segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A tradição continua: Cantar dos Reis de porta em porta



Até o meu neto Dinis teve o privilégio de ouvir os nossos cânticos

Como recomenda a tradição, na passada sexta-feira, 13, recebemos o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré que veio cantar as Janeiras, entre nós designadas por Cantar dos Reis. De facto, os cânticos com que nos brindaram tinham a marca dos nossos ancestrais e a beleza das melodias natalícias. Não haverá gafanhão que as não tenha nos ouvidos, apesar de entoadas apenas nesta quadra. Melodias simples e  belas, também por isso capazes de ficarem gravadas na memória de quem as ouve.
A visita do Cantar dos Reis é sempre um saudável encontro para rever amigos, depois os seus filhos e netos. E é curioso que, para nosso espanto, precisamos mesmo de ser elucidados. E diz a Lurditas, com oportunidade: — Olhe que esta, a do bombo, é a minha filha. 
A conversa não podia durar muito. O tempo urgia e outras casas esperavam o grupo que anda neste mundo das tradições, há uns 30 anos, a Cantar os Reis, que o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré faz questão de nos oferecer. 
Muito obrigado pela visita. E para o ano, se Deus quiser, cá estaremos.

domingo, 15 de janeiro de 2017

Universalismo Cristão (II)

Crónica de Frei Bento Domingues 



1.Têm razão os teólogos que se empenham em sublinhar que o cristianismo não é, fundamentalmente, uma religião do Livro, como dizem que são, por exemplo, o judaísmo e o islão. É, na sua essência, a graça do seguimento de Jesus Cristo como caminho, verdade e vida, fonte de sentido, de beleza e responsabilidade pelos mais abandonados. Para interpretar esse acontecimento profético, os cristãos recorreram, desde o princípio, à chamada “biblioteca do Antigo Testamento”. A partir dela, criaram outra que narra e interpreta a inesgotável beleza de Jesus Cristo. Chama-se o Novo Testamento, a grande escrita da inovação da vida.
O chamado “Novo Testamento”, com dois mil anos em cima, não estará também ele já muito velho e ultrapassado? Vamos por partes.
Por essa e outras razões, vou manter o título do texto do domingo passado — Domingo da Epifania, dos Reis Magos — clausura do ciclo litúrgico do Natal. O cristianismo é, de raiz, universal. Pode ser traído.
Seguindo um género literário identificável, S. Mateus construiu, com velhos materiais, a narrativa da viagem destas enigmáticas figuras, mostrando que já não era em Jerusalém que se podia encontrar a salvação. O Messias, sem poder, sem pompa e sem forças armadas, nasceu para todos, na periferia. Essa significação universal era dada ainda no espaço religioso judaico. Não referi o grande salto teológico de S. Paulo da Carta aos Efésios, recolhida na segunda leitura da mesma celebração universalista: “Os gentios recebem a mesma graça que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.”
Não será essa uma questão já ultrapassada? Talvez sim e talvez não. Não passo adiante sem voltar mais atrás. As narrativas notáveis de S. Lucas, em dois volumes, de cristologia e eclesiologia, oferecem referências históricas e geográficas ao processo de universalização do cristianismo que importa destacar e talvez nos possam ajudar no presente.
S. Mateus partiu de Abraão para falar da origem de Jesus Cristo. S. Lucas, ao recuar a genealogia de Jesus até Adão, sublinhava que Ele assumiu o passado de toda a humanidade. Ampliou essa convicção nos Actos dos Apóstolos. Jesus, o judeu, não assumiu apenas o passado, mas também o presente e o futuro da humanização cósmica e divina da História. A coligação de Herodes e Pôncio Pilatos, com as nações gentias e os povos de Israel contra Jesus, não só não o derrotou, como até provocou uma ideia perigosa, que alguns julgam, erradamente, totalitária: “Não há outro nome dado aos seres humanos pelo qual possam ser salvos.” [i].

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Jesus e a revolução judeo-cristã

Crónica de Anselmo Borges 

Deus encarnou em Jesus Cristo

1 As sabedorias filosóficas antigas, orientais e da Grécia, elaboraram "espiritualidades" em ordem a uma vida boa, sem passar nem por Deus nem pela fé. Foi frente a essas sabedorias que o cristianismo, a partir da sua herança judaica, ergueu uma orientação nova, religiosa, de salvação, enraizada na fé num Deus pessoal, transcendente e criador. Essa nova representação foi "tão atraente e prometedora" que triunfou durante séculos sobretudo na Europa. Esta é a tese desenvolvida pelo filósofo não crente Luc Ferry, antigo ministro da Educação em França. O que é facto é que, "entre o século V e o século XVII, o Ocidente foi essencialmente cristão, cultural e filosoficamente cristão, de tal modo que a filosofia moderna, a partir do século XVII, mesmo quando foi crítica em relação às religiões, até resolutamente ateia, não deixou de ser marcada de modo decisivo por esta herança religiosa". O fundo de cultura judeo-cristã é omnipresente e por isso "é indispensável" que mesmo os não crentes se interessem e captem os traços fundamentais dessa cultura, para "se compreenderem a si mesmos e compreenderem o mundo dentro do qual vivemos", escreve Luc Ferry. A pergunta é: "Que havia de tão profundo, de tão sedutor, atraente e fascinante na mensagem de Jesus (e concretamente no que se refere à morte que injecta sempre a angústia no coração dos homens), para ter-se arrogado com tanta força o monopólio da definição legítima da salvação e da vida boa, em detrimento das espiritualidades filosóficas que formavam o essencial das sabedorias antigas?"

Dar testemunho de Jesus, o Filho de Deus

Reflexão de Georgino Rocha


 “A alegria do amor 
que se vive nas famílias 
é também o júbilo da Igreja”

Após o ciclo litúrgico e festivo do Natal, a Igreja entra no tempo comum e propõe que voltemos ao que foi celebrado e aprofundemos a sua relação com a nossa vida, o seu alcance para o cuidado da criação, o seu sentido para a história da humanidade. Isto é, que nos familiarizemos com Jesus Cristo e a sua mensagem.
João Baptista surge, hoje, a dar o seu primeiro testemunho a respeito de Jesus. Fá-lo, ao ver que Ele vem ao seu encontro e se aproxima. Recorre a metáforas bíblicas conhecidas pelos ouvintes: O cordeiro e a pomba. Ambas de grande simbolismo. O cordeiro pela mansidão, ternura, vulnerabilidade, relação com o rebanho e o pastor. A pomba pela inocência e pela paz, pelo amor puro e pela esperança anunciada.
O livro bíblico «Cantico dos Cânticos» desenha muito bem a riqueza das metáforas para expressar o amor humano, reflexo do amor divino: “Pomba minha… deixa-me ver a tua face, ouvir a tua voz, pois a tua face é tão formosa e tão doce a tua voz” (2, 14). “Abre, minha irmã, minha amada, pomba minha sem defeito” (5, 2). E o rosto do masculino e do feminino, em harmonia deslumbrante, faz surgir a beleza do amor fontal e da torrente criadora. Esta metáfora torna-se recorrente na revelação do amor de Deus por nós e alcança em Jesus e na sua relação com a Igreja a realização plena.
Por isso, o papa Francisco pode dizer: “A alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja”. (AL 1). E apresenta uma bela e exigente meditação sobre este amor quotidiano no capítulo quarto da sua exortação apostólica. Exigência impregnada de paciência e atenção ao outro, de abnegação e sacrifício.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Visita Pastoral ao Arciprestado de Ílhavo

Urge fazer a leitura permanente 
dos sinais dos tempos


Como estava programado, o Bispo de Aveiro, D. António Moiteiro, iniciou a Visita Pastoral ao Arciprestado de Ílhavo, o que honra todos os diocesanos radicados nas cinco paróquias, nomeadamente, S. Salvador, Gafanha da Nazaré, Gafanha da Encarnação, Gafanha do Carmo, Costa Nova e Barra. Digo que é uma honra, porque o povo católico, e não só, terá várias oportunidades de ouvir e conversar com o prelado aveirense, que vem estimular a caminhada coletiva ou individual de cada um de nós, na linha da construção do Reino de Deus. Uma Visita Pastoral, no meu entendimento, traduz-se numa oportunidade de revitalização das pastorais diocesana e paroquiais, dirigidas aos crentes e, a partir deles, a toda a gente, numa perspetiva da fé dos batizados, assente em tarefas de evangelização e de catequese, que hão de projetar-se na vida de todos. 
Para além dos diálogos que D. António  Moiteiro alimentará com os responsáveis pelas estruturas paroquiais e com os paroquianos, em diversos momentos da visita, espera-se que daí saiam propostas de alterações e melhorias nos serviços, respondendo cabalmente aos desafios que os novos tempos impõem. Diocese e paróquias que não façam a leitura permanente dos sinais dos tempos correm o risco de se tornarem pesos mortos na sociedade em constante mutação. 
Para além dos encontros e conversas, dos momentos de reflexão e das propostas de inovação, das passagens atentas pela estruturas sociais e pelas empresas que geram riqueza ou passam dificuldades, mas também das indispensáveis visitas a doentes e aos fragilizados pela doença ou idade, não hão de faltar celebrações litúrgicas que contribuam para a unidade dos crentes em torno da Boa Nova de Jesus Cristo, que veio propor, a todos os homens,  a civilização do amor, que hoje, porventura mais do que nunca, necessita de pessoas e organizações com capacidade de liderança e de ação, responsáveis e estimulantes.

Calendário da Visita Pastoral

Costa Nova: 8 a 15 de janeiro
Barra: 14 a 22 de janeiro
Gafanha do Carmo: 22 a 29 de janeiro
Gafanha da Nazaré: 5 a 19 de fevereiro
Gafanha da Encarnação: 19 a 26 de fevereiro
S. Salvador: 12 a 26 de março
Encerramento: Ílhavo, 15 de março, dia do Corpo de Deus.

Jornada Diocesana da Infância Missionária

. GAFANHA DA ENCARNAÇÃO 
. 21 de Janeiro, sábado
. Das 10 às 16 horas



No próximo dia 21 de janeiro, entre as 10 e as 16 horas, vai realizar-se, na Gafanha da Encarnação, a II edição da Jornada Diocesana da Infância Missionária, que tem por tema "Crianças evangelizam e ajudam crianças".
Neste dia haverá várias atividades para e com crianças e suas famílias, não só dos grupos de Infância Missionária que a Diocese já tem, mas também para todas as crianças das várias paróquias da Diocese que desejem participar.
É oportuno destacar do programa as tendas alusivas aos continentes, com atividades associadas à cor de cada continente e aos povos dessas regiões. Também estão agendadas pinturas faciais e modelagem de balões, tenda das mensagens e desenhos missionários, jogos tradicionais, comércio solidário e danças do mundo no palco. Projeções de vídeos da Infância Missionária, almoço partilhado, hora do conto e animação de rua são outras ações que enriquecem as jornadas e os participantes.
Todas as atividades são gratuitas, sendo que a única coisa que se pede é que cada criança traga uma moeda para colocar no mealheiro gigante das missões. A verba recolhida destina-se a ajudar projetos com crianças em países de missão.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

O Poder da Informação

Auditório Paroquial da Gafanha da Nazaré 
24 de janeiro de 2017 
11 horas 


Carlos Matos na primeira pessoa

Não trocava este meu cantinho 
pela vida do Cristiano Ronaldo

O artista exibe um Cristo e chama a atenção para alguns pormenores

Cristos, Nossa Senhora e Presépios 

Uma espiritualidade sempre presente

O artista junto das suas peças

A arte de retirar a tinta

A arte de retirar a tinta

Aprazado o encontro, dirigimo-nos para o local indicado. Entrámos pela rua João dos Santos, em homenagem ao antigo presidente da Junta de Freguesia e industrial da Gafanha da Nazaré, mesmo ao lado de uma pastelaria. Alguns passos andados, sem pressas, chegámos ao armazém com o seu grande portão de ferro, como nos tinha sido dito. No cimo, lá estava a placa que dizia “NICHO D’ARTES”. Uma campainha com intercomunicador era o único sinal de modernidade. Tocámos e identificámo-nos. O Carlos Matos, de bata branca, recebeu-nos com a lhaneza esperada. Num recanto do armazém, do lado direito, lá estava o nicho. Espaço de trabalho e zona expositora bem definidos, mas contíguos. Registámos o silêncio que revestia o ambiente. Nem televisão, nem rádio, nem telemóvel a perturbar aquela paz tão propícia à criatividade. 
O branco das paredes emoldurava quadros e motivos escultóricos de diversas tonalidades e formas. A sensibilidade do artista plástico está bem patente no que os nossos olhos captaram. E algumas peças até nos emocionaram. Como é possível ficarmos indiferentes à arte expressiva e multiforme de um gafanhão, que se especializou, durante muitos anos, na decoração de interiores? Mas o melhor é seguir o Carlos Matos na primeira pessoa e depois visitar quanto antes o seu recanto. Entrevista conduzida por Fernando Martins.

Carlos Matos


Frequentei Arquitetura no Porto durante três anos. Depois a vida não me deixou acabar o curso. Dediquei-me à decoração de interiores e fiz projetos para o país inteiro, de Norte a Sul. Decorei casas particulares e centros comerciais até aos 63 anos. Com a reforma, assumi a minha vida como artista plástico, sem seguir a linha seja de quem for; procuro criar a minha própria bandeira, garantindo que as peças que crio são únicas e irrepetíveis. Não faço serigrafias nem cópias, seja do que for, porque dessa forma estaria a tirar o valor à peça original. As obras encomendadas são peças únicas e jamais haverá qualquer trabalho semelhante.
Faço mobiliário urbano por encomenda, exigindo sempre a propriedade da patente, com todos os direitos. Há painéis meus um pouco por todo o lado, nomeadamente no cemitério de Ílhavo, onde criei um mural. Entendo que a arte é uma maneira de ser, de estar e de gostar. Por isso as peças de arte não têm de ser explicadas. Cada apreciador faz a leitura do que vê. E quando olhamos para figuras estilizadas, o importante é gostar do que se contempla, do conjunto cromático que o artista concebeu e executou. 
Quando as pessoas nascem com alguma vocação artística, talvez nem saibam que têm arte dentro de si. A arte acontece naturalmente. E até se questionam como eu me questionei: — Como é que eu consegui fazer isto? Como é que eu fui capaz? Será que eu sou um artista?
Desde a escola secundária fui sempre o melhor aluno na turma de desenho e o meu professor, Eng. Pascoal, até chegou a enviar desenhos meus, onde não faltavam barcos, ao Comandante Tenreiro, o “patrão” da pesca do Bacalhau. Também gostei de brincar com as coisas nos trabalhos manuais. E nos trabalhos de decoração já criava, já pintava as casas à minha maneira. Mas um dia senti o clique.
A arte pode ser inata, mas precisa de ser burilada, aceitando o artista o desafio de contornar as dificuldades que surgem no dia a dia. A mistura das tintas nem sempre bate certa. Quando trabalho a madeira, se uma peça esgalha onde não quero, tenho mais um motivo para contornar e avançar. E a peça será naturalmente diferente da que estava projetada. Ano a ano vou reunindo um conjunto de técnicas e de saberes, mas reconheço que a evolução é contínua. Com qualquer coisinha estou sempre a aprender.
Por vezes fico louco quando vejo pessoas da minha idade sentadas em jardins a falar de doenças, política e futebol, e quando as desafio, dizem muitas vezes: — Tu és tolo! Eu agora a meter-me em trabalhos. Isto confunde-me um bocado; enquanto eu puder andar e mexer-me, continuarei a criar. Para mim, não existem limites e impossíveis. 
Não tenho duas peças de arte iguais; nem eu nem ninguém. Tenho ali aqueles Cristos todos diferentes; quando eu estou a fazer uma cara não posso fazer a outra. Quem compra uma peça aqui, compra uma peça na Gafanha. Noutra parte do mundo há outras, mas nunca são iguais às que eu faço e vendo. Mais baratas noutros sítios? Talvez, mas não passam de peças feitas em série, rigorosamente iguais. 
A vida sem arte não faz sentido. Aliás, a natureza é que nos ensina, mas temos de descobrir a arte que está nela. E nessa descoberta está a sensibilidade do artista ou das pessoas. Quem nos ensina a pintar a água é a própria água; quem nos ensina a pintar o céu é o próprio céu. Água e céu que são todos os dias diferentes. O céu que eu pinto é o de um momento concreto; se eu o mostrar no dia seguinte, direi que é o céu de ontem. E nunca mais vejo outro céu igual na vida. Na natureza nada é igual e tudo está em mutação constante. 
É curioso como tão pouca gente sabe que eu tenho este meu recanto. Nem muitos dos meus amigos com quem tomo café todos os dias me perguntam por que razão é que eu ando de bata; nem sequer me perguntam o que é que eu faço e muito menos manifestam a intenção de ver os meus trabalhos. No entanto, tenho peças na República Checa, no Brasil, em Angola, nos Estados Unidos e em diversas regiões o nosso país. Não os motivo? Nunca gostei de falar aos outros das minhas artes. Nunca gostei de me insinuar.
Acho piada à falta de curiosidade das pessoas que me conhecem. Nunca se sentiram estimuladas ou suficientemente informadas sobre os meus trabalhos. 
Eu não posso viver sem arte e se a deixar o que é que estou aqui a fazer? Eu consigo fechar-me neste meu recanto ao domingo se tiver trabalhos para acabar; estou até às duas da manhã, se for preciso. Quando venho para aqui estou morto por chegar; quando estou para sair estou danado por ter de ir embora. E não trocava este meu cantinho pela vida do Cristiano Ronaldo! Este é o cantinho que eu criei, que eu fui comprando peça a peça, que eu fui burilando; é aqui que eu me sinto bem a olhar para os meus Cristos.

NOTA: Entrevista publicada no jornal Timoneiro

domingo, 8 de janeiro de 2017

Uma voltinha para ver a vida

Barquinho à vela

Ao longe, a ponte que dá acesso às praias

Moliceiro moribundo?

À espera da maré ou de peixe que pique?

Do longe se faz perto: Gafanha da Encarnação vista da Costa Nova

Hoje demos uma voltinha para ver a vida. O dia, luminoso e sereno, estava aliciante. A laguna apresentava-se convidativa para quem gosta e pode velejar. Impossível estacionar para quem não pudesse caminhar muito e com facilidade. Como nós, um mar de gente inundou as praias da Barra e Costa Nova. Gostámos de sentir neste inverno, ainda nos começos, um dia primaveril. Somos realmente uns privilegiados.
Se o mar se tornava impossível para mim e para a Lita, fixámo-nos na ria, sempre esplendorosa. Pescadores pacientes esperavam, aqui e ali, a hora da maré. As velas faziam adivinhar o prazer de velejar e de se deixar ir ao sabor da brisa suave. Famílias divagavam com a criançada eufórica pela liberdade oferecida pelo dia calmo. Nos carros, voltados para a laguna, gente sonhava porventura com o verão que ainda está longe.
Olhando à nossa volta, percebemos que a vida existe apesar das crises ameaçadores que reduzem dia após dia os magros salários, obrigando-nos a ginásticas forçadas, não físicas apenas, mas sobretudo morais. Em especial quando, impotentes, não vislumbramos forma de vencer a carestia da vida.
Morte anunciada nas margens da laguna? Apenas, à vista de quem passa, um moliceiro que jaz à espera de quem lhe dê a machadada final e inglória que ele porventura nunca sonhara.
Boa semana para todos.