quarta-feira, 31 de outubro de 2007

GAFANHÃO OU GAFANHONAZARENO?

Gafanhoas (Década de 40 do século passado)


Há dias, alguém perguntou-nos de que lado estávamos: se do lado do gafanhão ou do gafanhonazareno? Respondemos, com toda a naturalidade, que não estávamos de lado nenhum, embora usássemos a falar e a escrever a palavra gafanhão. E acrescentámos que não estávamos de lado nenhum pela simples razão de que não gostávamos de dividir os filhos desta terra que nos viu nascer, e onde sempre vivemos, em dois grupos que se digladiassem, já que muito de bom nos unia e exigia essa mesma unidade, rumo a um progresso cada vez mais saudável.
Justificámos, no decorrer da conversa, a nossa posição, que não tem nada de teimosia nem de fuga a qualquer tipo de evolução no campo da Língua Portuguesa, por nela acreditarmos, quando tal é de aceitar, com a introdução de novas palavras e termos, quando necessário. Assim: usamos o gentílico gafanhão por estar consagrado há dezenas de anos, talvez centenas, no linguajar do povo e em todos os dicionários que conhecemos; por ser esse o que vem em qualquer livro que fala da Gafanha da Nazaré ou de outra Gafanha; por estar consignado no Guia Ortográfico da Língua Portuguesa; por sentirmos que é necessário impô-lo, sobretudo depois de ter sido considerado depreciativo por alguns povos vizinhos; por gostarmos dele (não soa ele tão bem?); por ser, principalmente em Portugal e no Mundo, a palavra que melhor nos identifica, aos olhos dos outros, segundo cremos; e por não vermos qualquer vantagem em criar outro termo que a substitua. As palavras novas só são de aceitar, a nosso ver, quando não há outras para definirem a mesma coisa, ou quando o povo, com toda a sua autoridade, resolve “criá-las” ou adoptá-las. Não foi o povo que criou o “gafanhão”? Ou terá sido, como poucos pensam, algum letrado a fazê-lo? Foi o povo, não há dúvidas, que começou a chamar “gafanhões” aos que por aqui começaram a aparecer para amanhar as terras até aí improdutivas. Sendo assim, deixemos ao povo da Gafanha da Nazaré, sem quaisquer pressões, o direito de seguir o que melhor lhe convier, talvez por gostar mais. Nós não nos oporemos. Só não concordamos é com influências excessivas, como que a querer impor uma qualquer teoria, venha ela de onde vier.
Também não concordamos que se diga ser urgente dignificar o povo com a alteração do gentílico. Aos que dizem que é preciso substituir gafanhão por gafanhonazareno (gramaticalmente correcto, não duvidamos) por o primeiro ter tido uma carga negativa, lembramos que o povo só se dignifica e sai dignificado, não com mudanças de gentílicos, mas com atitudes educadas de todos nós. Assim, se soubermos, como gafanhões, honrar e dignificar o nosso povo, tendo posturas certas na sociedade e em qualquer sítio em que nos encontremos, estamos a elevá-lo e a impô-lo à consideração do mundo que nos rodeia. E isso não passa, necessariamente, por ser gafanhonazareno ou gafanhão, mas por ser gente que se respeita e respeita os outros.
Porém — acrescentámos ao nosso interlocutor —, aceitamos perfeitamente a opção de outras pessoas por outro gentílico, sem vermos nisso razões minimamente aceitáveis para nos ofendermos ou guerrearmos. Cada um é livre de seguir a opção que muito bem entender, sem ser preciso dividir os filhos desta terra em bons (ou que são pelo gafanhonazareno) e maus (ou que defendem gafanhão).
E também lhe dissemos que, já agora, gostaríamos de saber que nomes haveríamos de dar aos filhos das Gafanhas da Boavista, de Aquém, da Encarnação, do Carmo, da Boa Hora e da Vagueira. Talvez gafanhoboavistenses, gafanhodaquemnenses (será assim que se escreve?), gafanhoencarnacenses, gafanhocarmoenses, gafanhoboaorenses e gafanhovagueirenses. O que dirão os entendidos nestas coisas da linguagem, e os próprios interessados, já que a lei deve aplicar-se a casos semelhantes? Aqui deixamos a questão para que outros, sem agressividade, lhe respondam. Nós demos a nossa opinião, como nos solicitaram. E ponto final, por agora, porque a Gafanha da Nazaré tem muito mais em que pensar, para inovar e evoluir, em tantos campos, se é que quer ocupar o lugar a que tem direito na sociedade em que se insere. E não será por causa desta questiúncula que nos vamos dividir, ao ponto de sairmos dos trilhos da sã convivência e da boa educação.

Fernando Martins

ARES DO OUTONO



UM PÔR DO SOL EM PANGALA


Um pôr do sol em Pangala, na fronteira norte de Angola, a uns 50 quilólmetros. para nascente de São Salvados do Congo (hoje M'Banza Comgo), que já foi a Capital do Reino do Congo, actual Zaire Angolano, Congo ex-belga, Congo ex-francês e outros povos congos a que agora mudaram o nome.
NOTA: Foto e informação do leitor e amigo Ângelo Ribau

terça-feira, 30 de outubro de 2007

ARES DO OUTONO



OUTONO

O outono montou a sua tenda branca sobre os montes;
tiraram-lhe o tapete verdejante.
O ramo do jasmim perdeu os seus adornos
e a rósea olaia deixa cair as suas flores.
O pálido marmelo amarelece; a romã cora;
ó surpresa! terá um deles bebido o sangue do outro?
Os jardins estão assombrados por negros saltadores:
os negros corvos, com as suas vestes manchadas de pez.
Esses bailarinos do outono começaram a agitar-se;
as aves da primavera calaram os seus brandos concertos.
Amáveis servidores, para festejar o equinócio,
trazem os seus presentes ao afortunado príncipe.
E o longínquo mar encarregou a nuvem
de lhe lançar no trono, de presente, algumas pérolas.

Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo,

In “A Rosa do Mundo”

Na Linha Da Utopia




As claques e o presidente. É futebol!






1. Há dias, na Assembleia-Geral do Benfica, o caldo entornou-se! No fundo o caldo (das claques do e no futebol) é estruturalmente entornado. Não há muito tempo, até as suspeitas sobre o tráfico de (coisas… e) influências recaíam sobre grandes claques de grandes clubes. Mas tudo passou, como tudo passa, em ambiente de “apitos dourados” e mais apitos (de todas as cores) onde o obscurantismo é o ambiente propício para tudo ser possível. As claques são, hoje, mais um submundo deste mundo social futebolístico onde, tão simplesmente, por exemplo, devemos perguntar “o que fazem”, “onde trabalham”, “como ganham o pão de cada dia”, “como têm todo o tempo do mundo para o futebol”? E ainda: “o que fazem de bom pela sociedade e mesmo pelos clubes para parecer que têm ‘carta livre’”?
2. O caso de que falamos na dita Assembleia (desta como doutras) tem a sua merecida e emblemática apreciação. As claques de futebol que dão tanto jeito aos presidentes na hora de gritar e puxar pelo clube parecem querer “tomar” o poder. O presidente da direcção, na preocupação de uma gestão que tire o clube da bancarrota, vê-se surpreendido com os factos: as claques, como hábito, estão muito pouco (ou nada) importadas na gestão da colectividade e só querem o clube sempre a ganhar, só não querendo que se lhes toque no calcanhar. Quando a claque se sentiu “tocada” na Assembleia, eis que a ordem passou a desordem, a ponto de outro anterior presidente “puxar” (em vão) pelo respeito… Chama-se a polícia, e a Assembleia, à força, terminou. Nem parecia gente do mesmo clube! Parecia mesmo o cenário habitual dos estádios onde, tantas vezes, em jogos chamados “de risco” são às centenas os polícias que procuram dominar a “fera” humana…
3. Pelo andar da carruagem, e como são as emoções que comandam o barco clubístico (e social), qualquer dia os líderes das claques passam a ter um estatuto ainda mais especial; lembramo-nos de há algum tempo o guia da claque “super dragões” ter sido recebido na TV como se de figura ilustre, letrada e genial se tratasse. Tantas vezes alimenta-se o modelo de sociedade que se critica. As claques em Portugal (como afinal na Europa e Américas) são alimentadas pelos senhores da gestão do clube, pois estes precisam daqueles para a emoção ir ao rubro. Mas, no meio de tudo isto, verdade se diga: tanto jogadores, árbitros, treinadores e presidentes passam de bestiais e bestas num instante… E as claques, não merecerão uma análise mais cuidadosa da sua vida, quer do que são por dentro ao que manifestam por fora? Concluindo, em matéria que volta e meia vai sendo refrão de fim-de-semana: é lamentável que tantas vezes essa adrenalina das claques se manifeste em intolerância e em vandalismo com os outros e mesmo com as Estações de Serviço na Auto-Estrada! Mas, cuidado, o assunto tem de ser lidado com pinças, são emoções públicas, e estas são bem perigosas. No fundo, o seu tratamento (determinado ou não) depende sempre do modelo de sociedade que queremos.

Alexandre Cruz

REFERENDOS E DEMOCRACIA

"Por que razão a natureza democrática de umas decisões exige o referendo e nou-tros casos já não depende da consulta popular? Por que razão é “necessário” referendar o Tratado de Lisboa e nunca foi necessário referendar a Constituição portuguesa? Se é tão importante os portugueses dizerem se querem estar na União Europeia, porque não realizar um referendo a perguntar se querem viver numa república ou numa monarquia? Estes exemplos mostram o absurdo do argumento a favor do referendo sobre o Tratado de Lisboa. Não se entende porque nuns casos é necessário “ouvir o povo” e noutros casos já não é." João Marques de Almeida, In Diário Económico

ESCUTAS TELEFÓNICAS




ATENÇÃO, CIENTISTAS,
RESOLVAM ESTE PROBLEMA


Quando o Alexandre Bell inventou o telefone (ou o cientista que reivindicou a mesma descoberta...., na altura), longe estava de pensar que este progresso traria, para além dos imensos benefícios por todos reconhecidos, o crime de tanta gente poder escutar, covardemente, aquilo que estamos a conversar com os amigos.
Lá que haja escutas telefónicas, em situações de guerra ou de crimes graves, devidamente autorizadas, vá que não vá. Mas agora podermos ser escutados sem qualquer regra... vai uma grande distância.
O PÚBLICO de hoje alerta para o facto, real, de uns dez serviços policiais poderem escutar, a seu bel-prazer, o que falamos, pensando nós que em privado.
Aqui fica um alerta para os cientistas investigadores. Descubram uma forma, rápida e eficaz, de ninguém poder aceder aos nossos telefones. Se não descobrirem, será que teremos de atirar para o lixo este aparelhozinho tão importante?

OS DIREITOS DA TERRA



A “verdade inconveniente” de Al Gore deixou algumas dúvidas, como é sabido. Pareceu a alguns que o portador duma causa – a defesa do planeta – estava viciado de protagonismo interesseiro como “mestre da humanidade” a debitar lições pelos recantos ricos do planeta. Nobel da Paz deste ano, ganha a autoridade do que faz e diz no alerta vermelho para a mãe Terra, planeta azul.
Estamos perante uma questão ética, não apenas como afirmação teórica mas como urgente medida de consciência e atitude pessoal e colectiva, cultural e económica. Se todos abandonássemos o planeta no fim deste ano, ele facilmente se recomporia, no dizer de alguns ficcionistas. Sem o homem, com os animais à solta e as sementes, plantas e árvores sem restrições, brevemente – nuns poucos milhares de anos – a terra voltaria à sua atmosfera, fertilidade e equilíbrio. Só que, vazia do homem. E que vale esta terra sem o homem?
Como se percebe já entrámos em sérias implicações com estes exercícios mais imaginários que hipotéticos. Em qualquer caso há factos anotados: o aquecimento global, as mudanças climáticas com as sequelas que vamos conhecendo todos os dias. De novo se questiona sobre o tipo de desenvolvimento por que enveredámos. E como é possível prosseguir ou recuar. Do petróleo ao plástico, das violências quotidianas sobre os ritmos pacientes da natureza, às sucessivas ameaças ao equilíbrio ambiental, pomos em causa todo o nosso sistema de vivência e convivência.
São mais as questões que as soluções. A consciência individual vai-se muitas vezes aquietando face à impotência perante a fome, a desigualdade de oportunidades, a distribuição dos bens. Em matéria de ambiente sabe-se que são os mais poderosos que mais estragam a terra. Mas também se sabe que em qualquer recanto do planeta cada cidadão oferece uma percentagem significativa para o todo, na forma como se relaciona com a água, o ar, a alimentação, os meios de transporte, as opções limpas ou poluentes, os produtos preferidos, os hábitos adquiridos e transmitidos a novas gerações. Ninguém está fora deste barco. Trata-se duma “moral da vida” a que a consciência cristã não pode fugir. Sem nunca travar o progresso. Mas assumindo a responsabilidade de pertença comum do planeta. Para que este se não torne num triste pássaro ferido.