terça-feira, 14 de novembro de 2006

JOSÉ GIL - CITAÇÃO

"Vê-se que o espaço público falta cruelmente em Portugal. Quando há diálogo, nunca ou raramente ultrapassa as «opiniões» dos dois sujeitos bem personalizados (cara, nome, estatuto social) que se criticam mutuamente através das crónicas nos jornais respectivos (ou no mesmo jornal). O «debate» é necessariamente «fulanizado», o que significa que a personalidade social dos interlocutores entra como uma mais-valia de sentido e de verdade no seu discurso. É uma espécie de argumento de autoridade invisível que pesa na discussão: se é X que o diz, com a sua inteligência, a sua cultura, o seu prestígio (de economista, de sociólogo, de catedrático, etc.), então as suas palavras enchem-se de uma força que não teriam se tivessem sido escritas por um x qualquer, desconhecido de todos. Mais: a condição de legitimação de um discurso é a sua passagem pelo plano do prestígio mediático - que, longe de dissolver o sujeito, o reforça e o enquista numa imagem «em carne e osso», subjectivando-o como o melhor, o mais competente, o que realmente merece estar no palco do mundo."
In 'Portugal Hoje - O Medo de Existir'

CASA GAFANHOA

CÂMARA DE ÍLHAVO
PRETENDE AMPLIAR
CASA GAFANHOA
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Em declarações ao "Jornal de Notícias", o presidente da Câmara de Ílhavo, Ribau Esteves, anunciou o propósito da autarquia de ampliar a CASA GAFANHOA, pólo museológico que retrata o viver de lavrador rico, das primeiras décadas do século XX. Pretende-se construir um edifício de raiz perto da CASA GAFANHOA, para servir como área de exposições.

Outra garantia do presidente ilhavense vem no sentido dotar esta casa-museu de um funcionário que permita a entrada para visitas a qualquer hora, sem ser necessário pedido prévio, como acontece actualmente.

Boas notícias para quantos apreciam a cultura e a história de um povo que transformou areias esbranquiçadas e estéreis em terra fertilíssima, quantas vezes à custa de um esforço sobre-humano.

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segunda-feira, 13 de novembro de 2006

SEMANA DOS SEMINÁRIOS

SEMINÁRIOS
VIVOS SÃO PRECISOS
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Seminário de Santa Joana Princesa, em Aveiro

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Até domingo, 19, está a decorrer, no País, a Semana dos Seminários, com uma preocupação fundamental, que é a de nos levar a reflectir sobre a sua necessidade. Sem estas casas de formação, abertas a quem deseja seguir o presbiterado, em moldes radicalmente diferentes dos que conhecemos há décadas, a Igreja não teria quem servisse o Povo de Deus e as comunidades humanas, a tempo inteiro, como o fazem os padres que conhecemos. Os tempos são outros e as pedagogias não podem ficar num passado que já não volta a marcar os nossos quotidianos. A formação dos futuros padres está a ser feita de forma mais aberta, com os candidatos ao sacerdócio a frequentarem as escolas públicas ou privadas comuns. Aí, os alunos dos Seminários e Pré-Seminários convivem com toda a gente, colegas e professores de ambos os sexos, têm acesso às mesmas fontes do saber dos alunos normais, mas regressam, depois, aos ambientes onde se cultiva e exercita a espiritualidade, onde se partilha a fé com mais regra, onde se debruçam sobre matérias mais específicas da vocação que têm ou julgam ter. Hoje, os Seminários assim são mais vivos, mais completos, mais adequados aos desafios dos tempos que vivemos, formando jovens enraizados no mundo, para trabalharem numa Igreja que não pode fechar-se nos templos. Porque não pode haver Igreja sem padres, os católicos têm de olhar com mais atenção para os Seminários, numa perspectiva de colaboração assídua e muito interessada, sob pena de cortarem as asas, com a sua indiferença, às acções de evangelização, numa época, como a nossa, em que a descristianização está a progredir a olhos vistos. Na sua mensagem para a Semana dos Seminários, D. António Marcelino sublinha que “a Diocese ama e não pode deixar de amar [o Seminário], porque ele será sempre um sinal visível da confiança que Deus deposita em nós, e mostra que nunca desistirá de levar a bom termo o Seu projecto de um amor que salva”. Julgo que é preciso pensar em tudo isto. Não apenas durante esta Semana dos Seminários, mas sempre. Fernando Martins

BISPOS PREOCUPADOS

Aborto e crise social
preocupam
os Bispos portugueses
O próximo referendo sobre o aborto e a crise social que o nosso país atravessa foram duas das principais preocupações apresentadas pelo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, na abertura dos trabalhos da assembleia plenária deste organismo. A reunião magna do episcopado decorre em Fátima até ao próximo dia 16 de Novembro. “A Igreja foi e será sempre ‘profeta’ da vida oferecendo, em permanência, razões para a defender”, referiu o Arcebispo de Braga, deixando críticas aos sinais de uma “cultura de morte” na nossa sociedade, nos quais incluiu o aborto, o tráfico de seres humanos, a exploração sexual de crianças e adolescentes, a eutanásia, o racismo e a xenofobia, a violência gratuita e as desigualdades económicas, culturais, sociais e tecnológicas. Sobre a posição da Igreja em relação ao aborto, o presidente da CEP referiu que “é com palavras claras que exprimimos a nossa posição, mesmo que nos situem no espaço dos retrógrados em confronto com outros países: somos inequivocamente pela vida desde a concepção até à morte”. Ao mesmo tempo, acrescentou, “afirmamos o nosso compromisso na resposta a situações que se revestem duma peculiar dramaticidade”. “Reafirmamos, uma vez mais, a malícia intrínseca de todo o aborto provocado, pois constitui gravíssimo atentado à vida humana inocente e indefesa”, disse ainda. Para este responsável, “carece de qualquer razoabilidade e sentido falar do ‘direito a abortar? por parte da mulher-mãe, invocando o direito a dispor arbitrariamente do seu próprio corpo, porque o concebido não é “apêndice” da mãe, mas antes uma realidade humana autónoma e, como tal, inviolável”. “Da mesma forma, também não se pode reconhecer ao poder constituído, na sua vertente legislativa, competência para liberalizar ou descriminalizar o que, por sua natureza, é crime. Nenhuma lei positiva pode transformar em não-mau ou em bom o que é mau em si mesmo”, indicou. D. Jorge Ortiga admite, contudo, que o Estado poderá “desculpabilizar, total ou parcialmente, os que cometem determinada acção má, atendendo às múltiplas circunstâncias atenuantes concretas”. Adivinhando as críticas que a posição da Igreja sobre esta matéria poderá gerar, D. Jorge Ortiga aponta que a laicidade não significa calar os responsáveis católicos, mas, pelo contrário, dar-lhes a “ possibilidade de marcar a nossa presença e expressar o nosso pensamento numa sociedade onde pululam as propostas e os confrontos doutrinais”. “A cultura hodierna, algo perdida ou confusa, exige palavras claras, ainda que humildes porque conscientes de não sermos donos absolutos da verdade”, acrescentou.
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Fonte: Ecclesia

AS MINHAS REPORTAGENS

PRIMEIRO ENCONTRO DAS IPSS DO DISTRITO DE AVEIRO
O ESTADO NÃO PODE
TRATAR DE MODO IGUAL
O QUE É DIFERENTE
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Decorreu no Centro Social Cultural e Recreativo de Avelãs de Cima, Anadia, no passado sábado, 28 de Outubro, o I Encontro das IPSS do Distrito de Aveiro, com a participação de cerca de uma centena de dirigentes. A iniciativa partiu da UDIPSS (União Distrital das Instituições Particulares de Solidariedade Social), tendo por tema “Os Novos Desafios da Solidariedade”. Os trabalhos desenvolveram-se durante todo o dia, com a abordagem de questões relacionadas com os novos desafios impostos por uma sociedade em rápida transformação.
Trabalhos em parceria e em rede, formação contínua, qualidade dos serviços e projectos, legislação e o exercício da solidariedade, num País rico em voluntariado, foram assuntos que suscitaram diálogo enriquecedor.
Na sessão de abertura, as intervenções de fundo estiveram a cargo do presidente da CNIS, Padre Lino Maia, do director do Centro Distrital de Segurança Social (CDSS), Celestino de Almeida, e do Governador Civil, Filipe Neto Brandão.
O Consultor Jurídico da CNIS, Henrique Rodrigues, com Margarida Menezes e Rui Monteiro, do CDSS de Aveiro, abordaram questões técnicas fundamentais, para o presente e para o futuro das IPSS. José Carlos Batalha e José Leirião (através de comunicação enviada por escrito), da UDIPSS de Lisboa, trataram dos temas voluntariado e novos desafios da solidariedade.
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Foto: Lacerda Pais e Lino Maia
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domingo, 12 de novembro de 2006

UM ARTIGO DE ANSELMO BORGES, NO DN

RELIGIÃO E (IN)FELICIDADE
Sobre o inferno escreveu Tomás de Aquino: "Aos bem-aventurados não se deve tirar nada que pertença à perfeição da sua bem-aventurança. Ora, cada coisa conhece-se melhor pela comparação com o seu contrário. E, por isso, para que os santos tenham mais satisfação na bem-aventurança e dêem por ela abundantes graças a Deus, concede-se-lhes que contemplem com toda a nitidez as penas dos ímpios." Muito antes, Tertuliano, Padre da Igreja, tinha escrito: "Que espectáculo grandioso! Exultarei, contemplando como tantos e tão grandes reis, dos quais se dizia que foram recebidos no céu, gemem nas trevas profundas. A visão de tais espectáculos, a possibilidade de que te alegrarás com tais coisas - que pretor ou cônsul ou questor ou sacerdote poderá oferecê-la, por muita generosidade que tenha?" Não duvido de que subjacente a estes textos se encontra a ideia de que um dia será feita justiça. A injustiça é intolerável. Mas, sub-reptícia e inconscientemente, aninha-se neles muito sadismo. A crença no inferno foi uma das polícias mais eficazes de todos os tempos. No entanto, o inferno não faz parte do Credo cristão e só pode pregá-lo quem nunca meditou no mistério insondável da liberdade humana, mergulhada nos condicionamentos da temporalidade. Aliás, mesmo do ponto de vista conceptual, o que é que pode querer dizer uma condenação eterna? Às acusações de que deste modo se está a abrir caminho à irresponsabilidade e ao vale-tudo deve responder-se que o amor não banaliza, mas responsabiliza, devendo acrescentar-se que Deus só levará à plenitude as possibilidades concretizadas pelo ser humano no tempo. Não constitui nenhum exercício de masoquismo lembrar que, desgraçadamente, para um número indeterminável de homens e mulheres, a religião, cujo núcleo é a salvação e a felicidade plena, em vez de ser o espaço da alegria, da expansão e da vida, foi, de facto, o espaço da tristeza, da humilhação e da morte.
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GOTAS DO ARCO-ÍRIS - 39

QUAL A COR
DA CASTANHA?
Caríssimo/a: Há cada pergunta que nos fazem logo pela manhã; esta da cor da castanha leva-nos para profundas recordações... Ontem recebi carta de amigo de velha data a responder a um pedido que lhe fiz. Já lhe agradeci, mas fui pensando que este ano éramos muito menos junto dos nossos Santos. E, quase sem querer, caí na esparrela de recuar, recuar, recuar até à década de cinquenta do passado século; aí sim estávamos lá todos e os que não estavam não se dava por isso: a animação, a alegria, o barulho e a música afastavam o tempo e deixavam passar a nossa confiança no futuro. Planeavam-se as serenatas e, no lareiro, as brasas assavam umas castanhas compradas na taberna do canto. Sentados, a conversar e a tomar conta para não se estorricarem, estavam dois que, passo e volta, comiam uma ou outra que se mostrava mais apetecível. E foram conversando e comendo, agora uma, depois outra, e conversando... Quando deram por ela, tinham embarcado todas as dignas e restavam as queimadas, pretas, cheias de cinza, algumas mesmo podres e deformadas. Depois dos risos malandrecos, perplexidade e alguma desconfiança inquieta nos olhares que trocaram. Não havia fuga possível; foi o bom e bonito quando se deixou de ouvir o ensaio para a tal serenata e os comensais se aproximaram. Descoberta a falta de cor das castanhas, meus amigos, a lenha utilizada foi outra... Onde se demonstrou que nem sempre as castanhas o são. Manuel

FORÇA QUE CONVOCA

O ESPÍRITO VENCE O Espírito vence A espessura da noite E uma língua de fogo inumerável Purifica, renova, acende, alegra O mistério criado. Eis a força Que convoca a Igreja Nos templos e nas praças E suscita entre o povo testemunhas Com palavras ousadas de verdade Em frente dos juízes. Profunda chama, Que secreta iluminas O coração do homem: Com a boa notícia restabelece A vacilante fé, acende o amor Na esperança que é semente Da salvação do mundo.
Da “Liturgia das Horas”,
na “Hora Intermédia” de hoje

VIOLÊNCIA ESCOLAR

CRISE DE AUTORIDADE
FAMILIAR PROVOCA AUMENTO
DA VIOLÊNCIA ESCOLAR
O aumento da violência escolar deve-se, em parte, a uma crise de autoridade familiar, onde os pais renunciam a impor disciplina aos filhos, remetendo-a para os professores, defenderam especialistas em educação, reunidos na cidade espanhola de Valência para analisar o assunto “Família e Escola: um espaço de convivência”. Os participantes no encontro, dedicado a analisar a importância da família como agente educativo, consideram que é necessário evitar que todo o peso da autoridade sobre os menores recaia nas escolas, o que obriga a “um esforço conjunto da sociedade”. “As crianças não encontram em casa a figura de autoridade”, um elemento fundamental para o seu crescimento, disse na conferência inaugural do congresso o filósofo Fernando Savater. “As famílias não são o que eram antes, um núcleo muito amplo e hoje o único que muitas crianças contactam é a televisão, que está sempre em casa”, sublinhou. Para Savater os pais continuam a “não querer assumir qualquer autoridade”, preferindo que o pouco tempo que passam com os filhos “seja alegre” e sem conflitos e empurrando o papel de disciplinador quase exclusivamente para os professores. No entanto, e quando os professores tentam exercer esse papel disciplinador, “são os próprios pais e mães que não exerceram essa autoridade sobre os filhos que intentam exercê-la sobre os professores, confrontando-os”. “O abandono da sua responsabilidade retira aos pais a possibilidade de protestar e exigir depois. Quem não começa por tentar defender a harmonia no seu ambiente, não tem razão para depois se ir queixar”, sublinha. O filósofo acusa igualmente as famílias de pensarem que “ao pagar uma escola “deixa de ser necessário impor responsabilidade, alertando para a situação de muitos professores que estão “psicologicamente esgotados” pela situação e se convertem “em autênticas vítimas nas mãos dos alunos”. Os professores, afirma, não podem ser deixados sós, e a liberdade “exige uma componente de disciplina” que obriga a que os docentes não estejam desamparados e sem apoio, nomeadamente das famílias e da sociedade. “A boa educação é cara, mas a má educação é muito mais cara”, afirma, recomendando aos pais que transmitam aos seus filhos a importância da escola e a importância que é receber uma educação, “uma oportunidade e um privilégio”. “Em algum momento das suas vidas, as crianças vão encontrar disciplina”, disse Savater que, em conversa com jornalistas, explicou ser essencial perceber que as crianças hoje não são mais violentas ou mais indisciplinadas que antes, mas que hoje “têm menos respeito pela autoridade dos mais velhos”. “Deixaram de ver os adultos como fontes de experiência e de ensinamento para os passarem a ver como uma fonte de incómodo. Isso leva-os à rebeldia”, afirmou. Daí que mais do que reformas aos códigos legislativos ou às normas em vigor, é essencial envolver toda a sociedade, admitindo que “mais vale dar uma palmada, no momento certo” do que permitir as situações que depois se criam. Como alternativa à palmada, oferece outras, como suprimir privilégios, alargar os deveres ou trabalhos de casa.
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Fonte: IID

sábado, 11 de novembro de 2006

SÃO MARTINHO


São Martinho,
muito mais que
as castanhas


O calendário litúrgico aponta hoje, 11 de Novembro, para a celebração da festa litúrgica de São Martinho de Tours, Bispo e Confessor, figura muito querida da religiosidade popular e tradicionalmente associada ao “magusto”. S. Martinho de Tours nasceu na Hungria, em 315, e faleceu, sendo Bispo de Tours, França, em 397. Este Santo era filho de um oficial romano que servia na Panónia, actual Hungria, e foi ele próprio militar. Dois anos depois de se ter convertido à fé católica e baptizado na Gália, deixou o exército e passou a levar vida solitária, sob a orientação espiritual de Santo Hilário de Poitiers. Eleito mais tarde bispo de Tours, exerceu de modo admirável as suas funções de pastor, sendo considerado o iniciador da vida monástica na Gália e o grande evangelizador de França, país em que existem 3700 paróquias de que é padroeiro. A sua fama de evangelizador e de fundador de mosteiros torna-se motivo para que os Beneditinos, nos séculos XI e XII, o transformem em orago e protector dos mosteiros que iam fundando ou refundando na Península Ibérica. Na tradição popular, ficou célebre o episódio da partilha da sua capa de oficial de cavalaria romano com o mendigo que morria de frio, dando assim origem ao chamado “Verão de S. Martinho”.
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Fonte: Ecclesia

DEUS É EM NÓS...

A DANÇA DIVINA
DA POESIA
A aproximação de Teixeira de Pascoaes ao teólogo de Hipona, a Jerónimo ou a São Paulo só deve ter surpreendido quem não tivesse notado como Pascoaes transforma qualquer tema, e o comentário é de Fernando Pessoa, num «degrau para a religiosidade». Pascoaes apontara, com a sua obra poética, um tremeluzente norte à poesia portuguesa, que fora, no século anterior, substancialmente clássica e com ele entrou, «com passo decidido, na pura linha romântica do irracional» . E o irracional é a paisagem onde o sagrado reflorescerá como categoria necessária. O conhecimento mítico-poético e o conhecimento religioso que a Modernidade colocou sob suspeita, considerando-os sombras da razão, regressam como uma arte inexplorada. Entre sentimento e mistério, entre nítido e indeterminado alumiam-se afinidades («Deus é, em nós, como uma lembrança» , há-de escrever Pascoaes. «A atitude divina é anti-racional» ). Busca-se numa experiência originária aquilo que as estratégias do pensar deixam em silêncio e que vem guardado na linguagem densa dos símbolos. Ganha verdade a declaração de Jung: «O século das luzes nada apagou».
Mas não é exactamente de cristianismo que se trata. Já na recepção às biografias que Pascoaes escreveu, criticava-se o facto de ele «tratar os santos com um simples processo poético» . Num artigo dos anos 50, Manuel Antunes classificava tanto Pessoa e Régio como Pascoaes de poetas do sagrado, profundamente religiosos, mas avisando que «nenhum deles conhece o cristianismo (...) existencializado, sensibilizado. Apenas mostraram «através de tenteios, do caminhar nas sombras, do dualismo inquieto, do ansioso interrogar do mistério sentido ou pressentido (...), grande, secreta e inextinguível nostalgia de Deus» . De facto, ao pisar o invulgar território que tinha em S. João de Gatão seu centro magnético, estamos longe da elaboração teológica ou mesmo de uma retórica da experiência religiosa. A Pascoaes a santidade interessou enquanto fantasmagoria. Cada uma das biografias aborda, não a história propriamente dita, nem sequer os meandros labirínticos da legenda, mas a representação imaginária de uma prática da alma. Pois é isso que ele repete: «só me interessam as almas».
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SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DA GAFANHA


"CASA GAFANHOA", na rua S. Francisco Xavier,
perto da igreja matriz da Gafanha da Nazaré.
Há sinalização adequada


CASA GAFANHOA
foi inaugurada há seis anos

A CASA GAFANHOA, pólo museológico do Museu Marítimo de Ílhavo, completa hoje seis anos, pois foi inaugurada em 11 de Novembro de 2000. Trata-se de um edifício do princípio do século XX, que foi adquirido pela Câmara Municipal de Ílhavo e entregue à administração do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré, a entidade que mais lutou por este espaço, que reflecte a vida de um lavrador rico desta região. 
A casa antiga, depois de bem restaurada com todo o respeito pela traça original, mostra um recheio totalmente dominado por móveis e utensílios do princípio do século, num desafio constante à pesquisa e estudo de quanto os primeiros gafanhões nos legaram, mostrando um viver simples, mas prático, que não pode hoje deixar de nos encantar pela simplicidade que se desprende de tudo. 
Recorrendo à minha memória, posso lembrar que nas casas gafanhoas podia ver-se a cozinha com a sua trempe de ferro, panelas de três pés, aparadores, mesa e bancos toscos. Os talheres eram de ferro e alguns de cabo de osso. A um canto havia a cantareira com a respectiva cântara de ir à fonte buscar água, junto à mata da Gafanha, que dava gosto beber pela sua limpidez e frescura (que lhe era dada pela cântara de barro). 
Na cozinha de fora, mais modesta, com chão de junco, e na principal, de tudo um pouco ali se encontrava, desde roupa pendurada nos cabides até aos armários com louça e com comida que se não estragasse com o calor. O forno, onde se fabricava a sempre apetecida boroa de milho (e com que apetite era esperada a bola — boroa pequena e achatada — para comer com chouriço ou alguma carne de porco, mesmo gorda), era obrigatório em quase todas as casas gafanhoas. E também a salgadeira que guardava, no sal, o porco, governo de todo o ano. Também ali ficava, a um canto, a barrica com sardinha salgada, bem acamada. 
Na CASA GAFANHOA, podem apreciar-se os quartos pequenos, onde mal cabia uma cama e a respectiva mesa-de-cabeceira, com a mala do enxoval da casa, quantas vezes sem guarda-fatos e sem outros móveis, que o dinheiro e os hábitos não davam para mais. Sobre as camas das casas gafanhoas não faltavam as mantas de tiras, que as tecedeiras fabricavam com farrapos e restos de roupa velha, tiras essas cortadas nas noites de Inverno, ao serão, sobretudo pelas mulheres da casa. Mas ainda se hão-de admirar cobertores grosseiros de lã, lençóis de linho churro, e a um canto, o lavatório, normalmente só usado aquando da visita do médico a algum familiar doente. 
A Sala do Senhor, à frente, que se abria na Páscoa ou em dias de casamento ou baptizado, com um crucifixo sobre uma toalha alva, em cima da cómoda, onde se guardavam as roupas brancas e de festa. Havia cadeiras à volta, retratos nas paredes, principalmente dos casamentos, ampliados, que são actualmente grandes e importantes fontes de conhecimento da maneira de vestir e de ser das pessoas dos tempos antigos, sobretudo desde que a fotografia começou a marcar presença e a registar os principais acontecimentos das famílias. Aliás, em cima da cómoda, onde dois castiçais suportavam outras tantas velas para acender em dias de trovoada e, ainda, quando havia a visita das “almas” e quando se velavam os mortos, podiam ver-se algumas fotos de datas marcantes da família, a par das jarras de flores, renovadas semana após semana. 
No pátio interior não faltam as padiolas, os carros de mão e de vacas ou bois, com todos os seus apetrechos, as várias alfaias agrícolas, encabadas com paus toscos, a charrua e o arado, a um canto o galinheiro para as galinhas e galos, sobretudo, se refugiarem à noite, pois que de dia andavam, normalmente, a campo, comendo sementes, restos de comida e bicharada, quando não comiam outras coisas bem piores. E também não falta a retrete, pequena e de tampo de madeira, com o indispensável buraco a meio, que quarto de banho era coisa que não existia. E porque falamos de quarto de banho, o tal que só apareceu muito mais tarde, talvez na década de 50 para o grosso da população, que os mais ricos já o tinham havia algum tempo, se não nos falha a memória, perguntar-se-á onde tomavam banho os gafanhões. Ao que nos têm dito, tomavam-no na cozinha, geralmente ampla e que dava para o viver do dia-a-dia, numa grande bacia de lata, com água aquecida nas panelas de ferro de três pés. 
A água estava sempre quente, para o que fosse preciso, porque se cozinhava em panelas mais pequenas. Para o que fosse preciso, significa para lavar a loiça e para se lavarem, antes de se deitarem, especialmente os pés, que nem tudo podia ser lavado todos os dias, talvez por falta de hábito. Para o pátio interior ainda davam os currais dos porcos e das vacas ou bois, que sempre berravam acusando a falta da "lavagem", os primeiros, e da erva ou palha seca, de milho, os segundos. O celeiro também tinha uma porta para este pátio e às vezes para o exterior. 
Nos beirais dos telhado viam-se as abóboras a secar e à espera do Natal, para fazer os bilharacos. No pátio de fora não faltava a eira, onde se malhavam e secavam os cereais, cobertos de noite pelo tolde, feito de palha de centeio, a estrumeira (quando não era no pátio interior), para onde se deitava tudo o que pudesse transformar-se com o tempo em esterco, tão necessário à fertilização dos solos, a par do moliço e de mistura com ele. 
Viam-se as medas de palha e o “cabanéu” (prisma triangular, feito de uma armação de troncos de eucalipto e de ripas, e deitada sobre uma face), onde se arrumavam lateralmente e num dos topos, bem apertadas para não entrar a chuva, as palhas de milho, secas, para no Inverno servirem para alimento do gado. No interior guardavam-se alfaias agrícolas, menos usadas no dia-a-dia, e também ali dormiam, em especial os filhos da família, quando havia milho na eira, para o guardar dos ladrões que às vezes deixavam o lavrador sem nada do que granjeou durante todo o ano agrícola. Claro que não podemos esquecer, o poço, de onde se tirava a água para os usos domésticos, e um outro, o de rega, com o seu engenho puxado por vaca ou boi, que servia para regar o aido. 

Fernando Martins

ARTE EM AVEIRO

Pintura de José Maia - "OUTONO" -
publicada pelo jornal Correio do Vouga
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PRIMEIRA BIENAL
INTERNACIONAL
DE ARTE CONTEMPORÂNEA
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A Primeira Bienal Internacional de Arte Contnporânea vai ser inaugurada hoje, pelas 16 horas, em Aveiro, no auditório da Assembleia Municipal, edifício da antiga Capitania. Nessa altura, será divulgado o nome do vencedor do "Prémio Aveiro", no valor de dez mil euros, e dos três artistas que foram distinguidos com menções honrosas. As 77 obras seleccionadas e os trabalhos do artista convidado, Evariste Lichr, podem ser apreciados até 30 de Dezembro nas Galerias da Capitania, Paços do Concelho, Morgados da Pedricosa, Museu da Cidade e Teatro Aveirense. As 77 obras seleccionadas são de 49 artistas. Dessas, 40 são pinturas, 14 são fotografias, 12 são esculturas e 11 são desenhos. Esta Primeira Bienal Internacional é uma iniciativa da Câmara Municipal de Aveiro e do Círculo Experimental de Artistas Plásticos - AveiroArte. Paralelamente à Bienal, há um programa que inclui eventos culturais diversos, que serão anunciados em tempo oportuno.

UM LIVRO DE FLANNERY O’CONNOR


"UM BOM HOMEM
É DIFÍCIL DE ENCONTRAR”

Confesso que não conhecia a escritora Flannery O’Connor, como não conheço, obviamente, muitas outras. Aliás, é impossível conhecer tantos e tantos escritores bons, cujas obras enchem os escaparates das livrarias e… das grandes superfícies comerciais. Esta escritora americana, falecida em 1964 com apenas 39 anos, foi-me revelada pelo padre e poeta José Tolentino Mendonça, em ensaio publicado no caderno “Mil Folhas”, do “PÚBLICO”, com tais encómios, que não pude deixar de comprar este livro, que agora foi editado pela editora Cavalo de Ferro. 
A tradução foi da bióloga e escritora Clara Pinto Correia, que afirmou, a propósito desta preciosidade: “Li as histórias todas, uma por uma, noite dentro, sempre a sentir-me quase na margem do rio por onde se navega para outra dimensão qualquer. Era incrível. Era hipnótico. Era impossível de interromper antes de chegar ao fim e depois eu apagava a luz e ficava a dar voltas na cama (…). 
A minha Flannery morreu em 1964. Descubram-na agora e cada um que julgue por si mesmo.” Senti o mesmo quando li os contos que Flannery criou para quem gosta mesmo de ler. O pormenor das descrições de uma época, cheia de contrastes, e o fascínio dos desfechos dos contos, mais a tranquilidade com que a escritora me envolveu, deixaram-me, realmente, fascinado. 
Na contracapa há uma transcrição do “New York Times”, que é mais um desafio a quem aprecia boa literatura. Diz assim: “Ela não era só a melhor escritora deste tempo e lugar: ela conseguiu expressar algo secreto sobre a América, algo chamado Sul, com um dom transcendente de expressar o espírito real de uma cultura que é transmitido por escritores que se tornam naquilo que vêem. Ela era um génio.”
Esta pode ser uma óptima aposta para um fim-de-semana mais calmo e mais rico. 

Fernando Martins

UM LIVRO PARA O NATAL

Uma obra a lançar dia 23 de Novembro
"UM MENINO
CHAMADO NATAL"
Com texto de Joaquim Franco e fotos de Elísio Assunção e Ana Paula Ribeiro será lançado a 23 de Novembro, às 18.30 horas, na Livraria Bertrand do Centro Comercial Vasco da Gama, a obra “Um Menino chamado Natal”. Fazem a apresentação a pintora Emília Nadal e o jornalista António Marujo. Com 33 representações artísticas do Presépio e “palavras” que o fazem actual, este livro pretende ser um contributo para proclamar um Natal que, antes de ser a festa da família, da solidariedade, da boa-vontade, das juras mútuas de respeito e amizade, já era o que sempre foi: a celebração de um “nascimento”… “Um Menino chamado Natal” é um projecto de duas editoras – a Lucerna e a Sociedade Bíblica – com uma mensagem de motivação ecuménica, vocacionado para toda a sociedade.
Pelas referências que me chegam, este pode ser um livro para todas as idades e bem adequado para prendas de Natal, época propícia à demonstração das amizades e dos amores. Em vez de tantas futilidades que às vezes ofertamos, penso que esta obra pode ser uma óptima prenda de Natal.
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Fonte: Ecclesia