terça-feira, 6 de novembro de 2007

O VULCÃO DOS CAPELINHOS

António Rego
    Foi difícil o nascimento da última ilha de Portugal. Durante mais de um ano o vulcão expelia lamas, fogo e cinzas, a terra tremia, os homens fugiam. E foi nascendo uma pequena ilha. Do medo, fez-se espectáculo, dos rolos de nuvens negras mistério, das areias em permanente tempestade se antecipou a paisagem lunar.
    Passados cinquenta anos sobre este fenómeno que abalou a ilha do Faial nos Açores e surpreendeu geólogos e turistas, restam as dúvidas sobre o significado dum cataclismo, as formas estranhas como a terra evolui, as perguntas que geralmente se fazem a Deus sobre a criação, a harmonia, a evolução inteligente da natureza e dos seres.
    Cada qual responde com as razões que tem à mão. Muitas delas nada têm de científico. Muitas recusam enquadrar um fenómeno deste género no projecto inteligente de Deus. Ciência, razão e fé, entrecruzam-se nas explicações, ora unindo-se ora digladiando-se. Só a meio da escalada se percebe que não é o amontoado de razões que nos aquieta a alma, mas a razão profunda do nosso ser e a lógica cerrada da nossa fé firmemente ancorada na sabedoria silenciosa de Deus.
    No terramoto de Lisboa, Voltaire, como muitos, irritou-se e com Deus. Rousseau, homem insuspeito nestas matérias, lembrou-lhe que não tinha nada que se revoltar contra Deus. Se Lisboa, disse, fosse um conjunto de casinhas bem distribuídas, sem roubar lugar a rios e riachos, com o Tejo respeitado por inteiro, nada de grave teria ocorrido em 1755.
    Mas nem filósofos nem geólogos explicam os grandes cataclismos do Norte ou do Sul, as mortes de inocentes, o desaparecimento e destruição de cidades inteiras. Nem sequer os Gulagues, Auschewittz, ou Jardins de S. Cruz. A história, desde os tempos da Arca de Noé, Caim e Abel, está recheada de acontecimentos que só um olhar do alto, de fora do tempo e do espaço imediato pode projectar luz sem ser absurdo. Chamemos simplesmente Fé à chave de todo este imbróglio. Chamemos Deus ao ser de suma sabedoria que, face ao nosso desenquadramento do conjunto, nos tolera perguntas a mais, isto é, sorri das nossas arrogantes questões, os nossos olhos baços, presos ao quadrado sectário, sem altura nem horizonte.
    Desprezo pela razão? Pelo contrário, respeito por ela que tem direito a não ser iludida por dimensões parcelares e viciadas que são sempre as nossas. Humilhação para a ciência? Pelo contrário, glória a ela que se sente entrelaçada por fios mais que visíveis.
    O povo tem razão. No meio do vulcão das incertezas volta-se para a grande certeza de Deus que vê donde nós não vemos, projecta com sabedoria inalcançável e nos tranquiliza o coração como mais ninguém sabe fazer. Por isso, nos despojos da dor o crente sabe onde pode encontrar refúgio e em que ombro pode chorar de súplica e agradecimento. Feliz quem possui o dom da fé sempre escorado na faculdade superior da razão.

António Rego

PRAXIS - Homenagem a D. António Marcelino



A PRAXIS, revista científica do ISCRA (Instituto Superior de Ciências Religiosas de Aveiro), acaba de sair com um número duplo, todo ele dedicado a D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro. Trata-se de uma homenagem oportuna, em jeito de reconhecimento pelo trabalho multifacetado que D. António desenvolveu entre nós, como Bispo Coadjutor e depois Residencial, durante um quarto de século. O que continuará a fazer, agora como Bispo Emérito, ficará para depois.
Esta edição da PRAXIS fará um pouco de história do que foi a acção notável desenvolvida por este cristão apaixonado pela sua missão, enquanto bispo e enquanto homem que nunca virou a cara aos desafios que a sociedade humana e as comunidades cristãs lhe suscitaram. Amigos, colegas do episcopado, sacerdotes, leigos e colaboradores testemunharam e reconheceram os méritos de um homem inquieto e determinado, participativo e voluntarioso, mas também o cristão de fé comprometida e o bispo apostado em alargar o Reino de Deus.
A directora da revista, Maria Armanda Saint-Maurice, lembra, em “… só duas palavras”, que “Os leitores encontrarão ao longo destas páginas referência a muitos aspectos privilegiados da acção eclesial de D. António Marcelino e muitos nomes que a sublinham, tanto de clérigos como de leigos, tanto de figuras nacionais como de figuras de destaque em Aveiro”.
Por sua vez, D. António Francisco dos Santos, actual Bispo de Aveiro, frisa que “Tudo e sempre na vida de D. António Marcelino teve a marca da profecia e a audácia da doação”, sendo visível que “As diversas missões e múltiplas responsabilidades a que a Igreja o chamou permitiram-lhe abrir novos caminhos nas mais variadas frentes do anúncio do Evangelho, da renovação da Igreja e do diálogo com o mundo”.
Algumas ilustrações e fotografias de D. António Marcelino, do tempo do seminário, do padre, do bispo e em família, com dados pessoais, valorizam esta edição da PRAXIS.

Fernando Martins

Gafanha do Carmo



PARÓQUIA EM FESTA

A Gafanha do Carmo celebra hoje, com uma missa solene, às 20.30 horas, e uma exposição, a criação da paróquia, o que aconteceu em 6 de Novembro de 1957. Completa, portanto, meio século de vida. A criação de freguesia teve lugar, porém, três anos depois, em 17 de Setembro de 1960.
No “site” da Escola Básica dos 2º e 3º Ciclos da Gafanha da Encarnação, pode ler-se: “A Gafanha do Carmo é um local aprazível e simpático para viver. As pessoas são acolhedoras, generosas e traduzem o espírito natural e bruto de uma aldeia em desenvolvimento mas que não consegue esquecer os traços do seu passado e as marcas rígidas e pouco instruídas dos seus antepassados históricos. Pode-se afirmar que quase metade da população desta Gafanha está emigrada, como reflexo das carências de trabalho e de vida social que outrora esta povoação sofreu.”

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Na Linha Da Utopia



UMA TOLERÂNCIA HUMANIZADA

1. Na noite de última terça (30 de Outubro) uma notícia abalou a Itália. A agressão mortal de um imigrante romeno contra uma mulher italiana, Giovanna Reggiani, tem feito correr muita tinta, tanto pelo cruel e condenável acto em si como pelos seus efeitos sociais. De urgência, o governo reuniu e fez aprovar um decreto-lei que permite a expulsão de estrangeiros dentro da União Europeia que cometam crimes considerados graves. Dessa forma, expulsa-se o criminoso e tudo ficará resolvido… (?). Resta saber se os crimes cometidos por cidadãos naturais de Itália merecem algo de semelhante… Ou será o crime em Itália exclusivamente cometido por imigrantes?!
2. Não haja dúvida que a medida do governo cai bem, é popular. Na busca de segurança, não se sabendo como, começa-se a olhar em volta e nada como afastar os que chegaram há pouco tempo, esses que (muitas vezes vítimas de governos ditatoriais de seus países) fazem os trabalhos pesados que as sociedades do luxo já não querem fazer… Satisfeito pela cómoda solução encontrada, desabafa o líder Romano Prodi: ”Fizemos o que devíamos fazer…”; só faltaria acrescentar: que vão para outro lado desde que não matem em Itália!...
3. A vítima de 47 anos tinha prestígio, era esposa de um capitão da marinha, facto que dá nas vistas, pois continua a haver uns mais iguais que outros. Quanto ao faminto jovem romeno Romulus Nicolae Moilat está preso (haverá alguma coisa do Rómulo, fundador de Roma, nisto?!... Significado do ponto a que chegaram as sociedades e a ineficiência humanizadora dos Estados europeus? Certamente que não!...). Em Itália, os ecos estendem-se e os sentimentos são de exclusão da comunidade romena. Na imprensa italiana e europeia, surgem perguntas sintomáticas como “a Europa acede a uma nova era de intolerância?” (The Independent).
4. As sociedades da razão cómoda estão a ser grandemente interpeladas por acontecimentos deste calibre. E se muitas vezes se pergunta sobre “o que fizemos” para que este ou aquele facto ocorresse, melhor seria que perguntássemos sobre “o que fazemos efectivamente” por uma justa distribuição dos bens. Quantas explorações dos europeus ao longo dos séculos têm sido a estratégica manutenção do subdesenvolvimento dos “outros”... Um novo realismo tolerante deverá caminhar a par das estratégias como busca de soluções globais; crime tanto o pode fazer o imigrante como o autóctone. À condenação veemente do horrendo crime, responder de forma intolerante agrava a ferida e multiplica a intolerância. Diante de problemática tão complexa importará ir às raízes e aí repensar a tolerância como factor de humanização da própria humanidade. A montante e a jusante; o futuro precisa, não há alternativa.


Alexandre Cruz

INSENSIBILIDADES

O CASO DA FUNCIONÁRIA QUE TEVE DE REGRESSAR AO TRABALHO SEM QUASE SE PODER MEXER Vi e li, na comunicação social, mais um caso de insensibilidade protagonizado por uma Junta Médica da Caixa Geral de Aposentações. Uma funcionária autárquica foi obrigada a regressar ao trabalho, não obstante a sua real situação de incapacidade física. Quem assim decidiu vê mal, pelos vistos. Ou então, deduziu, inexplicavelmente, a meu ver, que a funcionária estaria a fingir que estava doente O ministro das Finanças mandou reapreciar o caso e disse, na televisão, que situações destas não podem repetir-se. Neste meu espaço de partilha já disse, mais do que uma vez, que o Estado é uma entidade sem alma e sem sentimentos. As pessoas têm-nos, disso ninguém duvida, mas na prática, face a leis cegas, também os julgadores ficam cegos, muitas vezes. É triste sentir que no dia-a-dia é tal como digo. Na Gafanha da Nazaré já tivemos uma situação dramática. A Manuela Estanqueiro, professora bem conhecida entre nós, foi vítima da insensibilidade de uma Junta Médica. Cancerosa em último grau, foi também obrigada a regressar ao trabalho. Morreu pouco tempo depois. Mas a denúncia da cegueira da Junta Médica foi divulgada pela comunicação social, o que gerou grande revolta entre quem a conhecia. Novos casos surgiram à custa da sua morte, o que levou o Governo a reformular a lei, cuja aplicação tarda. Será preciso que outros funcionários morram? Infelizmente, parece que sim. Somos o País que somos, com os legisladores que temos.

Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré

JANTAR DE CONVÍVIO

O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré programou um jantar para convívio e angariação de fundos. Será no dia 17 de Novembro, pelas 20 horas, no restaurante Clássico, esperando-se a participação de muitos amigos deste grupo que tem por missão descobrir e mostrar as nossas tradições etnográficas. Penso que esta vai ser uma boa oportunidade para conviver à volta da mesa, ouvindo e cantando modas antigas. Inscrições junto dos membros do grupo.

domingo, 4 de novembro de 2007

CAPITAL DO PANTANAL




O Pantanal, região paradisíaca do Brasil, tem mesmo paisagens de sonho. E as suas gentes, segundo penso, devem ser pessoas puras, como puros são os horizontes que encantam os nossos olhos. Amigo radicado no Brasil teve a gentileza de me sugerir que apreciasse este recanto brasileiro. Já apreciei. Aqui fica a minha partilha.
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Para ver mais, clique PANTANAL