domingo, 28 de junho de 2020

A minha aldeia

Um poema de António Gedeão
para este domingo

Marina do Forte da Barra - Gafanha da Nazaré
Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence. 

Bate o sol na minha aldeia
com várias inclinações.
Ângulo novo, nova ideia;
outros graus, outras razões.
Que os homens da minha aldeia
são centenas de milhões. 

Os homens da minha aldeia
divergem por natureza.
O mesmo sonho os separa,
a mesma fria certeza
os afasta e desampara,
rumorejante seara
onde se odeia em beleza.

Os homens da minha aldeia
formigam raivosamente
com os pés colados ao chão.
Nessa prisão permanente
cada qual é seu irmão.
Valência de fora e dentro
ligam tudo ao mesmo centro
numa inquebrável cadeia.
Longas raízes que imergem,
todos os homens convergem
no centro da minha aldeia.

António Gedeão


NOTA - Durante a arrumação de papéis e livros encontrei este poema num caderninho (6 Poemas de António Gedeão) oferecido pelo PÚBLICO, provavelmente em 1995. Aqui o partilho em homenagem a um grande poeta. 

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