sábado, 29 de agosto de 2009

A culpa é da idade

A idade é culpada de muita coisa, boa e menos boa. Se olhar bem, penso que o bom sobreleva o menos bom. Ainda bem. Este mês de Agosto, dos muitos que já vivi, este terá sido o pior. Raros foram os dias em que me senti com calor ou com temperaturas amenas. De manhã, quase sempre registei um ventinho agreste e céu com nuvens mal-encaradas, que me obrigavam a procurar um sol directo que me levasse a dispensar os agasalhos próprios do Inverno. Só em casa me via garantidamente confortável. Daí o facto de me refugiar na leitura e na escrita, com fugazes passeatas para me deleitar com o agradável encontro com o mundo em férias ou sem férias. Tomei nota da falta de muita gente, talvez pressionada pela crise que os órgãos de comunicação social nos traziam à memória a todo o momento, na impossibilidade, certamente, de outros temas ou de imaginação para os descobrir. De modo que tive pena de viver um Agosto tão chocho, pese embora o constante prazer que vivi com familiares e amigos, que tiveram a paciência de me acompanhar. E quando desabafava, recordando férias de antanho, com a família toda à minha volta, que o frio, o vento e o desconforto que o triste tempo me dava, alguém comentou, assertivamente: Isso é por causa da idade. Se calhar até é.
Fernando Martins

Eça de Queirós adorava as férias na praia da Costa Nova


"Eça de Queirós descreveu a Costa Nova, em 1883, como "um dos mais deliciosos pontos do globo". Nas férias costumava frequentar um "excelente chalé", a casa que ainda hoje existe e é conhecida como o palheiro de José Estêvão. Eça elogiava "a brisa, a vaga, a duna, o infinito e a sardinha" da Costa Nova, mas faltava- -lhe uma condição suprema para a inspiração: "um quarto isolado com uma mesa de pinho", como referiu numa carta ao seu amigo Oliveira Martins."

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Faleceu Claudete Albino

Chegou-me hoje a informação do falecimento de Claudete Albino, esposa do meu bom amigo Gaspar Albino. A morte nunca é esperada e longe estava eu de receber esta triste notícia. A dor, seja para quem for, não pode ser ignorada, sobretudo pelos amigos. O seu funeral será na próxima segunda-feira, pelas 11 horas, na capela funerária da Misericórdia de Aveiro.
Muitos gafanhões devem recordar a professora Claudete que leccionou, no início da sua vida profissional, na Escola da Cambeia. Depois, mais tarde, licenciou-se em Direito. Porém, a sua grande paixão, tanto quanto fui percebendo, foi a cultura artística. Pintava com grande sensibilidade, mas também fotografava com arte.
Recordo que a artista Claudete organizou, com o marido, também artista multifacetado, a primeira exposição de artes plásticas, promovida pela Comissão Diocesana da Cultura, tendo notado, nessa altura, a sua capacidade de diálogo e a sua visão para levar por diante um trabalho com muita qualidade.
Acompanho na dor os seus familiares, em especial o meu amigo Gaspar Albino, na certeza de que ele sabe que voltará a estar com a sua Claudete, um dia, no seio da paz de Deus.

Fernando Martins

A tentação do cristianismo

Na França, talvez o país europeu mais laico, não há receio de debater, ao mais alto nível e publicamente, com a participação de alguns dos filósofos hoje mais influentes, a questão da religião e, concretamente, do cristianismo. Assim, realizou-se na Sorbonne, em 2008, um debate sobre o tema em epígrafe, de que resultou um livro, acabado de editar, com o mesmo título: La tentation du christianisme. É que - lê-se na introdução - não se pode esquecer que "a religião foi durante muito tempo a nossa cultura e continua a sê-lo, mesmo sem darmos por isso. Sem uma reapropriação lúcida e esclarecida dessa herança, é grande o risco de ver ressurgir os demónios do passado": os fundamentalismos e "um materialismo hiperbólico". A filosofia leva consigo três perguntas fundamentais, como disse Kant: Que posso saber?, que devo fazer?, que me é permitido esperar? No fundo, o que as atravessa é a questão do Homem e do sentido da existência. Há uma teoria, que responde à pergunta pela realidade global enquanto lugar onde se joga a existência humana. Há uma ética, que pergunta pelas regras do jogo. A terceira pergunta tem a ver com a finalidade do jogo e a salvação: o quê ou quem nos salva da finitude e do temor da morte? Segundo Luc Ferry, antigo ministro da Educação da França, para perceber como é que o cristianismo se tornou chave da cultura ocidental, não há como compará-lo com a filosofia grega e, nomeadamente, o estoicismo, no quadro das três interrogações apontadas. De facto, o cristianismo operou uma revolução nos três aspectos: teórico, ético e soteriológico. Em primeiro lugar, uma revolução no plano da teoria. Na perspectiva grega, o cosmos é theion, isto é, divino, e também Lógos, "lógico", racional, derivando daí a ética: o bem, para os estóicos, era a justeza, isto é, estar ajustado à ordem do cosmos. Na perspectiva cristã, o Lógos divino encarna numa figura humana, Jesus, como diz o Evangelho segundo São João: "No princípio era o Lógos, o Lógos era Deus e o Lógos fez-se carne (Homem)". Deparamo-nos então com uma dupla revolução, ontológica e epistemológica: "O ser supremo, o divino, deixa de ser uma estrutura anónima e cega para tornar-se uma pessoa; o modo de apreensão ou de conhecimento do divino já não é essencialmente a razão, mas a fé." É fundamentalmente com a fé-confiança que se vai ao encontro das pessoas. Daqui, deriva uma revolução ética. A cosmologia grega implicava um mundo hierarquizado e aristocrático, confundindo-se a dignidade moral com os talentos naturais. O cristianismo apresenta o escândalo de um Deus encarnado numa figura humana frágil e, agora, o valor moral já não provém dos dons naturais, mas da liberdade: pense-se na famosa parábola dos talentos - afinal, o decisivo não são os talentos recebidos, mas o que deles se faz. Assim, a infinita dignidade da pessoa humana e a igualdade radical de todos vieram ao mundo pelo cristianismo e "todas as morais democráticas, sem excepção, são directamente suas herdeiras". Finalmente, uma revolução soteriológica. Se o divino já se não confunde com a estrutura cega e anónima do mundo, mas encarnou, identificando-se com uma pessoa concreta, a salvação muda de sentido, tornando-se uma promessa e um compromisso de Cristo, de uma pessoa com outras pessoas, portanto, "um assunto de intersubjectividade, não de mundanidade". Deus em Cristo "ocupa-se de cada um em pessoa e pessoalmente" e dá-lhe a vida eterna, na ressurreição: "Poder reviver e reencontrar depois da morte os que amamos - vamos reencontrar a pessoa amada com o rosto do amor. A promessa é, evidentemente, grandiosa. É aqui que se encontra o coração do coração da tentação cristã, da sedução que o cristianismo exercerá sobre os homens." Luc Ferrry não crê, porque "é demasiado belo para ser verdade". Outros, porém, acreditaram e acreditam, precisamente porque o cristianismo mostra a sua verdade na sua correspondência com o dinamismo mais fundo do ser humano. Cabe a cada um decidir. Anselmo Borges

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

D. Hélder Câmara morreu há dez anos

Completaram-se ontem dez anos sobre a morte de D. Hélder Câmara, o Bispo que mostrou ao mundo um outro modo de olhar o homem sofredor. Tive o grato prazer de o ouvir, há anos, na Sé de Aveiro, cheia como um ovo, em cerimónia simples presidida por D. Manuel de Almeida Trindade. D. Hélder dirigiu a quem estava uma mensagem simples e fraterna, habitual na sua pessoa. Ficou no meu espírito a ideia de um homem de fé, que acreditava numa justiça social assente na Boa Nova de Jesus Cristo.
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Crónica de Férias: Reencontro

Carla Bruni com Sarkozi
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E não disse alguém que
o melhor do mundo são as "adoráveis criancinhas"?
Foi num dos seus habituais passeios de bicicleta, nesta planície, ensolarada e abraçada pela ria, que se encontraram. Uma lojinha do comércio local, onde as pessoas ainda contam como tal e estabelecem relações de boa convivência, foi o cenário deste insólito episódio. Deparou com aquela cliente a procurar as peças de joalharia que mais lhe convinham, como souvenirs da sua estadia na terra natal. Os seus entes queridos que haviam ficado em terras de Sarkozy/Carla Bruni, o casal mediático que anda nas bocas do mundo, decerto aguardavam com expectativa, as surpresas que iriam de avião, para chegarem mais depressa ao seu destino. Sem qualquer assunto específico ou importante, entabularam conversa e sem mais nem p’ra quê, o tema versava a preservação do ambiente. Ouvia-a deliciada, defender com unhas e dentes, o ambiente e as formas como colaborava e se empenhava para fazer valer os seus princípios. Pasmava como aquela criatura preconizava a utilização mínima dos sacos plásticos, que, na sua opinião, deveriam ser pagos nos supermercados. Era uma posição vanguardista e, também, algo polémica, mas arrebatava o anuimento desta veraneante. Era tal a convicção com que debatia e defendia as suas posições que até, numa sugestão ali dada, para reduzir o consumo dos famigerados sacos plásticos, declarava que usava uma bacia para trazer o peixe, quando o comprava à beira de sua casa. Dentro da carteira, havia sempre um saquinho desdobrável para o que desse e viesse e num ímpeto de demonstração da sua eficácia, pega nele e oferece-o àquela ilustre desconhecida! Admirável, como encontrava uma pessoa que partilhava, tão cabalmente, os seus princípios ecológicos. Palavra puxa palavra, até que se identifica como professora e mais... como tendo sido aluna da sua interlocutora. Um abraço bem apertado selou e fez reviver a amizade de outros tempos, numa época em que eram ambas muito jovens, com apenas 3 anos de diferença na idade. Depois de uma troca efusiva de palavras, num revivalismo de épocas passadas, nos bons velhos tempos em que caminhavam na construção e realização dos seus sonhos, dá-se um flash de memória. Aquela cliente, residente em França, faz a retrospectiva da sua vida passada, relatando os passos mais marcantes do seu percurso docente. Encontra-se em França, a leccionar Português aos filhos dos emigrantes, numa licença concedida para o efeito. Aqueles Portugueses, apesar do enorme esforço de aculturação, ainda conseguem ter disponibilidade mental para transmitir aos filhos a língua pátria que os viu nascer. Mérito, muito mérito nesta atitude de transmissão da sua língua-mãe, que, apesar de já não ser a dos seus filhos, ainda tem peso de bilinguismo. E... não está provado que quantas mais ferramentas um jovem possuir para enfrentar a vida, mais probabilidades tem de sucesso? O acervo de línguas também entra nesse cômputo. E... poliglota é a ambição de muitos e foi, durante algum tempo, um sonho acalentado pela autora destas linhas. Que bom é podermos compreender os nossos irmãos de paragens exóticas, no seu linguajar, sem precisarmos de intérpretes ou de qualquer ajuda exterior. Revelam, apenas, um sinal de inteligência, estes emigrantes, que se demarcam daqueles, que noutras épocas vinham passar as vacanças a Portugal e construir a maison dos seus sonhos numa evidência de novo-riquismo balofo. Falavam Francês, em público, com os seus rebentos, como forma exibicionista de demonstrarem que já tinham andado por outras paragens e, quiçá, fazerem crer do sucesso alcançado na vida. Revelou à sua antiga teacher, no tom brejeiro e decidido, marca da sua personalidade, que em breve iria para a retraite. Comungava da opinião de muitos docentes que estão desencatados com as políticas educativas, praticadas neste país e que nos últimos tempos têm feito correr rios de tinta. Que não, que ainda não sentira vontade... de lhe seguir os passos para a retraite..., apesar da onda de descontentamento que varre a classe. Ainda se sente com genica e vai desfrutando do lado pitoresco da profissão, no contacto com uma faixa etária irreverente, sim, mas também muito espontânea e que lhe alimenta o seu espírito jovem. E... não disse alguém que o melhor do mundo, são as “adoráveis criancinhas”?
Mª Donzília Almeida 27.08.09

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Os dez nomes mais originais das listas às autárquicas

Se gostar de saber quais são os nomes mais originais das listas às autárquicas, veja aqui. Mas não se ria, porque o seu também pode ser original, sem saber.