quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O Miguel Lencastre (Padre)

Um texto de José António da Piedade Laranjeira,
no Correio do Vouga de hoje

Padre António Maria, Fernando Martins, Daniel Rodrigues e Padre Miguel Lencastre


O "Correio do Vouga" de hoje (22 de janeiro) dava, para mim, a inesperada notícia: "Faleceu no Brasil, aos 84 anos, o padre... Miguel Lencastre". Notícia que me apanhou em falta para com o Miguel, o que, mais uma vez, veio pôr em evidência o "não guardes para amanhã o que podes fazer hoje". Foi uma triste notícia que me pôs a recordar os tempos em que nos conhecemos e partilhámos, com mais noventa e oito colegas, uma antiga cavalariça transformada em caserna, ali na Escola Prática de Artilharia, sita na então vila de Vendas Novas, no Alentejo.
Éramos soldados-cadetes a frequentar o curso para oficiais milicianos e por lá passamos, em conjunto, as agruras, para quem não é da região, do clima do alentejo (calor de desmaiar e frio de rachar), e vencendo as dificuldades próprias do curso lá saímos com o posto de Aspirante a Oficial Miliciano.
Mas o Miguel não era fácil de se submeter às rígidas normas militares e era um dos mais irreverentes, encontrando saídas inesperadas para algumas situações que ofereciam riscos se fossem detetadas. Era um gosto vê-lo a planear as suas "manobras táticas" e foi um gozo quando, na récita que organizamos para a festa de encerramento do curso, ele e mais uns tantos se apresentaram como as "mais delicadas e elegantes bailarinas de um ballet russo contratado para aquela récita".
Em tempo, como estudante de Coimbra de capa e batina, viveu uma situação engraçada aqui em Albergaria-a-Velha, pois, pedindo com um outro colega boleia na Estrada Nacional n.°1, na proximidade da Branca e sob chuva intensa, foram atendidos por um automobilista que perante a situação os levou para a Casa Alameda, onde jantaram e dormiram. No dia seguinte, manifestaram interesse em agradecer ao senhor que tudo tinha pago e que devia ser um viajante de alguma empresa e ficaram estupefactos quando souberam que o benemérito era o médico Dr. Flausino Correia, a quem foram agradecer e convidar para participar no "Centenário da República" a que pertenciam.
Passados dias, tendo o Dr. Flausino Correia perguntado se poderia levar mais dois antigos académicos e um leitão assado e qual o traje para a cerimónia, veio a resposta: "Pode trazer os académicos com traje de passeio mas o leitão pode vir nu". (Não posso garantir mas esta resposta teve, de certo, dedo do Miguel.)
Entretanto, num dia de agosto, participando na missa que tinha lugar ao ar livre, na Praia da Barra, o padre que presidia deixou-me surpreso porque não me era estranho, mas a sua pronúncia de brasileiro levantava-me dúvidas, eliminadas quando, após a bênção, desceu do altar e veio-me abraçar. Tinha reencontrado o Miguel e logo ali o convidei para vir a Albergaria passar um serão connosco. Assim se verificou e fizemos-lhe a surpresa de também convidar o Dr. Flausino Correia e esposa e ali ficamos a conhecer outras facetas do percurso do Padre Miguel que usava o relógio de pulso voltado para baixo porque, como dizia... "é um símbolo da alteração da minha vida pois rodou 180 graus".
Do pouco que vivi ligado ao Miguel o que mais me impressionou foi o ter encontrado em Lisboa um nosso camarada de armas e este, à mesa do café, com um ar de muita preocupação, me ter dito: "Sabes como sou amigo do Miguel e ontem estive com ele e perante o que me confidenciou já decidi: vou entrar em contacto com a família e dizer-lhes que o Miguel não está bom da cabeça".
Perante a minha exclamação de surpresa e respectiva pergunta do porquê de tal decisão, a resposta veio seca: "Oh pá, ele quer ser padre... o Miguel!"
Quis ser... e foi.
Insondáveis e inesperados são os caminhos do Senhor.
Adeus, amigo. Descansa em Paz.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Dia Mundial do Doente



A Igreja Católica celebra hoje o Dia Mundial do Doente. E fá-lo para nos lembrar que os doentes devem merecer de cada um de nós uma atenção especial, envolvida pelo sentido da caridade fraterna, da disponibilidade a toda a prova, do amor incondicional. Quem sofre não pode ficar esquecido pelos seus amigos e muito menos ignorado pelos serviços de saúde estatais ou outros, nem tão-pouco pelos familiares próximos ou mais afastados. Mas ainda pelos colegas de trabalho e vizinhos.
Só quem já passou por períodos de doença mais ou menos prolongados saberá reconhecer, em plenitude, o valor dos cuidados que lhe dispensaram, o carinho e a simpatia de quem o visitou. Eu próprio, que estive acamado mais de dois anos na minha juventude, por doença pulmonar que hoje se trata sem cama, posso testemunhar a alegria que sentia quando amigos me visitavam, como dificilmente esquecerei a indiferença com que outros me distinguiram. A vida tem destas coisas. Os primeiros permanecem no meu coração, como é óbvio.
Então, que o Dia Mundial do Doente sirva, ao menos, para nos lembrar que há, garantidamente, amigos nossos que sofrem e que esperam a ternura da nossa amizade.

Pode ler a Mensagem do Papa Francisco para este dia.


A Gafanha

 

«[A Gafanha] Era um lençol desolador de areia branca, de dúzias de quilómetros quadrados, que os braços da laguna debruavam a norte, a leste e a poente, isolando do contacto da vida a solidão árida do deserto.
Lá dentro, longe das vistas, bailavam as dunas, ao capricho dos ventos, a dança infindável da mobilidade selvagem dos elementos em liberdade.
Brisas do mar e brisas da terra, ventos duráveis do norte em dias de estabilidade barométrica, e rajadas violentas de sudoeste a remoinharem no céu enfarruscado de noites tempestuosas, eram quem governava o perfil das areias movediças cavadas em sulcos e erguidas em dunas de ladeiras socalcadas a miudinho.
Era assim a Gafanha do tempo dos nossos bisavós: deserto enorme de areia solta, a bailar, ao capricho dos ventos, o cancan selvagem de uma liberdade sem limites.
Um dia, não longe ainda, um homem atravessou a fita isoladora da Ria e pôs pé na areia indomável. Não sabe a gente se o arrastava a coragem do aventureiro, se o desespero do foragido. De qualquer modo, ele fez no areal a sua cabana, à beira da água, e principiou a luta de gigantes do Gafanhão contra a areia.»

Joaquim Matias,
in Arquivo do Distrito de Aveiro,
vol IX, página 317

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O Mar pode chegar à Ria




Carlos Coelho: 

“O mar pode chegar à ria em menos de 30 anos 
mas o cenário de não fazer nada é pouco realista”

«Se nada for feito em 30 anos o mar estará ligado à ria. A ideia foi transmitida por Carlos Coelho, investigador do departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro. Ouvido esta semana em seminário organizado pela Delegação Distrital de Aveiro da Ordem dos Engenheiros, o investigador falou de uma progressão que se agrava com as condições climatéricas.


Grandes veleiros em 2016?

No Diário de Aveiro de hoje

Grandes Veleiros (Foto do meu arquivo)

Ílhavo quer voltar a acolher a festa 
dos grandes veleiros em 2016

Paulo Costa, que assume pastas como as da Cultura ou Turismo na Câmara de Ílhavo, avançou, ao Diário de Aveiro, a possibilidade de o município voltar a receber um grande evento náutico internacional. Prometida fica também a requalificação daquele que é um dos maiores cartazes do município, o Festival do Bacalhau

Jornalista:  Maria José Santana


Paulo Costa (Foto do meu arquivo)

Diário de Aveiro: Assume um dos novos pelouros da Câmara Municipal de Ílhavo, o da Maioridade. Porque decidiram ter um pelouro dedicado aos seniores?

Paulo Costa: A Câmara de Ílhavo tem, há já vários anos, diversas políticas que têm como público-alvo esta franja da nossa população, a que decidimos chamar de maioridade. Mas achámos que era necessário ter uma intervenção mais estruturada, mais profunda e envolvendo mais parceiros. Para isso, considerámos que seria importante, neste mandato, que fosse criado o pelouro da Maioridade. E foi assim que ele surgiu.
A esta altura, temos já preparado um conjunto de acções para, durante os próximos quatro anos, fazermos grandes mudanças e investimentos a este nível. Inaugurámos, há um ano, o Fórum Municipal da Maioridade; temos, há vários anos, a Semana da Maioridade; além de outros projectos para os idosos. Agora, estamos a preparar tudo para que, durante este ano, possamos, então, trazer à luz do dia um conjunto de projectos novos, que já estão a ser preparados.

Isso tem a ver também com o facto de a franja da população idosa ser cada vez maior…

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Código genético (2)

Crónica de Frei Bento Domingues  
no PÚBLICO de hoje



1. Nada é inocente, nada está irremediavelmente perdido, tudo precisa de nascer de novo, a começar pelas palavras da fé cristã e dos seus rituais. A dignidade essencial do ser humano manifesta-se, precisamente, na capacidade de se interrogar, de se corrigir, de mudar de rumo, de não se conformar com o mundo tal como se apresenta. A história do cristianismo está carregada de ambiguidades, de equívocos, de pecados, mas a conversão faz parte do seu caminho de reencontro com o seu “código genético”.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

MIRÓ: Há males que vêm por bem



Por causa do leilão de obras de Miró, que um banco  tinha guardadas num armazém, escondidas do público e porventura à espera da melhor altura para ganhar mais uns milhões, o mundo ficou a saber muito mais sobre o grande artista catalão. Esta história, passada como telenovela   nas nossas TV, tanto falou do artista e dos seus quadros, cada um dos quais a valer fortunas, que a arte até saiu valorizada, porque mais conhecida. Não será verdade que imensa gente recorreu à Net para saber algo do artista consagrado e dos seus trabalhos? Penso que sim. Dá mesmo para pensar que há males que vêm por bem... Quero admitir que, sendo o banco menos legal nos seus negócios, como à boca cheia se apregoa,  nos armazéns só havia arte pura, muito longe de cópias ou  falsificações... 

DIABETES: Cura à vista?


(Imagem do DN)

«Cientistas norte-americanos conseguiram transformar células de pele normais em células pancreáticas produtoras de insulina, o que potencialmente abre a porta a uma cura para a diabetes.
Investigadores da Universidade da Califórnia reprogamaram células de pele, denominadas fibroblastos, retiradas de ratos e fizeram com que estas produzissem insulina, tal como as células do pâncreas, noticia a Press Association (PA).

O Papa e o maldito sexo. 1

Crónica de Anselmo Borges 




Não. Francisco não é o Papa dos "pobrezinhos", ao contrário do que, com menosprezo, escrevem certos comentadores. Ele é o Papa de todos, na justiça, na solidariedade, nas reformas da Igreja, e é esperável que tenha êxito.

Tem gigantescos desafios pela frente e, entre eles, está certamente a questão da sexualidade e da família no mundo actual. Nesse sentido, lançou um inquérito dirigido a todos os católicos do mundo e não apenas aos bispos e aos padres, precisamente sobre este tema, de tal modo que os fiéis todos puderam exprimir-se livremente a Roma, o que nunca tinha acontecido ao longo dos dois mil anos da Igreja. O Papa quer ter conhecimento directo da experiência e do pensar das pessoas sobre estas temáticas. Antes, a Cúria era informada pelos bispos, contendo os seus relatórios "mais desejos piedosos do que factos", como refere a Der Spiegel da passada semana (27 de Janeiro). Não se conhece ainda o número de respostas nem os seus resultados - em Portugal, o interesse parece ter sido diminuto e não se viu empenho forte por parte da Igreja oficial -, mas eles constituirão uma base de reflexão para o Sínodo extraordinário dos Bispos, em Outubro próximo.

A FORÇA DO SAL, O BRILHO DA LUZ

Uma reflexão de Georgino Rocha



Jesus “lança mão” de duas parábolas muito acessíveis aos seus discípulos para desvendar de forma assertiva quem eles eram e, consequentemente, qual a missão que lhes seria confiada. Condensa deste modo o ensinamento maravilhoso das bem-aventuranças e traça o perfil de quem as vive. Previne quanto ao risco de desvirtuar a novidade que comportam e adverte quanto à “ sorte” esterilizante que advém da corrupção e do engano. Realça com notável satisfação a força do sal e o brilho da luz, símbolos qualificados dos discípulos e selo inconfundível do ser cristão ao longo dos tempos. Também, hoje!