Dioceses velhas, dioceses novas, critérios conciliares
António Marcelino
O problema voltou à praça pública, onde a livre opinião tem lugar e sentido. Muitos dos interessados nem deram por isso, donde a crise em Portugal não ser apenas económica. O diário “i” de 24-25 de Dezembro último, publicou uma entrevista, com fotografia e chamada à primeira página, feita a D. Manuel Clemente, Bispo do Porto. O entrevistador, já lá para o fim, pergunta: “Continua a falar-se da possibilidade de dividir a diocese, que é a maior do país. Isso faria sentido?” D. Manuel respondeu: “Será muito difícil nos tempos próximos que aconteça, por causa do pouco clero que temos - somos 300 e tal sacerdotes. Se fossemos dividir ainda mais os poucos recursos que temos para criar os organismos centrais que cada nova diocese iria requerer, seria muito complicado”.
O Bispo do Porto é hoje o bispo português mais mediático e com maior audiência pública. A cada passo se fala dele e ele aparece a falar na rádio, na televisão, nos jornais, em congressos e simpósios, em conferências e encontros, sempre com microfones abertos e disponíveis. Por isso mesmo, ele não é, como homem da Igreja, uma voz qualquer. O que diz serve de critério para muita gente que o ouve, lê, segue, e forma, a partir daí, a sua ideia e imagem da Igreja. Ora, no apreço que a pessoa e o tema me merecem, fiquei perplexo com a resposta lida. A meu ver, perdeu-se uma ocasião propícia para que, em relação à hipótese de novas dioceses, se transmitissem critérios conciliares, válidos e actuais, em vez dos pobres critérios tradicionais, centrados apenas no clero, como se a caminhada de renovação da Igreja, Povo de Deus, não tivesse a orientá-la senão o horizonte clerical.