quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Sinais úteis de presenças incómodas

Gosto de ler entrevistas. A entrevista é hoje uma modalidade frequente de comunicação, onde a pessoa se mostra a si mesma, ao seu mundo interior e às suas vivências. Aí se vê a riqueza de muitas vidas e, também, o vazio e o sem-sentido de tantas outras. Por vezes, o entrevistador indaga sobre a adesão religiosa do entrevistado. Não deixa de ter interesse poder ver como muitos falam de si na relação com o mundo do religioso. Outros não precisam que se lhes pergunte. Faz parte das suas vivências e preocupações, mesmo que a sua posição, perante Deus e a Igreja, não seja de adesão total ou de prática regular. Li a entrevista de Fernando Nobre na “Notícias Magazine” de 21 de Setembro. O fundador e presidente da AMI é um homem fascinante pela sua generosidade e entrega, com o ideal evangélico de “fazer o bem sem olhar a quem”, expondo-se a perigos constantes e animando missões de ajuda médica e de promoção humana nos países mais pobres do mundo e no meio das mais perigosas e exterminadoras situações de guerra. Quando há anos estive na televisão, em directo, com Fernando Nobre, a convite do jornalista José Manuel Barata Feio, admirei a sua serenidade, cultura e capacidade de reflexão, em relação a problemas difíceis e melindrosos - era o caso que ali nos reunia - que não se apreciam com demagogias, nem com opiniões superficiais. Fernando Nobre, que preside a uma associação não confessional, laica, como ele próprio diz na entrevista, fala do seu “respeito pelos missionários, seja de que tendência forem”. Vai-os conhecendo por esse mundo fora, a viver e a lutar, nas situações mais difíceis e penosas, como “pessoas com imensa fé que conseguem fazer um trabalho extraordinário em prol dos outros”. E conta, mais adiante, que ao dirigir-se para uma missão muito difícil de ajuda às vítimas do tsunami, no Sri Lanka, esperava-o, no aeroporto, um padre que ele não conhecia, nem por ele era conhecido. Ostentava um cartaz com o seu nome e disse-lhe que soubera da sua vinda, por um relatório da Comissão dos Direitos Humanos na Ásia e que chegaria naquele mesmo avião. Foi graças a este padre que, como ele, vivia a urgência do amor e da solidariedade, que se pôde montar, de imediato, em rede de colaboração, a missão urgente de ajuda a um povo destruído. Impressionam-me, pelos preconceitos e pelas omissões e entraves que provocam, as atitudes de gente, dita evoluída e preocupada com os outros, que fala da Igreja e do fenómeno religioso, com desdém e arrogância. Atitudes ao arrepio da realidade e da verdade objectiva, que nada constroem e muito destroem. Pessoas livres e comprometidas, sabem distinguir, colaborar e aceitar colaboração. A Igreja e os cristãos coerentes são incómodos, mas estão sempre presentes onde faz falta, mormente ante a dor e a miséria de tanta gente. É o seu dever. Também ele precisa de apoio. António Marcelino

Postais da Figueira da Foz

O dia estava frescote, àquela hora, como mostra o retrato . Mas nem assim esta turista (ou aparentada) resistiu ao desafio que o mar lhe lançava. E lá foi apreciá-lo de perto, que é onde ele tem mais encanto. O areal também a convidava, decerto. E foi a única que teve coragem de deixar a marginal, para ir ver o mar. Ninguém mais no extenso areal da Figueira da Foz.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Dia Mundial do Idoso

Alguém me alertou, há momentos, para o facto de hoje se celebrar o Dia Mundial do Idoso. Confesso que não tinha dado por isso, embora tivesse obrigação de estar a par do que me diz respeito. Tarde e já com o dia a fenecer, aqui venho lembrá-lo. Não tanto por mim, mas pelos menos jovens que por aí andam sem voz nem vez para se fazerem ouvir. Fosse ele um dia qualquer dedicado a qualquer coisa, por mais banal que estivesse nas preocupações das pessoas, e seria certo e sabido que toda a gente andaria à cata de lembranças para homenagear os seus idosos. Sim, todas as famílias, mesmo que não creiam nisso, têm idosos. Então, como é o Dia Mundial do Idoso, não vi nada. Mas tenho pena, porque os idosos, por enquanto, ainda são gente que vive e sofre, que trabalha e luta, que teima em se afirmar na sociedade, por mais que ela insista em ostracizar quem não tem poder reivindicativo. Afinal, se pensarmos bem, os velhos começam a estar em maioria no mundo. A esperança de vida tem aumentado a olhos vistos, a medicina e a cirurgia lá vão ajudando a curar maleitas para o povo mais cansado se aguentar de pé, e vivo, e ainda ninguém, que eu saiba, teve coragem de esquecer de vez os menos jovens, por um qualquer decreto. Porém, há famílias que os arrumam numa daquelas casas a que chamam lares, mas que de lares não têm nada. Falta-lhes, realmente, imensas vezes, a capacidade do afecto para serem lares. Eu, que já ando na terceira idade, consolo-me de saber que todos temos, presentemente, a perspectiva da quarta idade, o que significa o direito ou a oportunidade de andar por aqui, por este mundo, a olhar o sol, a contemplar as estrelas, a apreciar miragens, a admirar a beleza das flores e o sorriso das crianças, a sentir o calor humano, a ver e a estimular o palpitar de quantos lutam para sobreviver no mar encapelado de economias que castram a solidariedade. Solidariedade que tantos idosos reclamam, sem que os oiçam. A minha simpatia para todos os idosos. E uma flor, claro, para a idosa que me alertou para o dia que hoje todos devíamos comemorar. Por estarmos vivos e por querermos continuar a viver com dignidade. Fernando Martins

Eduardo Lourenço na Universidade de Aveiro

Amanhã, 2 de Outubro, 9.30 horas
Para proferir uma palestra sobre “A crise dos estudos literários”, integrada na sessão inaugural de um Colóquio Internacional, estará amanhã na Universidade de Aveiro o conhecido e prestigiado ensaísta Eduardo Lourenço. A sessão está agendada para as 9.30 horas, no edifício da Reitoria, e marca o arranque do colóquio intitulado “Culturas literárias: novas performances e desenvolvimento”. Durante dois dias, investigadores de vários pontos do mundo vão reflectir sobre políticas de desenvolvimento cultural e debater “os efeitos dos novos sistemas de informação e de comunicação na criação literária e nas indústrias culturais”. Fonte: CV

O Fio do Tempo

Dar lugar à Música!
1. Se formos a pensar bem o que representa a música como património, aspiração e mesmo projecto de Humanidade, ficamos sempre com um amargo de boca ao assinalarmos o dia 1 de Outubro como Dia Mundial da Música. Diz-se que saber música é importante mas, de facto, dá-se-lhe pouco lugar. Em Portugal, ser músico, como ser artista, é uma luta pela sobrevivência. Os génios salvam-se sempre, mas o corpo médio dos músicos onde depois brilharão as estrelas, padece da ausência de apostas firmes, sérias e programáticas. Um pouco por todo o país, heroicamente, vão sobrevivendo as bandas musicais e algumas orquestras; são muitas as colectividades que pela música conseguem juntar populações dispersas, a partir dos valores e sensibilidades musicais. 2. Volta e meia destaca-se que até para aprender matemática a formação musical é um trampolim surpreendente. De quando em quando salienta-se a «educação artística» como chave de desenvolvimento dos povos, a partir das matrizes das culturas. Mas sente-se que a música, como outras áreas artísticas, está claramente na periferia; se houver tempo, completa-se o “mapa”…! A era actual é a da ansiosa procura das tecnologias, deitando a perder as Humanidades e as Artes. Por isso vamos ficando mais pobres… Ainda assim, simultaneamente, brota algum despertar estimulante para cenários que virão em que será a riqueza das diversidades culturais, artísticas e musicais, o maior emblema dos povos… 3. Como trazer para o “centro” dos sistemas educativos a área artística e musical? Como elevá-la a ponto de a considerar insubstituível na formação das novas gerações? Não chega o remendo... Há inteira compatibilidade entre a fronteira das tecnologias de ponta e um humanismo que sensibilize a comunidade humana para os valores artísticos… Ou não será que tocar numa orquestra não dá espírito de equipa, estética e ética?! Alexandre Cruz

Postais da Figueira da Foz

Passei hoje pelo monumento erigido à memória de Manuel Fernandes Thomaz (1771 - 1822), natural da Figueira da Foz. Conhecido por "Patriarca da Liberdade", liderou a revolução de 24 de Agosto de 1820, instaurando a liberdade e a independência de Portugal. Dinamizou as Cortes Constituintes e foi o primeiro redactor da Constituição de 1822.
No monumento há a seguinte inscrição:
E quem choramos nós:
quem lamentam os portuguezes?
Um cidadão extremado;
Um homem único;
Um benemérito da Pátria;
Um libertador d'um povo escravo:
Manuel Fernandes Thomaz
1771 - 1822
Almeida Garrett

Mundo Missionário

A Igreja Católica vai dedicar neste mês de Outubro uma particular atenção ao Mundo Missionário, desenvolvendo nas suas comunidades uma série de actividades destinadas a promover a Missão, como "urgência e prioridade". Assim leio na Ecclesia online. Penso que este desafio é cometido a todos os cristãos, pela acção e pelo testemunho no dia-a-dia. Pela acção, avançando para terras de missão, que podem estar no nosso próprio país, e apoiando quem deixa tudo pela causa da fé; pelo testemunho, pondo em prática na vida o mandamento novo de Cristo, que nos diz: amai-vos uns aos outros como eu vos amei.
O Papa Bento XVI recomenda que comecemos a viver já o Dia Mundial das Missões, que se celebra no terceiro domingo de Outubro, em torno do lema "Servos e apóstolos de Jesus Cristo", enquanto alerta para a situação em que se encontra o mundo. Diz ele: “Se por um lado mostra um grande desenvolvimento económico e social, por outro oferece-nos fortes preocupações sobre o futuro do próprio homem.” Para pensar.
Fonte: Tema e fotos da Ecclesia