sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Os Cartoons do Expresso e a Fobia dos Papas

Não sei se António, cartonista no Expresso, vale muito ou pouco como car-tonista, é ou não grande artista na arte de fazer desenhos de humor. Para mim, não me dá sentido de artista que fique na história. Mas quem sou eu para dizer mais do que isto? Em coisas de arte ou de aparências da mesma, valem mais a sensibilidade que os raciocínios, mais o captar da alma, que dizer razões porque sim ou porque não. Em todo o caso, a feitura de cartoons - há quem discuta se se trata ou não de uma arte - se é uma actividade humana, e como tal se paga, também nela há lugar para a ética. A menos que não haja, porque é coisa de humor… E, então, sou eu que ando para aqui baralhado? Acabou-se de teorias. Opiniões também são razões que não se discutem. O cartonista António, dá-me a impressão, só isso e nada mais, que quando dele não se fala e cai no anonimato porque os seus desenhos não pegam, decide fazer uma incursão instintiva pelo mundo do religioso e ridiculariza o Papa. Como este terreno é propício à pouca sensibilidade e respeito pelos outros, basta rabiscar e publicar um cartoon, e deixa logo, por um tempo, sempre breve, de ser um António qualquer. Há artistas, como políticos e outros, que não vivem sem corte e têm por isso, entre amigos e admiradores, o seu grupo, que se encarrega de escrever, falar, acordar distraídos e dar publicidade.
António Marcelino
Leia todo o artigo no CV

Senhora dos Navegantes no Forte da Barra - 3

3 – A festa da Senhora dos Navegantes Tanto quanto nos diz a memória, a Festa da Senhora dos Navegantes, da nossa meninice, tinha a marcá-la, como pormenor mais típico, a procissão até ao mar, para além do que era habitual em festas com um misto de religioso e profano. Acontecia na última segunda-feira de Setembro, pois no domingo anterior havia a festa da Senhora da Saúde, na Costa Nova. A festa do Forte atraía mais os povos de Aveiro e Gafanha da Nazaré e a da Senhora da Saúde era mais ao gosto das pessoas de Ílhavo e Gafanha da Encarnação. A uma e a outra associavam-se os veraneantes a banhos nas praias da Barra e Costa Nova, respectivamente. No dia da festa, de manhã, tinha lugar uma procissão da igreja matriz da Gafanha da Nazaré para o Forte, sendo transportada em andor a imagem antiga de Nossa Senhora da Nazaré, com os membros da Irmandade a prestarem-Hhe as devidas honras, com as suas opas brancas, murças azuis e bastão (pau a imitar uma vela de cera). Anos depois, chegaram a levar o andor com a imagem numa carrinha de caixa aberta, numa clara violação das tradições. A procissão até ao mar começava obviamente na capela e seguia pelo molhe que dá acesso à Meia-Laranja. Presidia o prior da Gafanha da Nazaré, incorporavam-se as irmandades e os “anjinhos”, e o povo acompanhava atrás. Não faltava a música, os foguetes ouviam-se ao longe e o colorido das opas e murças emprestava dignidade ao acto. Na Meia-Laranja havia a bênção do mar e de quantos dele viviam ou nas praias apanhavam banhos de sol, voltando a procissão agora pela rua que ligava a Barra ao Forte, atravessando pela segunda vez a ponte de madeira, que só os mais velhos podem recordar. Na Meia-Laranja, os veraneantes associavam-se com devoção à bênção do mar e dos fiéis, recordando, talvez, os que foram tragados pelas águas revoltas do mar embravecido. Os povos ribeirinhos sempre tiveram muito respeito pelo mar, ou não fosse ele o amigo que dá sustento ou o inimigo que destrói vidas indefesas. Por isso, a adesão das pessoas da beira-mar aos festejos em honra de Nossa Senhora dos Navegantes era grande. A festa teve, durante muitos anos, como organizadores, a Administração e os trabalhadores da Junta Autónoma da Ria e Barra de Aveiro, depois Junta Autónoma do Porto de Aveiro, antecessoras, de certo modo, da actual APA (Administração do Porto de Aveiro). Alguns trabalhadores, uns domingos antes dos festejos, percorriam as Gafanhas, Aveiro e Ílhavo, de saco ao ombro e de saca na mão, recolhendo donativos para as muitas despesas.
Fernando Martins

Renovar o Ensino; Ideias de Futuro

"Conhecimento, conhecimento, conhecimento. Temos uma sociedade cada vez mais ávida de aquisição de conhecimento, encarado como o único recurso inesgotável e sobre o qual se erigirá a nova era. Robert Solow, prémio Nobel da Economia em 1987, demonstrou que “os países enriquecem devido à sua capacidade de criar novas ideias e depois convertê-las em tecnologia útil, e não por terem mais recursos financeiros e/ou materiais”. Esta prerrogativa parece ter obtido adeptos desde a Europa à Ásia, onde a aposta num ensino moderno quer fazer cair metodologias seculares, obrigando professores e alunos a adaptarem-se a novas ferramentas, a terem novas atitudes e a abraçar novas metodologias."
Isabel Mendonça
O “site” IM Magazine, que aposta com imaginação em ser sinal de mudança, para melhorar o mundo, oferece para reflexão um tema mais do que oportuno, porque é fundamental. Para mim, que já o li, considero-o importante, por isso. Foi escrito por Isabel Mendonça e tem por título Renovar o Ensino; Ideias de Futuro.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

OS POBRES NÃO SÃO A PRIMEIRA PRIORIDADE PASTORAL DA IGREJA?

Os pobres “não são a primeira prioridade dos planos pastorais da Igreja em Portugal” – disse à Agência ECCLESIA D. Januário Torgal Ferreira, vogal da Comissão Episcopal da Pastoral Social.
Confesso que não sei se D. Januário tem ou não razão quando faz uma afirmação como esta. Sei, contudo, que ao longo da história, desde a mais antiga até à mais recente, vi a Igreja preocupada com a questão da pobreza, mormente quando criou (e continua a criar) instituições para a minimizar e para minimizar o sofrimento. Olho para trás, e não posso deixar de apreciar as Misericórdias, Hospitais, Lares, Irmandades e as mais variadas instituições e estruturas que apoiaram e ainda apoiam os que mais precisam. Hoje como ontem, os pobres, pelo que sei, sempre estiveram nas preocupações da Igreja Católica, envolvendo imensa gente, mobilizando capacidades sem conta. Por exemplo, dos Planos Pastorais da Diocese de Aveiro tens constado, preto no brando, a opção preferencial pelos pobres. E não é verdade que em muitas paróquias há, da responsabilidade ou iniciativa dos católicos, muitas IPSS e Misericórdias, vocacionadas para ajudar quem precisa? E não tem a Igreja, por muitas formas, institucionais ou particulares, clamado por mais justiça social? Tenho, por isso, dificuldades em aceitar a afirmação de D. Januário Torgal Ferreira, um bispo que muito estimo. FM

UM DIA NO DOURO




O Douro fica sempre na alma de quem o visita

“Nenhum outro caudal nosso corre em leito mais duro, encontra obstáculos mais encarniçados, peleja mais arduamente em todo o caminho… Beleza não falta em qualquer tempo, porque onde haja uma vela de barco e uma escadaria de Olimpo ela existe.” 

Miguel Torga, 
in “Portugal” 

Ontem subi o Douro com olhos bem abertos à contemplação das belezas de que tanto tenho ouvido falar. E lido, em autores que cantam o rio que cortou cerce o seu leito, deixando marcas de feridas que os séculos fizeram secar. 
As chagas sararam, mas as crostas ressequidas lá estão, oferecendo a quem as aprecia a dureza da corrida desenfreada das águas soltas e apressadas com vontade de descansarem no oceano. E se a beleza da paisagem é indiscutível, ao modo de nos obrigar a voltar, a paisagem bonita das velas dos barcos, de que fala Miguel Torga, já se foi com a voracidade do progresso. 
Os rabelos há muito que perderam o privilégio de temperar e refinar o Vinho Fino nas bolandas da descida da Régua até Gaia. Aqui recebeu o baptismo de Vinho do Porto, numa clara manobra de marketing, bem engendrada há séculos, que tais técnicas não são exclusivas dos nossos tempos. 
O dia nasceu enevoado, com humidade cortante, junto à foz do Douro, assim chamado pela cor amarelada das lamas barrentas que as fortes correntes arrastavam dos montes e montanhas que guardam o rio e o tingiam. Mas nem por isso proibia os olhares dos que gostam da novidade. Mais tarde, o sol furou as nuvens que nos vieram saudar. E então, o deslumbramento caiu sobre o “Infanta”, um barco que oferecia tranquilidade a quem viajava, pela serenidade com que enfrentava as águas doces que buscavam o casamento, apressado, com as águas salgadas do mar.
O verde da paisagem entrava-nos na alma, vindo de todos os cantos. Do arvoredo que não acusava falta de rega e do rio que o reflectia, como sinfonia de acordes que nos emoldurava o espírito em dia de mais nada que fazer. Aqui e ali, casas semeadas pela encosta, ruas serpenteantes que as uniam, solares com capelinhas que abençoavam as vinhas, fonte que ainda não secou, dando "petróleo" tinto e branco àquele povo. 
Mais pontes que ligavam gentes e terras do alto e do baixo Douro, pás de moinhos de vento, não para a farinha, mas tão-só para as novas energias arrancadas do cimo das montanhas que o deus Éolo, com a sua brutalidade, de quando em vez nos oferece. O que mais encanta o viajante, contudo, como marca indelével, são as escadarias de pomares e vinhas, quais altares ao deus-natureza, fonte de subsistência de povos que teimosamente procuraram adaptar-se a circunstâncias adversas. 
Hoje, talvez poucos tivessem a coragem de ficar agarrados à terra-mãe, com tal tenacidade e paixão, a não ser que encontrassem pelo caminho outra Antónia Ferreira, a Ferreirinha, com artes de convencimento e de estímulo. O Douro, rio e região, fica sempre na alma de quem o visita e o observa de perto, admirando a obra de Deus e de homens e mulheres determinados, que nos deixaram como herança a ter em conta a força e a importância do trabalho. 

Fernando Martins 

Nota: Esta viagem foi organizada pela Câmara Municipal de Ílhavo e integrou-se na Semana da Maioridade. Ela serviu, também, para reencontrar e conviver com gente que não via há muito tempo.

REGATA DOS GRANDES VELEIRO

Creoula
A importância da Regata dos Grandes Veleiros está bem patente nos barcos que nela participam, alguns deles, ou todos, carregados de história, mas ainda no facto de fazer parte das comemorações dos 500 anos da cidade do Funchal. A Câmara de Ílhavo, com sentido de oportunidade, associou-se ao Funchal, porque a celebração dos 200 anos da abertura da Barra bem o justificava. Ler mais em Marintimidades.

Jardim Oudinot

MAIS-VALIAS A CAMINHO
Para além do que está à vista no renovado Jardim Oudinot, todos esperamos que a dinâmica prossiga, para bem das populações da região, e não só. O maior parque de lazer da Ria de Aveiro, como me sublinhou o presidente da Câmara, Ribau Esteves, precisa de cimentar a sua importância, oferecendo condições que o imponham junto do povo que gosta de usufruir dos ares da laguna. Nessa linha, o autarca garante que junto à praia, antigamente chamada dos tesos, vai nascer um bar, cujo concessionário assegurará a vigilância daquele espaço. A Guarita, que é uma réplica da original que o Porto Comercial absorveu e que estava em ruínas, de forma irrecuperável, será centro de restauração, criando-se, em anexo, as condições indispensáveis. A zona das merendas ficará ao cuidado da empresa do mesmo restaurante. O hotel será instalado na área, ampla, que se apresenta disponível. Entretanto, Ribau Esteves afirma que o problema do acesso pedonal ao Jardim Oudinot, sobretudo de quem segue da Gafanha da Nazaré, vai ser resolvido com passadeiras e bandas sonoras, que limitem a velocidade das viaturas. Reconheceu que houve falha neste acesso, mas que a questão vai ser ultrapassada em breve. O presidente da Câmara promete que em Outubro haverá novidades sobre todos estes desafios, garantindo que o Jardim continuará a merecer o carinho das populações e dos responsáveis das autarquias e da APA. FM

Nos 25 anos do Stella Maris

Peregrinação a Fátima de Bicicleta


Onze ciclistas, sem pretensões a corredores de bicicleta, mas com coragem para pedalarem como os profissionais, foram em peregrinação a Fátima, numa iniciativa da direcção do Stella Maris, que vai comemorar, no próximo dia 20, um quarto de século da bênção e lançamento da primeira pedra do actual edifício-sede daquela instituição da Obra do Apostolado do Mar. Os ciclistas foram acompanhados por duas senhoras, esposas de dois deles, para eventuais apoios. Seria lógico pensar em avarias, dos corpos ou das máquinas, porque, afinal, a prova era grande. No fundo, apenas quatro furos, um pedal partido, correntes que descarrilaram e mudanças que desafinaram, decerto por tantas vezes terem sido mexidas pelos ciclistas, na procura de ajuda para as pernas já cansadas. A partida foi no dia 6 deste mês, pelas 6.15 horas, depois de um encontro com Nossa Senhora, para que lhes enriquecesse o ânimo. Mas também para Lhe agradecer todo o apoio, contínuo, que tem dado ao Stella Maris e aos homens do mar e suas famílias, durante, pelo menos, estes 25 anos agora celebrados. A peregrinação atingiu o seu ponto alto com a chegada, às 17.45 horas, ao Santuário de Fátima. Descanso merecido, encontro com Nossa Senhora de Fátima a quem dirigiram as suas preces e agradecimentos, alguns recados d’Ela recebidos, participação na eucaristia na Igreja da Santíssima Trindade no dia seguinte e regresso, pelos mesmos meios. Ida e volta 282 quilómetros. Quando eu julgava que haviam terminado a peregrinação sem vontade de a repetir, o chefe do grupo, diácono Joaquim Simões, respondeu-me de pronto: “Qual cansaço; já pensei noutra muito maior; mas ainda é segredo!” FM

terça-feira, 9 de setembro de 2008

POBREZA: Problema político e ético


O presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, chama uma vez mais a atenção para a urgência de todos contribuirmos para a erradicação da pobreza entre nós. Trata-se de um problema complexo, mas que tem solução, se todos quisermos. Tenho para mim que, frequentemente, tomamos conhecimento desta realidade, mesmo ao pé da porta, mas estamos longe de dar passos que contribuam para ajudar quem está a precisar de ajuda. Penso, por isso, que vale a pena ler o texto de Eugénio Fonseca.
"Quem contacta com pessoas em situação de pobreza sabe que, para a grande maioria, não é possível sair dela sem a colaboração de terceiros. Os percursos vitais que levam as pessoas ou famílias a subsistir privadas das condições indispensáveis a uma vida digna são fruto de processos de deterioração social e económica continuados no tempo. Estamos, por isso, perante uma realidade que exige esforços redobrados. Mas que tem solução. A erradicação da pobreza é, de verdade, um facto evitável. O problema actual não é de inexistência de meios, mas de querer ou não querer. Ou seja, já não é um problema técnico, mas político e ético."

Traje da Camponesa de Ílhavo


Ana Maria Lopes, especialista de temas marítimos e da ria, mas também de tudo quanto diz respeito a Ílhavo, terra maruja, tem um blogue dedicado a estes assuntos. Merece, por isso, a atenção de quantos comungam das mesmas ideias e de todos os que apreciam a cultura das nossas gentes, e não só. Hoje publicou uma série de fotografias sobre a Camponesa de Ílhavo, com texto alusivo, de excelente nível, como é seu hábito. Vejam, que vale a pena, em Marintimidades.