domingo, 6 de janeiro de 2008

GAFANHA DA NAZARÉ: Cortejo dos Reis


Como manda a tradição, realizou-se hoje, na Gafanha da Nazaré, o Cortejo dos Reis, apesar do tempo de chuva que se fez sentir. É assim há muitos anos. No dia 6 de Janeiro ou no domingo mais próximo, para condizer com a Epifania.
Uns tempos antes, as pessoas associam-se nos seus lugares ou por iniciativa das comissões dos diversos Centros de Culto, para prepararem a sua participação no Cortejo. Alguns movimentos, obras, serviços ou instituições, ligados directa ou indirectamente à paróquia, procedem do mesmo modo. Outros ensaiam os Autos dos Reis que hão-de ser apresentados durante o Cortejo, que parte do lugar de Remelha (ou Romelha?) e termina na igreja matriz. O grupo das cantoras ensaia os cânticos. E todos, sempre com entusiasmo, se envolvem nesta festa colectiva do povo da Gafanha da Nazaré. No final, haverá o beijar do Menino, sempre ao som dos cânticos melodiosos que ocupam a minha memória desde que nasci. O leilão das ofertas será no Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, durante a tarde, destinando-se a receita para as muitas despesas da paróquia. Uma palavra ainda, como sugestão: seria bom que houvesse algum rigor nos trajes usados no Cortejo. Acho que todos ganharíamos se as pessoas se vestissem à moda antiga, com algum cuidado. É que há participantes que têm pouco esmero no que apresentam e como se apresentam. O Cortejo dos Reis poderia muito bem ser um grande momento etnográfico, se houvesse orientações mais completas para isso.
As ilustrações que hoje partilho com os meus leitores são da autoria do artista Manuel Correia e fazem parte do livro “Cortejo dos Reis – Um apontamento histórico”, da autoria do Padre José Fidalgo e de Fernando Martins.

Fernando Martins

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 59




O INÍCIO DA VIDA ESCOLAR

Caríssima/o:

7 de Outubro de 1947.
Foi nesse dia que o Olívio rumou pela primeira vez em direcção à Escola.
O dia foi preparado com todo o cuidado. Muitos alunos, não havia lugar para os novos: tinham que levar um banco. E lá foi com ele ao colo... para se poder sentar junto à parede lateral.
Correu-se a vizinhança à procura do livro. Por fim, encontrou-se alguém que o emprestou. Que maravilha! Capa cor de laranja a fugir para o amarelo e sem os cantos (roídos pelo tempo e pelo tremor das três gerações que o tinham utilizado). Verificou depois que poucas folhas lhe faltavam e que das letras algumas já tinham voado!
O principal, conseguido. E sinceramente que não se lembra onde levou o livro – nem tão-pouco da lousa. Isso ainda não importava – ele queria penetrar no mistério da leitura!
A Escola ficava ali na rua que ia para o moinho do Ti Conde: a seguir à palmeira virava-se à direita e, zás, logo pertinho numa casa alugada ao Ti Bola, a gente até lhe chamava a “Escola do Ti Bola”.
À espera estava a Professora, a D. Zulmira, que tinha sido a mesma do irmão Artur, no ano anterior, na sua 3.ª classe.
A rapaziada do “canto” ... e os novos que iriam ser seus companheiros, todos sorridentes: o Amílcar, seu primo, o Oliveiros, do Ti Russo, o Silvério... Alguns tiveram lugares nas carteiras, quatro a quatro; mas ele serviu-se do banquito (e para quem estava habituado a sentar-se nas pedras dos caminhos e das estradas, não era nada mau!).
Os alunos arrumavam-se segundo a classe que frequentavam – havia as quatro classes. E enfim, feitas as “apresentações” - a Professora não discursou –, a “fábrica” entrou em laboração que só terminaria depois dos exames.

Fica na esperança que a Estrela brilhe nos corações de todos os Amigos o

Manuel

sábado, 5 de janeiro de 2008

Imagens de S. Jorge, Açores








Fotos enviadas pela professora Susana, docente em S. Jorge


Magistério de influência




CAVACO SILVA TEM MAIS PODERES
DO QUE MUITA GENTE PENSA

Desde sempre se tem dito que o Presidente da República, pós-25 de Abril, tem poucos poderes. Para alguns, essa situação há muito que espera por uma revisão da Constituição da República Portuguesa, que dê ao Presidente a possibilidade de poder intervir mais eficazmente nas decisões do Governo. Penso que não será necessário. Tem tudo o que precisa para mostrar que o Presidente da República existe e que pode, quando quer, chamar a atenção do Governo e dos demais políticos, mas também de todos os portugueses, para que cumpram as suas obrigações, no sentido do bem comum.
Cavaco Silva tem mostrado, à saciedade, que assim é, lembrando que Portugal só atingirá o progresso e o bem-estar de todos, se cada um de nós cumprir o seu papel de cidadania activa.
Antes de ser Presidente da República, mas já a pensar nisso, certamente, escreveu um texto que mexeu com o Presidente Jorge Sampaio, que estava indeciso, em relação ao papel de Santana Lopes no Governo que liderava, por herança de Durão Barroso. Disse Cavaco, como que a querer acordar Jorge Sampaio, que “a moeda fraca expulsa a moeda boa”. Tinha razão. Tempos depois, Jorge Sampaio demite Santana Lopes.
Na recente mensagem de Ano Novo, Cavaco Silva foi, mais uma vez, oportuno, dizendo o que tinha a dizer. Felicitou o Governo pelo seu desempenho na liderança da UE e depois deixou os recados que tinha que deixar a toda a gente, políticos e não políticos (se é que há gente não política).
Ao reconhecer o que se tem feito na esfera governativa, acrescentou sempre um mas… Conseguiu-se isto, mas ainda há muito que fazer; chegou-se aqui, mas é preciso avançar mais; fez-se muito, mas ainda é preciso fazer mais. E por aí adiante. Todos ouviram a lição. Todos ficaram a saber que é urgente fazer-se muito mais, para o bem do povo. Exerceu, cabalmente, o magistério de influência. E este é, a meu ver, o grande poder que o Presidente da República possui, frequentemente sem nos darmos conta disso.

Fernando Martins

A LUTA PELO RECONHECIMENTO


Era um homem já de idade. Esperava, só, num corredor do hospital. E uma senhora aproximou-se, discreta na bondade, sorriu e perguntou-lhe como se sentia. Que ia buscar uma cadeira, se ele precisasse. E ele sentiu, no meio daquele amontoado de gente anónima, que uma alegria suave lhe percorreu a alma. Porque alguém o tinha reconhecido.
Há no mais fundo do Homem um desejo, talvez o primeiro de todos os desejos e o motor da existência: "o desejo de reconhecimento" (Ch. Pépin). Ao ser humano não lhe basta existir. Precisa de ser reconhecido. Não é verdade que um homem se faça sozinho, segundo a expressão: "Fez-se a si mesmo sozinho, a pulso." É o reconhecimento dos outros que nos faz. Como escreveu Sartre, "o outro é o mediador entre mim e mim mesmo". A imagem que temos de nós é a interiorização da imagem que os outros nos devolvem. O nosso valor, capacidades e realização dependem do olhar do outro.
O Homem é habitado por uma inquietação radical: o que vale a minha vida? Que valor tem a minha existência? Afinal, as realizações pessoais, os teres e os êxitos nada são, se não valerem para alguém. É o olhar do outro que lhes confere valor.
Por isso, há uma luta sem trégua, de vida e de morte, pelo reconhecimento. Hegel teorizou essa luta num passo célebre da Fenomenologia do Espírito: a dialéctica do senhor e do escravo, com três momentos. Quando pergunto quem sou, a resposta "eu sou eu" nada vale, pois é vazia. Tem de ser o outro a dizer-me a minha identidade.
Quero, portanto, que o outro me reconheça. Mas, porque o outro quer o mesmo, trava-se a luta pelo reconhecimento. Então, o senhor é aquele que, para ser reconhecido, não hesitou em pôr a vida física em risco, pois sabe que a vida sem o reconhecimento não tem valor. O escravo é o vencido, que preferiu a vida física à liberdade reconhecida.
Num momento segundo, o escravo torna-se senhor do senhor, porque, pelo trabalho, humaniza o mundo, humanizando-se a si mesmo, enquanto o senhor apenas consome o que o escravo produz. Por fim, em ordem ao reconhecimento mútuo, tem de dar-se a reconciliação como homens livres.
Karl Marx viu a força desta dialéctica, mas, percebendo que a reconciliação das liberdades não pode ser meramente interior, acentuou as condições materiais socioeconómicas da sua efectivação.
Para viver como ser humano, o Homem precisa de ter confiança em si, estima por si e respeito por si. Assim, o filósofo Axel Honneth teorizou sobre as três esferas de reconhecimento - íntima, social e jurídica - e os seus três princípios: o princípio do amor, o princípio da realização individual, o princípio da igualdade.
A confiança em si nasce da experiência do amor na esfera da intimidade. É bem sabida a importância do vínculo securizante na relação com a mãe em ordem à autoconfiança e à autonomia. Nesta esfera, estão incluídos todos os laços afectivos familiares, de amizade e amorosos.
Há um profundo abalo na auto-estima, quando alguém, porque não tem um trabalho, se vê atirado para a margem da inutilidade social, já não sentindo que contribui para o bem colectivo.
Para poder sentir respeito por si, cada um precisa de sentir os mesmos direitos que os outros, no quadro do princípio da igualdade na esfera jurídica.
Nas sociedades em que estes três princípios não são garantidos, há inevitavelmente conflitualidade. "Somos pessoas extremamente sensíveis e vulneráveis ao modo como a sociedade nos trata."
Concursos de todo o género, uns minutos de fama na televisão, jogos brutais de poder no mundo político, laboral, académico, económico-financeiro - tudo por causa do reconhecimento.
O debate religioso católico-protestante do século XVI teve na sua raiz a questão do reconhecimento. A pergunta que assaltava Lutero era precisamente a do reconhecimento em termos de justificação. Quem justifica o Homem: as obras ou a graça? Quando leu em São Paulo que Deus justifica o Homem pela fé, Lutero encontrou o sentido radical para a existência: a sua vida tinha valor para o próprio Deus. Deus reconhece o Homem e dá-lhe a eternidade.
Anselmo Borges

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O QUARTO REI MAGO



Uma lenda russa, recuperada da memória do tempo, narra o percurso de um quarto rei mago que demanda o Recém-nascido em Belém. A sua narrativa afirma que os magos eram quatro e não apenas três.
Melchior, Gaspar e Baltasar são nomes postos pelo Papa S. Leão a estes três conhecidos cujos restos mortais são levados para Colónia, no século XII, por ordem do imperador Frederico Barba Roxa. A essa cidade alemã, acorrem então muitos peregrinos, facto que está na origem da construção de um dos monumentos góticos mais célebres na Europa – a célebre catedral.
Do quarto, somente a lenda russa lembra alguns episódios. Não tem nome nem terra. Ninguém sabe o que faz ou o que diz ao longo do caminho. Apenas consta a dura viagem no seu jumento envelhecido e cansado. Apenas se sabe que no seu alforge leva um pote pequeno de vinho e outro de azeite.
A marcha é lenta, o percurso difícil. O rei lança o olhar por tudo quanto pode ver. Sempre que encontra desolação ou miséria, pára e socorre os aflitos conforme as suas magras posses.
Quando chega a Jerusalém, já tudo o que é conhecido tinha ocorrido: A conversa com Herodes; a assembleia dos sábios conselheiros; a deslocação e o reaparecimento da estrela; a saída precipitada dos outros reis magos que nem sequer deixaram rasto. Apesar de tudo, não desiste e sozinho continua a seguir o que lhe pede o coração. Com muito esforço, consegue chegar a Belém, terra desolada onde reina grande alvoroço e dor. José havia tomado o Menino e sua Mãe, fugindo para o Egipto.
Sem encontrar aquele que procura com tanta persistência – pois mais uma vez tinha chegado tarde –, apenas dá conta do pranto das pessoas e das chagas de tantas mães que lutaram incansavelmente para defender os seus filhinhos perante a fúria assassina dos soldados de Herodes. E então, fica em Belém a dar consolação, a fazer curativos, a prestar socorro. Quando retoma a viagem para o Egipto é já muito tarde.
Ele pressentia que não acompanhava o ritmo dos acontecimentos, mas o seu coração seguia outro relógio – o da compaixão para com os desolados, o da vida dos proscritos e excluídos. A família de Jesus havia partido para Nazaré, evitando cidades sob a alçada dos descendentes de Herodes, perigosos como ele.
E diz a lenda que o quarto rei continuou o seu peregrinar, alimentou a sua esperança confiante e, passados uns anos, vem a descobrir Jesus no Calvário, agonizando entre dois malfeitores. Ajoelhado e contrito, implora do Senhor perdão por nunca se ter encontrado com ele na vida, por ter saído dos “caminhos” normais prescritos pelas leis judaicas, por ter ouvido mais o coração do que a razão. Enquanto assim rezava, escuta a doce voz de Jesus prestes a “apagar-se”: Os teus atrasos no tempo são fruto de um amor generoso e não da tua comodidade. O culto que me apraz é a misericórdia e não o sacrifício. Quando socorrias quem estava em necessidade, era a mim que tu servias e não ao teu egoísmo, interesse ou vaidade. “Amigo, hoje estarás comigo no paraíso”.

Georgino Rocha
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Foto: Gruta de Belém

Imagens da Costa Nova








CASAS TÍPICAS
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As Casas Típicas da Costa Nova já não são o que eram. Eram de madeira, com todas as su-as tábuas pintadas, dando o aspecto de riscas largas. De cores garridas, as casas até começavam a inclinar-se, com a idade e a força do vento, certamente. Hoje, as haabitações que se mostram a quem chega são de material usado na região, tijolo e cimento, e as cores que as decoram exibem combinações mais sofisticadas, embora menos genuínas, porque já não são ao gosto do povo simples. As exigências urbanísticas são decerto mais rigorosas do que antigamente. De qualquer modo, dá gosto chegar à Costa Nova e ver que as suas marcas ainda se mantêm, como sinal do bom gosto pela preservação do passado.


Igrejas de Santo António e de São Francisco

A ADERAV espera que o projecto de re-cuperação das igrejas de Santo António e de São Francisco, em Aveiro, possa ser uma realidade este ano. Depois do alerta, lançado em Julho do ano pas-sado, a associação reuniu com várias entidades, conseguindo trazer o mau estado de conservação daqueles monu-mentos nacionais para a actualidade.
O presidente da direcção, Luís Souto, defende que a execução da obra deve ser integrada nas candidaturas ao Quadro de Referência Estratégica Nacional 2007/2013.
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Foto da ADERAV

ÍLHAVO CELEBRA 110.º ANIVERSÁRIO


Ílhavo celebra o 110.º aniversário da restauração do município. As come-morações estão marcadas para 13 de Janeiro. A parte da manhã, inclui, às 10:30 horas, o hastear das bandeiras e, às 11, a missa de acção de graças, na igreja de S. Salvador. Depois do almoço evocativo, realiza-se um Sarau Cultural, no Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, com a participação da Filar-mónica Gafanhense e dos grupos folclóricos do município. Para as 19 horas, está marcada uma sessão de Fados de Coimbra, no Salão Cultural da Gafanha do Carmo. As comemorações terminam com um espectáculo de fogo de artifício, na zona da Bruxa, na Gafanha da Encarnação

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Mais uma televisão em Portugal

O Governo vai licenciar um espaço para mais uma televisão generalista. Sou adepto da concorrência, mas estou em crer que vem aí mais uma televisão igual às que temos. A concorrência, numa economia liberal, pode, em princípio, beneficiar o consumidor. No entanto, mais um canal, com fome de clientela, os telespectadores, pode descambar no banal, no pimba, nos programas que nada dizem, mas que atraem gente que gosta de escândalos, do crime de faca e alguidar, do artisticamente pobre. Infelizmente, o povo, quantas vezes mal preparado para escolher qualidade, que forme e informe com verdade, que divirta com elevação, pode ir atrás do que degrada. Mas pode ser que eu me engane e que uma nova televisão se queira impor pela cultura, pela diversão sadia, pela informação isenta e pela formação adequada para as actuais e futuras gerações. FM