; Mateus - pretendia-se que se poderia estar em presença dos ossários da família de Jesus.
O documentário era sedutor. Foi-se inclusivamente à análise do ADN. Mas quem estivesse atento não deixaria de constatar alçapões. A partir da análise do ADN, por exemplo, não podia concluir-se que Jesus e Maria Madalena tivessem sido marido e mulher. E não se percebe como é que uma família pobre, da Galileia, no norte, tinha um túmulo em Jerusalém, no sul.
É possível que alguns cristãos ficassem na perplexidade. Sobretudo por causa de pensarem que, se encontrassem os restos mortais de Jesus, ele não tinha ressuscitado nem subido aos céus. Então, o cristianismo afundava-se, sem salvação.Foi Kant que preveniu contra a menoridade religiosa culpada como a mais nefasta. A religião é do domínio do transracional, mas não pode ser irracional nem infantil.
Uma das questões do documentário tem a ver com as relações entre Jesus e Maria Madalena. É natural que as pessoas queiram saber, e a Igreja não pode ignorar o problema nem torná-lo tabu. Nada prova que tenha havido relações de marido e mulher. Mas não há dúvida de que Maria Madalena amava Jesus e de que Jesus a amava. Sobre o tema, o abbé Pierre, insuspeito, escreveu, pouco antes de morrer, que quer Jesus tenha satisfeito quer não o desejo sexual num amor partilhado, "isso nada muda ao essencial da fé cristã". O que se não pode é afirmar que Jesus é verdadeiramente homem e retirar-lhe a sexualidade.Quanto à outra questão, decisiva: é evidente que a ressurreição não consiste na reanimação do cadáver. Caso contrário, Jesus voltaria a morrer. Com a fé na ressurreição, o crente está a confessar que, na morte, Jesus não se afundou no nada, mas entrou na plenitude do mistério insondável de Deus. Como foi e é? Ninguém sabe.
À distância de 2000 anos, não imaginamos o que foi de abalo e desilusão para os discípulos a condenação de Jesus à morte, concretamente à morte de cruz, uma morte própria de escravos, não sendo de excluir que o cadáver tenha ido para uma vala comum. Foi lentamente que eles, reflectindo sobre tudo o que tinham vivido com Jesus, meditando sobre a sua mensagem - o seu núcleo é a experiência de que Deus é Amor -, sobre as Escrituras, sobre o modo como viveu e morreu, fizeram a experiência de fé de que o Deus que ele experienciara como Amor e Pai não podia tê-lo abandonado na morte. E foi tal a sua convicção que estiveram dispostos a dar a vida por essa fé.Anunciaram que o tinham "visto". Mas, quando se lê os Evangelhos, vê-se claramente que não se trata da reanimação do cadáver.
Nunca se diz, por exemplo, como foi a ressurreição nem se descreve, pois ela não é um facto da história empírica, que os historiadores examinam.
Maria Madalena, que nunca aceitou que Deus o deixasse cair no nada, porque o amor é mais forte do que a morte, quando o "viu", pensou que era o jardineiro; só quando foi chamada pelo nome é que o reconheceu - uma história de amor. Tomé diz que não acredita, se não vir a marca das feridas nas mãos e no lado; Jesus diz-lhe para meter a mão, mas não se diz que ele o tenha feito. Se se tratasse da reanimação do cadáver, quando Jesus caminhou com os discípulos de Emaús durante 12 quilómetros, todos deveriam tê-lo visto no caminho; mas só eles o reconheceram ao partir do pão.
O Principezinho diz que o mais importante é invisível aos olhos. É preciso ver com o coração. Na religião, não se pode utilizar a linguagem coisista. No domínio religioso, apela-se para o símbolo, para a poesia, para o amor. Aí, percebe-se que, mesmo que encontrassem os restos mortais de Jesus, a fé cristã não ficaria abalada. Pelo menos, a fé do crente reflexivo. Ninguém conhece as possibilidades presentes na matéria e em Deus.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 21



A VINHATEIRA
E O CERTOMA

Caríssima/o:

Hoje queria trazer aqui para a minha beira dois Amigos daqueles tempos das viagens das bicicletas. E que bicicletas!? À minha, perdida e achada, lhe caía ora um ora o outro pedal, quando não os dois. Mas um desses especiais, que seria um dos maiores calmeirões, quando aprendeu a andar de bicicleta, e depois continuou a ir para Aveiro, com um saco se sarapilheira no lugar do selim! Este era o Manuel Rito [Estanqueiro] que com o primo Diamantino nos entusiasmava para turismo a pedalar. Lá íamos os três a caminho da Bairrada, durante as férias grandes. Bem, o resto, para não enveredar pelas lendas, o melhor é seguir o conselho do Camões: “ É melhor experimentá-lo que julgá-lo; mas julgue-o quem não puder experimentá-lo!”

«Que mais poderia querer a capital da Região dos Vinhos da Bairrada do que ter o nome da sua capital intimamente relacionado com uma famosa vinhateira do passado? Porém, um passado tão remoto que não conseguimos descortinar o tempo em que viveu a famosa Ana Dias. Mas temos lenda, e lenda tão interessante como a que dá o nome a boa parte do Rio Cértima. O pior, nestas coisas, é que aparece alguém a querer dar cabo da lenda com etimologias e outros dados. Mas vamos lá às lendas.
Ana Dias, naqueles recuados tempos, era nome tão respeitado como o de Baco. Possivelmente, até mais. Porque Ana Dias se apresentava à estrada de Coimbra com os seus maravilhosos vinhos obrigando a parar ali quem fosse ou viesse à cidade dos doutores. Quantos ali não sentiram o estímulo dos bairradinos para abrir um livro de leis ou um corpo na mesa da autópsia? Também, valha a verdade, também acreditamos que a Ana Dias ou qualquer dos seus vizinhos também faria ou fariam rodar leitões no espeto porque não se deve beber sem lastro nem se deve comer sem o apoio de um pichel dos de Ana Dias.. Ah, o que nunca conseguimos descobrir é como se chamava o povoado antes dele se identificar com sua personalidade, inapelavelmente, mais importante! E que importa?
Aqui há uns tempos, numa revista bairradina, o escritor Idalécio Cação levantava a questão de nunca se falar no marido nem nos possíveis filhos de Ana Dias. Era só ela e a sua produção de vinhos. Nem nos sobrou retrato seu que, a avaliar pela fama, até devia ter circulado em moeda! Mas não, só a sua fama de fazer parar os viajantes, consolar-lhes os sentidos com as suas produções e ficá-los a ver dobrar a curva da estrada, mal equilibrados nas suas cavalgaduras.
E Manuel Rodrigues Lapa, o ilustre filólogo, que nos teria podido dizer de Ana Dias? Não que a tivesse conhecido, mas por via do topónimo da sua terra...
Quanto ao rio, o leitor deve ter estranhado o nome – Certoma. Toda a gente conhece o Rio Cértima, agora Certoma. Já lá vamos. Pois o Cértima é um subafluente do Rio Vouga, nasce na serra do Buçaco, um pouco abaixo da Cruz Alta, a 380 metros de altura. Galga 43 quilómetros, na direcção Sul-Norte, atravessando quatro concelhos, atravessando a Pateira de Fermentelos. Ora o nome do rio é Cértima, mas até Avelãs de Caminho é designado como Certoma. E porquê?
Um belo dia nas imediações de Anadia, a Rainha Santa, que ia peregrinar a Santiago de Compostela, sentiu sede. Logo alguns dos seus acompanhantes dirigiram-se ao rio e encheram uma vasilha. Houve até um que provou a água e achou-a imprópria. Mesmo assim levou à soberana, tendo o cuidado de a prevenir. Ao primeiro golo Isabel de Aragão sentiu-se incomodada e comentou:
- Que sabor esquisito, esta água é de certo má...
E de “certo má” a certomá e certoma foi um salto de passarinho. Ficou o Rio Certoma, mas, a partir de determinada altura toda a gente passou a dizer Cértima como alternativa a Certoma. Mas há quem arranje as tais etimologias...»
[Viale Moutinho, pg. 28]

Não sei se nessa altura chegámos a Anadia (Amoreira da Gândara, isso sim!), mas como é a capital da Bairrada fica aqui muito bem, como uma meta que só mais tarde atingiremos.
E certamente que o Diamantino não me levará a mal se dedicar esta pequena e tão mal-amanhada estória ao Manuel Rito; ele bem a merecia, quanto mais não fosse pela sua sonora gargalhada!
Manuel

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Colónia Agrícola da Gafanha


HOMENAGEM AO COLONO
:
Há mais de meio século, a Mata da Gafanha foi aproveitada para nela se construir uma aldeia. O Estado construiu casas de estilo próprio, preparou terrenos para a agricultura, construiu canais de rega, preparou técnicos e atraiu colonos para explorarem a terra. Famílias vieram de diversos cantos do País e por cá se fixaram, com maiores ou menores dificuldades. Muitos dos seus herdeiros aqui vivem ainda na Colónia Agrícola da Gafanha. Agricultores, poucos ou nenhuns, nos nossos dias. Muitas casas e terras foram abandonadas, mas os mais corajosos nunca abandonaram estas paragens.
Há dias, ao passar pelo centro da Colónia Agrícola, junto à igreja de Nossa Senhora dos Campos, na rotunda que lá existe, vi este monumento singelo ao Colono, para homenagear quantos teimaram em construir o que foi possível naquelas areias que outrora foram dunas do oceano.
Eles bem seguravam as areias, mas elas esvaíam-se por entre os dedos. Não queriam nada com as pessoas. Queriam voltar ao chão onde há séculos dormiam, com saudades do mar.

Portugueses em missões internacionais


JORGE SAMPAIO
NA ALIANÇA DAS CIVILIZAÇÕES
:

O ex-presidente Jorge Sampaio vai ocupar mais um cargo na ONU. Depois da missão de integrar a luta contra a tuberculose, que ainda ocupa, foi agora chamado para a Aliança de Civilizações. Nesta missão, Jorge Sampaio vai promover valores que possam diminuir tensões entre sociedades e culturas, contribuindo, deste modo, para a paz.
É curioso verificar como, neste País de tanta gente derrotista, alguns portugueses são investidos em cargos de grande responsabilidade mundial.
Antes de Jorge Sampaio, Durão Barroso havia sido eleito para o cargo de Presidente da Comissão Europeia e António Guterres foi escolhido para Alto-Comissário da ONU para os Refugiados.
Afinal, os portugueses também têm capacidade para tarefas que ultrapassam as fronteiras desta Nação à beira-mar plantada.

NOVIDADES A CAMINHO

"NOVIDADES":
Jornal católico pode ser reactivado em breve
O título "Novidades", propriedade da Igreja Católica, poderá brevemente ser reactivado. A notícia foi avançada por João Aguiar, Presidente do Conselho de Gerência da Renascença, que falava no âmbito do terceiro e último dia das Jornadas Teológicas de Braga, organizadas pela revista "Cenáculo" e pela Associação de Estudantes da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional de Braga, em cujas instalações decorreu a iniciativa, subordinada ao tema "Religião: marca de sucesso?".
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quinta-feira, 26 de abril de 2007

Ares da Primavera

Foto enviada pelo Manuel Olívio, da cidade invicta

PRIMAVERA MENOS FRIA, PRECISA-SE

Já era tempo de a Primavera se instalar de vez perto de nós. As flores, bonitas, desta fotografia que o colaborador Manuel Olívio me enviou lá vão dizendo que os tempos primaveris estiveram na base delas. Mas que o frio ainda não deixou, também é verdade. Podemos concluir que os genes destas flores são bem mais fortes do que a Primavera, que ainda não quis dar uma ajuda.

Um artigo de D. António Marcelino

SELVA DESENCORAJANTE
PARA UM VIVER NORMAL
O rumo que está a levar uma sociedade que prescinde dos valores que humanizam as relações pessoais e dão credibilidade à vida em sociedade não pode deixar de preocupar quem está atento e quer viver com paz, alegria e esperança. Já não falta quem chame a tudo isto uma selva, onde o que de bom e de belo da natureza ainda resta, coexiste com o matagal selvagem que cresce descontroladamente, com a ameaça de tudo sufocar. A selva disfarça bem. Nela há de tudo: animais e plantas raras, feras e pássaros de raça, lagos apaixonantes e pântanos perigosos. Uma sociedade difícil para quem raciocina, fácil para quem especula. Difícil para quem procura o bem comum, cada vez mais fácil para quem pensa apenas nos seus interesses. Fechada para gente com princípios, aberta para extravagâncias e corrupção. Até já é fácil matar com o apoio das leis e o dinheiro do erário público. Continua muito difícil para se responder a situações de pobreza extrema e de vergonhosa incultura. Há nesta sociedade campos de vida que se tornaram desertos áridos, por via de incêndios programados. Campos a descoberto, semeados de venenosas e variadas cicutas, que dão para usar e exportar. Ainda outros, que julgamos baldios abandonados, mas que apenas esperam vez para receber novas culturas de morte. Aqui e além, espaços longos armadilhados por onde uns têm de caminhar temerosos e outros passeiam, com um à vontade desconcertante. Restam, é certo, pequenos jardins, cuidados com amor e zelo e oásis de alguma esperança, que podem, de um momento para o outro, dar lugar a construções vistosas de mero interesse pessoal, a aumentar a riqueza de quem já tem muito, e guarda, por detrás de muros altos, os paraísos do seu deleite e dos convívios reservados aos amigos. O que nos chega todos os dias deixa-nos perplexos sobre a segurança do presente e a esperança do futuro. A nossa sociedade, com os poderes que a governam, sempre preocupada em afinar com a Europa progressista, está perdendo a alma e transforma-se num espaço sem vida e sem interesse. Corre veloz atrás das novidades que surgem, nascidas do engenho de quem tem vocação de incendiário e coração vazio de princípios éticos. Os propósitos inconfessáveis ou, por um tempo, muito bem disfarçados, são gato roubado que não escondeu o rabo e facilmente dá sentido de si. Pelo caminho arrastam ingénuos que só tarde se sentem ludibriados. Haja em vista a recente campanha do referendo e a lei que se seguiu, com a falta de memória de quem não consegue agora engolir o que disse e prometeu, restando-lhe o caminho de se impor por via da força ou com base na lógica de maiorias sem suco. Há tanto para fazer, se quisermos. Convicções com base são mais decisivas que emoções passageiras. É sempre tempo para o mostrar.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

25 de Abril

AINDA HÁ TANTO QUE FAZER
PARA SERMOS DIGNOS DE ABRIL
Somos uns eternos insatisfeitos. Está-nos na massa do sangue. E até será bom, se isso for um ponto de partida para ir mais longe, no campo da valorização pessoal e colectiva, seguindo caminhos de respeito pelos outros, pela democracia, pela liberdade, pelo progresso sustentável e pelos valores que enformam a nossa cultura. Nesse pressuposto, o 25 de Abril, que veio abrir caminhos à democracia, à descolonização e ao desenvolvimento, foi uma ocasião única para acertarmos o passo com a Europa e com o mundo, connosco próprios e com as diversas culturas, a quem tínhamos fechado as portas, ao abrigo da máxima de Salazar que defendia o “orgulhosamente sós”. Nem tudo, porém, foi um mar de rosas. Houve progressos, notórios e indiscutíveis, mas muito há ainda por fazer, em todos os campos. Se é verdade que há mais democracia, também é verdade que aí deixamos muito a desejar, quando se sente que a voz do povo nem sempre é ouvida com a devida atenção. Há frequentemente uns tantos que, julgando-se iluminados, querem pensar por todos nós e decidir a seu bel-prazer, tomando decisões que estão a leste dos reais interesses do povo. Aproveitam-se das circunstâncias que os puseram no poder e daí partem para tentarem criar uma sociedade à sua maneira. Foi sempre assim desde o 25 de Abril de 1974. A descolonização deixou traumas que podiam ser evitados. Diz-se que foi a descolonização possível. Não sei se foi. Só sei que ainda hoje há muitos portugueses que sofrem na pele e na alma o facto de terem perdido tudo quanto construíram nas ex-colónias, sem que o Estado português tenha feito seja o que for, de relevante, para minimizar o sofrimento dos que fugiram de terras que julgavam suas também. Quanto ao desenvolvimento, não posso negar o óbvio. Portugal é outro. Já não somos o povo do pé-descalço, do analfabetismo, do atraso a todos os níveis. Um povo fechado ao mundo, temeroso de lutar pela sua dignidade e pelo seu progresso. O Portugal rico era de uns tantos e a maioria comia o pão-que-o-diabo-amassou. Acontece que, mais de 30 anos de democracia e de desenvolvimento deixaram que 20 por cento da população portuguesa continuasse no limiar da pobreza, a passar fome e a não ter capacidade para sair desse fosso. O 25 de Abril, que hoje se celebra por muitos, enquanto outros tantos, ou mais, dele se alhearão, deve ser um momento de reflexão para todos. Para que saibamos descobrir razões e caminhos que coloquem os portugueses, todos os portugueses, na senda do progresso, sempre no respeito pela democracia, pela liberdade e pela dignidade humana. Fernando Martins

Uma canção de Abril


SOMOS LIVRES


Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.


Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.


Uma gaivota voava, voava,
asas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.


Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo qualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.


Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.


Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás.



Letra e música
de Ermelinda Duarte

Um artigo de Alexandre Cruz


A (re)construção
da liberdade


1. Qual presente oferecido que precisa de ser reconhecido e apreciado, na noção de LIBERDADE dos nossos dias encontra-se o decisivo caminho do futuro. As democracias contemporâneas que “acharam” este valor fundamental da liberdade buscam hoje a sua própria preservação. No cuidar da democracia está o zelo pela liberdade; no garantir saudável da liberdade estará a própria essência democrática. Hoje, talvez mais que nunca nesta impressionante mobilidade das ideias e das práticas, ergue-se como premente desfio às sociedades ocidentais a estratégia de não desprestigiar a liberdade alcançada. A própria reflexão dos âmbitos sócio-políticos neste início de século XXI tem dado lugar (e deve dar sempre mais) a este aprofundamento do “valor” dos valores e neste dos alcances da “liberdade”.
2. Há uma geração que sofreu e lutou por ela; há uma outra, mais nova, que a recebe de mão beijada, sem ter a mínima noção do quanto ela custou. Para a geração que a construiu pode-se correr o perigo de se ficar nesse passado, diluindo a responsabilidade cuidada que cada dia essa liberdade exige; para os mais novos, gravemente, pode não se dar o mínimo valor ao presente da liberdade social que se tem o privilégio de viver todos os dias. Novas pontes, novos entendimentos, serão fundamentais para o reequilibrar do barco da liberdade, por um lado não ditando a perder a história que se construiu, mas, por outro, não se ficando na história passada pois cada dia a cada cidadão é pedido o zelo de um mundo livre na responsabilidade.
3. Acolhermos a “liberdade” significará a abertura multifacetada às dimensões fundamentais do ser pessoal e social. Ser livre é ser-com-os-outros! Quantos sistemas sociais, políticos e económicos (construíram e) constroem outras formas de ler a vida em que o “lugar do outro” é apropriação, exploração e exclusão?! Quantas faces demolidoras têm as novas escravaturas que das coisas tecnológicas à não aceitação de pontes com o “outro” e emergência do “medo” vão erguendo barreiras e distâncias?! Quanta (con)fusão entre a autêntica liberdade solidária e a libertinagem individualista que apaga as noções da ética e dos deveres para com a comunidade?! Que noção de liberdade perpassa nas publicitadas formas de comunicar, educar, estar, viver? Como conseguimos “segurar” os referenciais de sempre (para uma plena realização humana) garantindo futuro à própria liberdade?
4. Se há valor transversal que é caminho de plena dignidade humana e horizonte de reconhecimento dos direitos humanos, a LIBERDADE estará sempre nesse patamar urgente que não se pode descurar. Em países e em sociedades onde ela não existe que todos os canais e correntes abram as portas à liberdade humana. Onde a liberdade felizmente é um “hábito” diário, que desperte a atenção na consciência de que há muito caminho para andar carecendo as nossas sociedades ocidentais de um maior aprofundamento social e pessoal da liberdade, que tenha ecos numa ética de justiça social para todos. O caminho da liberdade, na sua verdadeira essência, é um caminho sempre inacabado, pois esta implicará uma reconstrução permanente. Só na base do pensar e querer com seriedade dedicada o bem de todos, e olhando sempre para o futuro, haverá sustentabilidade para a liberdade.
5. Porque é que, muitas vezes, em países que a muito custo, rigor e exigência, “conquistaram” a sua autonomia e liberdade democrática, na fase posterior dá-se a decadência e desagregação social? Havendo na fase de “resistência” toda uma energia motivada na busca desse ideal livre, quando esse ideal se alcança vem ao de cima a verdadeira raiz da noção de liberdade… Tantas vezes essa liberdade (inconsistente) não tem raiz profunda e dá origem a sistemas desviados de corrupção, de conluios de poder, de libertinagem oportunista. Também será de reconhecer que nunca será com liberdade responsável “à força” que o rumo da história atinge o progresso desejado. Só na base da educação (social e pessoal) a liberdade que se procura e alcança terá raiz para (contra os ventos alienantes e as marés do vazio) triunfar aproximando-nos de uma DIGNIDADE HUMANA acolhida, esta que será o expoente máximo da liberdade.
6. Até chegar a esse ideal, e não de forma virtual mas real, a EDUCAÇÃO PARA A LIBERDADE será das tarefas fundamentais das sociedades que desejarem ter futuro a sério! É que a mesma invenção com boa liberdade pode gerar cura, com má liberdade pode iniciar uma calamidade… É importante demais para não haver tempo! Se, por descuido ou inércia, perdermos a grandeza da liberdade, o que nos fica? Como viveremos? Quantos dias sobreviverá a própria democracia? De pais para filhos, de educadores para educandos, conversar sobre as histórias da verdade da vida será gerar e reconstruir as fronteiras da liberdade, nestas garantimos um saudável amanhã!