terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Imagens da Ria


SOLIDÃO NO CANAL DE MIRA
Ontem, o Canal de Mira, junto à Vagueira, vivia uma certa solidão. Pouca gente olhava para ele ou parava para o apreciar, como era justo. O dia estava luminoso, e algumas nuvens, bem visíveis, emprestavam-lhe um encanto raro. Um barquito, tímido e quieto, parecia desolado, tão votado ao esquecimento se encontrava. Olhei para ele com vontade de dar uma voltinha pela laguna, tão serenamente ela me convidava. Não fui, nem autorização tinha para isso, mas não resisti a fixá-la, assim bonita, para que todos vejam, se é que ainda não sabiam, que a Ria de Aveiro é mesmo linda, diferente e amiga, em qualquer canto, de Ovar a Mira.

VIAJANDO PELO PATRIMÓNIO AVEIRENSE


Amaro Neves no CUFC

No dia 13 de Fevereiro, 2.ª quarta-feira do mês, o CUFC vai oferecer mais uma excelente oportunidade a todos os aveirenses para que fiquem a conhecer melhor o património histórico e artístico que nos rodeia.
Amaro Neves, historiador e especialista em história de arte, vai ser o convidado de mais uma Conversa Aberta, do Fórum::UniverSal. Com entrada livre, a conferência, seguida de diálogo, será apresentada às 21 horas, nas instalações do CUFC, junto à Universidade de Aveiro, esperando-se casa cheia. É que não é todos os dias que poderemos ouvir, ao vivo, alguém que conhece, de forma bastante profunda, o nosso património histórico e artístico.

Na Linha Da Utopia


António Vieira faz 400 anos

1. António Vieira nasceu há 400 anos, em Lisboa. Originariamente mestiço, foi a 6 de Fevereiro de 1608 que chegou a este mundo o homem que atravessaria o século XVII semeando até ao limite a confiança que o desmotivado país bem precisava. Criador de pontes pelos mares que viaja sete vezes rumo ao Brasil (passando por Cabo Verde), inaugura um novo estilo de pertença em que a “língua” e a “cultura” são o lugar do encontro do essencial humano (até ao fim, 17 de Junho 1697, na Baía – Brasil).
2. O tempo de Vieira acolhe os impactos de profundas transformações ao nível do que hoje chamamos de “comunidade internacional”: a cisão europeia das “reformas”; a nova “imagem” de um mundo agora com quatro continentes; as confirmadas descobertas cosmológicas de Galileu; um paradigma de abordagem centralizado na Razão instrumental em detrimento da Revelação; a concepção de uniformidade político-religiosa de estado que “obriga” à expulsão dos judeus; a generalizada exploração desumana de escravos…
3. A realidade portuguesa não se afirmava com melhores cenários. Fruto do fechamento (com D. João III) de que a Inquisição (instituída em 1536) seria sinal simbólico, a par do desvio da “matriz global” das descobertas portugueses para as “areias marroquinas” (Alcácer Quibir, 1578), Portugal viveria no tempo seiscentista um cenário de crise, insegurança, incerteza na perca da identidade pelo tomar dos reis de Espanha (em 1580). Este contexto da perca da independência, também por uma certa nobreza ociosa, seria o terreno de um tempo adiado, descomprometido, desmotivado, corrupto, morto.
4. É neste amplo e complexo enquadramento que melhor se poderá compreender o cidadão do mundo que foi o padre António Vieira. Missionário Jesuíta, pregador pedagogo público (na base da força que tinha o Sermão no barroco da época), embaixador de D. João IV, Vieira das terras do Brasil em edificação comunitária, prima pelo essencial da humanidade e da religião: vive o espírito cristão “ecuménico” (na defesa e reintegração dos judeus) e antecipa (a par de Bartolomeu de Las Casas e Montaigne) o patamar da dignidade humana universal. Para todos os seres humanos: escravos e índios, dizendo que estes também estão inscritos nos livros de Deus. Uma autêntica revolução na mentalidade da época!
5. Continuamente desmontando a visão eurocêntrica do mundo, Vieira projecta Portugal numa História do Futuro, em identidade universalista, ao tempo um factor motivador fundamental à própria consolidação da Restauração de 1640. Em tudo busca a unidade humana: «Se a fortuna os fez escravos, a natureza fê-los homens: e porque há-de poder mais a desigualdade da fortuna para o desprezo, que a igualdade da natureza para a estimação? Quando os desprezo a eles, mais me desprezo a mim» (Sermões do Rosário, Sermão XXVII). Dizem alguns estudiosos que até pela literatura (quanto mais pela identidade) é com pena que Vieira se estuda muitíssimo pouco em Portugal e muito se estuda no Brasil. Pena para nós! Talvez o futuro esteja mesmo lá (Eduardo Lourenço).

Alexandre Cruz

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

General Garcia Leandro com avisos sérios

“Já fui convidado para encabeçar movimento de indignação”; “Os regimes podem renascer. Este regime está gasto.” Estas foram afirmações do general Garcia Leandro, na SIC Notícias. Assim mesmo. Aliás, a sua indignação pode ler-se no artigo que publicou na última edição do EXPRESSO, intitulado "A falta de vergonha", onde alerta para a chegada de uma explosão social e para a ocorrência de movimentos de cidadãos insatisfeitos. Movimento de indignação pode ser um novo partido político, um grupo cívico de reflexão e de pressão ou o princípio de mais uma revolução. Com a evocação dos assassínios do rei D. Carlos e de seu filho, o príncipe Luís Filipe, que ocorreram em 1 de Fevereiro de 1908, podemos dizer que está na moda recordar que os portugueses até gostam de revoluções, quando estão descontentes com a governação. E o mais curioso é que algumas estão marcadas pelo apoio do povo, umas vezes com violência e outras com flores, como foi o caso do 25 de Abril de 1974.
Os escândalos à volta do maior banco privado português, o BCP, e das remunerações e mordomias dos seus administradores, bem como de outros, causam, como diz Garcia Leandro, "repulsa generalizada". É verdade que se diga que ninguém pode ficar indiferente a tudo isto, sabendo-se quanto sofrem tantos compatriotas nossos. Não sei se o general e o movimento para que foi convidado estão a pensar em revoluções ou se pretendem apenas avisar que é preciso governar com mais competência e com mais justiça. Eu penso que a democracia está enraizada entre nós. Mas nunca fiando.
FM

ARES DO INVERNO


Hoje nem parecia Inverno. O dia luminoso e até quente deixou-me vaguear com mar à vista. O doce mar da minha infância e juventude, ainda sem molhes a apertá-lo, batia-se na manhã desta segunda-feira de Carnaval contra as pedras que nos defendem das vagas fortes.
Por ali andei a vê-lo, a sentir a sua ânsia de galgar as dunas para nos molhar os pés, o rosto, o casario… Só não o fez, nem faz, porque os homens têm sabido contê-lo…

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Carnaval


Hoje e terça-feira, quer o tempo deixe ou não, não hão-de faltar as máscaras. Uns a brincar e outros a sério. Nunca as usei. O meu temperamento não dá para isso. Mas também não as uso porque, quando as vejo, nunca deixo de me questionar sobre o que pretenderá esconder quem as põe na cara. Uma coisa é certa: penso que, para além da brincadeira ou da representação teatral, quem usa máscaras desejará dizer, escondido, o que não terá coragem de dizer de cara levantada. Se calhar estou a exagerar. Por isso, desejo a todos os que gostam de brincar no Carnaval que se divirtam com alegria. E que depois dele, a partir de quarta-feira, voltemos à vida de rosto alegre e bem ao vento.

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 63



O ENSINO PRIMÁRIO AO LONGO DO TEMPO

Caríssima/o:

Para satisfazer alguma curiosidade sempre vou desenterrar imagens desbotadas e até ratadas do baú do tempo.

1- “Na época da fundação da monarquia existiam clérigos e até bispos que não sabiam escrever; e há memória de factos semelhantes, embora mais raros, em tempos mais recentes.” [História da Igreja em Portugal, Fortunato de Almeida, Tomo I, pág. 492]

2- É comum saber-se que as escolas eram apenas frequentadas pelos jovens que seguiriam vida eclesiástica, junto dos conventos ou mosteiros e das sés. Ora, no Mosteiro de Alcobaça, surgiu um abade, entre 1252 e 1276, Estêvão Martins, que “permitiu que as pessoas de fora, estranhas à Ordem, pudessem cursar as lições”.[História do Ensino em Portugal, Rómulo de Carvalho, pág. 30]

3- Contudo, apenas em 6 de Novembro de 1772 se tenta organizar o ensino primário oficial com a criação de 479 lugares de “mestres de ler, escrever e contar”. Lei de Marquês de Pombal.
4- Depois Mouzinho de Albuquerque publica um projecto de reforma da instrução pública em 1823. Havia, em Portugal, uma taxa de analfabetismo que rondava os 90% e todos os políticos estavam de acordo: “havia necessidade de criar uma vastíssima rede de escolas de instrução primária que cobriria todo o país para reduzir o analfabetismo”.

5- Em 1835, a reforma do ensino de Rodrigo da Fonseca Magalhães foi considerada ”a mais perfeita e completa depois de Pombal”.

6- Bem, depois poderíamos enumerar as tentativas de reforma do ensino primário e seria interessante encontrar os nomes de Passos Manuel (1836), Costa Cabral (1844), D. António Costa (1870), António Rodrigues Sampaio (1878), João Franco (1894), Hintze Ribeiro (1901), João de Barros (1911), Leonardo Coimbra (1919), Alfredo de Magalhães (1927), Carneiro Pacheco (1936), Leite Pinto (1956), Galvão Teles (1964), Veiga Simão (1973)... e reformas depois de 1974...


Uns tentavam organizar e logo outros a seguir ...desorganizavam. Mas sempre alguma coisa foi ficando e, em 1947, havia uma escola mista, na Marinha Velha, a Escola do Ti Bola, onde o Olívio se esforçava por aprender o ABC...Como seria por toda a Gafanha?


Manuel