sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

UM ARTIGO DE D. ANTÓNIO MARCELINO

AMEAÇA DEMOGRÁFICA
OU INÉRCIA POLÍTICA?
Já sou do tempo em que, a torto e a direito, se proclamava que a fome no mundo tinha como causa o aumento descontrolado da natalidade e, consequentemente, da população. As teses de Maltus e do neo-maltusianismo eram um apelo mundial que se generalizou. Era preciso contrariar o aumento da população. Só assim poderíamos sobreviver e libertar-nos de uma calamidade exterminadora e sem limites. Ainda não há muito tempo (1991), um francês iluminado, Comandante Cousteau, escrevia no Courrier de l´Unesco: “É necessário que a população mundial se estabilize e, para que tal aconteça, é necessário eliminar em cada dia 350.000 pessoas”. Aqui fica para a história um apelo louco ao genocídio que, segundo vi, não escandalizou, nem teve contraproposta. Já na década de cinquenta, padre novo com muitos sonhos sociais, pude ler, para contrariar os maus augúrios dos sábios do tempo, que o problema demográfico só tinha uma solução e esta era política, pois a superfície do Brasil, bem aproveitada, era mais do que suficiente para esconjurar a fome do mundo inteiro. A verdade, porém, é que os políticos sempre estiveram mais interessados, a vários títulos, em medidas de extermínio e de controle, do que de promoção do bem a favor de todos e do respeito e apoio por medidas políticas a favor dos povos mais pobres e débeis e da sua cultura. Os perigos da demografia crescente era um bom fantasma para os objectivos dos países ricos, sempre sôfregos por maior riqueza. A Índia e muitos países de Africa foram então invadidos por “multinacionais generosas” que espalharam contraceptivos em profusão, pagos por países interessados em que se fosse operando, progressivamente, o extermínio a população sob a capa de uma protecção farisaica. Interessava-lhes pouca gente, rendida à gratidão, matérias-primas a descoberto e anulação de críticas. Estava aí a vitória dos poderosos. Mais tarde foram conhecidas, neste sentido, as orientações “sábias”, mas desumanas, de Henry Kissinger, que deixaram o mundo estupefacto, mas incapaz de responder ao gigante, sempre pronto a distribuir benesses a quem dobrasse a cerviz e seguisse o preceituado. A Europa também caiu no engodo. Em países, como Portugal, pela subserviência aos Estados Unidos da América de quem algumas instituições recebiam, via OMS, quantias consideráveis para programas de planeamento familiar, noutros pela euforia dos novos modelos e estilos de vida, contrários ao aumento da natalidade e abertos ao gozo e ao consumo sem restrições. A verdade é chegou a bater no fundo. Horrorizada, depois, pela ameaça dos turcos e dos muçulmanos de Africa, famílias com média de seis e sete filhos, e pela incapacidade de repor os estragos da quebra de natalidade, acordou e começou a arrepiar caminho. O que antes recusara, acabou por se lhe impor. Hoje vários países europeus têm políticas concretas de estímulo à natalidade. Todos lemos o que se passa na Alemanha a partir de 1 de Janeiro. Entre nós, como sempre, vamos atrasados, meio anestesiados e sem medidas políticas objectivas e estimulantes. Se vierem e forem acertadas, ainda demorarão décadas a fazer sentir os seus resultados. Entretanto, numa atitude habitual de quem faz uma gestão mais por imediatos que por objectivos, mais por emoções que por razões com fundamento, dá-se protecção ao aborto, mal embrulhado em frases publicitárias bem gastas. Assim, já ninguém duvida, o aborto acabará por se tornar, a pouco e pouco, em mais um método contraceptivo. Nada se vê, antes pelo contrário, que estimule a natalidade, entre nós pelas ruas da amargura., com índices de reposição demográfica dos mais baixos da Europa. Ficamos todos esclarecidos quando ouvimos o chefe do governo e do partido da maioria a recomendar aos seus que não perdessem tempo com os aspectos científicos do aborto, mas o gastassem preocupados em vender bem a ideia da despenalização… O problema continua a ser político. Temos de nos interrogar, porém, sobre qual o sentido de uma política demográfica que tenha em vista, com preocupações éticas, as pessoas e as causas porque lutam, o bem comum e o futuro da comunidade nacional.

SEMANA DA UNIDADE DOS CRISTÃOS

Presidente da Comissão Episcopal
para o Ecumenismo
sublinha efeito dos fluxos
migratórios
e das dinâmicas juvenis
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PANORAMA ECUMÉNICO
ESTÁ A MUDAR EM PORTUGAL
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D. António Marto, presidente da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé e o Ecumenismo (CEDFE), considera que o panorama ecuménico no nosso país está em mudança, por força dos novos fluxos migratórios e das dinâmicas juvenis. “Ao nosso país chegaram muitos ortodoxos e isso, quer a gente queira ou não queira, obriga-nos a fazer um caminho ecuménico em virtude de problemas concretos”, refere em declarações à Agência ECCLESIA. Neste processo, destaca, houve uma grande atitude de “acolhimento” para receber estes cristãos, procurando proporcionar-lhes “um ambiente e lugares de encontro”. “São coisas pequenas, mas tal como na vida, no ecumenismo são as coisas pequenas que nos impulsionam”, acrescenta. No ano em que se celebra a III Assembleia Ecuménica Europeia, D. António Marto sublinha o esforço de “sensibilização ecuménica” levada a cabo pelos grupos juvenis das várias Igrejas cristãs, em especial nas Dioceses de Braga, Lisboa e Porto. A preparação para este grande encontro, na localidade romena de Sibiu, em Setembro próximo, contou com uma dinâmica que inclui encontros nas várias comunidades locais, em cada país europeu. Portugal, por força da dinâmica jovem, contou com “iniciativas muito belas” que serviram para avivar a chama ecuménica. O ecumenismo, defende, é “como a subida de uma montanha”, na qual são necessárias paragens para respirar. A primeira responsabilidade dos cristãos, neste sentido, é a oração em comum, que permita “tomar consciência do ser irmãos e alimentar a espiritualidade ecuménica”. “A espiritualidade é como o óleo do motor: ele pode estar muito bem equipado, mas sem óleo não anda”, explica. Este responsável destaca o facto de Bento XVI ter feito a sua “prioridade das prioridades a causa ecuménica”, dando “passos significativos”. “Tem-se a impressão de que se estão a retomar, com mais ânimo, os passos do ecumenismo”, assinala. A este diálogo teológico, de topo, deve juntar-se o “ecumenismo quotidiano”, na vida dos cristãos, que passa pelas “paróquias, hospitais, contactos pessoais e colaboração entre comunidades”. Para o Bispo de Leiria-Fátima, ser presidente da CEDFE e responsável pelo directo pelo maior Santuário mariano do país não são coisas contraditórias. O diálogo teológico entre cristãos tem produzido documentos "belíssimos" a respeito de Maria, que permitem ultrapassar alguns "preconceitos" e, quanto a Fátima, o Santuário "poderá também tornar-se impulsionador do ecumenismo". "Maria não é um obstáculo para o ecumenismo desde que nós saibamos situar o seu lugar na história da salvação e na própria Igreja", conclui.
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Fonte: Ecclesia

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

SEMANA DA UNIDADE DOS CRISTÃOS

Ecumenismo avança
apesar das dificuldades
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Cardeal Walter Kasper, responsável do Vaticano pelo diálogo ecuménico, espera a “plena unidade” com as Igrejas do Oriente.
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O diálogo entre as várias Igrejas cristãs tem conhecido desenvolvimentos positivos, apesar das divergências históricas que dificultam, muitas vezes, o desejado caminho para a unidade. A convicção é manifestada pelo homem do Papa para o diálogo ecuménico, Cardeal Walter Kasper, no início da semana de oração pela unidade dos cristãos.
Para este responsável, é possível verificar o crescimento de um “ecumenismo de vértice”, nos grandes encontros de líderes das Igrejas, e do “ecumenismo de base”, no quotidiano das várias comunidades eclesiais. Estas duas realidades estão interligadas, segundo o Cardeal Kasper, “como duas faces da mesma moeda”.
O presidente do Conselho Pontifício para a promoção da unidade dos cristãos refere à SirEuropa (www.agensir.it) que o ano de 2006 ficou marcado por vários passos em frente: foi retomado o diálogo teológico com as Igrejas Ortodoxas, o Papa visitou a Turquia, o Arcebispo Ortodoxo de Atenas veio a Roma e o Primaz da Igreja Anglicana visitou Bento XVI.
Apesar das divergências dogmáticas que permanecem com as Igrejas do Oriente sobre o ministério do Papa e das diferenças de cultura e mentalidade, o Cardeal Walter Kasper acredita que o caminho está mais fácil, classificando como “histórica” a visita do Primaz grego, Christodoulos.
Já na relação com as Igrejas da Reforma, têm crescido os desentendimentos em relação a temas como “a homossexualidade, o divórcio e a eutanásia”.
A convicção que permanece, contudo, é de que é possível “chegar à unidade perfeita” com as Igrejas do Oriente e “colaborar com grupos importantes presentes nas Igrejas protestantes”.
O próprio Bento XVI, no discurso que proferiu aos participantes na sessão plenária do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, a 17 de Novembro de 2006, manifestava “grande esperança pelo caminho futuro” no diálogo com as Igrejas Ortodoxas, apelando ao “respeito pelas legítimas variedades teológicas, litúrgicas e disciplinares”.
Quanto às Comunidades eclesiais do Ocidente, o Papa não foi tão optimista, assinalando que “surgiram várias importantes problemáticas, que exigem um aprofundamento e um acordo”.
“Subsiste, acima de tudo, a dificuldade de encontrar uma concepção comum sobre a relação entre o Evangelho e a Igreja e, a este propósito, sobre o mistério da Igreja e da sua unidade, assim como sobre a questão do ministério da Igreja”, assinalou.
Surgiram, por outro lado, “dificuldades no campo ético, com a consequência de que as diferentes posições assumidas pelas Confissões cristãs, sobre as correntes problemáticas, reduziram a sua incidência orientativa diante da opinião pública”.
Já quanto à adesão da Conferência Mundial Metodista, em Julho de 2006, à Declaração conjunta católico-luterana sobre a Doutrina da Justificação, de 1999, dando assim um passo significativo nas relações com a Igreja Católica, o Cardeal Kasper disse, na altura, que esta assinatura representava “um dos maiores feitos do diálogo ecuménico” e citou Bento XVI para falar deste acordo entre as três Igrejas como “uma plena e visível unidade na fé”.
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Para ler mais, clique Correio do Vouga

ABORTO - 15

Sabia que... Não há mulheres detidas pelo crime de aborto em Portugal. Em 2005 realizaram-se 906 abortos legais em Portugal. Em 2005 houve 73 casos, e não milhares, de mulheres atendidas na sequência de abortos clandestinos. O número de abortos clandestinos está calculado em 1800 por ano. 62% dos abortos realizados em países europeus com legislação semelhante à pretendida em Portugal, são realizados por mulheres com rendimentos familiares superiores a 65.000 euros por ano. 6% dos abortos realizados em países europeus com legislação semelhante à pretendida em Portugal, são realizados por mulheres com rendimentos familiares inferiores a 7000 euros. Em todo o mundo, o aborto sem invocar qualquer razão é permitido em 22 de um total de 193 países. A pílula do dia seguinte é comercializada em Portugal desde 1999, sem necessidade de receita médica. É dispensada gratuitamente em centros de saúde desde 1 de Dezembro de 2005. A taxa de natalidade em Portugal baixou para metade nos últimos 40 anos. Em 2005, a média de filhos por casal foi de 1,5, tendo-se registado apenas 109.000 nascimentos, permanecendo abaixo do nível de renovação das gerações (2,1). Em 2006, a Alemanha aprovou um incentivo à natalidade de 25 mil euros por cada nascimento. ::

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

UM POEMA DE FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO

Os grous?
As viagens separam-nos do passado. Se apenas viajássemos como grous, sem reconhecer as nações debaixo
da quilha do nosso esterno, se não trocássemos os idiomas e as unhas com os habitantes das novas geografias, seríamos nós. Porque o idioma é fechado e insondável em cada criatura, porque cada nação é o berço de uma língua e os meus poemas noutra língua não são meus. Quando viajamos no mundo
não sabemos quem fomos.
:: Fiama Hasse Pais Brandão (1938 - 2007),
falecida recentemente. in "Cenas Vivas", 200
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Fonte: PÚBLICO On-line

VIOLÊNCIA NO ENTRETENIMENTO

Bento XVI condena
excesso de violência
na indústria
do entretenimento
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Na sua mensagem para o próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa pede que os Media sejam capazes de respeitar as crianças
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Bento XVI manifestou a sua preocupação com o aumento de programas e produtos infantis que promovem a violência e comportamentos anti-sociais junto dos mais novos. Na sua mensagem para o próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa pediu que os Media sejam capazes de respeitar “padrões éticos” e ajudem na educação das crianças. "Qualquer tendência a realizar programas e produtos – inclusive desenhos animados e videojogos – que, em nome do entretenimento, exaltam a violência e apresentam comportamentos anti-sociais ou a banalização da sexualidade humana constitui uma perversão, e é ainda mais repugnante quando tais programas são destinados às crianças e aos adolescentes", refere o documento, hoje publicado pela Santa Sé. O Papa deixa mesmo uma pergunta: “como é que se poderia explicar este «entretenimento» aos numerosos jovens inocentes que, efectivamente, são vítimas da violência, da exploração e do abuso?”.
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Leia mais em ECCLESIA

IMAGENS DA GAFANHA DA NAZARÉ

NAUFRÁGIO
DO PRIMEIRO NAVEGANTE
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Estas fotos, antigas, são um desafio que lanço a quem me lê. Gostaria que alguém me dissesse em que ano é que isto aconteceu, na Praia da Barra, com o Primeiro Navegante a naufragar, junto ao areal. Recordo-me, vagamente, do acontecimento, mas gostaria de saber mais. Claro que o mais simples seria eu pôr-me à procura, mas o interessante será, de vez em quando, pedir ajuda. Ela aqui fica. Penso que foi este naufrágio que levou o pessoal da Gafanha da Nazaré a "pescar" bacalhau na Praia da Barra, sobretudo à noite. Os rombos provocados pelas ondas do oceano fizeram com que o bacalhau se escapasse do porão para as águas. Aí, o povo logo se lembrou de que era uma pena o bacalhau voltar ao mar e lá foi pescá-lo. Era um ver se te avias... para ver quem mais pescava, sem anzóis! Fico a aguardar pela ajuda.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 7

Loch Ness
DOIS POSTAIS ILUSTRADOS
DA ESCÓCIA
Caríssimo/a: Todos os países e regiões têm os seus postais ilustrados. Qual será o da nossa região? E da nossa terra? Da Escócia há dois que todos conhecemos ou não se tratasse do whisky e do monstro de Loch Ness . 1. Não sou grande apreciador desta “deliciosa quão famosa” bebida. Contudo, há anos o Peter teve a amabilidade de nos levar a uma destilaria. Visita guiada, assim como nas caves do vinho do Porto, terminando com a prova. Já vínhamos a caminho do carro quando, a propósito da água, nos é indicado o local e a forma da extracção do famoso líquido que está na base do Whisky. “São ideias”, pensei eu… e presunção. E lembrei-me daqueles cozinheiros que, nas feiras gastronómicas, vão elucidando que os seus cozinhados lá têm a água que trouxeram da sua terra!… Há dias, com a Enciclopédia Britânica na mão li este esclarecedor parágrafo: “The whiskies produced in each country (Scotland, Canada, Ireland, U. S) are distinctive in character because of differences in method of production, type and character of the cereal grains and, most important, the quality and character of the water employed. For example, Scotch whisky is inimitable because only Scotland can be found the spring water that rises through a red granite formation and then passes through peat moss country.” (EB, 23, 570) [O sublinhado é meu.] Temos que dar razão àqueles que dizem “água da Escócia” referindo-se ao tal whisky inimitável. [Parece que ainda estou a ver um certo ar de dúvida, ainda não estais convencidos… Pois bem, um testemunho insuspeito e de uma dona de casa: - Olha para isto, que maravilha a fazer espuma!… Esta água é mesmo boa, a sopa é só uma fervura rápida e está cozida! E então se não temos cuidado as batatas desfazem-se logo!… Vê lá que quando estão com tosse vão à torneira e bebem aquela água gelada…] 2. Era rapazinho dos meus doze anos quando se me abriram as portas dos armários da biblioteca da ti Madalena Russa. Um dos livros que nos veio às mãos (às minhas e às dos seus filhos, que me aceitavam como seu amigo de brincadeiras e passatempos), foi o que falava do monstro do Loch Ness, com toda a sua fantástica história e fantasmagóricas fotografias… Não foi, pois, sem alguma emoção e curiosidade que aceitámos a viagem proporcionada às margens do célebre loch (esta é uma palavra escocesa que quer dizer lago, pois claro, e que tem a sua pronúncia própria; só ouvindo…). Podia entrar no jogo do Nessie (desculpem: esquecia-me de dizer que os Escoceses chamam ao monstro, carinhosamente, Nessie!) e, sem pôr pitada de pintura, invenção ou imaginação, descrever os momentos que passei ali como dos mais intrigantes da minha vida: nevoeiro frio cerrado, de se cortar à faca, e que foi aumentando à medida que o tempo ia passando… Nós lá íamos espreitando, mudando de margem, para descobrir sombra ou rasto do Nessie… Não víamos nada além do nosso nariz. E ficámos a pensar se não teria sido uma brincadeira ou uma birra do monstro como quem diz “vêm estes armados em espertos e querem logo ver tudo… Muito já eles sabem. Desça o véu!” Li algures duas pequenas frases com as quais quero terminar, mas sem antes confessar a minha admiração pela lição que nos dão ao conservarem estas lendas e mitos como base da sua identidade! Pois então, amigo Nessie: “Para o teu bem espero que não existas. Mas se existes, espero que ninguém te encontre.” Manuel

UM ARTIGO DE ALEXANDRE CRUZ

UM ESPÍRITO ECUMÉNICO
1. O tempo actual não perdoa! Ainda que persistam os pesos institucionais, com a sua habitual cristalização, é irreversível uma transformação renovadora capaz de criar ponte comunicativa com a modernidade, esta que por vezes de moderno tem tão pouco. Duas atitudes serão incompatíveis com um “espírito ecuménico” de abertura aos tempos: uma, o embarcar na aceleração do tempo e ir a reboque das últimas modas; outra, o rejeitar o encontro com a realidade social que se transforma e é transformadora de tantos acessórios. Essas duas atitudes (ora de sedução exclusiva do novo, ora de rejeição da realidade do mundo), que parecem continuar a fazer o seu caminho, serão sinal de que, antes de tudo e com toda a urgência, haveremos sempre mais de apurar e desenvolver os valores da Humanidade (humana, próxima, aqui!). Sem dar primazia à vida real, que é convite à dignificação humana e ao “encontro” criativo com “outros” como nós, todo o castelo das ideias poderá ser insignificante ou, pelo pior, poderá ser mesmo destruidor dos fundamentais ideais e valores. 2. A história humana mostra-nos que falar de “política” sem ter no princípio e no fim de tudo o serviço à Pessoa e ao bem comum, poder-se-ão chegar a ideologias totalitárias capazes das maiores atrocidades; de modo semelhante, a história das religiões diz-nos que falar de “Deus” sem ter na sua raiz a frescura do ideal de dignificação (divinização) sensível de cada Ser Humano, toda a construção pode perder o referencial último, definitivo de tudo, e pelo caminho a incapacidade de diálogo poderá gerar intolerâncias e fundamentalismos trágicos que a história regista. Ergue-se, cada vez mais e em tempos únicos de globalização, por um lado a premência do diálogo inter-cultural-pessoal-étnico-comunitário-filosófico-religioso, por outro a necessidade de valorizar o específico, característico, referencial único de cada um dos parceiros desse diálogo; só nesta via a unidade na diversidade (com inclusão criativa) será luz de entendimento humano e ideal de caminho comum. Em que bases assentará o diálogo? Eis a pergunta mais aprofundada no último século; o diálogo, nem de surdos nem no vazio, só terá “razão” (e por isso pernas para andar) se for ao encontro da Verdade absoluta. Esta, por outras palavras vem-nos dizer que cada ser humano tem uma dignidade divina que nenhum sistema poderá bloquear. Eu e o outro, que pensa diferente de mim, pois eu penso diferente dele. 3. De 18 a 25 de Janeiro de cada ano celebra-se desde o início do século XX a designada Semana Ecuménica, que visa reforçar o espírito de convergência para a reunificação das Igrejas Cristãs (divididas na história por razões e contextos diversos – Séc. XI, divisão ortodoxa essencialmente por questões de cultura e língua; no Séc. XVI, no centro da Europa, a divisão protestante que tem na sua raiz a reacção justificada ao ambiente de cristandade católica que se tardou a renovar, divisão esta de foro filosófico-religioso). Séculos atrás de séculos, lutas atrás de lutas, energias gastas pelo domínio do “outro” que pesasse em importância estratégica e política até nos ambientes de domínio pós-descobertas. Conjunturas complexas estas que, quando não contextualizadas no seu tempo próprio e/ou com desonestidades intelectuais, trazem até ao presente – especialmente na Europa - reacções de pendor laicista, de rejeição religiosa, de euforias científico-tecnológicas, de incapacidade de incluir num projecto de ética comum todas as realidades, também a da fundamentação filosófico-religiosa nas suas virtualidades. Um novo espírito ecuménico está aí, sempre a repropor-se, e sempre a fugir. Quanto adiante poderíamos estar! Será que pelos menores frutos (vive-se na realidade um desencanto ecuménico) temos andado com orações e(m) diálogos de surdos? Quase que poderíamos dizer (como metáfora): Deus já ouviu e concorda! Século XXI, vamos concretizar, passar de orações e boas palavras à unidade efectiva na diversidade, à única Igreja Ecuménica! E depois, a um sempre maior diálogo inter-religioso e inter-filosófico e cultural que ofereça ao mundo horizontes efectivamente comprometidos de justiça, ética, solidariedade, paz mundial! Vamos, todos para o centro, não percamos mais tempo! Deus quer a unidades em diversidade! Porquê esperar mais agarrados a pormenores acessórios deitando a perder o essencial e descolorindo a missão?! 4. Temos a noção do alcance e do limite de nossas palavras. Da palavra “ecumenismo” vem-nos a noção de “casa toda habitada”. Toda a casa hoje do mundo bem precisa de um espírito ecuménico (em cada pessoa) capaz de proporcionar pontes, encontros e laços. É possível bem mais; talvez terá chegado o “tempo”, se as cúpulas religiosas assim desejarem efectivamente as comunidades (apesar de…) estarão na generalidade preparadas. As cúpulas querem mesmo (na sua disposição de abdicar de algo – o que não significa perder a identidade)?! Toda a releitura histórica, de memória e de perdão, do tempos de João Paulo II, terão criado (?) um ambiente de predisposição gerador da capacidade de “recepção” do “outro”. Ao lermos a história das divisões ela regista momentos determinantes de intolerância em que o espírito de cegueira humana gerou razões de exclusão do “outro”. O impulso de todas as razões e da própria nova era que vivemos cria, a cada dia, novas proximidades; estas são um irreversível desafio ao fortalecimento dos diálogos e à conversão de todos para um centro fora de si mesmo. Este centro para os cristãos será Cristo (não uma das Igrejas mas com todas), para as religiões será Deus amor (não uma das religiões mas a partir de todas), para toda a humanidade será a dignidade humana (com a inclusão de “partes” de todas as filosofias de boa vontade). Só um espírito ecuménico dará, hoje, razões à esperança para a UNIDADE que é tarefa de todos, de cada dia! (Este é um argumento transversal, mas que não chega minimamente para um compromisso das cúpulas das Igrejas Cristãs). Vamos!...

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

CENTRO DA GAFANHA DA NAZARÉ

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PROPOSTAS INTERESSANTES
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Segundo anunciou o presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, Ribau Esteves, foram já abertas as oito propostas para a requalificação do centro da Gafanha da Nazaré, abrangendo a área do antigo mercado e zonas adjacentes. O autarca considera que as propostas, que responderam ao desafio de um concurso de ideias, são muito válidas e interessantes.
Agora segue-se a fase de apreciação e de escolha, esperando-se que esse melhoramento traga outro visual à cidade da Gafanha da Nazaré, num futuro não muito longínquo.