quinta-feira, 4 de maio de 2006

Um artigo de Tiago Mendes, no Diário Económico

O valor da escassez
A democracia, ao permitir a alternância não conflituosa de quem está no poder, adequa-se à natureza humana: insatisfeita, oscilante, imprevisível
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Se há sempre mais vida para além de uma definição, esta é segura: a Economia é a ciência da escolha. Esta só tem relevância porque existem recursos escassos, como os bens que desejamos, o tempo que temos ou a informação que procuramos. Que a escassez determina criticamente o valor dum bem é uma evidência que atravessa o espaço e o tempo. Pensemos na forma como os ingleses endeusam o Sol e como os lisboetas vibram com um aceno de neve à sua porta, ou no estatuto que as especiarias tinham no tempo de D. Manuel I e aquele que hoje têm.
Numa economia de mercado, a escassez relativa dum bem reflecte-se espontaneamente no seu preço, um “sinal” que resume a informação relevante sobre procura e oferta. A forma eficiente e descentralizada como estes “sinais” surgem neste sistema económico é uma das suas maiores virtudes. É interessante perceber o papel que procura e oferta têm na determinação dessa escassez relativa dum bem ou serviço.
Pedro Mexia referia em crónica no DN (”O prestígio do Camões”, 17-05-05) como a periodicidade anual do prémio Camões lhe retirava valor. O raciocínio é simples. Sendo a procura (o conjunto de escritores lusófonos) mais ou menos fixa, é a oferta (a periodicidade dos prémios) que determina criticamente o valor relativo do prémio. A frequência demasiado elevada com que é atribuído enfraquece a distinção feita. O mesmo sucede com a corte de homenageados escolhidos por Jorge Sampaio (dois mil, ao que parece).
O futebol é um exemplo onde a fonte de valor é sobretudo a procura. A causa do seu sucesso à escala mundial não é tanto o poder do sentimento tribal, ou a conotação sexual do golo, mas sobretudo a escassez de golos. Quando um golo é difícil de marcar, gera-se uma tensão psicológica ideal, que culmina em grandes alegrias ou grandes tristezas. As grandes emoções que todos procuram. Se, por exemplo, se aumentasse o tamanho das balizas, os golos e as reviravoltas acrescidas fariam a emoção aproximar-se da do hóquei em patins. Aceitável, mas não retumbante. Na escassez “óptima” de golos reside a grande vantagem do desporto-rei.
Na imprensa, como nos ‘blogues’, o fenómeno repete-se. Quem escreve com uma grande frequência pode perder, na margem, algum valor. A curta e intensa vida do blogue “O Espectro” poderá ser parcialmente entendível à luz disto. A política também não foge à regra. Um político (que esteve) ausente ganha uma certa aura, o que ajuda a entender o papel das famosas “travessias do deserto”. A democracia, ao permitir a alternância não conflituosa de quem está no poder, adequa-se à natureza humana: insatisfeita, oscilante, imprevisível. Na política, como no desporto ou nas artes, valorizamos sempre mais o que rareia. Aquilo que não temos. Porque, inevitavelmente, o que é escasso é - ou melhor, torna-se - bom.
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Publicado no Diário Económico, a 3 de Maio de 2006.

Dia Mundial da Liberdade de Imprensa – 3 de Maio

José Carlos de Vasconcelos e Alexandre Cruz, do CUFC
José Carlos de Vasconcelos no CUFC Liberdade de imprensa
implica responsabilidade
José Carlos de Vasconcelos, director do JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias e coordenador editorial da revista Visão, esteve ontem à noite, no CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura), em mais uma Conversa Aberta, integrada no Fórum::UniverSal, projecto que se desenvolve todas as primeiras quartas-feiras de cada mês. Esteve para falar em sessão comemorativa do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, 3 de Maio, tendo desenvolvido o tema “Liberdade de Imprensa: informar ou deformar?”. José Carlos de Vasconcelos, uma autoridade na matéria, não se cansou de sublinhar que “Liberdade, qualquer que ela seja, implica sempre responsabilidade”, sobretudo numa sociedade democrática, já que somente os regimes totalitários não a aceitam. O director do JL frisou que “todas as liberdades são solidárias” e que os jornalistas devem cultivar a seriedade e o respeito pelos outros, sendo certo e visível que a muitos deles “sobe o poder à cabeça”. Referiu que a comunicação social “é mais uma liberdade do que um poder”. Ao mesmo tempo adiantou que a liberdade de imprensa pressupõe independência, realidade muito difícil de conseguir, quer pelas exigências das audiências, quer das tiragens. Alertou, ainda, para os riscos que advêm dos grupos económicos e outros poderes concentrarem em si diversos "media", fazendo valer, por vezes, os seus interesses, com prejuízo para a real liberdade dos jornalistas. José Carlos de Vasconcelos denunciou que as TVs fazem políticos, como aconteceu com os dois últimos primeiros-ministros, enquanto defendeu uma melhor qualidade dos programas, que têm de ser “interessantes e com interesse”. Por outro lado, sugeriu aos órgãos de comunicação social que publiquem “a boa notícia do dia”, como forma de contrabalançar os conteúdos, carregados, normalmente, de dramas, escândalos, futilidades e sensacionalismos. Entretanto, foi dizendo que os maus programas televisivos “são o reflexo da nossa sociedade”, tendo acrescentado que ainda há espaço para os bons projectos jornalísticos. Disse que as “opiniões” nos jornais não são, por norma, de jornalistas e que há muitos profissionais da comunicação social que misturam, frequente e erradamente, as suas ideias nas reportagens e nas entrevistas que fazem. Ainda referiu a importância de se educar o “sentido crítico” dos cidadãos, dando-lhes capacidade de “filtrar” os programas a ver. Fernando Martins

Santuário de Schoenstatt: Peregrinação diocesana

Santuário em dia de peregrinação ::
COM MARIA,
MÃE DA IGREJA,
TUDO PARA TODOS :: Peregrinação Diocesana
ao Santuário de Schoenstatt
No próximo dia 7, primeiro Domingo de Maio, vai realizar-se a Peregrinação Diocesana ao Santuário de Schoenstatt. Este ano, em consonância com o Plano Diocesano de Pastoral que nos convida a conhecer melhor a realidade social, pessoas e comunidades, em ordem a um serviço pastoral e apostólico mais qualificado e generoso, escolhemos como tema da Peregrinação: COM MARIA, MÃE DA IGREJA, TUDO PARA TODOS. Ninguém mais presente aos acontecimentos que tocam a vida e exprimem vida que Maria, quer no seu tempo de vivência no mundo, quer ao longo da história. Não havia nela tempos de Deus, pois para Ela todos o eram, nem ocasiões de serviço, porque se declarou a serva, que sendo-o do Senhor, era de todos. A radicalidade de Maria, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, expressa no “tudo para todos”, não é uma figura de retórica, mas uma eloquente expressão de verdade e de vida. Este ano programamos a Peregrinação colectiva a partir do início da tarde, para que muitos possam nas suas comunidades celebrar o Dia da Mãe. Mas é também a Mãe que nos convida ao encontro de oração e ao convívio eclesial e fraterno que culmina com a solene celebração da Eucaristia, às 17 horas. O Santuário, que eu mesmo quis que fosse um santuário diocesano, tem sido um pólo de renovação espiritual para muitos cristãos e uma porta sempre aberta para o encontro com Jesus, pelas mãos de Maria, Sua e nossa Mãe. Convido, quantos o puderem fazer, a que participem comigo nesta Peregrinação.
António Marcelino,
Bispo de Aveiro
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Programa da Peregrinação
Lema: "Como Maria, Mãe da Igreja, tudo para todos" 14h00 – Acolhimento 14h30 – Recitação do terço meditado 15h45 – Catequese do Sr. Bispo D. António 16h30 – Bênção do Santíssimo. 17h00 – Eucaristia presidida por D. António Marcelino;
envio e homenagem às mães

quarta-feira, 3 de maio de 2006

Um artigo de António Rego

Despedidos
por computador De cada quatro trabalhadores portugueses, apenas um está sindicalizado. Há quarenta anos isso já constituiria um número excessivo. Após a Revolução do 25 de Abril tornou-se quase uma obrigação de consciência. Hoje, coloca-se com uma espécie de conformismo face às novas situações que, ou não acreditam na eficácia dos sindicatos, ou se desiludiram do sistema de emprego e direitos sociais, ou apenas acham que não se vai às inundações com baldes pequenos, nem se apaga fogos de floresta com extintores de gabinete. Quer tudo isto dizer que os tempos mudaram. A economia rege-se por novas regras com reflexos profundos no enquadramento humano do trabalho. Colhe-se a impressão de que o homem está para o trabalho e não o contrário, a economia apenas procura uma eficácia que pouco tem a ver com o respeito por aqueles que a sustentam. A Revista Communio (Revista Teológica internacional) com particular pertinácia dedica o seu último número à "Ética Económica e Globalização", procurando por diversos ângulos e com colaboradores especializados, olhar a economia como um fenómeno humano, destinado ao homem, inspirado numa ética que ultrapassa as sacralizações banais das regras do mercado. Mudou o trabalho, mudaram as leis de admissão, o conceito de fixação. Lembre-se o célebre empresário que em S. Francisco (USA) afirmava perante circunspectos peritos, que "cada um pode trabalhar quanto queira e os estrangeiros nem precisam de visto. Num mundo global as regras impostas pelos governos perderam significado. O emprego está em função das necessidades da empresa. Contrata-se e despede-se por computador."E também se disse que "neste século, apenas dois décimos da população é suficiente para manter a actividade da economia mundial". Os outros 80%, são o menos. A Igreja lançou um Catecismo da Igreja Católica que elenca e desenvolve as verdades principais da fé. Mas também um Compêndio de Doutrina Social que esclarece e vincula as consciências na construção deste mundo a partir da maravilha do trabalho como obra continuada de Deus. Por vezes a moral e a fé aplicam-se com pesos e medidas circunstanciais. A consciência não pode variar de elasticidade consoante os interesses de cada momento. Nem despedir-se... por computador.

Citação

CONTROLAR A ANSIEDADE
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"Quando receamos algum mal, o próprio facto de o recearmos atormenta-nos enquanto o aguardamos: teme-se vir a sofrer alguma coisa e sofre-se com o medo que se sente! Tal como nas doenças físicas há certos sintomas que pressagiam a moléstia - incapacidade de movimento, lassidão completa mesmo quando se não faz nenhum esforço, sonolência, calafrios por todo o corpo -, também um espírito débil se sente abalado, mesmo antes de qualquer mal se abater sobre ele: como que adivinha o mal futuro, e deixa-se vencer antes do tempo. Há coisa mais insensata do que nos angustiarmos com o futuro em vez de deixarmos chegar a hora da aflição, e atrairmos sobre nós todo um cúmulo de tormentos? Quando não é possível livrarmo-nos por completo da angústia, pelo menos adiemo-la tanto quanto pudermos. Queres ver como é verdade que ninguém deve atormentar-se com o futuro? Imagina um homem a quem tenha sido dito que depois dos cinquenta anos será submetido a graves suplícios: ele permanece imperturbável enquanto não passa a metade desse espaço de tempo, altura em que começa a aproximar-se da angústia prometida para a segunda metade da sua vida. Por um processo semelhante sucede também que certos espíritos doentes sempre em busca de motivos para sofrer se deixam tomar de tristeza por factos já remotos e esquecidos. A verdade é que nem o passado nem o futuro estão presentes, pelo que não podemos sentir qualquer deles. Ora a dor somente pode resultar de algo que se sente!"
Séneca,
in 'Cartas a Lucílio'
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Fonte: "Citador"

Um artigo de Pedro Rolo Duarte, no DN

Dois países num só
O primeiro-ministro chamou "demagogo" a Francisco Louçã por este ter misturado, deliberadamente, num debate sobre a Segurança Social, a viagem governamental a Angola e o peso dos empresários envolvidos na comitiva com a sustentabilidade do sistema de pensões. Eu ouvi o debate e concordo com José Sócrates: a circunstância de os bancos serem lucrativos e eficazes na forma como rentabilizam os seus activos não pode ser crucificada, como se fosse um crime cuja pena é traduzida em taxas e impostos para cobrir as deficiências do sector público... Por pouco Louçã não defendia que é melhor não ser profissional em Portugal, sob pena de se ser tributado pela competência.
Mas, por outro lado, podem perceber-se as palavras de certa esquerda, que não são muito diferentes das palavras que se ouvem na rua, quando há qualquer coisa de absurdo, de chocante mesmo, nas páginas dos jornais e suplementos de economia, e se revelam choques frontais entre realidades dentro do mesmo país. Um exemplo apenas: na mesma semana em que o Banco Mundial, no seu World Development Report, afirma que Portugal é o país da Europa onde se regista a pobreza mais extrema, sabe-se que os lucros dos três maiores bancos privados nacionais (BCP, BES e BPI) chegam, apenas no primeiro trimestre de 2006, aos 377,8 milhões de euros.
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Um poema de Teixeira de Pascoaes

A voz do poeta Ó noite escura Da Criação, O teu sentido oculto, em mim, murmura, É a minha inspiração. Mar ergo a minha voz para cantar, E meu canto indeciso desfalece, É marulho de fonte, vai secar. Quisera aquela voz que se enfurece, E acorda o vento, E as ondas alevanta, E as árvores espanta, E, súbito, é ternura, íntima prece… Quisera arder em louco sentimento, Para aquecer os nus e os desgraçados. Ser um luar de vago encantamento e alumiar os transviados. In Versos Pobres