quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O mais lúcido diagnóstico das desgraças por si não as soluciona nem as cura



O pé no chão e o coração na vida


“O mundo moderno é o nosso mundo. Porque é nosso e porque tem muito de bom e o queremos ainda melhor, devemos amá-lo, olhá-lo com simpatia, alegrar-nos com os seus bens e valores, purificá-lo dos seus erros e males. Não basta um conhecimento superficial. É preciso estudá-lo por dentro, aprofundar os seus problemas, descobrir pistas de solução, ganhar forças para as percorrer”.

Estas palavras dos bispos portugueses, foram proferidas em 1991, por ocasião do Ano da Doutrina Social da Igreja, numa mensagem ao Povo de Deus. Recordo-as agora ao terem-se celebrado, há poucos dias, os 75 anos da Acção Católica, e por estarmos em vésperas da VI Semana Social nacional, a realizar em Aveiro, sobre a “Construção do Bem Comum”, uma responsabilidade que diz respeito a todos nós.

Um e outro acontecimento lembram o dever diário de olhar o mundo com olhos de amor e de redenção, esse mundo em que muitos milhares de leigos cristãos investiram e continuam a investir o seu tempo e energias, traduzindo, desse modo, o seu compromisso de fé, a sua solidariedade fraterna e o seu dever social.

É preocupante o facto de se ver muita gente ficar em pânico ao olhar os males que existem e se alastram, deixando de prestar atenção e manifestar gratidão por tantas coisas boas e pelo empenhamento de quantos assumem, de modo consciente, a sua vocação de dupla cidadania, na Igreja e no mundo. Um cristão nunca pode ser um pessimista, um vencido, tal como o não pode ser qualquer cidadão consciente.

É verdade que a sociedade está minada pela mentira, a corrupção, as riquezas dúbias, as infidelidades de toda a ordem, o menosprezo lamentável por valores fundamentais, como a vida e a família. É verdade que, na grande política, o bem comum foi abafado pelos interesses individuais e de grupos. É verdade que existe uma crise de modelos e de referências morais e muita gente parece ter perdido o norte e o sentido da vida. É verdade que valores sociais, assim ditos, se traduzem, hoje, por coisas que nada valem ou são veneno corrosivo. É verdade que não faltam meios públicos para suportar campanhas destrutivas e suspeitas, mas são cada vez mais escassos os meios necessários para investir em favor dos que mais precisam e apoiar causas que promovem o bem e a verdade.

Porém, que olhar apenas as desgraças que aí abundam, ficará, inevitavelmente, acorrentado ao medo que deprime e ao pessimismo de que nada vale a pena, porque já tudo está perdido. Assim, se fica tolhido para enfrentar, com lucidez, os problemas graves que afectam o país e incapaz de neles poder intervir validamente. O mais lúcido diagnóstico das desgraças, por si não as soluciona nem as cura.

A história mostra que existem, na sociedade, energias pessoais e naturais, mais numerosas e vivas do que se pode imaginar. É preciso descobri-las, reconhecê-las, potenciá-las, uni-las, integrá-las e organizá-las. Ora esta não é obra de pessoas azedas, medrosas e, antecipadamente, vencidas.

Há muita gente séria e honesta neste país que não se pode isolar, nem acomodar. A urgência de uma mobilização, pacífica e operante, impõe-se cada vez mais. O povo sensato e trabalhador tem sido anestesiado e baralhado pelo malabarismo de alguns políticos pouco sérios. Haja quem o acorde, o faça pensar, o confronte com a realidade, a mentira e as promessas vãs, o convoque e lhe dê consciência dos seus direitos, deveres e capacidades. Graves omissões comete quem o pode fazer e não o faz.

Amar o mundo concreto das pessoas para poder reconhecer e pôr em relevo os seus valores e o purificar dos seus erros e males, é uma atitude pessoal e uma operação alargada, que não se podem descurar. Assim, se terá o pé no chão e o coração na vida.

António Marcelino

E já agora um poema



Deus é a nossa mulher-a-dias


Deus é a nossa
mulher-a-dias
que nos dá prendas
que deitamos fora
como a vida
porque achamos
que não presta

Deus é a nossa
mulher-a-dias
que nos dá prendas
que deitamos fora
como a fé
porque achamos
que é pirosa

Adília Lopes
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Para começar o dia, uma sugestão de leitura





«Em Obsessão do Fogo, somos levados a percorrer mais de dois mil anos de histórias sobre livros, seguindo uma discussão erudita e divertida, culta e pessoal, filosófica e anedótica, curiosa e apetecível, plena de ironia, astúcia e referências culturais. Atravessamos tempos e lugares diversos; encontramos personalidades reais e personagens fictícias; deparamo-nos com o elogia à idiotia, bem como com a paixão pelo coleccionismo; e compreendemos a razão pela qual cada época gera as suas obras-primas. Para além disso, ficamos ainda a saber por que motivo “as galinhas levaram mais de um século para aprender a não atravessar a estrada” e porque “o nosso conhecimento do passado deve-se a cretinos, imbecis ou contraditores”»

Na contracapa de  A Obsessão do Fogo, um livro que nos oferece um encontro em Paris entre Umberto Eco, um dos mais respeitados pensadores e romancistas da actualidade, e o cineasta Jean-Claude Carrière, conduzido por Jean-Philippe de Tonnac.

Nota: Será preciso dizer mais alguma coisa? FM

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Semana Social - 20 a 22 de Novembro - Aveiro




A  próxima  Semana Social decorrerá em Aveiro, de 20 a 22 de Novembro, no Centro Cultural e de Congressos.
O tema será A construção do bem comum: responsabilidade da Pessoa, da Igreja e do Estado.  Trata-se de uma organização da Comissão Episcopal da Pastoral Social e está aberta mediante inscrição prévia.
A Semana Social 2009 conta com o apoio de um Secretariado sedeado na Cáritas Diocesana de Aveiro, que assegurará, entre outras funções, o esclarecimento de dúvidas e a recepção de inscrições.
A Ficha de Inscrição, acompanhada do respectivo pagamento (comprovativo de transferência bancária, cheque ou vale postal emitido à Cáritas Diocesana de Aveiro), deve ser enviada para: Secretariado da Semana Social 2009, Cáritas Diocesana de Aveiro, Rua do Carmo, 42, 3800-127 Aveiro.

Para saber mais clique aqui

O Fio do Tempo: "São as acções que fazem o ser"


Padre António Vieira
A face culta

1. Podem-se citar muitos autores que claramente mostram a desvantagem da corrupção. Entre eles poderá estar António Vieira (1608-1697), na portugalidade, ou Tomás Moro (1478-1535) na época da renascença. Pode-se dizer efectivamente que a ignorância é mãe de muitas guerras; do mesmo modo se poderá tirar a ilação de que a ilusão do poder ou do ter, a par da incultura, podem ser alimento de desvio, corrupção, conluio. À situação actual de Portugal estes cenários «face oculta» era tudo o que menos se esperava, esta observada crise de instituições na área da justiça que aliada à desconfiança e suspeita de redes de corrupções, trazem para o cimo da mesa do pior que se pode esperar… Sem dramatizar mas sem ocultar, a verdade é que o nível de insegurança ética rasteja por marés nunca dantes navegadas.

2. O que vem à luz do dia é o que existe de facto. Se durante dias ou anos se pode ocultar, como o azeite a verdade acabará por mostrar a sua face. Por trás de qualquer face existem ideias, planos, projectos, valores, princípios pelos quais o caminho é percorrido. Quanto menos por trás da face – no plano da existência e dos grande valores solidários – se construir o projecto de vida, tanto mais os critérios que presidem às acções poderão ser falaciosos. Como dizia o padre António Vieira, «são as acções que fazem o ser». Neste sentido, poderemos dizer, o ser deverá ser bem construído no plano da ética para que as acções sejam conforme o melhor para o bem pessoal e social…para o não embarcar na ilusão inculta do ter desmedido.

3. Talvez o verniz que continua a estalar em tantos planos, nacionais e internacionais, continue a demonstrar que, embora cada vez mais especialistas em tecnologias, a verdade é que no plano da ética universal o desfasamento continua a crescente e avassalador. Claro que tudo depende do olhar: para faces habituadas a paisagens cheias de nuvens de relativismos, poderá ser só mais um caso que passa…Para quem procura a integridade e observa o panorama das mensagens sociais que se passam, é no mínimo alarmante.

Centro Cultural de Ílhavo apresenta “Fundos”


Centro Cultural de Ílhavo

Desenho & Pintura de Joaquim Filipe

A Câmara Municipal de Ílhavo, na sua aposta de valorização e promoção dos valores e dos agentes de cultura locais, apresenta a exposição de desenho e pintura “Fundos”, de Joaquim Filipe. A inauguração será no sábado, 21 de Novembro, pelas 18 horas, ficando patente ao público até 31 de Dezembro.
O autor nasceu em Ílhavo em 1958. É licenciado pela Escola Superior de Design, de Lisboa. A sua actividade tem passado pelo design, pela pintura e pelo ensino, que actualmente exerce na Escola Secundária José Estêvão, em Aveiro A sua Pintura pode ser vista em vários espaços públicos no Porto, Arouca e Ílhavo. Participou em várias exposições colectivas e individuais desde 1980.

No i de hoje: A história, os símbolos e as proibições



"Numa Europa multiétnica e multirreligiosa continuam a ser importantíssimas as velhas nações e as formações que têm por base valores, normas e símbolos tradicionais. Proibi-los por irritarem, perturbarem e incomodarem alguém significa impedir que comunidades inteiras continuem a ser elas mesmas; é negar o pluralismo."

Francesco Alberoni

Por favor, leiam aqui