terça-feira, 17 de julho de 2007

Um artigo de António Rego

A OUTRA FACE Estranha, a profissão de crítico. Político, religioso, literário, cinematográfico, generalista. Observador severo, mesmo que se esqueça do bem e do bom, nunca deverá deixar passar o erro sem a análise fria, rigorosa, implacável. E a conse-quente denúncia. Caçador de vermes, diverte-se mais com as gralhas que com o texto escorreito de páginas inteiras. Dirão alguns que é questão de feitio e o mundo precisa de gente sem sorriso nem benevolência para por a humanidade na ordem. Estudioso infatigável do pecado original, pensarão outros, na convicção que não obstante todos os trechos bíblicos de esperança o homem não passa dum ser mesquinho e incurável com necessidade de muitos milhões de milénios para se notar uma ligeira curva de progresso.
A esperança é uma virtude sobrenatural, diferente da utopia ou do optimismo que não passa dum volátil estado de alma. Mas a verdade é que o todo da vida e do mundo tem uma outra face que importa observar. Não apenas em nome da tolerância mas da justiça. Da objectividade. Da lucidez. Da concepção realista da humanidade. O que exige uma serenidade que exalte a transparência do coração no olhar de todas as situações. Como da evolução do homem, da descoberta de valores, progressos, sinais duma humanidade que, marcada pelo limite, vai abrindo caminhos na direcção do infinito e não corre, como suspeitam alguns, a velocidade descontrolada para o abismo.
O desprazer mórbido também é uma forma de luxúria. E o olhar sobre o mundo depende sempre do ângulo em que nos colocamos. Complexa tarefa para as janelas da alma. Por isso a proclamação da esperança supõe sempre o ângulo de Deus em todos os momentos, em todos os factos e nos gestos e rostos das pessoas. E Jesus avisou como é arriscado colocar-se apenas como juiz de seu irmão.

Um artigo de Alexandre Cruz

Porque nos abstemos de participar? 1. Quem ganha as eleições quando quem vence, de facto, é a abstenção? Talvez esta pergunta, sintomática, seja o espelho de tantas eleições em democracia como do recente acto eleitoral para a autarquia de Lisboa. Pelas tendências estudadas da indiferença que se vai generalizando, e que leva já alguns países europeus a “obrigarem” os cidadãos a votarem sob pena de perderem direitos de cidadania, será de salientar que para uma desejada maturidade democrática não haverá nem praia, nem julho, nem sol nem chuva, nem futebol, nem credibilidades ou descredibilidades de candidatos, “nada” existirá que justifique a habitual (e pacífica, não há outro remédio!) ausência da participação eleitoral. 2. As 1001 razões justificadoras da abstenção a que nos vamos acomodando, no presente, ausente e difícil Portugal, só virão pactuar com essa ideia de passividade e conformismo com a nossa pacata forma de ser. Qualquer acto eleitoral – e é uma privilegiada conquista democrática a possibilidade de votarmos -, pelo seu absoluto secretismo e liberdade, demonstram o autêntico pensar, ser e, no fundo “agir”, sobre a realidade concreta de cada dia; e a este respeito, a conclusão generalizada será que os cidadãos estão longe da “sua” cidade. Que cidadão é aquele que não vota, não participa, não tem (nem quer ter sequer) qualquer ideia para a sua terra mas que depois está na primeira linha da reclamação dos seus direitos? 3. Quem é o “cidadão” que, não cumprindo os seus deveres mais básicos, enche-se de destemida coragem para exigir os seus direitos? Se não concordam com as políticas, então manifestem-no no voto; se sentem sintomas de descredibilidade do nosso sistema democrático, reforçadamente participem afirmando suas visões alternativas. Se a política no seu entender está desmotivante com que motivação “querem” algo de novo? Que sugerem de novo? Entre as diversas interpretações a que mais nos custa é a suave ideia de que “abstenção” será um sinal que os cidadãos dão aos partidos e aos movimentos cívicos de que não concordam com as formas de política realizadas… Quanto a nós, puro engano! Não se tratará de qualquer sinal; será precisamente um não sinal, um “nada” indiferente; nem sequer uma manifestação de desencanto. 4. A política será a “arte” do possível. Assim, diante da desmotivação ou das dificuldades da realização política o cidadão consciente, sob pena de se perder a si próprio, não poderá responder com a indiferença. Na essência, todo o cidadão é político; e em circunstâncias em que não haja identificação com qualquer programa candidato, coerentemente, a forma efectiva de demonstrar essa insatisfação não será a abstenção, pois nesta não há sequer a deslocação ao local do voto. Os cidadãos têm o poder fundante da democracia, mas deixam-no à deriva… É nesta linha de novo compromisso com a vida de todos (que terá de ser afinal a actividade política) que nas sociedades ocidentais, comodamente democráticas, vai hoje progredindo a reflexão sobre a abstenção e a indiferença. 5. Como entender o futuro da liberdade nos contextos abstencionistas? Bem sabemos, e a história assim o diz, que comunidade que seja indiferente à sua gestão e liderança abre permeabilidades a formas menos democráticas de presidir e governar. Neste contexto, hoje tornar-se-á imperativo o aprofundar o facto consumado da “não-participação” (esta que até pode dar jeito em linhas de pensamento menos saudáveis e menos servidoras da dignidade humana e do bem comum). Na actualidade, a abstenção estende-se por uma transversalidade de áreas, da cultura ao associativismo, da política à educação. Aprofundemos a “participação” como eixo estruturante da vida em sociedade; quando não, perdendo a democracia a sua própria frescura original, um certo individualismo sem valores vai alastrando, como o mais doce chocolate; é que até não dá trabalho e é cómodo. O futuro – ainda que no mundo virtual – não se poderá render a este facto, precisa da participação de todos!

Ares do Verão

Gdynia, na Polónia

FLORES EM GDYNIA - POLÓNIA
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Joaquim Simões, habitual leitor do meu blogue, teve a amabilidade de me enviar, há dias, uma foto de Gdynia, na Polónia, para a rubrica "Ares do Verão", gesto que agradeço, sobretudo porque a capacidade de partilhar é muito bonita.
Com esta foto, aqui está a prova de que as flores, em qualquer parte do mundo, são sempre motivo de boas e expressivas recordações. Quando viajamos, por mais monumentos que visitemos, por mais paisagens por que passemos, as flores que vemos ficam sempre na nossa memória.
Para saber o que andou por lá a fazer, pode consultar o Correio do Vouga.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Padeira de Aljubarrota



BRITES DE ALMEIDA,
ERA OSSUDA E MUITO FEIA


"Chamava-se Brites de Almeida. Era ossuda e muito feia e trazia seis dedos em cada mão.
Em Aljubarrota no dia 14 de Agosto de 1385 pegou na primeira arma que achou e juntou-se às destemidas hostes portuguesas. Entre outros, matou sete castelhanos com a pá do seu ofício, que no forno se haviam todos escondidos."

Assim se lê junto do monumento que lhe foi erguido em Aljubarrota.
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Nota: Por detrás do monumento, está o edifício, chamado Celeiro dos Frades, que ostenta alguns azulejos, alusivos à padeira, do século XIV, e a épocas posteriores.
Não é edifício de interesse histórico, tanto quanto averiguei no local.
A batalha de Aljubarrota, em que os portugueses defenderam a independência nacional, lutando contra o rei de Castela, casado com D. Beatriz, filha do nosso rei D. Fernando e pretendente ao trono de Portugal, travou-se em São Jorge, localidade perto de Aljubarrota e bem assinalada, com capela, museu e o espaço definido onde se travou luta sangrenta.

Estado laico tem de respeitar toda a gente

GOVERNO SÓ AGE
SOB AMEAÇA DE PROTESTOS A comunicação social informou há dias que o Conselho Permanente da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa) iria reunir-se em Fátima para elaborar críticas ao Governo, já que, tendo requerido um encontro com o primeiro-ministro, há bastante tempo, este nem sequer teria respondido à solicitação dos Bispos Portugueses. Claro que, perante esta ameaça legítima embora delicada, José Sócrates apressou-se a marcar a audiência, logo para o dia seguinte. A CEP, representada pelo seu presidente, D. Jorge Ortiga (Arcebispo de Braga), D. Carlos Azevedo, secretário (Bispo Auxiliar de Lisboa), e D. José Policarpo (Cardeal-Patriarca de Lisboa), reuniu-se ontem com o primeiro-ministro, tendo saído do encontro satisfeita. Afinal, José Sócrates, tido como pessoa que está por dentro de todos os assuntos da governação, desconhecia as razões de queixa da CEP. Os bispos portugueses queriam, tão-só, que fosse respeitada e implementada a Concordata, revista e aprovada em 2004 pela Santa Sé e pelo Governo Português. Queriam, também, que o Governo tivesse em conta as acções da Igreja e das comunidades religiosas, enquanto serviços à sociedade em geral, quer no domínio social (IPSS, Misericórdias, Centros Pastorais Paroquiais e outras instituições), quer cultural e educacional, quer patrimonial. Mais ainda: no âmbito da comunicação social, das capelanias hospitalares e prisionais, entre outras. José Sócrates ouviu as preocupações da CEP e garantiu que os diversos ministérios iriam acelerar os diálogos, com vista a ultrapassar as dificuldades existentes, o mais depressa possível. Qualquer pessoa, por mais cega que queira ser, percebe que tem havido um certo mal-estar entre Governo e Igreja, alegando os mais radicais que o Estado é laico e que nada tem a ver com as religiões, que devem, segundo eles, viver nas igrejas e, quando muito, nos adros. Estes radicais não fazem ideia nenhuma do que é uma democracia, que deve ter em conta as pessoas e os seus projectos de vida, alicerçados no respeito pelas ideias de cada um. A pluralidade, apanágio das democracias autênticas, é sempre enriquecedora e o Estado tem a obrigação de apoiar todas as organizações que brotem do povo e possam contribuir para a valorização da sociedade. Aí, até os aspectos espirituais e religiosos podem ser positivos, como expressão íntima de cada pessoa que crê no transcendente. Se os portugueses, na sua grande maioria, se afirmam cristãos, é absurdo aceitar-se que o Estado ignore essa realidade, sobretudo em áreas que nada têm a ver com o culto propriamente dito. Não apoia ele o desporto, o futebol profissional, o cinema, o teatro e tantas outras iniciativas, algumas das quais sem qualquer relevância na comunidade nacional? Então, por que razão não há-de apoiar as mais variadas actividades patrocinadas ou implementadas pelas Igrejas, se elas promoverem a pessoa em todas as suas vertentes?
Fernando Martins

Políticos mal habituados

GOVERNO SÓ AGE SOB PROTESTO
E NEM SEMPRE PROCURA O BOM SENSO É sabido que os políticos portugueses só agem sob pressão. Não vale a pena propor o diálogo, não vale a pena pedir o diálogo, não vale a pena requerer uma audiência, não vale a pena enviar requerimentos ou sugerir um comportamento político mais consentâneo com as realidades das pessoas e das instituições. Os políticos no poder não ouvem ninguém, não atendem ninguém. Fazem o que lhes dá na real gana, embora de acordo com os seus projectos governativos e propostas eleitorais, sem qualquer preocupação em analisar até que ponto estão a ferir os interesses concretos das pessoas. Isto obriga, naturalmente, a que as instituições, inclusive os sindicatos, e as pessoas se vejam compelidas a protestar muitas vezes na rua, com manifestações e mais manifestações, greves e mais greves, protestos e mais protestos. Só depois, se forem humildes e sensíveis à contestação, é que os políticos no poder prestam alguma atenção aos desesperos dos que estão na mó de baixo. Só agem, afinal, sob pressão e nem sempre procuram o bom senso. Vem isto a propósito das atitudes frias e desumanas de algumas Juntas Médicas, que obrigaram a voltar ao serviço profissionais em sofrimento. Depois do que se passou com a nossa conterrânea Manuela Estanqueiro, professora recentemente falecida com leucemia e que ficou sem poder gozar algum tempo de reforma, e de outros casos semelhantes, vindos a lume depois, é que o primeiro-ministro, José Sócrates, "chocado" com o que aconteceu, resolveu decretar, de imediato, a alteração à lei que permitia tal desumanidade. A morte de Manuela Estanqueiro e o tratamento indecoroso que sofreu por parte de uma Junta Médica, bem denunciadas pela família e pela comunicação social, estarão, decerto, na base desta decisão do Governo. Mas tudo isto poderia ter sido evitado se o Governo estivesse minimamente atento. Quantos não terão ou estarão ainda a sofrer por leis sem alma, tantas delas denunciadas todos os dias? Fernando Martins

Terra Nova celebra aniversário

MAIS DE DUAS DÉCADA
AO SERVIÇO DA COMUNIDADE


A Rádio Terra Nova, com sede na Gafanha da Nazaré, concelho de Ílhavo, celebrou ontem o seu 21º aniversário. Como desde a primeira hora, mantém-se ao serviço da comunidade, alargando a sua intervenção muito para além do concelho de Ílhavo, numa perspectiva de contribuir para uma sociedade mais justa e mais solidária. 
Acompanhei de perto a vida da Terra Nova, desde os primeiros momentos alicerçada nas “rádios piratas”, assim chamadas por estarem a infringir a lei, que só permitia as licenciadas, ao jeito de monopólios que existiam na comunicação social radiofónica. Nessa linha, somente os grandes centros poderiam acolher rádios ou suas delegações, o que fechava as portas à grande maioria dos concelhos e freguesias deste País, que ficavam isolados e sem voz, para reivindicarem os seus interesses e divulgarem as suas riquezas culturais e sociais. 
Com a teimosia e ousadia das “rádios piratas”, foi possível abrir as portas a rádios um pouco por todo o lado, obrigando o Estado a regulamentar a existência das que oferecessem capacidade técnica e garantias de subsistência. Assim nasceu a Rádio Terra Nova, no seio da Cooperativa Cultural da Gafanha da Nazaré, sucessora da Cooperativa Eléctrica, sendo hoje muito respeitada em toda a região, pela forma digna como se tem mantido, apesar das múltiplas dificuldades que tem de enfrentar, uma característica, afinal, de toda a comunicação social. 
Daqui, deste meu recanto e como colaborador eventual, quero deixar os meus parabéns a todos quantos a mantêm dinâmica no dia-a-dia, nomeadamente, dirigentes, jornalistas, colaboradores, técnicos, administrativos, publicitários, anunciantes e ouvintes, com votos de longa vida, para bem das comunidades onde a sua voz se faz ouvir. 

Fernando Martins