segunda-feira, 12 de junho de 2006

Pobreza tem muitas causas

É PRECISO PROMOVER
O CONCEITO DE
"CIDADANIA ACTIVA" Entrevista ao Jornal da Madeira de Alfredo Bruto da Costa, Presidente do CES e Vice-presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz
É preciso promover o conceito de “cidadania mundial” a favor do bem-comum, tal como defende a Doutrina Social da Igreja há mais de 40 nos, a partir de João XXIII. A pobreza tem uma dimensão moral que não pode ser ultrapassada sem a necessária mudança de mentalidades a vários níveis. O emprego instável e a sustentabilidade da segurança social não se resolvem apenas por intermédio de factores económicos ou financeiros, mas sobretudo através de uma “filosofia política”, em que se garanta “o grau de solidariedade que cada sociedade está disposta a dar”, segundo Alfredo Bruto da Costa ao Jornal da Madeira.
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Para ler a entrevista, clique ECCLESIA

MISÉRIA EM ÁFRICA

Vaticano denuncia desinteresse do mundo com a miséria em África O jornal do Vaticano, “L’Osser-vatore Romano”, denuncia na sua edição de hoje em italiano a indiferença do mundo perante as tragédias humanitárias que se vivem no continente africano. “Distraído de forma culpável, o mundo continua a ignorar a tragédia que quotidianamente se vive na África”, afirma o diário, num artigo que tem como título “África, o escândalo da miséria”. “A cada dia que passa morrem 800 crianças africanas, simplesmente porque as suas famílias não podem pagar a consulta médica ou tratamentos sanitários de base. Bastaria muito pouco para salvá-las”, alerta o “Osservatore Romano”. O jornal do Vaticano lembra que “bastaria assumir os gastos de saúde que, ainda que sejam poucas moedas para os critérios ocidentais, pesam como chumbo para os orçamentos das famílias africanas”. “Apesar dos bons propósitos manifestados em várias ocasiões nas conferências internacionais, na África, o escândalo da miséria continua a matar vítimas inocentes”, refere-se. O OR cita o relatório “Paying with their lives” (Pagando com as suas vidas), publicado por Save the Children, a maior organização internacional independente para a defesa e promoção dos direitos humanos. Na cúpula do G8 de 2005- recorda um comunicado da organização- os governantes assumiram o compromisso de trabalhar com governos africanos para que estes possam garantir tratamentos gratuitos nos países ou áreas mais pobres do mundo, mas desde então 250 mil crianças já morreram, O artigo do OR conclui lançando um apelo para que os países mantenham o compromisso de “aumentar as ajudas ao desenvolvimento e de incrementar o acesso à saúde em alguns dos países mais pobres”.
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Fonte: Ecclesia

domingo, 11 de junho de 2006

Um artigo de Anselmo Borges, no DN

A presença real de Jesus Cristo
Ninguém sabe quantos portu-gueses conhecem a razão por que na próxima quinta-feira é feriado nacional. Estou convicto de que esse número é diminuto. Aliás, o mesmo se deve passar com a maior parte dos feriados religiosos e também os outros. O que mais interessa já não é a referência do feriado, mas o feriado em si. Na base do feriado da próxima quinta- -feira, Festa do Corpo de Deus, está um banquete. Dois banquetes marcaram o Ocidente. Um é O Banquete, de Platão, com todos aqueles diálogos sobre o amor nas suas várias perspectivas. O outro é a Última Ceia de Cristo, enquadrada também por um longo discurso sobre o amor e na iminência da morte. Jesus tomou o pão e o cálice com vinho, pronunciou a bênção e disse: "Tomai, comei e bebei, isto é o símbolo da minha vida entregue por amor e salvação de todos."
Os primeiros cristãos, animados pela fé no Jesus crucificado e ressuscitado para a vida do Deus-Amor vivente, juntavam-se à volta da mesa numa refeição fraterna e festiva - quem presidia era o dono ou a dona da casa - e alimentavam-se do Pão e da Palavra, aprofundando a fé, a esperança e o amor.
Essas celebrações lembravam a Última Ceia e também aqueles banquetes que Jesus tivera ao longo da vida. Banquetes frequentemente escandalosos, pois Jesus comia e convivia com pecadores e publicanos, marginalizados e gente de vida pouco recomendável. Por outro lado, tornava-se por vezes um hóspede inconveniente e até insolente, já que aproveitava a ocasião para denunciar a hipocrisia e o modo de vida dos líderes.
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Para ler todo o artigo, clique aqui

Uma reflexão do padre Georgino Rocha

Quem
é o nosso Deus?
Jesus apresenta-se, hoje, de modo totalmente novo e original. Os discípulos reconhecem a diferença e, respeitosamente, ajoelham em adora-ção. Acontece este episódio em Galileia, terra onde “tudo começou”. Também agora, vai recomeçar uma nova fase. Qualitativamente diferente. Defini-tivamente envolvente. Obrigado, Senhor Jesus, por esta nova fase tão expressiva e surpreendente. Para ti e para nós. Mostras-te como Senhor, o único que pode tudo, em toda a parte e para sempre. Recorres a títulos próprios de Deus. Usas uma linguagem ousada, nunca ouvida. Queres ter discípulos em todos os povos. Defines os horizontes do trabalho dos teus apóstolos. Estabeleces as regras fundamentais que devem observar. “Ide, ensinai, baptizai quem acreditar. Fazei tudo isto em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Dás, assim, início à missão que comporta uma dupla realidade: introduzir o ser humano na intimidade divina e fazer conhecer quem é Deus: uma família de pessoas. É admirável, Senhor, esta verdade que desperta e mobiliza a nossa vocação fundamental: somos filhos de Deus pelo baptismo, partilhamos a sua mesa na eucaristia, assumimos a parceria da sua missão de “gerir o mundo”, cultivando a sintonia de sentimentos e celebrando os sacramentos de serviço, designadamente o matrimónio e a ordenação. Senhor Jesus, a dignidade humana encontra aqui o seu alicerce mais sólido. O único definitivamente válido. O único que revela o valor relativo de todos os outros, ainda que oficializados em solenes declarações. Todos somos irmãos em humanidade. Cada um é chamado a fazer-se irmão pela vida nova que tu ofereces e queres fazer chegar sempre mais longe. A ninguém pode ser negada ou destruída esta dignidade que tem as suas raízes no próprio coração de Deus. E este Deus é uma família de pessoas. Cada uma tem nome próprio: Pai, Filho e Espírito Santo. Que bom, Senhor, seres tu a dizê-lo! Ninguém teria tal ousadia. Os nomes indicam também as funções que elas realizam. Vivem em comunhão plena, em relação recíproca constante, em dádiva permanente. Não anulam as diferenças, mas integram-nas em admirável e fecunda harmonia. São, Senhor Jesus, a Santa Tri-Unidade ou a Santíssima Trindade, a fonte escondida e inesgotável da vida presente e futura.

10 de Junho

Valores e Símbolos que temos de cultivar O dia 10 de Junho continua a ser o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Mesmo sem o apoio popular, já que o povo está mais voltado para as alegrias que o Futebol lhe possa dar, é bom que o Presidente da República insista em programar a celebração do 10 de Junho. Apesar da notória indiferença dos nossos compatriotas pelos feriados nacionais, algo ficará dos discursos de circunstância proferidos nos actos comemorativos, em que se celebra Portugal, o nosso maior poeta épico e as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, onde vão perpetuando a nossa língua, os nossos costumes e as nossas culturas, ao mesmo tempo que alimentam as saudades pelo torrão natal. Eu não sei se nas escolas, nas famílias, nas instituições e nos clubes de cultura e recreio se fala do Dia de Portugal, com uma preocupação pedagógica, aos mais novos. E se não, julgo que seria importante que de futuro os programas anuais contemplassem esse propósito, para não ouvirmos, como já ouvi, os maiores disparates sobre o que se celebra no Dia 10 de Junho. Portugal, Camões e as Comunidades Portuguesas merecem, de facto, que nos debrucemos sobre os valores e os símbolos que eles têm para nos oferecer. Se não o fizermos, perderemos muito da nossa identidade, como povo e como Nação. Fernando Martins

Citação

“Estou firmemente convicto de que o convívio com os livros reforça a nossa inteligência e acentua os valores éticos e sociais que são essenciais para a vida em comunidade. Foi pelos livros que aprendi o valor da liberdade e da coragem, da frontalidade e da ousadia, da dignidade e do respeito pelos desfavorecidos. Foram os livros que me ensinaram a sonhar, sorrir, chorar, sofrer, gozar, perder e ganhar; afinal, foram os livros que me ensinaram a viver.”
José Miguel Júdice, no PÚBLICO de sexta-feira

Gotas do Arco-Íris - 21

ESPANADORES,
POIS CLARO! Caríssimo/a: Madre Teresa de Calcutá é interpelante e, na sua figura pequena e frágil, consegue colocar pedras seguras ao longo do difícil caminhar da Humanidade. Já assim Francisco de Assis e tantos e tantas que se apagaram para que refulgisse a Luz... Há dias tropecei com algumas das suas palavras que me fizeram parar um pouco e rever os últimos anos da minha existência... Ri-me com vontade quando ela afirma que “o teu espírito é o espanador de qualquer teia de aranha”... E depois não pára: “quando não possas caminhar, usa a bengala. Mas nunca te detenhas! Faz com que, em lugar de pena, as pessoas sintam respeito por ti.” Claro que eu podia escrever isto, mas sendo da Madre Teresa tem outro peso... Pois bem, é com esse peso que te quero deixar; mas antes permite que recorde três datas relativas à nossa Terra: Há 150 anos, no dia 1 de Junho de 1856, foi fundada a Sociedade Musical, na Murtosa, orientada por Agostinho António Leite. Em 1861, no dia 30 de Abril (já passaram 145 anos), foi a conclusão dos trabalhos da construção da estrada da ponte do Estaleiro ao Forte, ou seja daquela rua a que pomposamente chamamos Avenida de José Estêvão... E em 1881, há 125 anos, a 24 de Dezembro, era criada a escola feminina da Gafanha da Nazaré... Será que «espanadores precisam-se» para arejarmos as nossas teias de aranha?! E bons Amigos, não façamos como uma vizinha que mora já ali e me disse que tinha vergonha de andar com a bengala: se precisarmos de uma bengala, encomendemos duas... para andarmos mais direitos!
Manuel

quinta-feira, 8 de junho de 2006

BARCELONA: Obra-prima de Gaudí

Sagrada Família de Gaudí
abre ao culto em 2008
Catedral da Sagrada Família de Barcelona, obra inacabada do arquitecto catalão Antonio Gaudí, será aberta ao culto religioso no final de 2008. A informação foi divulgada pelo presidente do Patronato da construção, Joan Rigol. Rigol ressaltou que a obra arquitetónica não será somente um lugar de oração, mas "um ponto de encontro da religiosidade, arte e cultura". Joan Rigol disse à imprensa que assim que o tecto da nave central da Igreja for coberto (fechando o tecto da nave à altura do cruzeiro, da abside e da parte interior da fachada principal, actualmente descobertos) e a autorização do Arcebispo for dada, o grande sonho de Gaudí (1852-1926) será realizado. O artista foi enterrado na cripta da basílica, em 1926. A imponente obra que Antoni Gaudí deixou inacabada é, apesar disso, o exemplo mais representativo da genialidade do arquitecto catalão. Os trabalhos iniciaram-se em 1883, e as partes pessoalmente concluídas Gaudí foram a Cripta Neo-Gótica, parte da abside e a fachada da Natividade. Das quatro torres desta última, o autor apenas viu concluída a dedicada a São Barnabé. Após a morte do arquitecto, os trabalhos continuaram, mas em 1936, durante a guerra civil Espanhola, os desenhos e maquetas deixados por este foram destruídos por um incêndio, tendo o projecto sido retomado mais tarde em 1952.
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Fonte: Ecclesia

HERA apresenta...

:: "O MEU HERBÁRIO"
Estão disponíveis na página da HERA-Associação para a Valorização e Promoção do Património (www.heraonline.org), na secção "Diário de Viagem", as fotografias relativas à nossa última actividade de sensibilização ambiental: "O meu Herbário".
A actividade foi desenvolvida em colaboração com a Câmara Municipal de Aveiro, no âmbito da campanha Bandeira Azul, e acompanhada pela biologa TERESA SERAFIM, da HERA.
Mais informações no site www.heraonline.org.

BUSS – Balcão Único de Solidariedade Social

Solidariedade em rede
é urgente
para se chegar a mais gente
Criado em Outubro de 2004, no âmbito do projecto Aveiro Digital, o BUSS – Balcão Único de Solidariedade Social tem de se tornar auto-sustentável, quando completar dois anos de existência. Para isso, precisa de alargar o seu raio de acção, “massificando” a quantidade de instituições e de pessoas, para atingir uma abrangência regional e mesmo nacional, sublinha Tiago Lagarto, representante neste consórcio do CNE (Corpo Nacional de Escutas) e gestor do projecto, do qual fazem parte mais sete parceiros, nomeadamente, a Associação Betel de Ponte de Vagos, a Cáritas Diocesana de Aveiro, a Delegação de Aveiro da Cruz Vermelha Portuguesa, a Obra da Providência da Gafanha da Nazaré, o Centro Social Paroquial de Nossa Senhora de Fátima, a Rádio Terra Nova da Gafanha da Nazaré e a empresa Senso Comum. Para o nosso entrevistado, este consórcio nasceu por todos os parceiros acreditarem que, nos tempos que correm, se tornar urgente a solidariedade em rede, para se chegar a mais gente. E se é verdade que todas as instituições vivem a solidariedade em relação às pessoas, também é imperioso fazer com que as instituições cultivem a solidariedade entre si, adianta-nos Tiago Lagarto. “Neste momento, o nosso raio de acção está demasiado limitado, existindo poucos cidadãos, instituições e empresas registados no portal do projecto, que mora em http://www.bussocial.org/”, frisa o nosso entrevistado. O registo é indispensável, quer para quem deseja oferecer bens e serviços, quer para quem pretende recebê-los. O processo de registo é facílimo e gratuito, ao mesmo tempo que viabiliza uma iniciativa de grande alcance social, totalmente voltada para quem cultiva o gosto de dar e para quem precisa de receber. As ofertas, que têm de ser registadas no BUSS, não acarretam para quem dá e para quem recebe qualquer despesa, “a não ser o tempo que é preciso para quem oferece e para quem quer receber se encontrarem; a partir daí, é necessário ir buscar os bens oferecidos ou ter uma porta aberta para os acolher”, esclarece. E acrescenta: “por exemplo, ainda não temos nenhuma instituição no Porto que seja capaz de receber as ofertas que têm sido doadas nessa cidade.” O portal não faz, neste momento, nenhum serviço de transporte ou de armazenamento dos bens (aceitam-se ofertas), porque a sua função apenas se situa ao nível do estímulo da troca e da implementação da solidariedade on-line. “Depois dos contactos estabelecidos através do BUSS, as instituições e os cidadãos têm de se entender para se concretizar a doação e a recepção”, refere Tiago Lagarto. “A solidariedade em rede – lembra – cultiva a máxima de que ‘o que não serve para um pode servir para outro’, sendo certo que nem sempre o primeiro tem conhecimento de alguém que possa necessitar de um bem que já não lhe serve para nada, na empresa ou em casa.” Adianta que, frequentemente, pessoas, instituições e empresas atiram para o lixo ou inutilizam objectos que podem ser muito úteis para outros. “Este conhecimento de que um bem ainda pode servir só pode existir se houver a noção de que estamos em sociedade e que há necessidades diferenciadas nas comunidades”, refere. No BUSS, os objectivos sublinham que “não há apenas partilha de bens, mas há ainda partilha de conhecimentos e de disponibilidades; não podemos pensar que somente temos objectos para oferecer, porque o nosso tempo também pode e deve ser partilhado”, acrescenta o nosso interlocutor. Nessa linha, o portal pode dar uma ajuda, registando as ofertas de horas livres que cada cidadão pretende oferecer à comunidade. Neste momento, o CNE, que é uma escola de valores em que avulta a solidariedade, apenas está representado pelo Agrupamento nº 588 da Gafanha da Nazaré, “mas os órgãos regionais já estão por dentro do assunto”. Em breve, vai ser dinamizada uma iniciativa de divulgação do projecto dentro do Escutismo, “para trazermos mais Agrupamentos e mais jovens a esta rede”, salienta Tiago Lagarto. “O BUSS pretende implementar – garante – acções educativas junto daquela organização juvenil, no pressuposto de que o CNE tem na solidariedade um dos valores mais fortes.” “O BUSS não quer substituir nada nem ninguém; somente deseja facilitar a vida a todos. Há, de facto, algumas dificuldades por parte de certos sectores da nossa sociedade em aderirem às novas tecnologias, mas também há resistências ao conceito de solidariedade”, enfatiza o nosso entrevistado. Essas dificuldades e resistências, “que são um perigo”, devem levar-nos a insistir e a acreditar que “é possível e urgente facilitar a vida às pessoas e às instituições”, numa época em que as preocupações nos absorvem e nos levam a esquecer ou a ignorar os outros, sobretudo os que mais precisam. Quanto aos bens a ofertar, Tiago Lagarto dá como exemplo o facto, hoje muito frequente, de empresas e famílias reformularem os seus sistemas informáticos e outros equipamentos, bem como mobiliário, não sabendo, normalmente, o que hão-de fazer deles. Urge, então, dizer a todos que “esses bens afinal ainda poderão ser muito úteis a pessoas ou instituições”. Refere que os ofertantes podem até usufruir da Lei do Mecenato, porque as instituições beneficiadas passam recibo. Quanto aos bens alimentares, aponta um caso recente: “Uma empresa tinha um lote de cereais para bebés, cujo prazo de validade estava em vias de caducar. Feito o registo da doação, o lote dos cereais foi entregue a uma instituição, que resolveu partilhar a oferta com outras instituições, por não ter capacidade para consumir tudo nos prazos estabelecidos.” Fernando Martins

Um artigo de D. António Marcelino

DIREITA
E ESQUERDA…
JÁ CHEGA
DE MARCAR PASSO A prova de que a linguagem “direita e esquerda” é redutora e perde cada dia mais sentido está no facto de que anda tudo baralhado. Agora já se diz que o governo de esquerda faz política de direita, como se titula, com displicência, de direita, o que há socialmente de mais progressivo, como o respeito pela vida e pela família, bem como pela promoção e pela defesa de uma e de outra. Também se teima em rotular a Igreja de direita retrógrada, ela que é a instituição que há mais tempo e de modo mais organizado e persistente, promove a acção social em favor de todos e é quase a única que está viva e activa em campos sociais difíceis, que ninguém quer, nem deseja. Do mesmo modo são de direita conservadora as propostas de cariz ético, indispensáveis no campo da investigação e das novas tecnologias com dimensão antropológica. Classificar de direita ou de esquerda a actividade social, institucional e humana por razões meramente ideológicas e políticas, quando a realidade contradiz os conceitos e a acção se reduz a palavras fáceis, é inverter todo o sentido de uma responsabilidade social alargada e marginalizar instituições e pessoas, úteis e comprometidas, em favor de amigos e de interesses que surgem logo quando o vento é favorável. Já chega de marcar passo para ficar sempre colado ao mesmo chão. Ao lado muitas coisas vão desabando, enquanto se discute tudo para se saber o que é de direita ou de esquerda. Ver a sociedade apenas pela janela de uma ideologia de valor relativo ou de uma política limitada nos seus postulados e objectivos, é empobrecer cada vez mais a mesma sociedade, e continuar a levantar muros, onde é urgente derrubar os que restam. Mais do que discutir o campo da direita ou da esquerda, é importante pensar, correctamente, os problemas que afectam as pessoas e as suas vidas, unir esforços e gerar consensos e compromissos para lhes procurar a solução possível. Há problemas graves como a educação com sucesso futuro na escola e na família, a marginalidade juvenil, a instabilidade no trabalho, a insegurança de pessoas e bens, a crescente miséria material e moral, o decréscimo acentuado da natalidade, a instabilidade conjugal e familiar, o escandaloso clientelismo partidário, o poder incontrolável da comunicação social, a apatia dos jovens, frente a um futuro cada vez mais fechado, o desencorajamento e o pessimismo generalizados, a situação injusta e deprimente de muitos idosos que a família de sangue já “matou” e esqueceu, a loucura anestesiante do desporto por parte de gente que não o pratica, o aumento do custo de vida e das coisas essenciais, sem outro horizonte de que amanhã será pior, tudo problemas conhecidos, que não se compadecem com o marcar passo de discussões pouco menos que inúteis. Não há saída para estes problemas se se passar o tempo a pôr rótulos e a aproveitar as situações mais difíceis e problemáticas, para ataques mútuos, sem uma acção conjunta que se enriqueça com as diferentes sensibilidades e propostas. Em quadrantes ideológicos diversos há gente séria e honesta, solidária e generosa, que quer colaborar na procura do bem comum, em aspectos bem concretos e difíceis do mesmo. O tempo é de acção orientada. Quem tem mais púlpito nos meios de comunicação, sejam políticos ou outros agentes sociais privilegiados, nem sempre parece preocupado em abrir janelas para novos horizontes de vida e de acção. Há quem diga que é incultura. Não o será sempre.

quarta-feira, 7 de junho de 2006

Desenvolvimento Sustentável

Curso de Verão AURN com inscrições abertas

Universidade de Aveiro «Desenvolvimento Sustentável:

Estratégias para o Século XXI»

«Desenvolvimento Sustentável: Estratégias para o Século XXI» é o tema do Curso de Verão que vai decorrer na Universidade de Aveiro, entre 9 e 14 de Julho. Esta iniciativa, promovida pela Associação das Universidades da Região Norte (AURN), é uma excelente oportunidade para aqueles que preferem combinar as suas férias com um programa de desenvolvimento pessoal. As inscrições estão abertas. Os destinatários são profissionais ou estudantes que frequentem estudos superiores. As palestras serão proferidas por especialistas de reconhecido mérito nas respectivas áreas e complementadas com visitas de estudo. Os temas focados serão: As conferências mundiais e os pilares do desenvolvimento sustentável; Protocolo de Quioto e seus Mecanismos; Política e instrumentos de ambiente na União Europeia; Poder político, comunidades locais e desenvolvimento sustentável; e Desenvolvimento Sustentável: que Futuro? As inscrições terão uma taxa de inscrição no valor de 475 euros, incluindo aulas, visitas e actividades relacionadas com os cursos, documentação de apoio, o transporte local, almoços e coffee-breaks (de segunda a sexta-feira) e jantares de abertura/encerramento. Os funcionários docentes e não docentes da UA, professores do ensino secundário e alunos usufruem de um desconto de 20 por cento (inscrição: 380 euros). Informações mais pormenorizadas poderão ser solicitadas à UNAVE, através do Tel.: 234 370 833, Fax: 234 370 835 ou através do E-mail: correio@unave.ua.pt. Os candidatos poderão ainda obter informações acerca dos cursos ministrados nas outras universidades pertencentes à AURN em http://www.cursosdeverao.aurn.pt
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CASAMENTO

Número de matrimónios em 2005 desce para níveis da década de 1940
O número de casamentos em Portugal continuou a baixar pelo sétimo ano consecutivo sendo que em 2005 ocorreram apenas 48.667, número que só tem paralelo com os anos 1940, avança o Diário de Notícias.
Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que no ano de 1940 se registaram 46.618 casamentos. Desde 1900 até 2005, o ano em que houve maior número de matrimónios (103.125) foi o de 1975, ano da Revolução dos Cravos, a 25 de Abril. Entre 1975 até 2005, registou-se uma redução de 39 por cento no número de casamentos, avança o Diário de Notícias.
A socióloga e autora do livro "Casamento em Portugal", Anália Torres, em declarações ao diário diz que a diminuição do número de casamentos "terá a ver com o envelhecimento da população" o que acontece um pouco por toda a Europa. Para o sociólogo, investigador do Instituto de Ciências Sociais, Pedro Moura, o decréscimo de matrimónios justifica-se por uma "certa descrença no casamento", que se prende com uma "tendência para a individualização e um não comprometimento".
De acordo com a socióloga Anália Torres, o casamento não está em crise, porque muitos dos divorciados voltam a casar. A socióloga refere ainda que "as pessoas têm cada vez mais a partir para uma coabitação e, só depois para o casamento". Contudo a percentagem de uniões de facto em Portugal é das mais baixas da Europa, significando apenas quatro por cento. Na União Europeia, um quinto da população adulta (20 por cento) vive em uniões de facto.
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Fonte: SOLIDARIEDADE

Programa de Enriquecimento Curricular

Escolas de 1º ciclo
têm de oferecer
duas horas diárias
de enriquecimento
curricular
No próximo ano lectivo todas as escolas do 1.º ciclo do ensino básico terão de disponibilizar aos seus alunos pelo menos duas horas diárias (dez semanais) de actividades de enriquecimento curricular. O primeiro-ministro, José Sócrates, e a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, vão hoje à Escola do 1.º ciclo do Ensino Básico Viscondessa de Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos, para apresentar o Programa de Enriquecimento Curricular. O objectivo deste plano é garantir que todas as escolas do 1.º ciclo funcionam até às 17h30 - por um período mínimo de oito horas diárias, o que até agora não acontecia em todas - e que têm uma oferta variada para ocupar os tempos dos meninos para além das 25 horas semanais de actividades curriculares que lhes são leccionadas.
Do ensino da música a actividades desportivas, há um leque de áreas previstas mas a ideia é que a oferta seja pensada sobretudo em função do contexto local.
Obrigatório é que dessas actividades façam parte, no mínimo, 90 minutos por semana de Apoio ao Estudo e 135 de Ensino do Inglês para os alunos dos 3.º e 4.º anos.
O enriquecimento curricular (que a escola tem de oferecer, mas de que as famílias podem não querer usufruir, uma vez que a inscrição dos alunos nestas actividades não é obrigatória) pode acontecer no espaço da escola, em salas de aulas, centros de recursos, bibliotecas, por exemplo.
Mas também podem ser utilizados espaços não escolares - por exemplo, se a escola tiver uma parceria com um estabelecimento de ensino profissional de música local, os meninos podem ser deslocados para as instalações deste último, para ter aulas de música.
Um despacho de 26 de Maio, noticiado pelo PÚBLICO no domingo, define as regras. São exemplos de actividades de enriquecimento curricular o Apoio ao Estudo, o ensino do inglês ou de outras línguas estrangeiras, a actividade física e desportiva, o ensino de música e outras expressões artísticas.
A actividade de apoio ao estudo (pelo menos uma hora e meia semanal obrigatória) "destina-se nomeadamente à realização de trabalhos de casa e de consolidação das aprendizagens", refere o despacho da ministra da Educação.
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Manipulação genética

Documento do Conselho Pontifício para a Família critica manipulação genética e uniões homossexuais
:: SANTA SÉ REAFIRMA POSIÇÕES SOBRE A FAMÍLIA E A PROCRIAÇÃO
A Santa Sé denuncia, num novo documento, o risco de manipulação genética seja no que diz respeito ao “uso de embriões”, seja relativamente à “intervenção através da inseminação artificial ou a fecundação in vitro no processo de fecundação”. A posição é assumida no documento do Conselho Pontifício para a Família (CPF), “Família e Procriação humana”, enviado aos episcopados de todo o mundo e divulgado pelo Serviço de Informação do Vaticano. "O ser humano espera ser gerado e não produzido, chegar à vida não em virtude de um processo artificial, mas por um acto humano no sentido pleno da expressão", explica o CPF. "A procriação deve acontecer sempre no interior da família", destaca-se. O documento sublinha que “a procriação é o meio de transmissão da vida por uma união de amor entre homem e mulher”, pelo que deve ser “verdadeiramente humana”, isto é, “fruto do acto humano, livre, racional, responsável”. No texto é feita uma referência às “insólitas uniões” entre homossexuais e aos “ataques violentos” contra a família e o matrimónio tradicional, considerando que os mesmos são um sinal do “eclipse de Deus”. "Nunca como agora a instituição do casamento e da família foi vítima de ataques tão violentos", destaca o texto. "Neste clima cultural, os grandes desafios à família e à procriação responsável tornam-se cada vez mais ameaçadores: contra a família, pois o homem é concebido apenas como indivíduo, uma espécie de Robinson Crusoe; e contra a procriação responsável, pois o homem assim concebido deve tentar todas as possibilidades da ciência e da técnica para a produção de um novo homem", explica o CPF. Segundo a nota explicativa do documento, a cargo de Fr. Abelardo Lobato, O.P., consultor do CPF, a intenção desta nova publicação é “ser objecto de estudo, tanto na sua doutrina, como na sua aplicação pastoral”. A temática “família e procriação” é desenvolvida em quatro capítulos: “o que implica a procriação; porque é a família o único lugar apropriado para a mesma; o que se entende por procriação integral na família; que aspectos sociais, jurídicos, políticos, económicos e culturais implica o serviço à família”. Um último capítulo propõe duas perspectivas da Igreja sobre a família: a teológica e a pastoral. O CPF relembra que o respeito pela pessoa e a sua dignidade levam, por parte da Igreja, “à condenação radical do aborto e à recusa da separação entre as duas dimensões, a unitiva e a procriativa, como a redução da sexualidade a mera função fruitiva”. Fazendo referência ao Concílio Vaticano II, a João Paulo II, ao Catecismo da Igreja e ao recente Compêndio da Doutrina Social da Igreja, este documento quer “não só propor uma orientação doutrinal para o problema, mas também abrir portas para a investigação futura das questões que hoje são objecto de discussão”.
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Fonte: Ecclesia

Um artigo de António Rego

Plantel
de heróis
Andam professores e alunos na recta final dum ano que tem muitos ângulos de observação. Mudaram os tempos, a concepção de autoridade, os métodos pedagógicos, os meios de investigação. Professores e alunos vão no mesmo barco, num mar por vezes conturbado, batido por ondas que nada têm a ver com o ensino, a aprendizagem, a cultura ou o conhecimento. O país mudou. Nas escolas básicas, secundárias e superiores, sente-se que o aprender não é o luxo de alguns mas a possibilidade de todos, apesar de não em todos os graus. Quem visita o nosso país, só por cegueira o não observa diferente, quase irreconhecível em relação ao que era como escolaridade há cinquenta ou sessenta anos. Há, entretanto, quem pense que as escolas são fábricas de ignorantes que não sabem ler nem escrever, nem soletram português ou riscam matemática que se veja. As saudades da tabuada deixam proferir juízos primários sobre a evolução do ensino no nosso país. Tudo bem? Nem pensar. Mas não vale a pena dizer que nada melhorou nem evoluiu, batendo no ferro frio de que as crianças e jovens nada sabem. Estamos perante mais um facto complexo e humano que se não resolve apenas com novos edifícios, modernização de métodos e pedagogias, ou meios tecnológicos modernos que oferecem a ilusão de posse total de ciências velhas e novas. Há dimensões de humanidade que nunca estão fechadas pois tanto professores como alunos são seres humanos com uma dimensão espiritual que dá altura a qualquer cultura e civilização. Continuam de pé problemas graves como a escolha livre das escolas, a vocação dos professores, o ensino a alunos de maior complexidade, a personalização de cada estudante, a escola como complexo cultural e formativo do todo da pessoa. O fim de ano lectivo é um tempo de reconhecimento aos heróis e heroínas, que nos novos tempos aceitam a missão e profissão de revelar os saberes aos mais jovens. Os professores continuam a fazer parte do plantel dos nossos discretos heróis.

Um artigo de Alexandre Cruz

Uma bandeira
nas pernas As coisas são como são, mas também como as fazemos. E o certo é que a força popular fez do futebol o maior espectáculo dos tempos modernos. Goste-se ou não se goste, aprecie-se ou não as jogadas e os golos, mas a força que contagia está sempre garantida. E ninguém obriga ninguém, não há nenhum imperativo obrigatório que crie a necessidade de ver, acompanhar, apostar. É o gosto de cada um a comandar toda esta multidão planetária, ainda que depois cada um seja comandado por todo um enredo de circunstâncias e factores que fazem do futebol algo de quase “sobrenatural” em que tudo se compreende, tudo se compra e tudo se perdoa. As emoções preparam-se para chegar ao rubro (seja na vitória seja na derrota) como se estivesse em causa a salvação nacional, dias imaginários que vêm encher de cor os dias tristes das mais variadas dificuldades ou mesmo os dias queimados dos incêndios da época que abriu com o mês de Junho. Mais que o futebol jogado no campo, a guerra da bola hoje é outra bem diferente. Contudo, “do mal o menos”, que seja em campos de futebol que as batalhas deste século sejam realizadas! Trata-se de uma autêntica guerra de estrelas, impensável racionalmente…por isso já há muito tempo que a razão fugiu desta impressionante emoção. Cada chuteira, cada camisola, etiqueta, o mais insignificante pormenor vale milhões! O mundo “está” na Alemanha, cada segundo de publicidade vale ouro; está em jogo um investimento publicitário de mil milhões de euros, destes a FIFA arrecadará 258 milhões, em audiências de biliões “espaciais” de pessoas; entre nós, cada rádio e cada televisão tem pelo menos um hino, uma camisola; cada anúncio fala de bola, de vitória, da bandeira como símbolo de que desta é que vai ser. Não deixa de ser cómico que quando Portugal nos Sub 21 foi afastado (por mérito próprio!...) em viagem de carro eis que o hino futebolístico da rádio fortemente gritava “Portugal é campeão, Portugal é campeão!” Que coisa ridícula esta em que pomo-nos em bicos de pés, pensando que no mundo só nós é que existimos! Ao menos faça-se o hino a pensar na mediania, ou então crie-se também o hino da derrota!… Bom, que Portugal é campeão das expectativas e da envolvência emotiva ao redor deste “algo” que nos motive, lá isso é verdade! Quando sabemos que no Brasil não há nenhum jornal diário de futebol e que a festa faz parte do samba no país campeão, comparando com os nossos diversos jornais diários dedicados à bola e à promoção exacerbada da bola, escabulhando tudo até ao insignificante pormenor que alimente polémica, então apercebemo-nos do estado das coisas. Damos importância demais ao que tem pouca importância, sobrevalorizamos o que não tem valor no verdadeiro sentido dos valores, tornamos deuses atletas que correm atrás da bola (sendo certo que têm mérito mas façam o que fizerem, nem que venha um cartão vermelho, estão sempre “na maior”!), ouvimos o treinador Mourinho como se fosse o salvador da honra e da auto-estima da pátria. Levamos o futebol a sério demais apurando tudo ao pormenor, e noutras matérias, definitivamente importantes, muitas vezes, perdemo-nos e afundamo-nos em meias tintas! Hoje, estes minutos, há meio mundo a explorar as emoções e projectar todas as esperanças contra outro meio mundo! Não duvidemos, não somos os únicos a olhar o céu…este discurso vitorioso, ampliado pela força comercial e publicitária faz como que em todos os países todos sejam campeões! Agora o mais importante será não embarcar demais na vitória antecipada, até porque emoções rima com desilusões e depressões! Naturalmente que desejamos aos nossos especialistas investigadores da bola, seres “sobrenaturais” (isentos de toda a mácula façam o que fizerem ou digam o refrão de banalidade que disserem, cumpram ou não com o fisco, façam ou não “algo” de bom a sério por este mundo – e tanta obrigação teriam para isso! -,…), desejamos o melhor caminho, a melhor dignidade possível nesta representação desportiva, como o mesmo esperamos de todas as modalidades desportivas, iniciativas e causas que nos iluminem. Ao cidadão comum, que muitas vezes projecta em excesso toda a sua “esperança” no desporto Rei (que muito apreciamos!), mais vale a prudência que a euforia. Neste Mundial, como habitualmente, vamos perder! E no dia seguinte tudo continua como dantes, até porque é possível viver sem o futebol! Já agora, “não é por nada”, até seria bem interessante, depois da magnífica “jogada” do Euro 2004, que não perdêssemos nenhum jogo!... Mas para lá chegar ao triunfo, como em todos os campos da vida, não são os nomes das camisolas nem as bandeiras das casas que marcam o golo. É preciso humildade e espírito de sacrifício, o mesmo é dizer: colocar uma bandeira de motivação (esta, a chave da vitória) nas “pernas” e na vida de todos os dias!

Um artigo de Maria José Nogueira Pinto, no DN

Educação:
insistir
num modelo
sem futuro?
Em Espanha, a propósito da alteração da Lei da Educação, os professores denunciaram os quatro mitos que consideram responsáveis pelo fracasso do sistema: - O mito de aprender fazendo; o mito da igualdade; o mito do professor amigo; o mito da educação sem memória. Declararam-se também, maioritariamente, simplesmente fartos: - Da falta de esforço; da falta de autoridade na aula; do excesso de especialização; da integração sem meios; da deterioração do ensino público. Interrogo-me se, em Portugal, os professores (não só os "pedagogos", não os teóricos, não os sindicatos) não dariam do sistema português, dos seus mitos e ameaças, uma imagem aproximada. Fiz toda a minha aprendizagem em escolas públicas. Descontando o muito que aprendi em minha casa, é-me hoje possível confirmar sem sombra de dúvida, o quê e o quanto me foi ensinado nessas salas de aula. A escola do Estado Novo veio a ser acusada de mil e um defeitos, descrita como soturna e repressiva. Porém a minha geração, oriunda das mais diversas classes sócio-económicas, aprendeu. E guarda desse tempo uma memória mais banhada em ternura e nostalgia que marcada pela frustração ou revolta. É certo que eram ainda muitos os que não chegavam lá. E se "chegarem todos lá" se tornou justamente um objectivo, a questão que se coloca é a factura a pagar por uma massificação sem qualidade e com os fracos resultados que conhecemos. Os meus filhos passaram todos pelo ensino público que continuei a mitificar como uma experiência indispensável num processo escolar. Deram-se bem. A última vez que fui a uma reunião de pais, o progenitor da pior aluna explicou-me que o facto de a minha filha ter boas notas se devia a nós termos uma biblioteca em casa e ele não. Pareceu-me uma justificação simplista mas elucidativa de um estado de espírito autojustificativo que marca, em grande parte, o conformismo dos pais em relação aos seus filhos estudantes. Nos últimos 30 anos, a educação tem sido campo de experiências sucessivas, com leis e meias reformas, tornando cada geração uma grande cobaia, na qual se testam teorias e teimosias. Simultaneamente caíram intramuros escolares novos e agudos problemas sociais que deviam ter resposta a montante e a jusante, mas não têm. A escola transformou-se num espaço multifunções, exigindo-se que faça tudo menos ensinar: intervenção social, psicologia, tratamento da pré-deliquência, substituição da rede familiar, prevenção da violência doméstica, remédio para o abandono, a subnutrição, a doença e ainda o esforço diário de contrariar uma cultura de irresponsabilidade e laxismo. A classe dos professores é tida como uma das mais relevantes socialmente e, paradoxalmente, é uma das mais desrespeitadas. Para o que se lhes pede, são escassos os instrumentos de que dispõem para, com autoridade e eficácia, responder aos problemas daquele quotidiano. Para quem, como eu, trabalha com os sistemas sociais no combate à reprodução geracional da pobreza e da exclusão, o qual só é possível num quadro de equidade no acesso a competências que permitam uma progressiva e efectiva autonomização pessoal, para que o filho de um pobre não seja fatalmente pobre, o filho de um imigrante cresça integrado, um filho da droga não se drogue, a filha de uma mãe adolescente não tenha um filho aos 14 anos, etc., etc., sabe bem que o sistema de educação é determinante. Mas o sistema de educação é determinante para educar, para dar competências, preparando para a vida e para a autonomia, no saber pensar e no saber fazer, as novas gerações. Não é determinante para substituir a família, o atendimento social, o centro de saúde, a ocupação dos tempos livres ou as comissões de protecção de menores. Tem sido assim. Os nossos indicadores são péssimos. Os resultados estão à vista, com bolsas de pobreza mais persistentes e um país no geral mal preparado para competir. Estão à vista na nossa economia e nas nossas finanças públicas, nas nossas estatísticas e na nossa falta de norte e de inovação. Porquê, então, insistir neste modelo sem futuro que compromete todos os dias o mesmíssimo futuro português?
: Fonte: DN de 2 de Junho

terça-feira, 6 de junho de 2006

Citação

"Não me ofende, pois, que pais avaliem professores. Sendo que, quem julga, tem de ter o cadastro limpo: os pais estariam dispostos a serem avaliados pelo produto (os miúdos) que entregam nas escolas?"
Ferreira Fernandes,
no Correio da Manhã, de ontem

Marcelo Rebelo de Sousa RTP

Cavaco Silva saiu de Belém, apresentou-se como um ouvidor pelo país real. E só ouviu elogios. O professor também o vai elogiar?
Elogio o facto de Cavaco Silva ter uma preocupação social. E por ter chamado a atenção dos portugueses para a exclusão. Em período de campanha eleitoral fala-se disso, mas não se fala de todas as formas de exclusão e de alguns dramas concretos. E ele começou por um de que se fala pouco, que é a exclusão no Interior. Porque o país que domina hoje Portugal eleitoralmente, a comunicação social e tal, é o Litoral: a Grande Lisboa, o Grande Porto, Braga, Leiria. E o Interior fica marginalizado.
Começar por aí foi bom, porque foi chamar a atenção das cidades para um problema que normalmente não faz notícia. Em terceiro lugar, o apelo à sociedade civil. Há coisas boas que se pode fazer, há voluntariado, há instituições de solidariedade social. Não é só o Estado nem são só as autarquias, são as pessoas. Os que não são excluídos têm uma obrigação em relação aos excluídos.
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Um artigo de Francisco Perestrello, na Ecclesia

Classificações em cinema
Nos muito velhos tempos, anteriores a 1932, os filmes exibidos em Portugal não eram sujeitos a qualquer informação quanto ao público alvo, circulando livremente desde que aprovados, com ou sem cortes, pela censura. Nasceu então a classificação do Secretariado do Cinema e da Rádio, subordinada à moral cristã e amplamente divulgada pela Rádio Renascença e pelo Jornal Novidades. Evoluindo claramente ao longo dos anos tal classificação ainda hoje se mantém, através dos critérios em vigor para os Secretariados da SIGNIS, recente sucessora da Organização Católica Internacional do Cinema (OCIC). Em meados dos anos 50 do século findo o Estado chamou a si a responsabilidade. Sem mútuas interferências em relação ao S.C.R., deste respigou as primeiras classificações para os muitos filmes já em circuito comercial, alargando a Comissão de Censura à função classificativa para as novas estreias. Quer a informação estatal, hoje a cargo da Comissão de Classificação de Espectáculos, quer a subordinada aos critérios SIGNIS, têm essencialmente uma função puramente informativa, o que não impede que a Lei estabeleça que os anúncios dos filmes sejam acompanhados da respectiva classificação estatal. Dá-se, no entanto, um fenómeno curioso. Enquanto os canais de televisão são severamente punidos quando apresentam um filme de violência antes das horas estabelecidas por Lei, os jornais diários publicam o cartaz de Cinema sem qualquer atenção às classificações atribuídas, generalizando "Maiores de 12 anos" para a maioria dos títulos apresentados, enquanto nas restantes classificações estarem certas ou não, é fruto de puro acaso. Pegando, aleatoriamente, num jornal diário recente, verificámos que em 56 títulos 38 eram acompanhados de classificação errada, o que corresponde a 68 por cento. Sabemos que os próprios exibidores muitas vezes não dão, à partida, uma informação correcta, mas esta, em lugar de ser corrigida tem vindo a ser agravada pela indiferença de quem divulga ao público uma informação que fica assim sem qualquer valor.
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Foto: Douro, Faina Fluvial

Igreja aposta no diálogo com a Cultura

"DO TEMPO LIVRE À LIBERTAÇÃO DO TEMPO"
A Comissão Episcopal para a Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais promove as II Jornadas da Pastoral da Cultura, nos dias 16 e 17 de Junho, no Seminário do Verbo Divino, em Fátima, com o tema "Do tempo livre à libertação do tempo." Um dos objectivos das Jornadas é a consolidação de uma rede de representantes das estruturas da Igreja activas no mundo da Cultura: Dioceses, Congregações e Ordens Religiosas, Movimentos e outras expressões eclesiais. "As redes são vínculos de uma comum pertença, potenciam a partilha, tornam visível a comunhão. E, ao mesmo tempo, derramam a seiva, acendem o entusiasmo, facilitam o novo", aponta o Pe. Tolentino Mendonça, director do Secretariando Nacional da Pastoral da Cultura. Este responsável refere que as Jornadas são "uma etapa importante deste trabalho, ainda de sementeira, que a todos nos envolve". "Estamos perante um ‘novo campo da acção pastoral’, com o que isso significa de auscultação concreta e paciente da realidade e de perspectivação corajosa de caminho", explica, citando o documento do Conselho Pontifício da Cultura "Para uma Pastoral da Cultura". Participar nas Jornadas da Pastoral da Cultura é, segundo o Pe. Tolentino Mendonça, "uma oportunidade para conhecer leituras aprofundadas da realidade, trazidas por especialistas de relevo na Sociedade e na Igreja Portuguesas". "Parece-nos ser, sobretudo, um tempo de troca e fortalecimento neste caminho conjunto, um espaço para cruzar iniciativas, para sondar possibilidades", acrescenta. O programa dos dois dias inclui uma conferência sobre o tema "As novas tecnologias de informação representam uma viragem cultural?", um painel dedicado à "Cultura, Entretenimento e Intervenção Pastoral", uma performance sobre Espiritualidade e Arte Contemporânea intitulada "Uma bolha na água". Cabe ainda um momento de diálogo com D. Manuel Clemente, presidente da Comissão Episcopal para a Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais. Durante as Jornadas será feito o anúncio do vencedor da segunda edição do "Prémio de Cultura Padre Manuel Antunes".
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Fonte: Ecclesia
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Foto: D. Manuel Clemente, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.

Reconhecimento de competências

Uma nova
oportunidade
para um milhão
de portugueses
Três em cada quatro traba-lhadores portugueses não têm o ensino secundário, um número que o Governo quer diminuir, tendo para isso lançado 122 novos Centros de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências.
Os centros RVCC destinam-se a reconhecer as aprendizagens que os adultos desenvolvem ao longo da vida nos vários contextos profissionais, permitindo-lhes complementar essa formação e obter habilitações reconhecidas equivalentes ao 9º e 12º ano de escolaridade.
A intenção de combater a escolaridade reduzida dos portugueses foi reafirmada pelo governo, durante a cerimónia de lançamento dos 122 novos centros que contou com a presença do primeiro-ministro, José Sócrates, e dos ministros da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, e do Trabalho e Solidariedade, Vieira da Silva.
Segundo a ministra da Educação, actualmente o sistema RVCC destina-se apenas a adultos sem o 4º, 6º ou 9º ano de escolaridade, pois os centros só dispõem de instrumentos técnicos para fazer a formação até ao 9º ano. O 12º ano estará abrangido nestes centros já a partir do próximo ano lectivo, afirmou a responsável. "Terminámos agora a fase de homologação para criar os instrumentos técnicos necessários para o 12º ano. Esperamos que antes do Verão estejam homologados e que no próximo ano estejamos em condições de arrancar", disse.
Dos 122 centros lançados, 43 vão abrir na região Norte, 25 no Centro, 31 em Lisboa e Vale do Tejo, 19 no Alentejo, dois no Algarve e dois na região Autónoma da Madeira.
O lançamento destes novos centros permitirá tornar operacionais até ao final deste ano 220 centros, uma vez que já se encontram 98 em funcionamento. Relativamente ao calendário de abertura dos 122 centros, 30 serão inaugurados no primeiro semestre deste ano, 50 até Setembro e os restantes 42 até ao final do ano.
Com este projecto, o executivo pretende até 2010 qualificar um milhão de pessoas em 500 "Centros Novas Oportunidades" (centros RVCC) e combater a baixa escolaridade da população activa portuguesa – 75 por cento com menos do que o 12º ano e metade com menos do que o 9º ano.
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Fonte: SOLIDARIEDADE
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Foto do meu arquivo

domingo, 4 de junho de 2006

Citação

“Terão as religiões algo a dizer a este mundo? Segundo Paul Ricoeur, ‘se as religiões devem mesmo sobreviver, deverão satisfazer numerosas exigências. Em primeiro lugar, será preciso renunciar a toda a espécie de poder que não seja o de uma palavra desarmada. Deverão, além disso, fazer prevalecer a compaixão sobre a rigidez doutrinal. Será preciso sobretudo – e é o mais difícil – procurar, no próprio fundo dos seus ensinamentos, o que vai além do que é dito e graças ao qual cada uma pode esperar encontrar as outras. Não é nas manifestações superficiais – que se revelam competitivas entre si – que se fazem as verdadeiras aproximações. Só nas profundezas se encurtam as distâncias’. O Pentecostes é a festa de que gosto. É a festa de todos os sonhos, do mundo inacabado e do que há para cumprir no melhor das religiões. É a festa de todas as fronteiras que é preciso transpor: físicas, culturais e religiosas. Não para dominar, mas para descobrir que todos os seres humanos existem para cuidar uns dos outros, para responder à pergunta de Deus: ‘Que fizeste do teu irmão.’ É a festa do primeiro e do último sonho da humanidade.”
Frei Bento Domingues,
no Público de hoje

Um artigo de Anselmo Borges, no DN

Secularização e secularismo A palavra secularização vem de saeculum, que, no latim clássico, significava "século" (período de cem anos) e também "idade", "época". No latim eclesiástico, adquiriu o significado de "o mundo", "a vida do mundo" e "o espírito do mundo", sendo por esta via que se chegou ao sentido da palavra "secularização".
O termo, utilizado já no século XVII, para referir o abandono do sacerdócio ou da vida religiosa - ainda hoje se diz que o padre tal se secularizou -, figura, no Tratado de Vestefália (1648), com o sentido jurídico de apropriação pelo "mundo" de bens pertencentes à Igreja. Luis González-Carvajal, que faz a História do termo, refere que no século XIX começou a assumir um significado cultural, designando "um processo de mundanização vivido pela sociedade no seu conjunto".
Ainda hoje continuam os debates acalorados, sobretudo no domínio teológico, sobre a secularização. Se não falta quem a condena, pois estaria na base do afastamento da religião, outros saúdam-na como condição da purificação religiosa, da liberdade e da paz.
Há vários sentidos de secularização: pode ser vista como "eclipse do sagrado", "autonomia do profano", "privatização da religião", "retrocesso das crenças e práticas religiosas", "mundanização das próprias Igrejas". Aqui, interessa-nos sobretudo o sentido de autonomia das realidades terrestres.
Na perspectiva bíblica, o Deus transcendente pessoal cria o mundo a partir do nada e por um acto de pura liberdade de amor. A criação assim entendida implica uma diferença qualitativa infinita entre Deus e a criatura e a real autonomia do mundo, que é mundano e não divino, e é o fundamento da aliança do Deus-Liberdade com homens e mulheres livres. Se Deus cria a partir do nada, por amor e não por necessidade, então não há rivalidade nem concorrência de interesses entre Deus e a criatura. Pelo contrário, a vontade de Deus é a realização plena do homem: quanto mais vivo e realizado o ser humano for mais Deus é glorificado.
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