quinta-feira, 5 de outubro de 2006

Um artigo de Alexandre Cruz

Vida de Estudante, há tempo e lugar?
1. A vida actual está transformada numa corrida, mesmo para quem tem mais oportunidade para a gestão do seu tempo. De hábito em hábito, de novidade em novidade, com novas e novíssimas formas de comunicar mais e mais… corremos para acompanhar os “acontecimentos” do mundo; e a vida vai-se transformando numa roda-viva sem que, porventura, essa viagem apressada seja acompanhada da devida pausa e reflexão. Não será por acaso que muita da análise da vida da sociedade nos nossos dias vai demonstrando e fundamentando uma menor qualidade de pensamento, ausência de “filosofias” / ideais de vida, e por isso de acção em qualidade. E decisão e acção que não é bem pensada, reflectida, ponderada, pode acabar por se traduzir no popular “quanto mais depressa, mais devagar!” Também não é alternativa, diante da realidade nova, viver saudosista do passado, mantendo as âncoras agarradas às seguranças de outrora; não, de modo nenhum! O mundo presente, com os seus valores e também contravalores, como afinal em todas as épocas de civilização humana, desafia-nos a reinterpretar os sinais e a “acender” no tempo presente as luzes da esperança para sabermos onde queremos chegar. Isso mesmo, no meio de tudo o essencial será mesmo saber o que se quer e que passos dar para a realização desse caminho! 2. Algo que nos preocupa, diariamente, são precisamente as noções de “tempo” e “lugar” para as “coisas” mais importantes da vida. Todos o sabemos e as instâncias associativas e culturais ligadas à vida colectiva sentem-no na “pele”, é preocupante a indiferença, a passividade intermitente e incolor, a “ausência”; hoje, mais que nunca, investe-se imenso em comunicar, publicitar, convidar, no passar da mensagem que convença à participação, mas sabe-se à partida, que o terreno é complexo e não há receita que funcione automaticamente. As coisas são como são! As noções de “pertença à comunidade” vão-se esbatendo. Por um lado será bom que o cidadão e Portugal não fique “fechado” neste “canto à beira-mar” mas seja cidadão da Europa e do Mundo… Mas não nos iludamos, pois não é disso de que se trata. O cidadão está a esquecer a “cidade” e, no meio de toda a mega-informação e comunicação, não estamos a conseguir passar a mensagem que o ligue mais à realidade; o cidadão “navegando” pelo mundo inteiro na Net acaba, depois, por ficar fechado no seu mundo e esquecendo que a “cidade” precisa do contributo positivo de todos. 3. Há “tempo” e “lugar” para a cultura, para ir crescendo por dentro um pouco todos os dias (afinal, o que nos fica como síntese das “coisas” que dizemos e fazemos)? Há tempo e lugar para pensar a VIDA e os seus ideais? No final de contas, há oportunidade, ainda, para o universalizar da ética e da cultura da dignidade humana, bases estruturantes da vida social? Também o mundo do Ensino Superior (em Portugal) vive tempos novos. Estes, na harmonização do espaço único de Ensino Europeu (Protocolo de Bolonha), trazem um mundo de possibilidades de parceria europeia mas, naturalmente, também uma série acrescida de preocupações e desafios a superar. É uma realidade irreversível já preparada há longos anos e que agora vai chegando à vida do ensino e da sociedade; sem ilusões e sem medos, eis que está o desafio à descer à vida real. Licenciaturas em três anos; com 21 anos jovens apresenta-se proximamente ao mercado de trabalho; cada ano lectivo ganha mais importância; não há tempo para distracções; cada semana, cada mês de aulas passam num instante; sobe, mais ainda, o ritmo da vida, onde a “higiene do sono” e a serenidade são desafio de cada dia; faltará, mais ainda o tempo para a participação. 4. Três anos de curso superior passam num “instante”, nesta nova realidade que é um facto e que toda a sociedade em geral ir-se-á adaptar com naturalidade. Mas…que jovens sairão para a vida activa? Que “amor” e consciência de pertença à instituição e cidade onde estudam? Que tempo e lugar para a outra face da vida…a humana, pessoal, co-responsabilidade social? Que amadurecimento pessoal e dos conteúdos?... Ficando-nos a certeza de que perguntar e problematizar ajuda a reinventar caminhos de adaptação à nova realidade, temos a sensação de que “três anos” não chegam para ficar “saudade” das pessoas, do lugar e tempo vividos, das instituições; “saudade”, sentimento académico este que terá os dias contados…? Não somos saudosistas, de modo algum, mas nessa palavra está toda uma carga de “pertença” essencial e que, naturalmente, irá esbater-se pois não há “tempo”. Estamos, pois, diante de uma nova realidade que poderá, mais ainda, desagregar e dificultar todo o espírito de cultura e vida social – do SER PESSOA EM SOCIEDADE - para os homens do amanhã. Estes daqui a anos, que farão a gestão da sociedade nas suas mais variadas instituições, terão, mais ainda, pela pressa do estudo e da vida, uma menor visão de conjunto da vida e da realidade. Será isto realidade? Em tempos em que não há “tempo” nem “lugar”, parar e pensar sobre como reinventar caminhos diante deste novo paradigma de Bolonha é também um desafio premente que todos temos e que é contributo essencial à própria humanização da sociedade do amanhã. Afinal, sendo o futuro que está em causa, que outra realidade é mais importante (devendo por isso “mobilizar” todas as forças e sinergias)?...

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Homenagem justa

A NOSSA GENTE ...
Fernando Maria da Paz Duarte
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Nascido a 12 de Julho de 1944, em São Martinho do Bispo, Coimbra, Fernando Maria da Paz Duarte veio viver para Ílhavo com apenas 14 anos de idade. Com os estudos liceais terminados no ano de 1963, ingressou no Magistério Primário, hoje Escola Superior de Educação de Viseu, onde veio a concluir o curso em 1965. O seu percurso profissional é notório. No Ensino, apenas 4 anos após ter leccionado na Gafanha de Aquém, assumiu funções de Subdelegado e Delegado Escolar de Ílhavo, foi sócio fundador e membro dos Órgãos Sociais do Sindicato dos Delegados e Subdelegados Escolares por um período de 8 anos e Dirigente Local da Associação Nacional de Professores desde a sua fundação. Mas o Prof. Fernando Maria também enveredou por outras áreas, nomeadamente a actividade autárquica, tendo sido Vereador da Câmara Municipal de Ílhavo durante três mandatos, dois dos quais em regime de permanência. Em 1982 chegou a ocupar o cargo de Presidente da Câmara, por impedimento do Presidente eleito, o Capitão Bilelo. O seu espírito activo determinou ainda a sua dedicação a várias Associações do Concelho. Integrou a Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo, do Illiabum Clube e foi Presidente da Direcção e da Assembleia-geral da Associação Cultural e Desportiva “Os Ílhavos”, bem como foi Confrade Fundador da Confraria Gastronómica do Bacalhau. Um dos seus grandes desafios surgiu em Março de 1999 quando aceitou o convite para ocupar o cargo de Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo com o principal objectivo de trabalhar em prol da Comunidade, tendo neste momento em mãos o lançamento da primeira pedra da Unidade de Cuidados Continuados daquela Instituição que será uma realidade em 2007. Actualmente, desempenha igualmente o cargo de secretário do Secretariado Regional da União das Misericórdias e é membro do Conselho Local de Acção Social e da Comissão Concelhia de Saúde de Ílhavo. O carácter multifacetado deste homem faz dele uma figura de renome na Comunidade Ilhavense. A sua marca fica impressa ao longo de uma história de vida percorrida que, até aos dias de hoje, completa os sessenta e dois anos, em áreas de intervenção bastante díspares, mas todas elas relacionadas com o trabalho voltado para a Comunidade e Associativismo. Esperamos poder continuar a contar com o empreendorismo e dedicação do Prof. Fernando Maria na entrega às mais nobres causas e ao desenvolvimento do Concelho de Ílhavo. :: In “Viver em”, edição da Câmara Municipal de Ílhavo
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Nota: Só mais uma palavra, muito pessoal: Conheço o professor Fernando Maria desde que começou a trabalhar no concelho de Ílhavo, e sempre admirei a sua capacidade de intervenção social e competência profissional.
Mais ainda: A sua jovialidade, o seu sorriso aberto, a sua serenidade, a sua disponibilidade para ajudar quem dele precisasse, a sua amizade franca e leal.
Por isso, todas as homenagens são poucas para o muito que ele fez e faz.
Fernando Martins

S. Francisco de Assis

A Igreja recorda a memória
de um santo que marcou
a história
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Hoje, a Igreja Católica recorda a memória de S. Francisco de Assis, um santo que marcou a história. Da Igreja e dos homens. Nasceu em 1182 e depois de uma juventude leviana converteu-se a Cristo, renunciando a todos os bens paternos, numa entrega radical a Deus. Abraçou a pobreza, legando-nos a “pobreza franciscana”, para mais e melhor seguir o exemplo de Cristo, enquanto ao mesmo tempo pregava o amor de Deus. Formou os seus companheiros com normas excelentes, inspiradas no Evangelho, que foram aprovadas pela Sé Apostólica. Fundou, também, uma Ordem de religiosas e uma Ordem Terceira para seculares. Morreu em 1226.
O exemplo que S. Francisco nos legou está, de facto, ao alcance de todos nós, assim o quiséssemos seguir. Numa vivência da pobreza adequada aos dias que correm, obviamente. Mas as comodidades que vamos experimentando e o hedonismo que muitos de nós cultivamos não nos deixam imitar o santo que encarnou a humildade e a pobreza, como sinais indeléveis da presença de Deus nas pessoas e nas coisas. Se ao menos nos aproximássemos um pouco do seu exemplo, já não seria mau. Seria muito bom, tenho a certeza.
F.M.
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Pode ler mais em Capuchinhos

Um poema de Álvaro Magalhães




O Limpa-Palavras


Limpo palavras.
Recolho-as à noite, por todo o lado:
a palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.

Quase todas as palavras
precisam de ser limpas e acariciadas:
a palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo de ser lavadas,
é preciso raspar-lhes a sujidade dos dias
e do mau uso.
Muitas chegam doentes,
outras simplesmente gastas, estafadas,
dobradas pelo peso das coisas
que trazem às costas.

A palavra pedra pesa como uma pedra.
A palavra rosa espalha o perfume no ar.
A palavra árvore tem folhas, ramos altos.
Podes descansar à sombra dela.
A palavra gato espeta as unhas no tapete.
A palavra pássaro abre as asas para voar.
A palavra coração não pára de bater.
Ouve-se a palavra canção.
A palavra vento levanta os papéis no ar e
é preciso fechá-la na arrecadação.

No fim de tudo voltam os olhos para a luz
e vão para longe,
leves palavras voadoras
sem nada que as prenda à terra,
outra vez nascidas pela minha mão:
a palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.

A palavra obrigado agradece-me.
As outras não.
A palavra adeus despede-se.
As outras já lá vão, belas palavras lisas
e lavadas como seixos do rio:
a palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.

Vão à procura de quem as queira dizer,
de mais palavras e de novos sentidos.
Basta estenderes a mão
para apanhares a palavra barco ou a palavra amor.

Limpo palavras.
A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra.
Recolho-as à noite, trato delas durante o dia.
A palavra fogão cozinha o meu jantar.
A palavra brisa refresca-me.
A palavra solidão faz-me companhia.


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Notas: 

1 - O poeta "brincador" do "Limpa-Palavras"
chama-se Álvaro Magalhães

2 - O ilustrador da colectânea chama-se
José de Guimarães

Um artigo de António Rego

Opinião Pública na Igreja
Não deixa de ser interessante o debate, que ainda não terminou, em torno do discurso de Bento XVI em Ratisbona no passado dia 12 de Setembro. Estamos perante matéria não teológica nem dogmática, uma vez que quase todas as análises têm surgido em torno da oportunidade das palavras do Papa no contexto político, religioso e cultural em que vivemos. Mas a reflexão filosófica, teológica e pastoral que gerou em volta do islamismo, cristianismo e secularismo é possivelmente o ponto mais importante de todo o processo do Papa na Academia. Nesse sentido têm surgido as mais surpreendentes opiniões vindas de universos culturais e religiosos infinitamente distantes. Há católicos fervorosos, progressistas e conservadores - como sói dizer-se - com reflexões inesperadas que rompem com as habituais balizas de esquerda e direita do secular ou religioso. O Papa veio explicitar um conjunto de questões que andavam arrumadas por esquecimento ou comodidade e por parecerem a muitos de menor interesse para jornais e revistas mesmo de alguma especialidade. Percebeu-se afinal que a fé ultrapassa a razão mas não a dispensa. E que o não crer ou a militância da neutralidade perante o religioso não são tão lógicos quanto se fazia crer. E que a componente política do religioso vai muito mais longe do que parece. E assim chegamos a um novo ponto: o religioso na praça pública a ser livre e desinibidamente reflectido, em muitos casos sem preconceitos, numa área em que o deve ser e com uma frontalidade saudável, mesmo dentro das muitas banalidades que se lêem e escutam. Não recordo nenhuma discussão semelhante acerca duma intervenção Papal com um rasto de debate para além do ângulo convencional de “moral católica”, prato preferido e por vezes único, de olhar a Igreja. As palavras de Bento XVI já se diluem com o tempo no impacto de primeira reacção, por vezes nervosa e estéril. Agora, e certamente por muito tempo, irão surgindo reflexões que dizem respeito a todos mas que muitos julgavam pertencer às gavetas enceradas da sacristia. Na realidade estão em plena praça pública. Ainda bem.

terça-feira, 3 de outubro de 2006

José Hermano Saraiva celebra aniversário

PROF. JOSÉ HERMANO SARAIVA,
UM MESTRE DA COMUNICAÇÃO
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O Prof. José Hermano Saraiva faz hoje 87 anos. Linda idade para nos mostrar que há pessoas que não envelhecem e que a reforma não pode chegar para quem, como ele, tanto tem para dar à comunidade nacional.
Especialista na arte de comunicar, ninguém neste País, na minha óptica, soube tão bem sensibilizar o povo para as questões da História Pátria, por gestos e palavras, envolvidos por imagens, grandemente expressivos. Na televisão ele é um SENHOR a falar-nos das coisas do nosso passado colectivo. E fá-lo de tal modo que nos prende e nos acicata o gosto pela História de Portugal.
Eu penso que a aposentação não pode nem deve ser um tempo para dormir mais e para nada fazer. A actividade, mesmo que noutras áreas diferentes das que nos envolveram durante muitos anos, tem de ser uma constante na vida. Se quisermos, a reforma poderá ser um tempo de criatividade, de solidariedade, de atenção aos outros, de formação contínua, de contacto com mais gente e de procura de saberes.
O Prof. José Hermano Saraiva aí está para nos abrir os olhos a novos horizontes de uma vida cheia de alegria e de felicidade. A uma vida actuante e estimulante, para nós próprios e para quantos nos cercam, numa perspectiva de todos juntos enriquecermos a sociedade a que pertencemos.
Parabéns, Prof. José Hermano Saraiva, pelo aniversário e pelo seu exemplo.
Fernando Martins

Um poema das Carmelitas do Porto

SOLIDÃO Na hora do pôr do sol, uma gaivota desceu do bando e, no rochedo onde poisou, ficou sozinha a olhar o mar que o sol, ao despedir-se, vai tingindo, para que nele fique um rasto da sua presença luminosa. Na hora do pôr do sol, quem não sentirá o fascínio da solidão?... A solidão, que enche a cela da carmelita e a faz mergulhar em Deus, mar infinito que a atrai, amor sem margens nem ocaso onde ela encontra os irmãos, que só por Deus deixou. Na hora do pôr do sol, quem não sentirá o desejo dum encontro a sós com Deus? Quem não sentirá a nostalgia do Céu?
In “DESERTO… Lugar do Encontro”,
uma brochura editada
pelas Carmelitas do Porto