segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Homenagem a António Alçada Baptista

“António Alçada Baptista: Tempo afectuoso
- Homenagem ao escritor amigo de todos nós"

Foi com agradável surpresa que há dias encontrei nas livrarias um livro de homenagem ao escritor António Alçada Baptista – “ANTÓNIO ALÇADA BAPTISTA: Tempo afectuoso - Homenagem ao escritor amigo de todos nós". Trata-se de uma obra da responsabilidade da Editorial Presença e do Centro Nacional de Cultura, com coordenação de textos de Maria Helena Mira Mateus e Guilherme d'Oliveira Martins.
A homenagem é justíssima, ou não fosse Alçada Baptista um homem e escritor de afectos, que ensinou muita gente a pensar e a conhecer a vida de um País amordaçado pela ditadura. Os seus livros, muitos dos quais li à medida que foram aparecendo no mercado, sempre me impressionaram e encantaram, ou não fosse ele um escritor memorialista, com capacidade para nos conduzir, com realismo, através dos seus e nossos contemporâneos, marcados por comportamentos ora resignados e comodistas, ora corajosos na denúncia das injustiças. Com uma simplicidade que seduz, com uma naturalidade que encanta. Estórias e mais estórias da história dos homens e mulheres do seu tempo e do seu e nosso País, que ele retratou com arte e sensibilidade.
“ANTÓNIO ALÇADA BAPTISTA: Tempo afectuoso - Homenagem ao escritor amigo de todos nós" é um livro de testemunhos de amigos, muitos dos quais foram seus cúmplices em horas de sonhos e de lançamento de projectos, na qualidade de católico progressista, muitos deles condenados a esbarrar com impossibilidades de toda a ordem. Eduardo Lourenço, Mário de Carvalho, Teolinda Gersão, Dinis Machado, António Ramos Rosa, Mário Soares, Pedro Roseta e Edgar Morin, Ana Vicente, Guilherme d’Oliveira Martins, Lídia Jorge, João Bénard da Costa e Maria Alzira Seixo foram alguns dos muitos que escreveram para esta edição, com amizade e gratidão, pelo que dele receberam.
Alçada Baptista, 80 anos de vida bem vivida e rica de contactos humanos, que os seus 13 livros e diversos outros escritos revelam, bem merecia esta homenagem enquanto está entre nós. Mas quem quiser conhecê-lo e admirá-lo pode ler os seus livros. “Peregrinação Interior” (dois volumes), “Tia Suzana, Meu Amor”, “Os Nós e os Laços”, “Catarina ou o Sabor da Maçã”, “O Riso de Deus”, “A Pesca à Linha” e “O Tecido do Outono”, entre outros, aí ficam para saborearmos, com prazer.

Fernando Martins

“Música na Escola”

Centro Cultural da Gafanha da Nazaré


FILARMÓNICA DAS BEIRAS NO CENTRO CULTURAL
DA GAFANHA DA NAZARÉ

Nos próximos dias 27 e 28, da parte da manhã, no Centro Cultural da Gafanha da Nazaré, os alunos das Escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico vão ter “Música na Escola”, por iniciativa da Câmara Municipal de Ílhavo. Actuará a Orquestra Filarmónica das Beiras, que apresentará o programa “10 Vocalizos para Leonor e Arcos”.
Por esta forma, as crianças das nossas escolas começam a habituar-se a ouvir e a aprender a ouvir música de qualidade. Os familiares e amigos também poderão participar.

Um artigo de João Gonçalves, no CV



A casa velha

Era uma vez uma cidade que não tinha casas velhas; a cidade era bonita e airosa e, por isso, não admitia nada que destoasse da concepção que para ela os artistas tinham programado. Dum lado e doutro de ruas e avenidas, só se erguiam casas bem arquitectadas, a sugerir que outros edifícios fora de linha não tinham ali cabimento.Um dia, pela calada da lei, entrou na cidade um grupo de forasteiros que estranhou a arrumação da cidade e não encontrou sítio de paragem; tudo era, de facto, estranho!Na coragem de quem se sente no direito de viver ou, ao menos, de sobreviver, puxam pela coragem de tentar activar os sistemas de alarme das casas novas e belas. De dentro, só ouvem vozes estranhas que indicam outros alarmes, que ficam noutras casas e noutras ruas; talvez lá encontrem pessoas...
Foi assim que os forasteiros, de porta em porta, sempre encontraram o que pretendiam: uma casa velha, que tinha escapado aos artistas que faziam e refaziam a cidade; foi o maior achado da sua vida de peregrinos, sem eira nem beira, onde poderão assentar arraiais e, finalmente, dormir e poder sonhar. Dali poderão entrar e sair sempre que queiram, podem regressar à hora que quiserem, podem até alimentar algumas ilusões, lado a lado com outros seus semelhantes, também já desesperados de tantas respostas inconsequentes; estão felizes na casa velha, que quase já é sua.
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Leia mais em CV

Uma quadra de António Aleixo

Qu’ria que o mundo soubesse que a dor que tortura a vida é quase sempre sentida por quem menos a merece.

Porto de Aveiro

Porto de Aveiro: Vias de acesso. Foto de Dinis Alves
VIAS FUNDAMENTAIS
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Porto sem vias de acesso compatíveis não tem futuro. Daí a preocupação de dotar o Porto de Aveiro, nas suas vertentes de Pesca Costeira, Pesca Longínqua, Comercial, Industrial e de Turismo, das melhores vias. Para já, há as rodovias. As ferrovias virão a seguir. Para breve, pensa-se.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Um soneto de Camões


AQUELA TRISTE E LEDA MADRUGADA


Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade,
Quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando à terra claridade,
Viu apartar-se de uma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas,
Juntando-se, formaram largo rio.

Ela ouviu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio
E dar descanso às almas condenadas.

Citação

"As crises são necessárias e os confrontos também, porque só assim é possível ponderar e fazer escolhas"
Laurinda Alves,
na XIS

Provérbio

"A ingratidão é filha da soberba"

Arte para todos


Costa Nova com arte para toda a gente
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Diz-se, por aqui, que aos domingos há muita gente a dar a voltinha dos tristes. Não sei de onde veio esta expressão tão sem sentido. A ela está ligada a ideia de alguém que mete a família no carro e vai passear pelos recantos mais atraentes. Neste caso, para os de Aveiro e arredores, a saída leva-os até às nossas praias. Passeiam, olham a ria, lancham em qualquer café ou pastelaria, e voltam para casa. Hoje sugiro que apreciem a arte que está à disposição de todos, na ampla esplanada ao longo da Ria, na Costa Nova do Prado.

Um artigo de Anselmo Borges, no DN


Depois do referendo, o quê?


Durante a campanha para o referendo sobre o aborto - não é correcto dizer interrupção voluntária da gravidez, pois é de cessação que se trata -, foram citadas por adeptos do "sim", inclusive nos grandes debates televisivos, afirmações minhas sobre o tema, que não renego, mas que não exprimem todo o meu pensamento. Permito-me retomar algumas reflexões sobre questão tão delicada e complexa.

1. À pergunta do referendo, o povo português respondeu: "sim", 59%; "não", 41%; 56% abstiveram-se.
Espera-se agora uma lei da despenalização que seja equilibrada e com o maior consenso possível, tanto mais quanto se trata de uma questão que deveria ser tratada suprapartidariamente e na indicação de que o Estado favorece a vida e não a morte.

2. Houve uma elevada percentagem favorável ao "não", sendo generalização apressada arrumá-lo, sem mais, no mundo rural e pré- -moderno. Por outro lado, embora as razões da abstenção não sejam quantificáveis, não é legítimo excluir que entre elas se encontrou o facto de a pergunta dar azo à perplexidade do cidadão por causa da colisão entre o plano jurídico-penal e o moral: cidadãos que não querem ver a mulher penalizada receavam, não sem razão, que o "sim", para lá da despenalização, abrisse as portas à liberalização.
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Tecendo a vida umas coisitas - 12


POVOAMENTO DA GAFANHA

Caríssimo:

Continuemos no reino da magia e da imaginação, mas incluamos uma forte dose de estudo e de investigação. Que resultará?
Ainda na companhia do padre João Vieira Resende e lendo a sua Monografia, 2.a edição, na página 47, verificamos que tira as seguintes conclusões:

“1.º que o povoamento da Gafanha começou seguramente cerca do ano de 1677, época relativamente muito recente, mas mais remota do que muita gente julgava;
2.º que, embora se não saiba de cultivadores existentes na Gafanha antes de 1677,prova-se no entanto que as suas terras já produziram pão, o que nos indica ter havido cultivadores anteriormente e, portanto, que o seu povoamento provável teria começado antes de 1677;
3.º que esse povoamento foi feito, pode dizer-se, quase exclusivamente pelos povos vindos da freguesia de Vagos e, mais, que eles ainda continuaram a povoar até uma época muito próxima;
4.º que os povos de outras freguesias só muito tarde e muito frouxamente contribuíram para o povoamento;
5.º que a infiltração destes povos na Gafanha, a princípio morosa e depois quase tumultuária, se explica e justifica documentalmente por necessidades de expansão e de cultura;
6.º que só frouxamente se pode dar foros de verdadeira à tradiçaõ de que seriam quatro criminosos os fundadores da Gafanha.”

Pois bem, em 1995, o nosso conterrâneo dr. Manuel C. Fidalgo, no livro «Açores – Ensaios de Sociologia», a páginas 479-480, dá-nos a sua opinião nestes termos:

“...[O]s róis de tripulantes dos barcos de bacalhau, matriculados no Porto de Aveiro, na primeira metade do século XVI, já apontam nomes de pescadores naturais dos lugares que hoje constituem esta freguesia e vila [a cidade da Gafanha da Nazaré]. É que já em 1506 saíam barcos de Aveiro para os bancos da Terra Nova. E, igualmente, penso que alguns dos marnotos e moços que trabalhavam as salinas, já em 1514, eram naturais e residentes na península da Gafanha. [...]
Com o decorrer dos séculos e com a passagem da barra para o Sul das Gafanhas as salinas do interior foram desaparecendo, substituídas por outras mais próximas da costa. Sabe-se, assim, que no início do século XVI já existiam as da Cale da Vila e Marinha Velha, trabalhadas por «marnoteiros» e moços que se presume habitarem próximo e não virem, diariamente, de Aveiro ou Ílhavo. Além do mais tinham guarnição próxima, no Forte então existente, local de controlo e defesa da Barra assim como posto alfandegário.
É de notar, também, que a primitiva imagem de Nossa Senhora da Nazaré é do século XVI, o que demonstra a existência possível de local de culto, tendo por orago esta invocação à Virgem.
Pescadores de bacalhau, marnotos e moços, servos dos vínculos e pessoal do forte da Barra foram, de certo, os primeiros habitantes a fixar-se no Norte desta Península a partir, pelo menos, do século XVI. A Gafanha da Nazaré, mais propriamente os seus lugares, não teve os seus primeiros habitantes só no século XVII como tem sido escrito. Para mim o início do povoamento é anterior de um ou mais séculos pela necessidade do controlo do porto.”

Assunto e matéria para conversa amena aí está; prometo, se Deus quiser, voltar ao assunto.


Manuel

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Corrupção

Portugueses permissivos face à corrupção
O procurador-geral da República (PGR), Pinto Monteiro, disse hoje, em Coimbra, que “não há ainda em Portugal uma consciência ética forte que censure a corrupção”, comentando um estudo segundo o qual “os portugueses são permissivos face à corrupção”. As conclusões preliminares do estudo “Corrupção e Ética em Democracia: o caso de Portugal”, elaborado pelo Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), divulgado hoje pelo PÚBLICO, revelam que “a maioria dos portugueses considera ineficaz o combate à corrupção e diz que há uma cultura de permissividade em Portugal”.Dos 1009 indivíduos inquiridos, entre 10 e 26 de Fevereiro de 2006, a maioria atribui ao Governo a responsabilidade pela ineficácia no combate à sua prática e só depois ao aparelho judicial.
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Leia mais no PÚBLICO

Templos célebres



BURGOS: CATEDRAL DE SANTA MARIA

Em Burgos, a Catedral de Santa Maria data do período gótico e tem ornamentos do século XV. Imponente e belo, este templo merece uma visita atenta.

Citação

"Tudo o que é verdadeiramente sábio é simples e claro"
Máximo Gorky

Um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen


ESCUTO MAS NÃO SEI


Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou deus

Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies no vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e fita

Apenas sei que caminho como quem
É olhado e amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco

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In Revista XIS,
última edição,
17-02-2007

Provérbio

"O Verão colhe e o Inverno come"

Porto de Aveiro

Porto de Aveiro: vista geral
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PORTO DE AVEIRO: Importância que ninguém nega
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Com esta foto aérea do Porto de Aveiro, zona comercial, apenas quero lembrar que para ele correm todos os caminhos que reflectem o dinamismo da região aveirense, com ramificações para todo o País. A sua importância ninguém a nega. E a prová-lo aí teremos, num futuro breve, a ligação ferroviária.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Templos célebres


IGREJA DA SAGRADA FAMÍLIA, EM BARCELONA
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A Igreja da Sagrada Família, em Barcelona, de Antoni Gaudí, obra prima do artista, começou a ser construída em 1882. Presentemente inacabada, as obras continuam, no respeito pela marca e estilo do autor. Centro de visita obrigatória para quantos gostam de arte.

UA na televisão

UA estreia novo programa
televisivo dedicado à Ciência


Viva a Ciência!

Nos próximos meses, a Universidade de Aveiro vai levar aos quatro cantos do mundo a ciência que se faz em Portugal. Do Minho ao Algarve, sem esquecer as ilhas da Madeira e dos Açores, o novo programa televisivo Viva a Ciência!, com estreia marcada para o próximo Domingo, 25 de Fevereiro, às 11.30 horas, na RTP Internacional e RTP África, vai dar a conhecer o que de melhor se faz no nosso País no que respeita à investigação científica, desenvolvimento tecnológico e inovação em geral.
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Leia mais em UA

Um artigo de Laurinda Alves, no CV


O CORAÇÃO E A RAZÃO

Como se prova o amor entre duas pessoas? E como é que sabemos que temos as ideias claras? E qual o melhor entendimento sobre esta ou aquela questão? O que faz sentido agora também vai estar certo mais adiante?
Estas e outras dúvidas recorrentes obrigam-nos a pensar e a procurar respostas. Ainda que a sensação seja resolver tudo pela via da razão, na realidade aquilo que mais transforma a nossa vida é aquilo que sentimos e em que acreditamos, Nem sempre aquilo que compreendemos nos leva mais longe, porque nem sempre a compreensão racional nos traz sentimentos positivos de que precisamos para avançar.Um dos grandes mistérios da vida é justamente este de não podermos provar tudo cientificamente. E muito do que não se prova pela razão, prova-se pelo coração. Comprova-se existencialmente, pela via dos sentimentos, dos afectos e das relações que vamos criando.
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Leia mais no Correio do Vouga

Porto de Aveiro

Entrada da Barra: Foto de Dinis Alves


PORTO DE AVEIRO

O Porto de Aveiro, visto de cima e de vários ângulos, é uma belíssima obra de arte da natureza. Nem sempre a olhamos com a devida atenção, é verdade, mas há muita gente disponível para nos oferecer belezas raras. As fotografias que mostrarei sobre o Porto de Aveiro são de Dinis Alves, que teve a amabilidade de mas enviar, o que agradeço.

Citação

“A oração, como fenómeno humano, é transversal às várias religiões, culturas e épocas”
José Tolentino de Mendonça, in XIS

Sabedoria de Confúcio

COPO DE ÁGUA O velho Mestre pediu a um jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal num copo-d'água e bebesse. -"Qual é o gosto?", perguntou o Mestre. - "Ruim ", disse o aprendiz. O Mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e a levasse a um lago. Os dois caminharam em silêncio e o jovem jogou o sal no lago. Então o velho disse: - "Beba um pouco dessa água." Enquanto a água escorria do queixo do jovem, o Mestre perguntou: - "Qual é o gosto?" - "Bom!" disse o rapaz. - "Você sente gosto do sal", perguntou o Mestre? - "Não" disse o jovem. O Mestre então sentou-se ao lado do jovem, pegou na sua mão e disse: - "A dor na vida de uma pessoa não muda. Mas o sabor da dor depende do lugar onde a colocamos. Então, quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é aumentar o sentido das coisas. Deixe de ser um copo. Torne-se um lago..." Nota: Enviado por leitor amigo

Zeca Afonso



O CANTOR DA LIBERDADE
MORREU HÁ 20 ANOS

O cantor da liberdade, Zeca Afonso, morreu há 20 anos. Morreu fisicamente, mas a sua memória e o seu talento continuam vivos entre nós, tal a força e a originalidade da sua arte. Era um cagaréu, pois nasceu em Aveiro, na freguesia da Glória, em 2 de Agosto de 1929.
“Nasci em Aveiro; lembro-me de que jogava o pião e a malta dizia: -‘Ó pião de Aveiro, ó pião de Ovar…’; foi uma infância turva, ligada a uma tia que foi praticamente a minha mãe; vivia numa espécie de paraíso.” Assim o recorda Monsenhor João Gaspar, no seu livro “Caminhar na Esperança”, onde também recorda outras figuras gradas da nossa terra.
Mais adiante, lembra: “Descobri que sou neto de um livre-pensador de Aveiro, […] um republicano que esteve ligado a um movimento importante de renovação escolar. Chama-se Domingos José Cerqueira, […] que chegou a fazer uma ‘cartilha’, a segunda depois da ‘Cartilha Maternal’, de João de Deus.”
Depois desta evocação, para referenciar o artista que o mundo português, e não só, bem conhece, pela sua contribuição para a reconquista da liberdade e da democracia em Portugal, é justo sublinhar que Zeca Afonso influenciou toda uma geração que fez da arte de cantar a arte de despertar consciências para o respeito pela dignidade do homem. Cantando, soube acordar muita gente para que assumisse a luta pela instauração da democracia entre nós.
O artista da liberdade faleceu em 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, tendo-nos deixado uma mensagem muito expressiva, como recorda Monsenhor João Gaspar. “Nós não devemos apagar fogueiras, mas atear chamas!...”.
Talvez com a imagem de Aveiro e da sua Ria, disse noutra altura, cantando: “… tempo que leva tempo, meus amigos / regressam ternamente a suas casas; / com eles edifico uma morada! / Que Deus reme connosco na viagem!”

Fernando Martins

Um artigo de D. António Marcelino

MODERNIDADE
DE QUE TANTO SE FALA

Há anos recebi, a seu pedido, um jornalista de um jornal diário. Começou por uma pergunta, para mim sem pés nem cabeça. Por delicadeza tentei perceber e ir respondendo, mas logo fui por ele interpelado, perguntando-me se eu não sabia o que era a modernidade. Sem intenção de magoar ou humilhar, perguntei-lhe, por minha vez, o que é ele entendia por modernidade porque, sabendo-o eu, perceberia talvez a que propósito vinha a sua intervenção. Assim nos podíamos entender e tornar possível, entre nós, um diálogo válido. Retorquiu-me, incomodado, que o entrevistador era ele e não tinha que me dar nem explicações, nem respostas. Conclui que o bom do homem, com aquele incómodo e arrogância, não sabia nem fazia a mínima ideia do que dizia quando falava de modernidade. Apenas trazia consigo, bem forte, o preconceito de que a Igreja era contra…
Tenho, agora, a mesma sensação, quando ouço perorar, com entusiasmo, ministros e seus ajudantes, deputados e analistas, jornalistas e políticos de primeira linha, e até professores e cidadãos que se presumem de eruditos. Sempre todos em grande consonância. A torto e a direito, falam sobre assuntos diversos, não esquecendo, porque dá estatuto, de se referirem à modernidade e suas exigências. Muitos a traduzem por um laicismo serôdio, que quer atirar a Igreja para a sacristia, acordar velhas lutas e tirar-lhe qualquer influência na vida das pessoas e da sociedade. Alguns vão lá mais longe, porque nunca deram o salto no tempo de modo a purificar as tensões, fazendo perdurar as divisões de pensar e de agir, como se o mundo tivesse parado ou se reduzisse para sempre a dois blocos incomunicáveis, sempre dispostos a denegrir-se e a atacar-se mutuamente, na esperança de que algum deles morra ou desista primeiro.
A história diz-nos que a afirmação de um pensamento autónomo, quer religioso quer político, que está na origem da modernidade, nasceu como oposição a uma Igreja, demasiadamente influente nos povos da Europa, com falhas nos processos de relação e intervenções que extravasavam o sagrado. Embora o diagnóstico tivesse alguma objectividade, o movimento não foi facilmente aceite pela gente da Igreja, por razões que a história explica. As reacções iam provocando novas tensões num mundo ávido de autonomia. E, como a dogmatismos incómodos se iam contrapondo outros que o não eram menos, a serenidade para reflectir sobre os caminhos andados e projectar os futuros, não foi muita.
Deste modo, a Igreja foi sendo considerada empecilho do mundo novo que começava a nascer, com outros critérios e projectos. Esta ideia foi vingando. O poder político que surgia na Europa, por vezes com novas alianças religiosas contrárias ao catolicismo, foi carregando as cores, o pensamento filosófico que gerara a primeira ideia e a alimentava, deram suporte a movimentos políticos diversos que, impacientes ou com outros ventos no bojo, optaram pela perseguição e pela decisão de extermínio da Igreja e da sua anterior influência histórica. Vitórias passageiras, porque, não obstante as falhas inegáveis, não se apagam séculos de cultura, de promoção social e de desenvolvimento variado. Mas foram ficando marcas, acumulando-se preconceitos e sonhados, irreversivelmente, novos projectos de sociedade.
João XXIII, por terras onde andara antes de eleito, vivera experiências diversas de tensões, políticas e religiosas. Secundando gestos importantes de antecessores, toma a decisão profética de um concílio que ajude a Igreja a converter-se ao Evangelho das origens e a tentar a reconciliação com o mundo, dado que é sua vocação servi-lo. Abrem-se, então, caminhos novos de reconhecimento da legítima secularidade, da vantagem do diálogo aberto da Igreja com as realidades terrestres. A modernidade traz consigo um apoio à personalização, um direito à participação e ao pluralismo. Não permite, porém, sem perigo de perdas graves, o apagamento da história, a subversão dos valores, a ética das relações, a protecção social de uns, em detrimento de outros