terça-feira, 28 de abril de 2009

Laurinda Alves dispensada pelo PÚBLICO

O PÚBLICO dispensou a colunista Laurinda Alves, alegando exigências de contensão nas despesas. Tanto quanto sei, os restantes colunistas continuam ao serviço do diário que costumo ler desde o primeiro número. Fiquei triste, porque aprecio os escritos desta jornalista e escritora, fundamentalmente por seguirem a linha que há muito defendo, de apostar numa forma de estar na vida, sempre pela positiva. Tive pena, porque o PÚBLICO deixou de ter nas suas páginas uma profissional que aprecio, tal como muitos outros leitores.
Presumo que não houve na decisão do director, José Manuel Fernandes, uma motivação política, já que Laurinda Alves é candidata a eurodeputada pelo MEP (Movimento Esperança Portugal). A ser assim, é grave. Outros colunistas, contudo, na mesma posição, isto é, também candidatos a eurodeputados, Vital Moreira e Rui Tavares, pelo PS e pelo BE, respectivamente, ainda não foram despedidos, que eu saiba.
Num comentário que escrevi no seu blogue, não deixei de lhe manifestar a minha solidariedade, ao dizer-lhe que espero continuar a ler o que ela vier a escrever, onde quer que seja, porque Laurinda Alves tem o condão de nos ajudar a pensar. Só espero que ela não demore a fazê-lo. Estou convencido de que não hão-de faltar órgãos da comunicação social à altura da jornalista que o PÚBLICO dispensou.
Fernando Martins

Tempo e acção das perguntas

1. À situação que se vem vivendo nos últimos meses junta-se agora o alerta de saúde pública que a OMS – Organização Mundial de Saúde confirmou devido à chamada gripe mexicana. É como se de repente um conjunto de elementos se juntassem diante dos quais urge (re)agir na perseverança confiante dos grandes valores que poderão fermentar novas vias de solução, um dos quais é a solidariedade. Os tempos que vivemos são de reposição das grandes questões, de modo a reinventar para novos quadros de problemas as inovadoras respostas. Não chegam as respostas habituais diante de cenários efectivamente novos. Para descortinar amplas soluções, assim, torna-se imperativo, consequentemente, a arte de saber relançar as questões essenciais, desmistificando certas visões mecanizadas e abrindo novas vias. 2. As perguntas sobre os valores, as políticas, a sociedade civil, as economias, a justiça, a saúde, as redes sociais, a subsidiariedade, a solidariedade global como o desafio do século, o respeito ambiental… hoje entrecruzam-se não havendo margem para respostas simplistas. Há empresários heróis, existirão gestores oportunistas; há trabalhadores dedicadíssimos, existem trabalhadores “à boleia”; existem dados da economia com pressupostos de responsabilidade social, e existem outras visões e práticas que reflectem a noção “selvagem” que estás nas mãos que as comandam. Este tempo das grandes questões ajuda a diferenciar para não generalizar mas sim: compreender. Importa, por isso, fugir às épocas políticas pródigas em maximizar intencionalmente, urge que todo o político dos cidadãos se envolva na reflexão que pode gerar mais fruto. 3. Da organização da CEP, está agendado um grande Simpósio para 15 de Maio (no Centro de Congressos de Lisboa, antiga FIL), com a temática: Reinventar a solidariedade (em tempo de crise) – reconhecer, inspirar, mobilizar. Site: http://www.reinventarasolidariedade.org/ Reflexão aberta à sociedade civil!
Alexandre Cruz

Bênção dos Finalistas da Universidade de Aveiro

Domingo, 3 de Maio, 11 horas, na Alameda da Universidade

UM PASSO NO FUTURO


Num tempo que voou, Porque o vivemos a brilhar, Foram anos, trabalhos, cadeiras e canseiras sem parar! A todos, foram imensos, Eis chegada a hora de reconhecer: Olhar para trás, sentir o vencido mar, À Ria, às gentes de Aveiro agradecer! E se ao futuro a incerteza pertence Na hora sempre sofrida de partir, Fica-nos o sabor bem especial Da arte da esperança sentir! A Bênção é a nossa festa especial, Finalistas da academia vamos cantar! É o dia da unidade e grito maior Que nos leva aos céus a Deus louvar! Será, em mesa universal, a aula maior Onde a abundância da paz todos encanta…, Símbolos e Cursos, na Alameda, projectam o melhor… O sonho, o futuro, triunfo de agiganta!

Pobreza em Portugal continua, 35 anos depois do 25 de Abril

O antigo Presidente da República Mário Soares disse ontem, como ouvi na rádio, que se envergonhava de, passados 35 anos após o 25 de Abril, ainda não ter sido erradicada a pobreza entre nós. O País foi democratizado, a descolonização aconteceu, mas o desenvolvimento tarda em instalar-se na nossa sociedade. Os três D, afinal, estão em grande parte por cumprir. Mas a pobreza, santo Deus, é que teima em criar raízes em Portugal. As dificuldades dominam a situação e os pobres estão cada vez mais pobres. Como é isto possível? Quem pode andar por aí sem se envergonhar?

Gripe suína mostra a nossa fragilidade

A fragilidade em que vivemos está bem patente na ameaça de pandemia que aí está, com a gripe suína a preocupar toda a gente. Foi há tempos a gripe das aves, como tem sido com outras doenças. O homem vive, realmente, na corda bamba. E se é verdade que algumas pandemias podem ser anunciadas, como esta está a ser, também é certo que há outras que se insinuam sem ninguém dar por ela. Em Portugal, pelo que se sabe, ainda não entrou. Mas todo o cuidado é pouco. E já repararam que a mola real das pandemias assenta na globalização?

Inclusão do semelhante

Ser diferente ou existir em minoria é o estandarte para reivindicar a bandeira da inclusão. E com justiça, pois nunca são de monta as diferenças evocadas para distinguir pessoas, grupos ou etnias. A unir todas as particularidades está essa circunstância única que é a dignidade da pessoa: uma condição antes de ser um direito.
O problema não se colocará, no entanto, apenas em contextos de diferença. Também onde reina a semelhança não são poucos os episódios de exclusão, de diferenciação, de distinção subjectiva de pessoas, ideias ou projectos. E com o prejuízo que decorre dessas atitudes: para o próprio grupo, como também para toda a sociedade. São mais notórias essas “falsas-diferenças” quando emergem na história do presente exemplos de grandes feitos à custa da construção da unidade entre pessoas, ao redor de causas, sejam elas nacionais ou religiosas, mas sempre humanas. É o caso de S. Nuno de Santa Maria, o Condestável que rejeitava apenas o erro, o perverso, o corrupto para catalisar esforços em benefício de objectivos maiores. E com resultados históricos, uma Nação, e pessoais, a santidade, que estão agora diante de tudo e de todos. São também mais necessários os pequenos e os grandes contributos, todos os recursos, quando se quer “reinventar a solidariedade” que proporcione dignidade de vida a todas as pessoas, devolva a justiça e a paz às sociedades e permita a existência a todos os seres. São ainda esperadas atitudes solícitas de homens e mulheres que optam por de serem sinais e agentes de um novo Reino, proclamado há 2000 anos, apostado em fazer da ordem natural das coisas a lei por excelência para a relação entre pessoas e para o governo das coisas. Cada um na sua circunstância e seguindo sempre as pisadas de um Mestre que em todos os momentos fez a vontade d’Aquele que O enviou. Na era da fragmentação das pessoas, das coisas, do tempo e do espaço, urge devolver a continuidade e a estabilidade a projectos que visam a construção da dignidade humana. Na espera paciente por resultados positivos e duradouros e na inclusão de todas as partes: as que são diferentes e também as que são semelhantes. Paulo Rocha

Um poema de Domingos Cardoso

Palavras
Puras... são como um cristal as palavras Que baixinho ao ouvido me segredas; Com elas o meu peito inteiro lavras, De alva paixão semeias labaredas. Doces... palavras são como a fina trama Desse tear de enredos em que teces Os límpidos lençóis da nossa cama E onde, abraçada a mim tu adormeces. Frágeis... palavras são como a branca taça Por onde tomo um leve e suave trago: Bebendo, longamente, a tua graça, Perdido em teu sorriso eu me embriago. Leves... palavras são como a clara brisa Passando, fresca, ao fim das tardes calmas E o segredo que nelas se eterniza, É o que mantém unidas nossas almas.
Domingos Freire Cardoso

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Desafios do Condestável

1. Corria o ano de 1360, a 24 de Julho, segundo os historiadores em Cernache do Bonjardim nascia Nuno de Santa Maria. Aos treze anos torna-se pajem da rainha D. Leonor, sendo acolhido na corte e acabando pouco depois em cavaleiro. Quando da morte do rei D. Fernando I (a 22 de Outubro 1383), sem ter gerado filhos varões verifica-se o vazio no poder, a que seu irmão D. João Mestre de Avis responde envolvendo-se na luta pela coroa pretendida pelo rei de Castela. Os contextos difíceis da história da época de trezentos, sofrendo de profundas mazelas e de grave crise social, reclamavam visões e posturas claras de defesa da identidade e do património nacional, não que tal represente com os olhos de hoje um nacionalismo cego mas um dever de zelo comunitário inalienável. 2. Nuno Álvares Pereira toma o partido da defesa da nacionalidade no proteger D. João, o qual o nomeou Condestável, estratega e comandante supremo do exército, missão que levou a efeito com sucesso registando-se a 14 de Agosto de 1385, ao fim de muitas, a simbólica vitória de Aljubarrota que poria fim à crise da sucessão. Faz parte da história e da identidade dos portugueses – mesmo que sem mitologias – que, com a chegada de D. João I à coroa, se inicia uma nova era no desígnio das gentes da costa ocidente europeia, facto este (da base de sustentabilidade para o encontro de culturas operado nas descobertas) que também muito se deve à educação em valores universalistas dada aos filhos de D. João e Filipa de Lencastre. Um conjunto de valores e de confianças perpassaram nas gentes da época que, à semelhança de Nuno e D. João, terão sido pilares da edificação comunitária. 3. Muito se escreveu e se disse, nos vários prismas, sobre o acontecimento que no passado domingo elevou à santidade o militar com alma, apelidado na sua morte de “Santo Condestável” (Páscoa de 01-04-1431). Apurar a memória também será “desatar” alguns dos problemas actuais! Alexandre Cruz

O que os ovos moles tiveram de mudar para poderem ficar precisamente na mesma

Foram vários os caprichos da União Europeia que, por exemplo, roubou aos ovos moles a possibilidade de se aconchegarem em tabuleiros de madeira e os fez acamar em desconfortáveis grelhas de inox. Mas este mês chegou a hora da retribuição. As mais antigas e tradicionais doceiras, como a dona Silvininha, podem dormir descansadas, que a receita original já está protegida pela lei. Por Graça Barbosa Ribeiro (texto) e Paulo Pimenta (fotos), no PÚBLICO

O Condestável já não mobiliza ninguém

Em seis séculos, o Condestável perdeu capacidade de mobilizar o país e a Igreja. O homem a quem se reconhecem virtudes éticas mesmo na guerra e que foi capaz de renunciar a títulos e bens para andar descalço por Lisboa a pedir para os pobres não criou agora, com a sua canonização, grandes entusiasmos por parte do Estado, nem dos católicos. Esse vazio foi, aliás, ocupado (legitimamente) por sectores conservadores da Igreja e pela causa monárquica. Certo que o acontecimento de ontem era religioso. Mas quando o Estado se associa com entusiasmo a celebrações de futebóis, causa estranheza não ver mais empenho em relação a uma figura que marcou a História do país - para o bem ou para o mal, admitam-se as opiniões. 
A Igreja também não foi capaz ainda de vincar um discurso rigoroso e actual em relação ao novo santo - as duas intervenções do Papa, ontem, são disso exemplo. A hagiografia tem oscilado entre a "exaltação patriótica" do militar - que o patriarca de Lisboa teve a preocupação de rejeitar - e as virtudes e histórias que às vezes se confundem com lendas. Como dizia o cardeal Policarpo, faz falta que a história investigue mais a figura do Condestável. 
Falta outra coisa, que a canonização evidenciou: o segredo em que os responsáveis católicos colocam os processos das curas que permitem as beatificações e canonizações não ajuda a dar credibilidade a tais acontecimentos. Sentiu--se isso com a beatificação dos videntes de Fátima, sentiu-se de novo agora.
Ontem, o cardeal Saraiva Martins declarava-se "feliz" pela conclusão do processo, após "tanto trabalho" que teve para concluir em três meses o que levaria "cinco a seis anos". Ora, as dúvidas surgidas em tantos sectores da opinião pública (incluindo a católica) não podem ser olhadas de soslaio pelos responsáveis da Igreja. Para que os santos sejam mesmo modelos para quem os quer seguir.

António Marujo 27.04.2009