sábado, 28 de novembro de 2009

Diz Vasco Pulido Valente:"A história é triste. É Portugal por uma pena."



Portugal por uma pena

"Agora, Jaime Gama, que - segundo corre - alimenta ambições presidenciais, resolveu pôr a casa na ordem. Com um cargo essencialmente simbólico, não lhe assiste qualquer autoridade para essa operação. O que não o impediu de perorar sobre os "deveres parlamentares", nomeadamente sobre o "dever de assiduidade", de exigir um "visto" oficial para certos tipos de faltas (não ao plenário, evidentemente) e de proibir certas benesses muito apreciadas (o "desdobramento" de algumas viagens, em primeiro lugar). Perante isto, o Parlamento (incluindo o grupo socialista), que sempre obedeceu sem mugir nem tugir aos chefes dos partidos, teve um sobressalto e uma revolta. Votar como lhe mandam não ofende a deputação do país. Prescindir da hipocrisia, da trapalhada e da borla não admite. A história é triste. É Portugal por uma pena."



Vasco Pulido Valente, no PÚBLICO de Hoje


"Só faltava esta: descender de macacos! Se for verdade, rezemos para que ninguém saiba"


Darwin

Darwin e a religião


Ainda no contexto da dupla celebração neste ano de 2009 - 200 anos do nascimento de Charles Darwin e 150 anos da publicação de A Origem das Espécies -, fica mais uma reflexão sobre o tema em epígrafe.

Aquela história repetida - o bispo de Oxford, S. Wilberforce, perante enorme assistência a uma conferência, perguntou a Thomas Huxley, defensor de Darwin, se descendia do macaco pelo lado do avô ou pelo lado da avó; face à resposta, desconfortável para o bispo, uma senhora desmaiou e a mulher do bispo terá murmurado: "Só faltava esta: descender de macacos! Se for verdade, rezemos para que ninguém saiba" - não será completamente verdadeira, mas revela bem o abalo e a perplexidade causados pela tomada de consciência de que descendemos por evolução de outros animais.

Concretamente quanto à religião, é significativo que a obra de Darwin não tenha figurado no Índex (lista dos livros proibidos aos católicos). Por outro lado, Darwin foi sepultado com pompa na Abadia de Westminster, a alguns passos do túmulo de outro gigante da ciência, Newton.

Em 1996, o Papa João Paulo II declarou, perante a Academia Pontifícia das Ciências, que "a teoria da evolução é mais do que uma hipótese". E, para marcar os 150 anos de A Origem das Espécies, realizou- -se recentemente na Universidade Gregoriana de Roma um Congresso sobre "Evolução biológica, factos e teorias", patrocinado pelo Conselho Pontifício para a Cultura. Os organizadores fizeram questão de excluir os partidários do "criacionismo" e mesmo do "desígnio inteligente".

Há evolucionistas materialistas, ateus, mas também os há crentes. As relações só azedam, quando, de um lado e do outro, se ergue o fundamentalismo: cientista ou religioso. Ora, contra esse duplo fundamentalismo, é preciso saber que Deus não é objecto de ciência: cientificamente, não se demonstra nem que há Deus nem que Deus não existe. Deus é objecto de fé e há razões para acreditar como há razões para não acreditar.

Assim, é tão ridículo invocar o livro do Génesis, com o seu mito da criação, lido literalmente, para negar a evolução, como invocar a ciência para provar que não há Deus. O Génesis é um livro religioso e não científico e a ciência nega-se a si mesma, quando pretende pronunciar-se sobre questões da esfera metafísica e religiosa.

A evolução e a fé não são incompatíveis. A ciência responde ao "como" e não ao "porquê" da realidade. Porque há algo e não nada? Qual o sentido último da realidade? A própria afirmação do acaso cego confronta-se com o que se pode chamar o seu paradoxo: como é que por puro acaso surge um ser - o Homem - cuja questão fundamental é a do sentido.

Aliás, há o famoso "princípio antrópico", que não demonstra Deus, mas que dá que pensar. O físico R. Dicke apresentou-o, em 1961, na sua forma "fraca": "Uma vez que há nele observadores, o universo deve possuir propriedades que permitam a existência desses observadores". Depois, Brandon Carter apresentou-o na sua forma "forte": "O universo deve ser constituído de tal modo nas suas leis e na sua organização que não deixa de um dia produzir um observador". Mesmo se é menos justificável nesta forma "forte", há sempre esta pergunta: porque é que o mundo é como é, de tal modo que aparecemos nele, perguntando por ele e pelo seu sentido? De facto, a mínima variação nas suas condições iniciais faria com que não estivéssemos cá a colocar todas estas questões.

O próprio Darwin viveu a questão religiosa em perplexidade. Na sua Autobiografia, escreve que é extremamente difícil, ou melhor, impossível "conceber este imenso e maravilhoso universo, incluindo o homem, como sendo o resultado do acaso cego ou da necessidade. Quando começo a reflectir assim, sinto-me obrigado a recorrer a uma Causa Inicial que possua uma mente inteligente, até certo ponto análoga à mente do homem; e mereço ser chamado Teísta". Mas, depois, "surge a dúvida" e confessa: "Não posso pretender lançar qualquer luz sobre problemas tão abstrusos. O mistério do início de todas as coisas é insolúvel para nós; e por mim contento-me em permanecer Agnóstico."

Para começar o dia: Recordando o Douro


Douro


O Douro sempre apetecido

É nos dias menos agradáveis que me vêm à memória os bons momentos vividos em dias bonitos. Como é o caso de um passeio ao Douro, onde a paisagem, vista de qualquer ângulo, tem uma beleza ímpar. Nesta foto, até as nuvens são dignas dos nossos olhares àvidos do belo.




sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Os abusos sexuais foram trágicos

Um só crime


1. A hierarquia católica nunca lidou bem com os abusos sexuais do clero, como mostra de novo o relatório publicado na Irlanda (como, já antes, documentos semelhantes no Canadá, EUA, Áustria e Austrália). Durante décadas, vários bispos (incluindo cardeais, como Bernard Law, ex-arcebispo de Boston) preferiram o chamado "bem da Igreja" ao bem das vítimas - exactamente o contrário do que a sua fé lhes diz.
Uma das razões para esta falta de tacto era a forma como se reprimia a sexualidade. Como certeiramente disse o ministro irlandês da Justiça, Dermot Ahern, o episódio traduz a "ironia cruel de uma Igreja que, motivada em parte pelo desejo de evitar o escândalo, de facto criou um outro, de uma incrível amplitude". Para a própria Igreja, o encobrimento foi trágico: nos EUA várias dioceses tiveram que vender património e declarar falência, para pagar indemnizações às vítimas.


2. O problema é mais vasto: o relatório irlandês culpa também as instituições do Estado pela omissão na descoberta da verdade. A questão traduz também o modo como, em sociedade, nos relacionamos com os afectos e com os mais frágeis. As relações entre as pessoas são também, em muitos casos, relações de poder e só nas últimas décadas a pedofilia começou a ser mal vista pela opinião pública. O caso Polanski aí está para o recordar: alguns desculpam ao cineasta o que não perdoam em outros casos. E as contradições judiciais do caso Dutroux, na Bélgica, mostram a dificuldade com que ainda se lida socialmente com estas questões.


3. Nem sempre os media deram igual atenção às medidas tomadas para sanear o problema (posições de João Paulo II ou Bento XVI, decisões dos episcopados) que deram aos escândalos. Outro dado: números da Conferência Episcopal americana (80 por cento dos padres envolvidos eram dos EUA, uns 4400, num total de 5000 em todo o mundo) dizem que, desde 1950, foram "só" quatro por cento do número total os padres que estiveram envolvidos em casos de pedofilia. Apesar de tudo, uma parte reduzidíssima do clero. Mas bastaria um crime de um único padre para que a questão já fosse importante.

António Marujo, no PÚBLICO de hoje

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Um poema para esta hora de silêncio na minha tebaida



SILÊNCIO

Só o silêncio
no ramo!
Já chegou
e já partiu
quem nele poisou
um dia
e quem sofreu
a agonia
de ser uma pausa
breve...
silêncio
de quem já foi
silêncio sorriso
alegre
silêncio
da dor que mói...
só o silêncio
se escuta
naquele ramo
oscilante
silêncio
da asa solta
que se foi
ao sol levante!...

Maria Mamede

In Grupo Poético de Aveiro

É neste momento que os monárquicos choram o seu rei

Acabou-se a liberdade


«Já ninguém se entende no país dos brandos costumes e agora pegou a moda de todos acusarem todos. O país está a brincar com o fogo: não tarda nada esquece a importância do significado da palavra liberdade. E aí...

O regulador dos media, a ERC, vai investigar se existem interferências do governo no sector. Os juízes, por sua vez, querem saber se existe espionagem política no país. Todos se sentem vigiados, mas ninguém sabe se essa sensação é real. Ou melhor, o director do "Sol" acusou claramente pessoas ligadas ao primeiro-ministro de lhe terem prometido dinheiro (para os problemas financeiros do semanário que dirige) em troca de não publicar notícias sobre o Freeport. E um juiz de Aveiro sustenta que Armando Vara está envolvido em negócios obscuros. O que se passa neste país?»

Martim Avillez Figueiredo

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EUROPA DOS INTERESSES

Europa dos interesses
ou do pluralismo democrático?


A decisão do Tribunal Europeu de Direitos Humanos, a partir de um equívoco do laicismo provocado por outros equívocos, que define a “presença dos crucifixos nas escolas da Itália como uma violação da liberdade religiosa dos alunos”, traz ao de cima um problema mais grave que o dos sinais religiosos em lugares públicos. Este problema cifra-se na prática corrente de as instâncias europeias decidirem, com um dogmatismo carregado de moralismo ou amoralismo, sobre os países da União, em relação a aspectos que bolem com a sua história, cultura, religião e identidade nacional, como se tratasse de definir as cotas leiteiras. Agora foi a Grécia a reagir.

Para começar o dia: Uma Boa Ideia para Portugal

"Uma ideia: preparar o futuro da educação. Como: preparando melhor os futuros professores. Porquê: porque em breve vai aumentar a procura de profissionais do ensino. De que forma: dando maior importância à formação dos futuros professores e instituindo exames para entrada na profissão. Quando: já!"

Nuno Crato

No i de hoje

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Açores... terra de ventos fortes



Que grande susto!

O meu filho João, que  vive e trabalha nos Açores, quis assustar a família, enviando-me esta foto de um avião em situação delicada, por causa dos ventos fortes e incertos. O piloto lá conseguiu aterrar, depois do susto que pregou aos passageiros. Mas o meu João, homem corajoso, não vai ter medo de levantar voo na Terceira, para passar o Natal connosco. Até um dia deste, João! Por cá te esperamos.

Nossa Senhora dos Navegantes está em toda a parte...



SENHORA DOS NAVEGANTES

Um leitor, amante da fotografia e da cultura, mas também amigo do seu amigo, teve a gentileza de me enviar esta foto, captada em Japaratinga, julgo que no Brasil. Sabe quanto gosto de Nossa Senhora dos Navegantes, ou não fosse eu filho de marítimo, e aqui fica a prova da sua amizade. Para o Dinis, um abraço, com um obrigado por se ter lembrado de mim, certamente bem longe da Capela da Senhora dos Navegantes, no Forte da Barra,  Gafanha da Nazaré.

Dar o peixe é sempre pouco...



Alimentar o pão da esperança

1. Este fim-de-semana decorre a nível nacional a campanha do Banco Alimentar contra a Fome. Não é publicidade, são milhares de toneladas de alimentos partilhados, são milhares de voluntários pelo país inteiro, são milhões de pessoas generosas que partilham das suas possibilidades com quem nada tem. É um facto: matar a fome primeiro, formar e reformar para que a fome não exista vem depois. São centenas as instituições que ao longo do ano beneficiam desta corrente solidária que marca um sinal de solidariedade no nosso país. Quem diria há alguns anos que a campanha do Banco Alimentar se viesse a tornar a enorme esperança de pão para muitos que hoje representa?

2. Sabe-se que o dar o peixe é sempre pouco e que o ensinar a pescar representa o passo formativo em ordem ao futuro efectivamente melhor e mais comprometido. Mas às bocas sem pão, à fome que existe habitualmente e mesmo à nova fome escondida como consequência das recentes crises, o “pão” é que salva, pois ele é que pode dar a força ao corpo e garantir os mínimos da dignidade a que cada pessoa humana tem direito. Tal como é verdade que o pão garantido aumenta a esperança de o ganhar cada dia, do mesmo modo o contrário também se confirma: quando o pão não existe «todos ralham», a desmotivação cresce, o desespero amplia-se, o lar familiar pode entrar numa espiral descendente onde tudo é negro e tudo parece amargo e perdido.

3. O frio está a começar a apertar, para todos, com abrigo ou sem abrigo. O abandono às noites das grandes cidades, local como mundialmente, reflectem a brisa de muita solidão que teima em manter-se, quando não um cortejo a ampliar-se. Esta dura realidade solitária interpela todos e os proclamados modelos de desenvolvimento. Estes dias que abrem o mês de Dezembro apelam-nos à nobreza do essencial da vida para que a partilha seja dar-se a si mesmo numa esperança que irradie dias melhores para todos. O pão da esperança precisa mesmo de todos!

Bancos Alimentares realizam mais uma Campanha de recolha de alimentos em 28 e 29 de Novembro





A solidariedade sempre renovada
dos portugueses volta a ser posta à prova


Os Bancos Alimentares Contra a Fome voltam a apelar, no próximo fim-de-semana, à generosidade do público em mais uma campanha de recolha de alimentos. A solidariedade sempre renovada dos portugueses volta a ser posta à prova num momento de particular dificuldade e necessidade: nunca como agora fez tanto sentido a ideia de que é possível fazer a diferença apenas com um pequeno gesto.
Numa época em que muitas famílias portuguesas se encontram em dificuldades, a partilha e a solidariedade são mais do que nunca necessárias. Os desempregados, os idosos, as crianças e as famílias desestruturadas são os grupos mais atingidos pela situação de forte agravamento da situação económica que se vive em Portugal e no Mundo. Para fazer face a um crescente número de pedidos de apoio que tem vindo a chegar aos Bancos Alimentares contra a Fome é forçoso que estes alarguem a sua capacidade de resposta. Concretizar esse objectivo e minorar as carências alimentares das pessoas necessitadas é a proposta lançada uma vez mais a toda a sociedade civil: contribuindo com trabalho voluntário e com alimentos é possível fazer a diferença.
A combinação da solidariedade generosa dos portugueses e da eficácia comprovada da acção dos Bancos Alimentares Contra a Fome na tentativa de minorar a penosa realidade das carências alimentares, constitui a prova evidente de que a sociedade civil se pode - e deve - substituir-se com vantagem ao Estado na resolução de alguns dos problemas com que se confrontam as sociedades modernas, tornados recentemente ainda mais evidentes e agravados pela crise económica, que trouxe consigo um significativo abrandamento da actividade e um brutal e súbito agravamento do desemprego.


Vista Alegre: Loiça oficial das Embaixadas Portuguesas


Loiça da Vista Alegre

Nem sempre damos valor ao que de muito bom temos. As porcelanas da Vista Alegre são, há muito, uma referência artística no mundo. Foi lembrado por estes dias que a Vista Alegre está preszente em todas as embaixadas portuguesas. Na Presidência da República há tradicionais e personalizados serviços desta marca de origem ilhavense, mas assumida como nacional. O jornal i adianta que a Vista Alegre é o novo fabricante oficial das embaixadas de Espanha no mundo. Ainda diz, aquele jornal, que à mesa de Barak Obama, na Casa Branca, também  está presente a Vista Alegre.

Aida Viegas - Tudo passa




Tudo Passa

Tudo passa nesta vida
Nos caminhos e nos ventos
Nas correntes de água turva
Na mente nos pensamentos.
Passa a mágoa com o tempo
Passa a dor e passa a vida
Passa a paz e a alegria
Passa a noite, passa o dia.


Há passantes, há passado
Há o passo a procissão.
Uns seguem pelos caminhos
Outros param na ilusão.
Há quem esteja a ver passar
Há quem vá de escantilhão
Outros seguem arrastados
No meio da multidão.
Há passivos, pacientes
E quem vá só de empurrão
Os perdidos vão seguindo
Caminhos de escuridão.
Passam luas sem luar
Dias sem sol e sem luz
Há quem passe derreado
Carregando sua cruz.


Tudo passa
A fome, a guerra
Passa a banda, a procissão
Passa o ódio e o amor
Passa o luto e a paixão.
Passa o vento, passa o rio
O Outono e o Inverno.
Passa o calor, passa o frio
Só não passa o que é eterno.

Aida Viegas

Para começar o dia: Há uma centelha de sagrado em cada procura artística


Bento XVI com os artistas


“O coração do homem contemporâneo tem uma grande fome de beleza, que é também a beleza total, iluminada pelo transcendente”

Tolentino Mendonça,

Sobre o discurso do Papa aos artistas, na Capela Sistina