terça-feira, 20 de novembro de 2007

Na Linha Da Utopia


Os interesses. E os princípios?

1. O debate era sobre a globalização e ainda sobre o “choque” do rei de Espanha com Hugo Chávez. Não em Fórmula 1, mas quase! Vimos só a parte final. O suficiente para ouvir de gente diplomata e especialista a confirmação de uma ideia (inferior) que cada vez mais tem feito caminho: a noção de que, quando há grandes “interesses”, os “princípios” ficam de parte. Aplicavam esta teoria sem qualquer dificuldade à vinda de Chávez a Portugal como ao escravo império económico asiático. Mas mais interessante ainda, comprovavam que o Ocidente tem grave carência de líderes políticos.
2. Não deixa de ser interessante como a relativização dos princípios e a supremacia dos interesses (no caso energético-petrolíferos) convivem facilmente com a denúncia da ausência de lideranças. Ou seja, afirma-se o que se critica! Será por estas contradições cabais que alguns afirmam que estamos no fim da razão (política)?! A velocidade dos acontecimentos, propiciadora da lógica da quantidade e do esbatimento da clarividência das ideias vai, assim, fazendo o seu lastro percurso, onde bem e mal, verdade e mentira, caminham serenamente a par…
3. Por vezes parece que diante da “desordem” falta claramente deixar que uma “razão profunda” venha oferecer o tempero, o equilíbrio, a lucidez capaz de criar a ponte entre os interesses (legítimos, porventura) mas sem abdicar dos “princípios” em que queremos alicerçar toda a construção. Será que não reparamos que desprestigiando os “princípios” valorativos estaremos no princípio da desregulação cabal dos próprios interesses, o mesmo será dizer, no princípio do fim (a prazo). A ordem da racionalidade (razoável), para o ser, precisa de princípios inalienáveis que ofereçam uma luz de dignidade à própria vontade. Quando não, com facilidade, quereremos (como interesse) aquilo que humanamente não devemos.
4. Se dos lados asiáticos, da América latina ou de África, a busca democrática vai fazendo o seu sofrido caminho numa clara dificuldade em coexistir com a diferença, verdade se diga que esta denunciada carência de líderes também tem tido a confirmação da chamada potência (em queda) norte americana. Os candidatos democratas em ordem às eleições presidenciais, Hillary Clinton e Obama, têm andado (vergonhosamente com ameaças e ofensivas pessoais) “à turra e à massa”! Quanto ao modelo político de Bush, já nada a dizer! Pelo ritmo de descredibilidade democrática a que os povos se vão habituando, não admira que quem prometer um espectáculo diferente comece a ser rei e senhor. Pobreza de ideias. Talvez tenham(os, os líderes) de regressar à escola (com) os Diálogos de Platão, onde o entendimento, as virtudes e os princípios (re)começam a ser a “base” do Ocidente!

Alexandre Cruz

FÁTIMA: Igreja da Santíssima Trindade


Celebrações oficiais

Dezembro

No 1º Domingo do Advento, 2 de Dezembro de 2007, iniciar-se-ão as celebrações oficiais na Igreja da Santíssima Trindade.
Assim, durante o período de Inverno, terão lugar na nova igreja do Santuário de Fátima, as seguintes celebrações, do programa oficial do Santuário de Fátima:
- Sábados: Missa das 11h;
- Domingos e dias santos: Missas das 11h, 15h e 16.30 h, e Vésperas cantadas, às 17.30 h;
Para o mês de Dezembro de 2007 estão ainda agendadas as seguintes celebrações na nova igreja:
- 7 de Dezembro: Vigília da Imaculada Conceição (início às 21 h na Capelinha das Aparições);
- 24 de Dezembro: Vigília Natalícia – início às 22.15 h; celebração da Santa Missa às 23 h;
- 31 de Dezembro: Celebração de Acção de Graças pelo ano findo – 22 h;
Diariamente, o horário para visitas à Igreja da Santíssima Trindade mantém-se, das 11 h às 18 h, fora do tempo de celebração.


NOTA: Há dias recebi alguns protestos sobre as dificuldades em entrar na igreja da Santíssima Trindade, em Fátima. Aqui ficam os esclarecimentos que prometi.

Bonito

Vejam, que vale a pena http://uk.youtube.com/watch?v=LnLVRQCjh8c

Árvores de Natal do tamanho da nossa generosidade


Com a chegada de Dezembro, o mês de preparação do Natal, nas ruas, nas casas e nos nossos corações, parece que anda no ar já uma competição engraçada: há muitos a quererem montar a maior e a mais vistosa Árvore de Natal do País. Não vejo nenhum mal nisso, mas gostaria de reflectir um pouco com os meus leitores sobre esta realidade.
Conforme reza a tradição, o Natal é, para muitos, para além da celebração do nascimento do Menino Deus, a vivência da generosidade. Multiplicam-se os gestos de solidariedade, preparam-se os cabazes de natal, organizam-se ceias para os sem-abrigo e para os mais pobres e idosos, marcam-se nos restaurantes encontros festivos para dirigentes e empregados de instituições e empresas, montam-se, em todas as casas, os presépios e planeiam-se as consoadas nas famílias. É muito bonito sentir este espírito natalício um pouco por todo o lado. Mas… Há sempre um mas…
É já um lugar-comum proclamar-se que o Natal devia ser todo o ano, que Natal é quando o homem quiser. E é verdade. Este espírito festivo e solidário não devia ter dia e época marcados. Mas tem…
E porque tem dia e época marcados, acho que devemos aproveitá-lo, com todas as forças das nossas almas. Com presentes, com gestos de ternura, com caridade a rodos, com a solidariedade a atingir pontos altos, com a bondade e a tolerância a mudarem os nossos comportamentos, com a alegria a iluminar a tristeza de muitos, com as melodias musicais a marcarem ritmos novos de vida, com a neve a aquecer a nossa forma de amar quem sofre…
Então, que as Árvores de Natal, altas, muito altas, aquecidas por luzes rutilantes, sejam, de verdade, do tamanho do nosso amor pelos mais pobres e pelos mais infelizes. No Natal e sempre!

Fernando Martins

AS NOVENAS DA MINHA INFÂNCIA


Não é novidade para ninguém se dissermos que os nossos avós eram gente crente, de uma fé inquebrantável bebida no seio da família, onde as orações quotidianas tinham hora marcada. Ao levantar e ao deitar ficavam por conta de cada um, mas às refeições, em especial antes ou depois da ceia, havia habitualmente momentos de oração colectiva, com o terço a marcar presença na grande maioria dos lares gafanhões. O pai ou a mãe, se aquele andavam embarcados, ou um dos filhos, orientava a reza do terço, onde no final eram recordados todos os familiares falecidos, com, por vezes, intermináveis orações pelas suas almas, não ficando esquecidos os vizinhos e amigos.
Mas hoje vamos lembrar as novenas que, como o nome indica, eram promessas em que participavam nove pessoas, normalmente gente muito nova, para além da pessoa em dívida para com qualquer santo ou santa, ou mesmo Nossa Senhora. Também participámos em algumas delas, motivo por que hoje as queremos recordar, sabendo de antemão que alguma coisa passará, tantos são os anos que já se foram.
A “dona” ou o “dono” da promessa fazia os inevitáveis convites a nove meninos e meninas, ou só meninos ou só meninas, rapazes ou raparigas, conforme o prometido, e no dia aprazado, por norma ao domingo ou em qualquer dia santo de guarda, lá íamos em grupo, a pé, ora à Senhora da Saúde, na Costa Nova, ora à Senhora dos Navegantes, no Forte, ora ao S. João, na Barra, ora à Senhora de Vagos, onde rezávamos o terço e uma ou outra oração da devoção da organizadora da novena, para depois se regressar.
Se a novena era a um lugar perto da Gafanha da Nazaré, regressávamos a casa onde nos era servido um pequeno lanche à base de tremoços, pevides e um ou outro bolito. Para regar o que se comia, bebia-se água do poço e em casos especiais lembro-me bem de ter bebido um pirolito (gasosa em garrafinha com uma bola de vidro a servir de rolha, fixa no gargalo pela pressão do gás do próprio líquido). Se era longe, a merenda era mesmo ali, no largo da capela ou da igreja, a uma sombra qualquer, que naquelas idades nem se dava por ela. Contavam-se umas histórias, cantavam-se umas cantigas, algumas religiosas e ao gosto da “dona” da novena, olhávamos uns para as outras e brincávamos, corríamos e saltávamos. A um sinal da chefe lá regressávamos a casa, com uma tarde vivida de forma bem diferente, que naqueles tempos não havia televisões nem rádios com que passar o tempo.
Quantas vezes, a organizadora da novena, talvez pelo gosto de se ver rodeada de gente nova, até marcava uma nova novena para o próximo ano. É que, naqueles tempos, os “médicos” do corpo e da alma, para além dos curandeiros, eram muitas vezes os santos e Nossa Senhora, a quem se recorria em horas de aflição. Nunca nos lembramos de ter participado em qualquer novena em honra de Jesus Cristo, do Espírito Santo ou de Deus-Pai.
Diz o padre Resende, na sua já famosa Monografia da Gafanha, que “o povo da Gafanha, desde épocas remotas, vai em novena à Senhora de Vagos, a Santa Maria Madalena da Tabueira e do Rio Tinto e a outras igrejas e capelas circunvizinhas”. E refere que “nas suas aflições recorrem sempre a Deus ou aos Santos, e por vezes o cumprimento das suas promessas era bastante penoso”.
Claro que os tempos são outros e hoje as novenas caíram em desuso, tão certo estamos disso por não as vermos organizadas por esta Gafanha da Nazaré. Nas outras Gafanhas, não sabemos se ainda se mantêm, ou se também já foram trocadas por outras formas mais modernas de pagar promessas feitas em hora de aflições.
Não sabemos o porquê de essas promessas se apoiarem em nove meninos e meninas, rapazes ou raparigas, mas julgamos que o número nove terá algum valor simbólico ou mágico, a que os antigos estavam muito agarrados. Lembremos as orações e as comunhões nos nove primeiros sábados, por exemplo.
As novenas, como outras promessas feitas pelos católicos, estão também ligadas ao hábito de alguns quererem associar outras pessoas ou familiares às suas devoções. Nós próprios cumprimos algumas promessas feitas por outras pessoas. Minha mãe fez várias promessas que eu achei por bem cumprir para a não desgostar. E não só por isso. Se me diziam directamente respeito, por que não haveria de colaborar com quem teve a bondade e a devoção de interceder junto de Nossa Senhora por mim?


Fernando Martins

Foto: Igreja de Santa Maria de Vagos, restaurada

NB: Aceitam-se achegas e experiências análogas

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Ortodoxos e católicos reconhecem primado do Papa

Um acordo histórico foi obtido na comissão teológica mista entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas. No documento reconhece-se pela primeira vez o "primado" do Papa, uma questão que divide católicos e ortodoxos desde 1054, quando se consumou a ruptura entre o cristianismo ocidental e oriental. O documento foi aprovado pela comissão numa reunião em Ravena (cidade italiana que foi sede do Império Romano do Ocidente), entre 8 e 14 de Outubro, e divulgado quinta-feira. Ao falar sobre o "primado" do bispo de Roma (o Papa), o texto diz que acontece no quadro da "conciliaridade" ou "sinodalidade", noções que remetem para a noção de colegialidade de todos os bispos, católicos ou ortodoxos. "O papel do bispo de Roma na comunhão de todas as igrejas deve ser estudado de modo mais aprofundado", diz o documento. O próprio Papa João Paulo II tinha já escrito, na encíclica Ut Unum Sint (Que todos sejam um), sobre o ecumenismo, que o tema devia ser discutido entre as igrejas cristãs. Apesar da dimensão de colegialidade ter sido assumida pelo Concílio Vaticano II, a Igreja Católica continua a ter um governo hierárquico.
Com o título Consequências eclesiológicas e canónicas da natureza sacramental da Igreja - Conciliaridade e sinodalidade na Igreja, o texto não foi assinado pelo Patriarcado (ortodoxo) de Moscovo, que saiu do encontro em conflito com o patriarcado de Constantinopla (primaz espiritual para os ortodoxos). Os russos, metade dos 250 milhões de cristãos ortodoxos, vão pronunciar-se em breve. Walter Kasper, o cardeal que preside ao Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, comentou que o documento não fica posto em causa pela ausência russa. Mas acrescentou à Reuters que, sendo um "modesto primeiro passo para a unidade", o caminho "será longo e difícil". Também entre o Vaticano e o patriarcado russo as relações são mais próximas. A possibilidade de um encontro entre o Papa e o patriarca de Moscovo, sempre adiada com João Paulo II, é evocada com frequência. Publicado ao mesmo tempo em Roma, Atenas, Chipre e Istambul, o texto diz que as "prerrogativas" do bispo de Roma devem ser agora discutidas, tendo em conta as "diferenças na compreensão" sobre o tema. A próxima reunião da comissão está prevista para daqui a dois anos. [O documento está disponível em vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/chrstuni/ch_orthodox_docs/rc_pc_chrstuni_doc_20071013_documento-ravenna_en.html]
Um artigo de António Marujo no PÚBLICO de Domingo

OS LIVROS DAS NOSSAS ESTANTES MERECEM MESMO O LUGAR QUE OCUPAM?

Vasco Pulido Valente, conhecido escritor e cronista do PÚBLICO, disse, numa entrevista à revista PÚBLICA, que todos os anos, para ganhar espaço, dá e vende aos alfarrabistas uns 200 a 300 livros, sem interesse para ele. Embora não tenha assim tantos livros, como gostaria de ter, há anos queimei no meu quintal uns tantos, nem sei quantos, por em meu entender não terem qualquer valor literário ou outro. Uns familiares, quando tal souberam, protestaram, alegando que, qualquer livro, por esta ou por aquela razão, tem sempre lugar numa estante. Se não serve para mim, pode vir a servir para outros.
A partir daí, nunca mais destruí livros, embora os vá atirando para o sótão. Curiosamente, algumas vezes, já tive de recorrer a esses livros velhos ou considerados sem valor, o que me leva a pensar que, afinal, o que hoje não presta pode amanhã ser útil.
É verdade que semana a semana deito para o lixo jornais e revistas com reportagens oportunas e interessantes, por não ter hipóteses de os guardar. Há anos cheguei a coleccionar revistas e até alguns jornais, mas em dada altura não tinha espaço para tais colecções. Nem no sótão. Foram para o lixo. Guardava-os pelos temas que continham, mas quando precisava deles, para um ou outro trabalho, nunca conseguia localizar o que queria no momento.
Com os livros, porque permitem um enquadramento mais ou menos (des)ordenado nas prateleiras, ainda se vai tornando fácil arrumá-los. Mas revistas e jornais, isso não consigo.
Acontece que esta entrevista me fez reflectir sobre o que temos nas estantes. Tanta coisa que compramos sem nexo; tanto livro que, no fim da leitura, nada nos deixam; tanto livro que só nos empobrece, pelo nada que nos oferecem; tanto livro marcado pelo negativo da vida dos seus autores; tanto livro sem pés nem cabeça que compramos sob influência da publicidade que se faz à sua volta. E para ali estão à espera que um dia lhes achemos graça ou lhes reconheçamos um mínimo de valor. Até que um dia… os atire para o lixo. E a pergunta, que faço a mim próprio, é esta: Será que os livros das nossas estantes merecem mesmo o lugar que ocupam?

Fernando Martins

Na Linha Da Utopia




O LABORATÓRIO

1. Esta semana decorre, na Universidade de Aveiro, a 8ª edição da Semana Aberta da Ciência e Tecnologia, em que são esperados mais de 10 mil participantes e que, em múltiplas iniciativas, contactarão directamente com as potencialidades das ciências e tecnologias. A meritória aposta despertadora da curiosidade científica a partir das mais tenras idades manifesta-se, assim, como um elemento decisivo rumo a um sentido dinâmico e criativo do desejado progresso. Numa visão de ciências e tecnologias que nunca serão um fim em si mesmas mas um “meio” (de labor, trabalho) para o desenvolvimento humano mais eficiente, este, afinal, a meta de todo o conhecimento que mais se procura.
2. Ocorre esta semana de cultura científica na mesma altura em que pelo INE (Instituto Nacional de Estatística) são apresentadas as previsões da taxa de desemprego estimada num valor superior em relação ao período homólogo do ano passado. Muito acima da problemática dos números políticos de desemprego apresentados há dias (se são virtuais ou reais, se de emprego mais longo ou temporário de dias ou semanas…), num contexto do muito confirmado desemprego de jovens licenciados, como hábito nestas alturas, erguem-se algumas vozes questionadoras sobre a utilidade dessa formação superior. Em contrapartida, e numa fundamental mentalidade renovada, muito se tem sensibilizado sobre esta necessidade premente de formação qualificada dos portugueses, a formação das pessoas e dos profissionais. Formação, sempre mais!...
3. Vivemos na fronteira da decisão transformadora do “tecido” português, mas onde nos quadros da essencial formação não chega só um pragmático quantitativo do “como” ou do “para quê”. O imperativo da qualidade, e esta implica todos os quadrantes da experiência humana da pessoa, do cidadão e profissional, será hoje a chave de um triunfo que se abre ao bem comum. Quanto mais PESSOA HUMANA, melhor profissional, mais inspiração! Talvez possa ser esta uma máxima que vença muitos mitos e slogans do “homem-fazedor não pensante” que vão proliferando mesmo em termos globais, alguns dos quais (por exemplo) exaltam muita da economia asiática quando esta provém da grotesca e escrava indignidade. Os fins não podem justificar os meios desumanos…
4. Se é certo que, hoje, Portugal pode ser um “laboratório gigante”, há algo que em termos de co-responsabilidade social é inadiável. É necessário olhar para o lado. Não chega agruparem-se os de sucesso em cima do seu sucesso que multiplica os milhões e as desigualdades… Como aperfeiçoar um “laboratório social” gerador de equilíbrios onde a par do mérito reconhecido dos génios também vença a inclusão estimulante dos menos hábeis?

Alexandre Cruz

domingo, 18 de novembro de 2007

DUNAS NA PRAIA DA BARRA


As dunas, na Praia da Barra ou por outras bandas, são sempre um convite a um passeio, só ou acompanhado, para descontrair. Aqui fica a sugestão de quem já fez a experiência.

Na Linha Da Utopia




A REACTUALIZAÇÃO DA TOLERÂNCIA

1. Há palavras que têm um sentido bem mais profundo que aquele que comummente é atribuído. Muitos outros conceitos também existem que, de tanto falar, vão perdendo a “validade”, de tão banalizados e vazios que vão parecendo. A ideia de “tolerância” é uma dessas palavras-chave sobre a qual talvez recaia mais um sentido negativo do que positivo. Lembramo-nos quando do “Ano das Nações Unidas para a Tolerância” (1995) de que se falava no sentido comum: “já que não nos amamos ao mesmos toleremo-nos”. Tal era (será ainda hoje?) o sentido menos saudável desta ideia chave da tolerância.
2. De raiz antiquíssima nos códigos humanos que foram abrindo janelas no (difícil) entendimento das formas diferentes de pensar e viver, levado ao limite da experiência humana há 2000 anos (na origem do Cristianismo), todavia, ao longo dos séculos (europeus) a história regista páginas sangrentas de intolerância, cruelmente esta agravada com as chamadas guerras religiosas que “quebraram” a Europa da inaugurada época moderna. Nesse salto qualitativo de descobertas e conhecimentos científicos (como sempre), aguardando-se o progresso e o entendimento, eis que, pelas raízes não iluminadas, a intolerância multiplica-se.
3. Será já no século XVII, diante do cenário europeu destroçado pelas guerras dos dois grandes blocos político-religiosos (Reforma e contra-Reforma) que o filósofo inglês John Locke (1632-1704), no esforço reflexivo propõe (como base para uma concepção plural de Estado moderno) a sua magistral “Carta sobre a Tolerância” (na primavera de 1689). Um documento de separação das muitas águas turbas na confusão dos planos, mas uma carta de fundamental cooperação das diversidades para o bem comum. Estava, assim, o terreno preparado para a coabitação das diferenças de pensamento (mas, posteriormente, como infeliz hábito, as más interpretações conduzem aos extremos…).
4. Nos 50 anos da criação da UNESCO, a 16 de Novembro de 1995, numa visão contemporânea, os Estados-membro adoptaram uma “Declaração de princípios sobre a Tolerância” e proclamaram 16 de Novembro como “Dia Internacional da Tolerância”. No esforço de resgatar o conceito, quem lê as mensagens anuais do Director-Geral da UNESCO e do Secretário-Geral da ONU, redescobre a urgência de acolhermos a tolerância com um valor positivo, que significa o oposto de passividade, indiferença, ausência. Neste nosso tempo global, onde (refere Kofi Annan, 2006) se verifica o aumento da intolerância, extremismo e violência, a ideia de tolerância poderá oferecer essa luz de entendimento para o desejado diálogo e “Aliança de Civilizações”. No tempo on-line em que se decreta “o fim da distância”, e diante das novas proximidades no viver com o “outro”, a Vida do futuro exige esta escola presente.

Alexandre Cruz