terça-feira, 12 de setembro de 2006

11 de Setembro

AINDA HÁ MUITO A FAZER...
“Ainda há muito a fazer para construir a paz e a igualdade entre os povos. (…) Com o 11 de Setembro, o Mundo ficou a saber que a violência pode atingir tudo e todos, [mas] a paz nunca se vai conseguir alcançar pela afirmação do poder, mas sim pelos laços de proximidade, de igualdade e de partilha entre os povos.”
D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu,
no Diário Regional de Viseu
Esta afirmação do Bispo de Viseu veio mesmo a calhar no dia em que o Mundo recordou, com emoção, o 11 de Setembro de há cinco anos. E bateu no ponto certo, na minha óptica, quando muitos só falam das injustiças e dos fanatismos religiosos ou outros, como fermentos de ódio e de terrorismos. A realidade é esta. À nossa volta continuam guerras, violências, perseguições, marginalizações, em suma, outras formas de terrorismo que matam sem tiros nem bombas e sem aviões desviados. Por isso o apelo de D. Ilídio, no sentido de lutarmos pela paz, criando laços de proximidade e de igualdade. Treinados nisso, no âmbito familiar e local e depois no âmbito de freguesia e de País, chegaremos ao plano internacional, na partilha e na comunhão entre os povos. Com mais justiça, com mais respeito pelas opções dos outros, sempre em diálogo com todos, ajudaremos a construir a paz por que almejamos. Fernando Martins

Mundo do futebol

Não há quem ponha
cobro ao compadrio
O mundo do futebol, pelo que se ouve e vê, está um caos. Não é preciso perceber muito deste mundo para saber que a podridão grassa por aí. As escutas telefónicas continuam a revelar, pelo que diz a comunicação social, que o compadrio, uma eloquente forma de corrupção, mina a ética desportiva. E o mais engraçado é que até alguns dirigentes que passam a vida a pregar moralidade são descobertos com a boca na botija, sendo iguaizinhos aos que acusam de corruptos. Tudo isto é tanto mais grave quanto é certo que as escutas agora denunciadas pela comunicação social foram registadas há muito pela Justiça portuguesa. E o que foi feito a partir daí? Nada, que se saiba. Ou muito pouco, para ser mais justo.
F.M.

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

JORNADAS DA RIA DE AVEIRO

Ria na Costa Nova
:: Ministério do Ambiente
ignora laguna
Estão a decorrer em Aveiro, até 7 de Outubro, as Jornadas da Ria. Estas são as primeiras jornadas dedicadas à laguna aveirense, um património da região, e do País, de valor incalculável. Porém, subaproveitado e abandonado. A denúncia veio do presidente da Amria – Associação dos Municípios da Ria, Ribau Esteves, que é também presidente da Câmara Municipal de Ílhavo. Diz o autarca ilhavense, conforme li no PÚBLICO de domingo, que a Ria “é um ecossistema em crise, abandonado pelo seu gestor, o Ministério do Ambiente”. Apesar das garantias dadas pelo presidente da CCDRC (Comissão da Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro), Alfredo Marques, de que haveria meios financeiros para acções de protecção da laguna, apoio a denúncia de Ribau Esteves, por tantas promessas não cumpridas sobre a Ria de Aveiro. O problema é fácil de compreender. Os nossos governantes, com assento na capital, não podem sentir o que nós sentimos quando no dia-a-dia olhamos para a Ria. Olham de cima da sua autoridade para a floresta, que é o País, e não conseguem vislumbrar a árvore frondosa, que é a nossa Ria, em vias de apodrecer por falta de atenção. Eles querem lá saber da riqueza paisagística e turística que a Ria de Aveiro tem em potência para oferecer a quem à sombra dela vive ou a quem a visita! Eles querem lá saber do peixe saboroso que nela se cria e dá sustento a tanta gente! Eles querem lá saber do moliço subaproveitado, que a pode matar sem dó nem piedade! Eles querem lá saber dos moliceiros e saleiros que apodrecem nos esteiros por não haver incentivos para a sua mais ampla utilização! Eles querem lá saber de gente que vegeta com os olhos pregados nas águas mansas da laguna, por não haver quem lhes dê trabalho! Eles querem lá saber que a Ria tenha ou não uma entidade gestora para diagnosticar problemas e avançar com respostas credíveis! Há tantos anos que oiço tanta gente a gritar que a Ria não pode morrer, que é preciso fazer qualquer coisa, mas nada se tem visto. Os nossos governantes, de diversos Governos, devem ter ouvido falar da Ria de Aveiro. Mas não a sentem, não ouvem os seus murmúrios, os seus cânticos de beleza, mas também não conhecem os seus cheiros, as suas cores e os seus sabores como nós, os povos da Ria, os conhecemos a todo o momento. Por isso, vão adiando o que à Ria diz respeito. O que à Ria e às suas gentes interessa verdadeiramente.
Fernando Martins

Para reflectir

“Os cristãos
devem mostrar
que são
diferentes”
:::
Enzo Bianchi, prior da comunidade de Bose, Itália, falou na passada semana a 400 padres portugueses, em Fátima. É um leigo e fundou há 40 anos um mosteiro em que homens e mulheres retomam a tradição monástica cristã, mas com expressão moderna, como refere António Marujo, no PÚBLICO de domingo. Em entrevista que concedeu a este jornalista, especialista em temas religiosos, Enzo Bianchi diz que “os cristãos devem mostrar que são diferentes”, porque só assim “poderão contrariar a indiferença que existe em relação à religião”. Dessa entrevista, transcrevo, para reflexão, algumas respostas suas a questões que lhe foram postas por António Marujo. Sem comentários. A clareza das suas propostas não precisa de mais. F.M.
:: “Falava da centralidade da caridade, mas a Igreja faz já tanta coisa a nível social… Não se trata do social. É ao nível mais pessoal e antropológico: é a questão da misericórdia, de dar evidência ao amor e à comunicação, ao acolhimento do diferente, de instaurar a pluralidade da comunidade cristã e de não viver a fé de forma monolítica e intolerante. Falou para mais de 400 padres. Os padres quase não têm tempo para as pessoas, para o acolhimento… Esse é um verdadeiro problema. Os padres têm a tentação de ser gestores, burocratas, às vezes tecnocratas da caridade. Mas é decisivo viver acolhendo, escutando, nas relações quotidianas. E a caridade, para um padre, passa por aí? Pelo acolhimento do diferente, do pobre, do sofredor, do estrangeiro, no quotidiano. Não pela organização da caridade, mas como escuta de quem está distante. Fala de uma religião de intermitência de muitos cristãos. A mensagem da hierarquia não passa? [Passaria] mais se fosse uma mensagem que colocasse no centro Jesus Cristo e a sua humanidade. São caminhos de humanização que interessam o homem e encontram a sua imagem em Jesus Cristo. Não são os dogmas e regras… Não são as regras, os ritos nem os dogmas que dizem o cristianismo. O cristianismo ou se conjuga em termos de humanização ou se torna irrelevante. Hoje há uma grande indiferença perante o cristianismo… A indiferença vive e prospera quando não se põe em evidência a diferença. Os cristãos [devem saber] mostrar uma verdadeira diferença a respeito da sociedade e do homem. Se não emerge a diferença cristã, a indiferença torna-se a grande dominante da nossa sociedade. O cristão tem de ser diferente? Em tudo: no comportamento, na comunicação, na comunhão, no modo de viver, um cristianismo que plasme todo o homem. Também na política? Houve políticos católicos que, sobre a guerra do Iraque, diziam que aceitavam o Papa, mas que esse era outro assunto… Não é possível. Há uma inspiração cristã que deve ser salvaguardada. As técnicas e as políticas pertencem ao homem e não ao pormenor do evangelho. Mas a inspiração, sim. E, na paz, joga-se o testemunho cristão no futuro. Como se vive essa diferença em sociedades laicas? É mais fácil fazer emergir a gratuidade do evangelho, a liberdade do cristão. É necessária muita coerência, mas a mensagem cristã é mais escutada numa sociedade laica em que o evangelho é proposto, do que numa civilização de cristandade em que o evangelho seria imposto. É difícil, mas é mais fecundo e dá mais frutos.”

sábado, 9 de setembro de 2006

Gotas do Arco-Íris – 30

E A CERVEJA...
TEM SEMPRE A MESMA COR?
Caríssimo/a: Não, nada disso que estás a pensar... Hoje ainda vou ali por outro grande poeta; não sei se já ouviste falar no Pessoa, o Fernando Pessoa... Vê lá tu onde se pode encontrar um grande poeta!... Estava a queimar uma papelada velha quando dou de caras com ele, ali prontinho para a incineração... Alto lá, este mais devagar! Agora vem comigo espreitar o que ele escreveu desta vez:
Sagres é uma boa cerveja e eu acabarei por gostar da Sagres como gosto do Rexina. Sagres é a pausa que refresca e tem vitaminas todas as bebidas da televisão têm vitaminas mesmo as do programa literário que é detergente e eu uso-as e sou um cidadão perfeito e até já consigo adormecer com hipnóticos depois de tomar o Tofa descafeinado e no Verão visto calções de banho de fibras sintéticas para me banhar na Torralta cidadão perfeito perfeitamente bronzeado com Ambre Solaire. Tudo coisas admiráveis e desesperadamente necessárias que eu devo ao marketing e me são cozinhadas num abrir e fechar de olhos nas panelas de pressão de todo o bom cidadão. E no intervalo bebi café puro o do gostinho especial Sical Sical que é um luxo verdadeiro por pouco dinheiro. (...) Preciso e gosto de uma data de coisas e só agora o sei, menos da Sagres. Mas acabarei por gostar. Ninguém contraria o marketing por muito tempo. Ninguém contraria os fabricantes de bem fazer o bom cidadão. E tudo graças ao marketing.
E agora como terminar? Pedir uma cerveja preta para servir de tónico nesta torreira de ensandecer?! Manuel
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Nota: Apresento hoje, antecipando um dia, o Gotas do Arco-Íris, por razões técnicas. Amanhã, em princípio, estarei sem Net. Apresento o meu pedido de desculpas ao autor e aos leitores do meu blogue.

O EXPRESSO renova-se

A concorrência
é sempre a favor
dos consumidores
O EXPRESSO apresenta-se hoje renovado. Com novo formato e mais pequeno, novo grafismo, novo tipo de letra, novas rubricas com nova arrumação, novos colaboradores, enfim, com nova filosofia jornalística, para novos desafios. Quem o lê desde o primeiro número, como eu, estava há muito à espera que isto acontecesse. Veio agora, porque a actual direcção não quer perder a carruagem da liderança da informação em Portugal. Mas também porque quer apostar no futuro e enfrentar, com determinação, a concorrência. Um novo semanário, o SOL, dirigido pelo ex-director do EXPRESSO, José António Saraiva, promete luta na conquista de leitores. Veremos, dentro de alguns meses, quem fica à frente. Para já, quem fica a ganhar somos nós, os leitores. Os que ainda não prescindimos da informação com suporte de papel. E ficamos a ganhar, porque a concorrência é, à partida, sempre a favor dos consumidores. Numa primeira leitura, confesso que gostei. Só espero que não comecem a aparecer desmentidos, pelos destaques de primeira página ou de outras, avançados sem garantias ou provenientes de fontes não credíveis. A fidelidade de muitos leitores também passa por aí. E eu tenho de passar a ser um deles, apesar de me manter muito agarrado ao EXPRESSO. F.M.

Um exemplo de investimento

Poupo em tudo,
menos nos afectos
No EXPRESSO desta semana, no caderno ECONOMIA, vinha um pequeno texto que me atraiu pelo título, com foto de Isabel Jonet, responsável pelo Banco Alimentar. Economista, 46 anos, há 13 que dedica a sua vida ao voluntariado e à família. Tem cinco filhos e confessa que o seu investimento se enquadra “numa lógica de vida onde os afectos lideram as prioridades”. Diz que não investe em produtos financeiros, mas incentiva hábitos de poupança nos seus filhos. Sublinha que a educação dos filhos é um dos seus maiores investimentos, porque “há que os preparar para a vida”. E acrescenta: “Isso passa pela disponibilidade financeira que gasto com os seus estudos, mas o mais importante é ter disponibilidade para partilhar com eles os bons e os maus momentos”. Um pequeno texto que nos pode ajudar nos investimentos que, muitos de nós, passamos a vida a programar, quantas vezes sem sentido. F.M.