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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Elogio da Loucura espelha os cenários de uma época controversa


O novo elogio da loucura?

1. Decorria o início do século XVI e a sociedade europeia vivia sobressaltos de nunca vista desumanidade. A exploração escrava de outros povos descobertos, o egoísmo da riqueza e as cruéis guerras religiosas no coração da Europa registaram nos anais da história das piores páginas de sempre. Neste duro ambiente, alguns grandes autores procuraram interpretar o seu tempo propondo caminhos a seguir de forma humana e digna. Algumas dessas grandes personalidades inscreveram-se no chamado pensamento da renascença, o qual proporcionou uma recriação actualizada das ideias e artes clássicas. Se o problema da sociedade da época era humano, estes autores apostaram na resolução da “questão antropológica” (ou seja, do repensar o agir humano).


quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Declaração Universal dos Direitos Humanos: Ideal comum a ser atingido por todos os povos



Praça Marquês de Pombal


O hino de Ser Humano

1. Foi a 10 de Dezembro de 1948 que a Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou o “ideal comum a ser atingido por todos os povos”, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DH). Daí para cá este documento vivo que celebra 61 anos, foi sendo desdobrado em muitas outras declarações aplicando ao concreto os valores humanísticos universais nela contidos. Algumas diferenciações claras de fundo importará salientar: primeiro, que a presente Declaração dos DH não contém só “direitos” mas compreende-os numa leitura transversal de deveres e responsabilidades partilhadas; segundo, no exercício do diálogo desta Declaração com a (anterior) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), da Revolução Francesa e do erguer do Estado de Direito, esta última (um avanço em alguns domínios para a época) apresenta-se orientada para mais para os direitos de cidadania que para os direitos humanos.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O milagre do Natal universal

Para que seja Natal

1. Já há longas semanas que os brilhos típicos da quadra de Natal estão nas ruas e avenidas por onde correm as gentes. Esta corrida reveste-se também da preocupação preparadora das festividades que se aproximam… Em termos de efemérides, o próprio mês de Dezembro mostra-se sensibilizante em termos de causas e valores natalícios a assumir: dia 3 de Dezembro foi dia (para que o seja todos os dias) dedicado à pessoa com deficiência, dia 5 enaltecedor dos Voluntários (Dia Internacional dos Voluntários) e dia 10 será o grande dia dos Direitos Humanos, também em Aveiro assinalado com um conjunto de iniciativas e sensibilizações. Já em finais de Novembro, início de Dezembro, havia ocorrido a campanha do Banco Alimentar contra a Fome.

2. Torna-se importante, no mundo especializado em tantas ligações tecnológicas, ligar o que de humano e bom existe; promovê-lo e enaltecê-lo para que cresça cada vez mais e diminua aquilo que são as “ervas daninhas” de qualquer comunidade social. As referências de iniciativas em rede multiplicam-se e procuram interpretar o mês do Natal como um eco para todos os dias dos meses e dos anos. Querendo esta quadra no plano das ideias, a partir da raiz única do Natal de há 2000 anos, gerar a vivência da igualdade em termos de dignidade humana (que reflecte a divina), a verdade é que a persistência prática das desigualdades faz com que o contraste se avolume na época do Natal. Todos os gestos tão sensibilizantes para tantas situações de “frio social” acabam por ser sempre pequenos para problemas tão grandes e problemáticas…

3. Verificam-se nestes dias essas preocupadas corridas de preparação do Natal gordo em que não há tempo para o gesto (seja global!) que suavize e promova para a autonomia e dignidade a magreza do sem lar, sem pão, … A autenticidade do Natal verdadeiro será sempre desconcertante; este tem mais dificuldades em conseguir fazer passar a mensagem. Quem dera que a grandeza de tantos gesto de tanta gente fosse o milagre do Natal universal. Preparemo-lo, melhor, sejamo-lo! É essa a maior luz!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Teremos de ir mesmo pela estrada da tempestade e do medo?


Ban Ki-moon


A fuga ao fracasso?

1. Aproximam-se os dias da verdade sobre o que queremos (ou não queremos) em relação ao futuro da Humanidade. Já há muito que as questões ambientais deixaram de ser uma “moda” de modernidade ou tidas como algo de “esquisito” em relação à normalidade; aliás, para haver normalidade e futuro respirável cada cimeira ou encontro sobre as alterações climáticas vão sendo passos que se afirmam decisivos e inadiáveis. Decorrerá de 7 a 18 de Dezembro a Cimeira de Copenhaga, de onde se espera que saia o novo acordo global sobre as questões ambientais, vindo substituir o Protocolo de Quioto (1988). A pressão cresce em todos os quadrantes. Sublinha o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que seria «moralmente indesculpável» o fracasso da Cimeira que está a chegar. A-ver-vamos…!

2. É verdade puríssima que os índices de responsabilidade cresce à medida que a ciência e o conhecimento vão demonstrando a evidência dos factos; é «verdade inconveniente» (Al Gore, 2006) que não se poderá ver com olhar simplista um processo de mudança de comportamentos e atitudes, mas que urge mudar estabelecendo padrões de vida sustentável, o que se vai confirmando como a única tábua de salvação. As alterações climáticas, no dizer de Ban Ki-moon «são a questão dominante da geopolítica e economia mundiais do século XXI, uma questão que afecta a equação mundial do desenvolvimento, da paz e da prosperidade.» Diremos que se não vamos lá (por um humanismo saudável e) pela via “razão”, teremos de ir mesmo pela estrada da tempestade e do medo.

3. Desconcertante é a afirmação do “pai” dos alertas das alterações climáticas, James Hansen, quando ele diz em entrevista ao The Guardian que «é preferível que a Cimeira de Copenhaga falhe». Talvez Hansen diga isto para alarmar, sabendo como são as boas (mas estéreis) intenções; ele considera este ser «o desafio moral do século». Tem razão, ou não dê a própria sobrevivência (em causa) razões para repensar a vivência!

Alexandre Cruz

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Gustavo Dudamel é hoje sinal do poder que a música pode ter


Gustavo Dudamel

O fenómeno Dudamel

1. Não é nenhum jogador de futebol genial, mas vive a música como se de um jogo admirável se tratasse. Vale a pena parar diante deste maestro venezuelano de 28 anos apenas que tem o mundo a seus pés. Gustavo Dudamel é hoje sinal do poder que a música pode ter no que se refere às virtualidades de transformação social que a arte transporta. Criador do que ele chama o «sistema» musical na Venezuela, viu que para as crianças dos bairros mais pobres o carregar do violino e clarinete, o estar em ensaios de saber ouvir em grupo, o acolher a inteligência emocional da melodia, tudo isto poderia ser um pólo de motivação sem precedentes para a própria vida diária, em ordem à implementação da confiança no futuro. O nome de «Dudamel» já é uma poderosa imagem de marca que se vai estendendo por muitos países do mundo inteiro...

2. Tendo Dudamel neste 2 de Novembro estado em Portugal, na Fundação Gulbenkian para dirigir a Orquestra Juvenil Ibero-Americana, o maestro vive os seus dias entre a visibilidade mediática de Los Angeles, o “retiro” de Gotemburgo e a sua casa natal da Venezuela, que nunca abandonará. No mundo musical todos os querem pela sua energia única; aclamações são imensas: de personalidades que dizem que casos como Dudamel «surgem em cada cem anos», até ao próprio génio maestro Daniel Barenboim para quem «Gustavo tem um talento sem limites». A sua chegada em Setembro último para dirigir a prestigiada orquestra de Los Angeles marca o ponto sem retorno que deixará na história da música gravado o nome Dudamel.

3. À nossa cultura musical, ao potencial que a música poderia ser para aprender matemática, ao lugar dado às personalidades com capacidade de influência nas opções pela música no mundo da escola formal ou informal, a todos os têm capacidade de se deixarem sensibilizar com a arte, a poética e a música... faz bem conhecer histórias de vida em «Sol +» como Dudamel, não só pelo génio pessoal, mas pela capacidade (trans)formadora social.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O FIO DO TEMPO: O nome do Povo é sociedade civil




1640 e a actualidade

1. Existem datas históricas que, por motivos vários (mas normalmente pela heróica capacidade superadora das limitações), fazem parte da memória viva das comunidades nacionais e/ou mesmo da própria comunidade internacional. Na história de Portugal o acontecimento da Restauração da Independência (1 de Dezembro de 1640) escreve uma página em que pelos relatos da época a heroicidade saiu vencedora da própria lógica racional pessimista, pois onde é que de um país já na altura tão “pequeno” poderia haver tanta força para superar as vizinhas armadas; quer a espanhola, quer a “armada” paralisante da pessimista visão lusitana que por esse tempo começou astronomicamente a crescer arrastando consigo os séculos seguintes.

2. Mesmo sem os providencialismos mitológicos que poderiam conduzir a outras reflexões, a verdade é que, após o desvio do planeamento estratégico que está na matriz dos portugueses – o «globalismo» – para as “areias marroquinas” que liquidaram D. Sebastião (1578) em Alcácer Quibir e abriram a Batalha da Sucessão, da crise reinante pelos tempos de 1640 as gentes do povo português souberam construir terreno fértil e tirar partido das conjunturas para ser possível a Restauração de «1 de Dezembro de 1640». Sublinham os estudiosos dessa conturbada época que: 1º, a nobreza portuguesa no geral e por razões de comodidade, estava orientada para o reinado ibérico (da fusão Portugal – Espanha); 2º, um homem providencial (Pe António Vieira) conseguiu alimentar a alma das forças vitais diante da frágil independência, esta que só se deu por formalizada após 28 anos (1668).

3. Há dias, ao ouvir o Prós-e-Contras sobre a crise das finanças nacionais, as suas questões estruturais que se arrastam, veio à memória esta história que nos precede em acontecimentos “gloriosos”, mas que nos persegue numa limitação de implementação histórica de tantas excelentes ideias (irrealizáveis). Um novo realismo social poderá salvar-nos? O nome do Povo é sociedade civil.

Alexandre Cruz

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Dar o peixe é sempre pouco...



Alimentar o pão da esperança

1. Este fim-de-semana decorre a nível nacional a campanha do Banco Alimentar contra a Fome. Não é publicidade, são milhares de toneladas de alimentos partilhados, são milhares de voluntários pelo país inteiro, são milhões de pessoas generosas que partilham das suas possibilidades com quem nada tem. É um facto: matar a fome primeiro, formar e reformar para que a fome não exista vem depois. São centenas as instituições que ao longo do ano beneficiam desta corrente solidária que marca um sinal de solidariedade no nosso país. Quem diria há alguns anos que a campanha do Banco Alimentar se viesse a tornar a enorme esperança de pão para muitos que hoje representa?

2. Sabe-se que o dar o peixe é sempre pouco e que o ensinar a pescar representa o passo formativo em ordem ao futuro efectivamente melhor e mais comprometido. Mas às bocas sem pão, à fome que existe habitualmente e mesmo à nova fome escondida como consequência das recentes crises, o “pão” é que salva, pois ele é que pode dar a força ao corpo e garantir os mínimos da dignidade a que cada pessoa humana tem direito. Tal como é verdade que o pão garantido aumenta a esperança de o ganhar cada dia, do mesmo modo o contrário também se confirma: quando o pão não existe «todos ralham», a desmotivação cresce, o desespero amplia-se, o lar familiar pode entrar numa espiral descendente onde tudo é negro e tudo parece amargo e perdido.

3. O frio está a começar a apertar, para todos, com abrigo ou sem abrigo. O abandono às noites das grandes cidades, local como mundialmente, reflectem a brisa de muita solidão que teima em manter-se, quando não um cortejo a ampliar-se. Esta dura realidade solitária interpela todos e os proclamados modelos de desenvolvimento. Estes dias que abrem o mês de Dezembro apelam-nos à nobreza do essencial da vida para que a partilha seja dar-se a si mesmo numa esperança que irradie dias melhores para todos. O pão da esperança precisa mesmo de todos!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A hegemonização poderá limitar e abafar o génio da diferença



A média europeia da Educação

1. É notícia recente que Portugal está abaixo da médica europeia em termos de educação. Destacam-se em relatório divulgado os progressos tidos de 2000 a 2008, mas a procura a convergência nota-se retardadora. Do olhar cruzado pelas estatísticas, sente-se que a fase da adolescência se afirma como decisiva e destacam-se, no que já se sabe, as dificuldades na matemática e na área de língua e leitura. Sendo certo que as visões comparativas são necessárias e que os isolacionismos a nada conduzem, também não deixa de ser digno de registo aquilo que em termos de médias europeias se considera a média, como se o criar de uma uniformidade de paradigmas e no processo ensino/ aprendizagem fosse a meta fundamental a atingir.

2. Compreende-se que a competitividade de tudo e todos obrigue a uma equiparação competitiva sem precedentes. Este factor pode criar mentalidades e paradigmas que correm o perigo de uniformizar tudo e europeizar os europeus deitando a perder riquezas locais de ordem social, educativa e cultural. É, neste contexto, importante relançar a dúvida sobre se a uniformização é, de facto, factor e valor de progresso definitivo ou se deverá ser reforçado o lugar às identidades nacionais e locais por forma à justa harmonização social. Aos estudos e estatísticas presidem sempre a noção de modelos de referência globais, o que é lícito e natural. Mas esta hegemonização poderá limitar e abafar aquilo que pode ser o génio da diferença, ou os aspectos essenciais que não dando números para a “média” são efectivamente relevantes.

3. O documento estruturante europeu, a Estratégia de Lisboa (adoptada em 2000) quer transformar a Europa «na economia do conhecimento mais competitiva e dinâmica do mundo, capaz de um crescimento económico sustentável, acompanhado da melhoria quantitativa e qualitativa do emprego e de maior coesão social.» Esta é a média final europeia a que se quer chegar. E o lastro e espaço dado à diversidade local dos “alunos”?

O FIO DO TEMPO: Universidade de Aveiro - Um Grandioso Laboratório


Finalistas da UA em dia de festa

Ciência e tecnologia

1. A ciência e a tecnologia (ciência aplicada à técnica) são das maiores conquistas da razão humana. A curiosidade sistemática na cuidada observação, a conjugação de múltiplas hipóteses satisfatórias, a experimentação no perscrutar das leis que presidem à natureza e a sua aplicação também na descoberta e solução de problemas do mundo visível, são das realizações mais fascinantes da aventura humana. De todas as idades e condições, em todos os tempos e lugares da história, a curiosidade aliada à sempre procurada resolução de problemas, têm feito da ciência um caminho que usamos e aplicamos nas coisas mais simples do dia-a-dia. Mas todo o potencial de conhecimento científico por si mesmo não chega; a sua aplicação ética nas finalidades haverá de presidir à própria pesquisa no caminho.

2. Estamos em plena Semana da Ciência e Tecnologia. O Dia Nacional da Cultura Científica (24 de Novembro), criado em 1997 para assinalar o nascimento do cientista Rómulo de Carvalho (1906-1997), procura precisamente corresponder à necessária promoção da cultura científica e do ensino generalizado da ciência. Sem divulgação científica não existe consequentemente aquele necessário despertar para o mundo do conhecimento; não como meros transmissores mas como criadores e inovadores. Também sem motivações nobres, a ciência pode-se desviar do seu caminho ético e de serviço à Humanidade global. Fronteiras delicadas, sensíveis mas incontornáveis, nas quais os próprios índices de esperançosa e persistente motivação interior são um dos elos fortes do autêntico, grande e humilde, cientista.

3. A Universidade de Aveiro esta semana é um grandioso laboratório, acolhedor de muitos milhares de estudantes, nesta X Semana Aberta da Ciência e Tecnologia, de 23 a 27 de Nov.: http://www.ua.pt/semanaberta Este ano novos passos são dados: tanto no caminho da ciência solidária onde os visitantes são convidados a partilhar, como nas redes sociais que hoje nos unem ao mundo.


Alexandre Cruz

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Precisamos de novas músicas / mensagens que transformem razões em pontes humanistas



«We are the children»

1. Os anos oitenta estão a ser olhados com visão de quem procura apreciar e aprofundar algumas conquistas fundamentais. Se há dias (9 de Novembro) lembraram-se os 20 anos da queda do Muro de Berlim, nestes dias mais recentes as duas décadas d’A CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA, adoptada pela Assembleia-Geral da ONU a 20 de Novembro de 1989, tendo sido ratificada por Portugal no ano seguinte, a 21 de Setembro de 1990. Dos considerandos do preâmbulo ao texto retira-se um oportuno olhar histórico na consciência de que sendo as crianças o “futuro” já presente, daqui derivarão para todas as latitudes, pensamentos e acções, altíssimas responsabilidades em ser presença promotora dos melhores valores socioeducativos.

2. Destaca-se a certeza ideal no reconhecimento de que «a criança, para o desenvolvimento harmonioso da sua personalidade, deve crescer num ambiente familiar, em clima de felicidade, amor e compreensão». Este espírito familiar e universalista que preside à Convenção sobre os Direitos da Criança está enraizado na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Dos anos oitenta até ao presente não só aumentou a visibilidade mundial de ocorrências infelizes em relação aos muitos ataques à dignidade da criança, como também se verificou um crescer de condições excepcionais para com as crianças da parte do mundo ocidental. Para as outras, muita fome e miséria a que o mundo assiste; para estas a certeza de uma superabundância de pão e presentes plastificados que podem truncar a humanidade.

3. Quem não se lembra da canção We are the World, we are the children (USA for África, 1985) dos anos oitenta, como que no mesmo espírito da Convenção. Ao ouvirmos essa música pela rádio nestes dias lembra a aventura que terá sido essa década, a abertura do mundo ao próprio mundo e o acolhimento local das declarações universais. Precisamos de novas músicas / mensagens que transformem razões em pontes humanistas.

Alexandre Cruz

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

D. José Policarpo: A «felicidade não se pode confundir com facilidade»

A apologia da inquietude




1. A inquietude não se dá bem com a passividade e a indiferença. Das frases gravadas de Fernando Nobre (médico fundador e presidente da AMI) é aquela que nos diz que no mundo de hoje os dois males principais são a indiferença e a intolerância. Conclui deste modo quem percorre o mundo, seja fisicamente seja mentalmente. Não é preciso andar quilómetros para a intuição daqueles valores fundamentais a que como humanidade somos chamados. Cada vez que na rua observamos os mais novos dependentes de todas as tecnologias em que o olhar já não tem largueza para a relação pessoal, ou que dos poderes da comunicação ou do marketing a mensagem se revela num aliciante interesseiro sem grandes causas generosas…estas realidades, entre tantas outras, obrigam-nos a repensar hoje o lugar das inquietudes e do futuro.

2. Quando se ouve a (des)consideração que existe pela autoridade saudável, nas escolas, no trabalho ou até pelo bloqueio que se sente no diálogo de gerações dentro da mesma casa; ou quando se sente que o «não pensar» é a mais cómoda das opções gerando a apatia do «tanto faz»… faz-nos sentir o quanto urgente se torna o despertar dos sentidos humanos para sabedorias humanísticas que dêem razões e fundamentos para viver e existir de forma reflectida. O tempo actual, num adormecimento sedutor por mil e umas formas de diversão e entretenimento, precisa de resgatar a INQUIETUDE como atitude existencial e comunitária. A consciência de que o amanhã pode ser sempre melhor que o hoje e o ontem é uma aprendizagem de sabedoria intransferível, que ninguém pode viver pelo outro.

3. Dizia há alguns anos D. José Policarpo que a «felicidade não se pode confundir com facilidade». O mundo das facilidades publicitadas também tem gerado aquela ilusão que afinal não existe mas gera fragilidades de pensamentos e acções. Floresça uma apologia da inquietude, na lembrança continuamente despertadora do compromisso em cada amanhecer!

Alexandre Cruz

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO: O direito à alimentação é um direito básico




Por trás da fome de pão

1. Todos concordam que o direito à alimentação e, por consequência, à sobrevivência, é um direito básico que nem precisa de ser recordado e afirmado em declarações. Mas as declarações também o escrevem e a própria Declaração do Milénio num dos seus objectivos consagra valor urgentíssimo o terminar com a fome no mundo. Foi criada a FAO (16-10-1945), instância das Nações Unidas para as preocupações da agricultura e alimentação do mundo. Mas os cenários da fome e a (in)sobrevivência nesta matéria afirmam-se com preocupação crescente. De modo transversal, aumenta o conhecimento, tanto em termos de produção alimentar mas também dos riscos da manipulação genética dos alimentos; a própria canalização de cereais para fins de biocombustíveis cresce e tudo diante da galopante classe médica asiática que vai alterar o paradigma tido até ao início deste milénio.

2. Decorreu nestes dias em Roma a Cimeira da FAO, mas sem todos os G8 (os países mais ricos do mundo). O secretário-geral da ONU foi forte ao recordar que a cada seis segundos morre uma criança de fome… Os dados, no seu realismo, são chocantes. Sendo certo que nada se pode fazer sem planificação e concertação, esta é uma área de actuação diplomática onde a natureza jurídica dos papéis se mostra insignificante diante da crueldade da multidão faminta em contraste com a fartura de alguns. Como em tantas outras questões, o primeiro passo será a alteração de comportamentos no não estragar comida, numa visão dignificante da alimentação e no gerar a corrente positiva/solidária. Por trás da fome de pão impera a fome de justiça, valores e verdade? Como mudar?

3. (Nota – correcção de gralha: os dez minutos de pausa diária na escrita d’O FIO DO TEMPO fizeram com que no texto de ontem A FACE CULTA constasse uma gralha. O texto certo é: «À situação actual de Portugal estes cenários “face oculta” era tudo o que menos se esperava, esta observada crise de instituições na área da justiça que aliada à desconfiança e suspeita de redes de corrupções, trazem para o cimo da mesa do pior que se pode esperar…»)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Fio do Tempo: "São as acções que fazem o ser"


Padre António Vieira
A face culta

1. Podem-se citar muitos autores que claramente mostram a desvantagem da corrupção. Entre eles poderá estar António Vieira (1608-1697), na portugalidade, ou Tomás Moro (1478-1535) na época da renascença. Pode-se dizer efectivamente que a ignorância é mãe de muitas guerras; do mesmo modo se poderá tirar a ilação de que a ilusão do poder ou do ter, a par da incultura, podem ser alimento de desvio, corrupção, conluio. À situação actual de Portugal estes cenários «face oculta» era tudo o que menos se esperava, esta observada crise de instituições na área da justiça que aliada à desconfiança e suspeita de redes de corrupções, trazem para o cimo da mesa do pior que se pode esperar… Sem dramatizar mas sem ocultar, a verdade é que o nível de insegurança ética rasteja por marés nunca dantes navegadas.

2. O que vem à luz do dia é o que existe de facto. Se durante dias ou anos se pode ocultar, como o azeite a verdade acabará por mostrar a sua face. Por trás de qualquer face existem ideias, planos, projectos, valores, princípios pelos quais o caminho é percorrido. Quanto menos por trás da face – no plano da existência e dos grande valores solidários – se construir o projecto de vida, tanto mais os critérios que presidem às acções poderão ser falaciosos. Como dizia o padre António Vieira, «são as acções que fazem o ser». Neste sentido, poderemos dizer, o ser deverá ser bem construído no plano da ética para que as acções sejam conforme o melhor para o bem pessoal e social…para o não embarcar na ilusão inculta do ter desmedido.

3. Talvez o verniz que continua a estalar em tantos planos, nacionais e internacionais, continue a demonstrar que, embora cada vez mais especialistas em tecnologias, a verdade é que no plano da ética universal o desfasamento continua a crescente e avassalador. Claro que tudo depende do olhar: para faces habituadas a paisagens cheias de nuvens de relativismos, poderá ser só mais um caso que passa…Para quem procura a integridade e observa o panorama das mensagens sociais que se passam, é no mínimo alarmante.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O Fio do Tempo: Dos muros construir pontes com a colaboração de todos



Pensar e actuar no bem comum

1. As Semanas Sociais organizadas pela CEP são uma das realizações de referência no panorama nacional no que à questão social do país diz respeito. Reflectir qualificadamente para melhor envolver no agir é sempre a finalidade desses dias de reflexão que este ano ocorrerão em Aveiro. Com o lema «A construção do Bem Comum – responsabilidade da Pessoa, da Igreja e do Estado», procura-se nesta Semana Social 2009 gerar equilíbrios e sentidos de unidade naquilo que se procura realizar na promoção de uma sociedade melhor. Um conjunto reconhecido de intervenientes da sociedade portuguesa dão o seu contributo nessa jornada de três dias (20 a 22 de Novembro) a decorrer no Centro Cultural e de Congressos de Aveiro.

2. A noção de bem comum, por felicíssima que se apresenta na sua elaboração de matriz originária eclesial e social, resulta da conjugação de factores absoluta a transversalmente inclusivos: privilegia a Pessoa mas evita o individualismo; tem presente a função social do Estado mas não avança por uma noção estatizante que poderia asfixiar a vitalidade da sociedade civil; procura situar o particular e o universal no seu plano próprio e insubstituível; aposta na subsidariedade que promove as pessoas e fortalece as comunidades; valoriza aquilo que pode gerar complementaridade diluindo, também desse modo, aquilo que pode ser a combatividade das contraposições. No fundo o «bem comum» é o caminho certo na procura do bem pessoal e social numa aproximação à verdade do Bem e Belo que o ser humano procura atingir.

3. Numa sociedade chamada a atingir a maturidade cívica, todos os actores que procurem a promoção do «bem» que seja reflectido encontram-se no mesmo caminho do melhor para a viagem da humanidade. Dos muros construir pontes com a colaboração de todos, eis o palco onde todos os cidadãos humanos são convidados a serem actores. Demos força e espaço cultural e social aberto ao que (e a quem) pode (re)unir!

Alexandre Cruz

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O Fio do Tempo: Há que derrubar os muros da desesperança



As côdeas de broa

1. O ambiente emocional anda muito por baixo. Quem ouve de carro na estrada os fóruns da participação pública nas rádios mais conceituadas do país fica alarmado com o panorama da (des)motivação. Parece nem tanto perturbar o fenómeno da pobreza ou da crise, mas afirma-se bem mais preocupante o cenário relativo aos baixos índices da desconfiança confirmada por cada caso de corrupção que vem à ribalta. Junta-se a esta feira a indecisão das hierarquias dos poderes na área da justiça e os sucessivos relatórios que colocam Portugal em condições muito difíceis… É verdade que em nada se pode avançar sem os devidos diagnósticos, mas o contínuo mergulho no pessimismo persistente também pode afogar as centelhas de esperança vitais para a sobrevivência. É mesmo preciso dar o «salto» (trans)formador.

2. A certa altura na rádio alguém falava da nova classe política (é sempre mais fácil descarregar para cima dos outros…?!) como apresentava referências pouco elogiosas às novas gerações… que não comeram «côdeas de broa» e que não passaram as «passas do Algarve»! Retirando os excessos verbais provindos da força da emoção, valerá a pena pensar em como vamos conseguindo (ou não) passar os grandes valores, como vai caminhando (ou não) o diálogo de gerações, como conseguimos (ou não) aliar a inovação sedutora à tradição da alma das gentes. Sem transições saudáveis podem-se gerar grandes ilusões e mesmo impulsos que representem o queimar de etapas rumo ao vazio... Talvez do pão de broa o salto tenha sido dado mais para o «hambúrguer» que para o pão de trigo.

3. Diante dos cenários de desigualdade, de desemprego, de crise… o tempo perdido na contemplação do pessimismo e da derrota é factor que não traz nada de novo porquanto desmotiva e impede o futuro de ser diferente. Há que derrubar os muros da desesperança, despertar energias motivadoras, criar o imperativo ético límpido finalizador das corrupções. Que cidadania somos?



quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Fio do Tempo: Quem alimenta a digna e necessária promoção valorativa da família?




O inverno demográfico

1. É recente a confirmação de que a «população portuguesa é a que envelhece mais depressa na União Europeia». A notícia alarma e subscreve as teorias de que a Europa caminha para um grande inverno demográfico em que, afinal – em termos comparativos –, já se encontra. O relatório conclusivo desta matéria foi apresentado nesta semana no Parlamento Europeu, em Bruxelas, pelo Instituto de Política Familiar. São muitos os dados a pensar e repensar, um deles é o facto de Portugal ser apresentado como o país que oferece menos assistência às famílias. É certo que todas as crises podem justificar o não apoio como seria o ideal (poder-se-á dizer); também pode ser questionável que o estado como referência social geral não deverá determinar naquilo que é de foro privado como a família (pode-se acrescentar); mas…

2. Por «assistência às famílias» entender-se-á uma noção de família e uma visão daquilo que poderão ser as conjugações de valores a apostas – no respeito pela plena liberdade pessoal e familiar – que vão no sentido de estímulo até em termos da imagem social da família… O relatório apresentado pelo referido Instituto descreve que a Europa está «imersa num nunca visto Inverno Demográfico» ao recordar tanto o défice anual de nascimentos como o aumento dos abortos e a «explosão» dos divórcios. No caso das tendências se confirmarem, em 2050 a população europeia perderá 27,3 milhões de pessoas, sendo a Alemanha a mais afectada; uma em cada três crianças nasce fora do casamento, em especial na França e Reino Unido; há mais de um milhão de divórcios, o que «equivale a um colapso de casamento a cada 30 segundos.»

3. Passemos aos finalmentes: se a sociologia nos apresenta as representações, as psicologias os estudos tipológicos, as políticas a linha de rumo social geral… afinal, quem efectivamente propõe horizontes valorativos de apostas que respondam ao observado «inverno demográfico»? Quem alimenta a digna e necessária promoção valorativa da família?

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Fio do Tempo: A qualidade da sabedoria virá ao de cima


Responsabilidade
partilhada

1. Os tempos que correm, dos cenários sociopolíticos nacionais às conjunturas internacionais, despertam-nos para uma consciência de que na equipa reside o futuro. Quanto mais soubermos harmonizar as diversidades melhor será o resultado final. Se a década de quarenta, com o final da II guerra já havia decretado o fim dos nacionalismos e por isso dos individualismos, a queda do Muro de Berlim recentemente assinalada (09-11-1989) confirmou esse fim do período em que parecia que as individualidades tinham razão de existirem por si mesmas. De Europa aberta na nova conjuntura ao mundo da globalização, somos descentralizados da concepção fechada que antes parecia tudo…

2. Se os homens haviam estabelecido – e vivido essa ilusão – de que as fronteiras de estado seriam a meta definitiva, a própria transnacionalização dos problemas mundiais (da energia, do ambiente, da crise financeira…) que estão na ordem do dia mostram cabalmente que o fechamento corresponde ao paradigma passado. Abrem-se novas dimensões à percepção dos valores, aos diálogos entre as culturas e as religiões, ao saber partilhar a opinião do outro, lendo as suas diferenças numa linha de complementaridade e não de contraposição onde o ter e o poder não podem ser mais as ideias força. Mas um problema de fundo persiste: não se pode nem obrigar todos a convergir para a mesma noção de responsabilidade (nada se consegue impor desse modo), como também uma nova libertinagem desordenada não pode tomar conta da praça social.

3. Avizinham-se anos e décadas, na alta rodagem e mobilidade das gentes e das modas de pensar (ou do não pensar!), em que virá ao de cima a qualidade de sabedoria de cada um e de todos. As tendências para a liberdade sempre mais aberta poderá conduzir ao “caos”, não é novidade esta afirmação. Talvez a contextualização das liberdades numa óptica de responsabilidades partilhadas seja a via essencial. Como a Escola e a Família a conseguem ensinar?

Alexandre Cruz

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO: Da abertura de novos muros

A importante memória do Muro de Berlim derrubado apura a grandiosa responsabilidade de repensar os muros a derrubar

1. Foi dos dias mais esperados do século XX, mas foi dos dias que o mundo das ideias humanas fez com que tivesse razão de existir. Sejamos claros, o ideal seria não ter sido necessário o 11 de Novembro de há 20 anos atrás. Quando não há evolução contínua é porque se podem criar as condições de desumanidade que abrem portas para a revolução. A absolutização de ideias humanas que ficara consagrada nas ideologias totalitárias do séc. XX conduziu a que cada bloco de betão desse muro significasse o desinvestimento na maturidade humana. Com olhos de ver, parece que esta memória já é muito mais longínqua do que na realidade é. A verdade é que há duas décadas atrás o mundo acordou para uma nova abertura na era da globalização, pois que a cortina de ferro fora derrubada.

2. Nestes dias revisitou-se a Alemanha Oriental e a Alemanha Ocidental. Mesmo que seja para não esquecer, não repetindo… Derrubada a separação dos 66,5 km de gradeamento metálico, as 302 torres de observação, as 255 pistas de corrida para cães de guarda…viu-se por dentro das fronteiras do muro a “verdade” da ideologia. A honestidade intelectual terá de reconhecer que a ideia do absolutismo que foi derrubara com o muro não tem pernas para andar. Mas, como em todas as guerras, sendo certo que sempre triunfa a liberdade humana – ainda que conquistada com muito sangue –, a verdade profunda é que “ninguém” vence e todos saem com feridas e em todos cresce a responsabilidade. Ninguém duvida que as pesadas sanções de 1918 impostas à Alemanha geraram terreno fértil ao nacionalismo que alimentou a II grande guerra.

3. A história do século XX regista que veio da Polónia mutilada o homem da paz e reunificação que decreta o fim da guerra fria: João Paulo II. A importante memória do Muro de Berlim derrubado apura a grandiosa responsabilidade de repensar os muros a derrubar. Em todos os quadrantes da actividade humana, do universal ao local, do longínquo ao perto. No fundo do ser, nas ideias, onde o “betão” nasce…

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO: Marchar para erguer a Paz



A PAZ É MESMO O ÚNICO CAMINHO


1. A própria expressão «Marcha Mundial pela Paz e Não-Violência» dá a volta às palavras no justo sentido. Ao passarmos o filme da história, a designação de «Marcha» é bem mais atribuída ao marchar para a guerra do que ao anúncio da Paz. É mesmo importante inverter esse caminho e avançar de forma pensada e amadurecida pela paz, o único caminho com futuro para todos. De Outubro 2009 a Janeiro 2010, está decretada a reflexão mundial pela paz. Talvez seja efectivamente na era global a primeira marcha unida pela paz. Sinal dos tempos, sinal de esperança, mas nobre missão e compromisso em que ninguém pode ficar de fora, especialmente os corações que persistem nas durezas da divisão e dos muros.

2. À medida que cresce a consciência universal e a convergência impressionante e “ao segundo” no encontro de culturas, etnias, religiões e filosofias de vida, aumenta a responsabilidade de orientar todas as visões de sociedade numa linha de sentido de «bem comum», este um pilar fundante do mundo melhor que se procura, repleto da generosidade que vence todo o mal. Também à medida que as intolerâncias de várias origens vão continuando a dar os seus ecos maléficos a proclamação da «não-violência» é o mínimo olímpico essencial rumo à paz. Mas não chega a paz podre… É por isso que em imensas localidades de norte a sul e do oriente ao ocidente cresce a adesão ao projecto da Marcha Mundial da unidade na riqueza da diversidade. http://www.theworldmarch.org/index.php?lang=por

3. Se a paz é mesmo o único caminho para haver futuro, então no mundo actual nenhuma área educativa, da formal à informal, poderá ficar de fora… Mas a verdade é que a violência percorre o mundo da comunicação e as consideradas melhores películas dos cinemas – factor cultural – trazem consigo armas a ferro e fogo. Do global ao local, em espírito glocal. Também em Aveiro a marcha chegou e quer mover as gentes na reflexão andante para ser VIDA na prática.
 

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O FIO DO TEMPO: A insustentável tranquilidade



1. Nos nossos dias, só o que tem futuro é que merece a caracterização de sustentável. Esta é uma ideia simples e na actualidade claramente assumida em múltiplos quadrantes da vida colectiva. Não ter sustentabilidade é não conseguir garantir um amanhã viável e promissor em ordem ao progresso. Neste sentido, a «tranquilidade» pode prejudicar se o rumo que se tem não garante a continuidade necessária. Aliar o humanismo e a serenidade com a garantia sempre urgente de futuro será, na verdade, a chave de solução mais eficiente. Lançando o olhar sobre tantas e tantas instâncias e colectividades, do mundo social ao associativo ou mesmo cultural, deparamo-nos com determinadas opções, ou ausência delas, que podem condicionar a verdade do melhor desenvolvimento para todos.

2. A coragem de mudar, no pressuposto da preocupação de implementar melhorias nos processos e nas finalidades, na procura da verdade e da justiça, é sempre caminho de profetas. Em tantas realidades são necessários impulsos positivos, estimulantes e efectivamente renovadores, não fundamentalmente na cosmética da imagem mas na essência das coisas. Também não mudar por mudar, como quem procura em tudo ler caminhos de reacção ao passado, diminuindo, por isso, a séria convicção. Quantas vezes se sabe que em imensas colectividades a abundância da tranquilidade pode significar aquela “paz podre” que poderá ter o nome de indiferença. No mundo actual uma renovada consciência existe de que cada um pode fazer a diferença, de que cada um tem um papel imprescindível na construção do bem comum. Mas, quem governa o barco, quem lidera o grupo, terá de ter essa capacidade de síntese estimulante.

3. Esta reflexão vem a talho de foice de um dia destes, ao ouvir na rádio os comentários a mais um empate do Sporting, da «tranquilidade» de Paulo Bento e do presidente leonino. De facto, também o excesso de tranquilidade «forever» pode perturbar os cordelinhos da sustentabilidade…


Alexandre Cruz