domingo, 13 de julho de 2008

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 86

CARREIROS E CAMINHOS Caríssima/o: Uma das minhas netas salta de cadeira para cadeira e, sem deixarmos entrever o sorriso, temos de a admoestar “que te podes magoar”... E nas férias a tentação maior é a ameixoeira do quintal que, uns e outros, trepam e sobem pelos ramos, como andarilhos ou arrastando a roupa pelos troncos... Felizes que têm um quintal... Comparativamente à nossa liberdade e actividade, não serão muito afortunados, apesar disso; é que a nossa imaginação e a necessidade de medir forças e velocidades com os outros levavam-nos a caminhos e carreiros só conhecidos por nós (assim pensávamos...). Verdade seja que as estradas ou ruas, como agora se diz, eram poucas e magoavam os pés porque tinham muitas pedrinhas soltas, obrigando-nos a andarmos aos saltos nas pontas dos pés. E aqueles caminhos e carreiros iam mudando conforme a estação, oferecendo-nos aventuras as mais diversas. Vede, em pleno Dezembro, o caminho transformado em autêntico regato para as corridas dos nossos barcos de papel ou de casqueira e para a colheita das enguias que 'se criam' nas valetas. Também as suas areias argilosas molhadas se aproveitam para as construções... Quantas vezes fazíamos carreiros pelas cabeceiras dos terrenos lavrados e plantados, driblando os ralhos do lavrador e de sua mulher que os sublinhavam com algum torrão que nos perseguia . Eram ainda estes caminhos e carreiros que, mais tarde, nos levariam à Escola, debaixo das recomendações de nossos pais para que tivéssemos cuidado... para não nos aleijarmos,... que além disso não iam as suas preocupações! [Quando vejo as estatísticas dos jogadores informando-nos de quantos quilómetros percorrem durante um jogo, começam logo a desbobinar na minha mente as idas e vindas de e para a Escola, as voltas e voltinhas nos recreios, as corridas, os jogos,... Mas também não admira: nós de vez em quando comíamos caldo de feijão...] Manuel

sábado, 12 de julho de 2008

BLOCOS COM EXPRESSÃO

Na praia da Barra, no molhe sul, há blocos de cimento com expressão. O registo aqui fica. O que se vê em primeiro plano está triste; o outro é que parece feliz. Parece feliz, com o sorriso notório, mas até dá a entender que está envergonhado, encolhido lá atrás. Também não é para menos, com um Verão tímido que nem permite, a quem chega à praia, dar largas ao sonho de apanhar sol. Outros tempos virão, estou em crer.

Semana Gastronómica da Ria

: ATÉ 20 DE JULHO ::
Quem resiste a um bom prato de enguias de escabeche?
A Câmara Municipal de Aveiro organiza a Semana Gastronómica da Ria até dia 20 de Julho, com a participação de 18 restaurantes. Trata-se de uma iniciativa que conta com o apoio das Juntas de Freguesia da Glória e da Vera Cruz. Os restaurantes foram convidados a apresentar uma “Ementa de pratos típicos Aveirenses”. Os apreciadores da boa gastronomia aveirense não deixarão de aproveitar esta ocasião para se deliciarem. Faltar a uma festa destas é crime imperdoável, para gente de bom gosto.

Semana Gastronómica da Ria

A Câmara Municipal de Aveiro organiza a Semana Gastronómica da Ria até dia 20, com a participação de 18 restaurantes. Trata-se de uma iniciativa que conta com o apoio das Juntas de Freguesia da Glória e da Vera Cruz. Os restaurantes foram convidados a apresentar uma “Ementa de pratos típicos Aveirenses”. Os apreciadores da boa gastronomia aveirense não deixarão de aproveitar esta ocasião para se deliciarem.

FILARMÓNICA GAFANHENSE - 3

A Música Velha não podia morrer. Ler em Galafanha

Mergulho gratuito na Praia da Barra

HOJE, SÁBADO, 12 DE JULHO
Baptismos de mergulho gratuitos na Praia da Barra.
Não perca esta oportunidade única. Mergulhe em segurança, na companhia de um instrutor credenciado. Uma parceria do Porto de Aveiro com a aveirosub.
Os mergulhos gratuitos vão continuar até Agosto. Aproveite as oportunidades que lhe oferecem.
Informações: 234 367 666, 932 367 667,
aveirosub@aveirosub.com, geral@portodeaveiro.pt

SOBRE O FUTURO DA IGREJA CATÓLICA

Foi notícia nos média: a diocese de Lisboa perdeu nos últimos sete anos à volta de cem mil fiéis praticantes. O próprio cardeal-patriarca reconheceu que há muita negatividade nas celebrações e na Igreja: inadaptação aos novos tempos; deficiências na formação dos padres; má proclamação da Palavra de Deus; má qualidade e falta de mensagem religiosa dos cânticos; homilias inadequadas e deficientes. Os jovens queixam-se de que as celebrações são um seca e, frequentemente, têm razão. Onde estão a possibilidade de participação e de diálogo e homilias iluminantes da vida e dos seus problemas e a festa? Por outro lado, há a invasão do materialismo e do consumismo hedonista. Ora, numa sociedade que procura fundamentalmente o bem-estar material, Deus tem cada vez menos lugar. Mesmo que haja - e há - procura de espiritualidade, já não é necessariamente através da mediação da Igreja. Aliás, há uma imensa crise de fé, que atinge o próprio clero, e sinais de que o cristianismo se pode tornar minoritário na Europa. Mas é necessário também prevenir para equívocos e falsas idealizações. Assim, como mostrou J. Delumeau, não se pense, por exemplo, que a Idade Média foi sempre modelo de vida cristã. Apesar de tudo, talvez a Igreja hoje seja mais autêntica do que em todas as outras épocas, com excepção dos primeiros tempos do cristianismo. Não se pode esquecer que o mais importante é a prática cristã na vida: praticar a justiça, amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo. A outra prática - a frequência da missa - deveria vir na sequência da primeira. De qualquer forma, embora, segundo estudo recente, mais de dois terços dos portugueses apresentem o ser católico como factor de identidade nacional, há uma crescente desafeição em relação à Igreja institucional. De facto, ela não acompanha os tempos e é vista como retrógrada: veja-se, por exemplo, a moral sexual e a relação entre fé e ciência. Ainda recentemente dizia Eduardo Lourenço: "Lamento que o catolicismo se refugie em coisas arcaizantes que têm efeitos éticos e sociais deploráveis. Não sei se está condenado a morrer, mas está condenado a transformar-se." Quando se pensa nas transformações do mundo moderno, percebe-se quanto será necessário, sem perder o núcleo da sua mensagem, a Igreja mudar. Dificilmente serão aceitáveis estruturas piramidais, sem participação activa, democrática. As mulheres andam magoadas com a Igreja e vão, legitimamente, exigir tratamento de igualdade. A Igreja não pode pregar os direitos humanos para fora, não os praticando dentro dela. Um dogmatismo rígido e inflexível, sem uma sadia opinião pública, não lhe é de modo nenhum favorável. Depois, há vícios que é preciso combater, como proclama, do alto dos seus 81 anos, o cardeal Carlo Martini, considerado papabilis durante anos. Para ele, "o vício clerical por excelência" é a inveja. Há muitas pessoas dentro da Igreja "consumidas" pela inveja, perguntando: "Que mal cometi eu para nomearem fulano como bispo e não a mim?" Para Martini, há outros pecados capitais fortemente presentes na Igreja: a vaidade e a calúnia. "Que grande é a vaidade na Igreja! Vê-se nos hábitos. Antes, os cardeais exibiam capas de seis metros de cauda de seda. A Igreja reveste-se continuamente de ornamentos inúteis. Tem essa tendência para a ostentação, o alarde." E "o terrível carreirismo" clerical, especialmente na Cúria Romana, "onde todos querem ser mais"? Por isso, "certas coisas não se dizem, já que se sabe que bloqueiam a carreira". Isso é "péssimo para a Igreja". A verdade brilha pela ausência, pois "procura-se dizer o que agrada ao superior e age-se como cada um imagina que o superior gostaria, prestando deste modo um fraco serviço ao Papa". Autênticas comunidades cristãs têm de assentar em três pilares: fé viva e capaz de dar razões, prática do amor e da justiça, celebrações belas a fortalecer a vida e a fé e a dar horizonte de sentido último à existência. A Igreja só pode ter futuro, cumprindo o núcleo da sua missão: manter a pergunta acesa e activa a compaixão. Anselmo Borges In DN

PONTES DE ENCONTRO

Águas de Portugal: ou uma outra forma de meter água!
No passado dia 4 de Julho, partilhei com os leitores um texto com o título “O país do copo meio cheio ou meio vazio”, referindo-me, concretamente, a Portugal e ao perigoso estado de coisas que teimam em persistir nesta terra lusitana, que não deixam o copo esvaziar nem encher de vez. Não há nada pior para um país, uma sociedade ou um qualquer cidadão do que andarem, permanentemente, em “águas paradas”, que acabarão, com o tempo, por ficarem fétidas e insalubres. Quando assim é, o melhor é cair-se, de vez, no fundo, ou seja, esvaziar o copo, definitivamente, pois, a partir daí, todos passam a saber que só há uma perspectiva para ver as coisas e uma só alternativa com saída e futuro: criar as dinâmicas e as sinergias necessárias para recomeçar tudo de novo, para que o copo seja cheio de vez. Oscar Wilde (1854-1900) dizia que o “pessimista é uma pessoa que, podendo escolher entre dois males prefere ambos”, pelo que a questão do copo meio cheio ou meio vazio se aproxima muito mais deste comportamento patológico e paralisante. Como não há nada nem ninguém que sobreviva envolto numa atmosfera de pessimismo e indefinição, as alternativas, a partir daqui, só podem levar ao desânimo, à descrença, à maledicência e à desresponsabilização, pessoal e colectiva, em que cada um procura sobreviver de expedientes e da “esperteza saloia”. Vem tudo isto a propósito do relatório que o Tribunal de Contas (TC) fez à Empresa pública Águas de Portugal (AdP), referente ao período de 2003 a 2006, que foi tornado público no passado dia 4 de Julho, onde são feitas críticas bastantes contundentes à forma de gestão da referida Empresa pública. Nesse mesmo dia, o Presidente da AdP, Pedro Serra, reagiu aos dados apontados no Relatório do TC negando mesmo que a Empresa que dirige esteja em “situação económico-financeira débil”, ainda que tenha reconhecido que existem vários problemas, que estão identificados pela actual administração, e que serão corrigidos. Eis, aqui, mais um exemplo do copo meio cheio ou meio vazio: uma mesma realidade pode ter, pelo menos, duas interpretações ou leituras diferentes, se não mesmo opostas. Quando assim é, o copo nunca mais se enche nem nunca mais fica vazio, o que dá para falar de tudo e de nada e permite que nada se altere, verdadeiramente. Independentemente dos números revelados pelo TC e dos argumentos que os acompanham, há três indicadores (que não foram desmentidos pela Empresa AdP) que não devem passar em claro. O primeiro valor, refere-se aos 2,3 milhões de euros de prémios distribuídos a alguns trabalhadores da AdP, entre 2004 e 2006, “sem critérios claros e transparentes”, exactamente num período em que a AdP teve “resultados globais negativos de 75,5 milhões de euros”! Diz o Presidente da AdP que há que premiar quem se esforça por tirar a empresa da situação difícil em que se encontra. Pela lógica deste gestor público, também o Governo teria que dar “prémios” aos cidadãos do país que estão em dificuldades económicas e não se desculpar, como até aqui, que não pode distribuir riqueza quando não a tem para o fazer. Pelos vistos, o Ministro das Finanças tem que ir à AdP aprender como se fazem estas contas de dividir. Um dos outros valores apresentados no Relatório do TC relaciona-se com os gastos de 2,5 milhões de euros na atribuição de viaturas a administradores e a alguns trabalhadores da AdP (viaturas trocadas de 3 ou de 4 em 4 anos), a que se junta o terceiro indicador, no valor de 478 milhões de euros, em gastos com combustível, para as viaturas anteriormente referidas. A tudo isto, há que juntar uma estrutura empresarial que deixa muitas dúvidas ao TC, quanto ao modelo em que está organizada. Dizer que isto é um escândalo ou uma irresponsabilidade é pouco e não leva à resolução de nada. É, isso sim, mais uma manifestação que confirma a regra de um hábito instituído e generalizado em todas as Empresas públicas deste país, em nome da dignidade de alguns cargos e de quem os ocupa e da perpetuação do país do copo meio cheio ou meio vazio. Como se verifica, por mais este exemplo, isto dá para tudo. Mesmo para o indefensável. Seja em nome de que dignidade for ou da falta dela, como é o caso!
Vítor Amorim

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Menos padres em Portugal

Últimos números da Igreja Católica no nosso país confirmam a quebra progressiva do número de ordenações. Há menos 265 padres diocesanos do que em 2000 : Os últimos números da Igreja Católica no nosso país confirmam a quebra progressiva do número de ordenações sacerdotais em Portugal. Os dados estatísticos da Igreja em Portugal, enviados à Agência ECCLESIA pelo secretariado geral da Conferência Episcopal Portuguesa, mostram que entre 2000 e 2006, o número de sacerdotes diocesanos baixou de 3159 para 2894. A situação nesses anos mostra que, em média, por cada dois padres que morrem, apenas um é ordenado. O número de seminaristas (diocesanos e religiosos), no mesmo período, está abaixo dos 500. Os números de Dezembro de 2006, os mais recentes, revelam que nesse ano foram ordenados 39 novos padres diocesanos, tendo falecido 81. Perante este quadro tem-se assistido ao surgimento de formas de vida e de trabalho em comum, conduzindo à criação das chamadas "Unidades Pastorais", com várias paróquias, servidas por equipas de sacerdotes, conjugando o serviço do ministério sacerdotal com outros serviços. Apesar desta quebra no número de padres, a maioria das mais de 4 mil paróquias estão confiadas à administração sacerdotal e apenas 20 paróquias são administradas pastoralmente por diáconos, religiosas e leigos.

Obra do Apostolado do Mar na Diocese de Aveiro - 2

Decreto de erecção canónica, pelo Bispo de Aveiro, da Obra do Apostolado do Mar, com sede na Gafanha da Nazaré. Ler me Galafanha.

PONTES DE ENCONTRO

Muhammad Yunus: o banqueiro dos pobres! Numa época tão conturbada em que a esperança parece que nos foge pelo meio dos dedos, como se de areia fina se tratasse, há que recordar e reconhecer, publicamente, aqueles que ainda acreditam que a esperança existe, porque o homem é o seu único fiel depositário e impulsionador, pelo que só depende dele fazer com que ela surja e nos surpreenda, sempre pela positiva, como é seu apanágio. Felizmente, ainda existe bastante gente boa e com um profundo sentido de bem querer e bem fazer pelos que mais sofrem e que se comprometem em acções que possam, decididamente, contribuir para minorar o sofrimento de alguns e apontar novos horizontes de que é possível, quando se quer, percorrer novos caminhos. Entre estas pessoas recordo o nome de Muhammad Yunus (1940), também conhecido pelo “banqueiro dos pobres”. Muhammad Yunus nasceu num dos países mais pobres do mundo – o Bangladesh –, ainda que a sua situação social nada tenha de comum com o país que o viu nascer. Formou-se em economia e doutorou-se nos EUA. No ano de 2006, ganha, juntamente com o Grameen Bank, o Prémio Nobel da Paz. Foi o primeiro economista, a nível mundial a receber este galardão, pelo que esta distinção deverá ser entendida como uma crítica e reprovação à maneira como a generalidade dos países ricos (não) olham e tratam a pobreza global e também aos sistemas económicos e políticos que mantêm esta situação inalterada, naquilo que lhe é essencial. Muhammad Yunus e o banco que fundou, em 1976, procuram dar algumas condições, através do acesso ao microcrédito, àqueles que vivendo em situação de pobreza extrema possam a ele recorrer, para terem uma vida mais digna, através da criação de pequenas empresas (em regra, artesanais), das quais se tornam seus proprietários. Até agora o total de microcréditos concedidos é superior a 5,72 biliões de dólares, para um total de 6,61 milhões de clientes. Como ele diz, o fundamental é “oferecer às pessoas condições mínimas e elas tratarão de si próprias”, em contraponto com aqueles que preferem continuar, de forma sistemática, a terem as pessoas, hipócrita e interesseiramente, dependentes de si, através de ajudas passageiras, como é o caso dos bens alimentares, na vez de lhes darem a cana e as ensinarem a pescar. Ao contrário do que se possa pensar, a taxa de cumprimento das obrigações destes empréstimos pedidos é de 98,85%, percentagem esta que faz morrer de inveja qualquer outro banco, cujo objectivo é, natural e compreensivelmente, não perder dinheiro, mesmo que para isso se ponha na miséria quem tiver que ser. São homens como este que nos renovam a esperança de que é possível fazer diferente e melhor. A pobreza não é uma fatalidade que não se possa combater, antes exige um combate permanente, da parte de quem tem condições e obrigações para tal fim. E como se isto já não fosse pouco, há que não esquecer que pobreza e paz estão intimamente ligadas, pelo que falar de paz com pobreza à mistura é incompatível, ainda que alguns nos queiram fazer acreditar que estas duas realidades podem coexistir. Recordo, por último as palavras, profundamente humanas e carregadas de uma grande sensibilidade pelo sofrimento dos mais pobres, que Muhammad Yunus proferiu, no dia 10 de Dezembro de 2006, em Oslo, por ocasião da entrega do Prémio Nobel da Paz: “Para mim, os Pobres são como as árvores bonsai. Quando se semeia a melhor semente da árvore mais alta, num vaso, obtém-se uma réplica da árvore mais alta, mas só com uns centímetros de altura. Nada há de errado com a semente que se semeou, apenas o solo onde foi plantada não é o adequado. Os Pobres são com os bonsais. Não existe nada de errado com as suas sementes. A sociedade é que não lhes proporcionou as bases para crescerem. Tudo o que é preciso para tirar os Pobres da pobreza é criarmos um ambiente que lhes seja favorável. Uma vez que eles consigam libertar a sua energia e criatividade a pobreza desaparecerá muito rapidamente.” Mais palavras para quê?
Vítor Amorim

quinta-feira, 10 de julho de 2008

REFLEXÃO TOTAL

Um poema de António Gedeão

Recolhi as tuas lágrimas
na palma da minha mão,
e mal que se evaporaram
todas as aves cantaram
e em bandos esvoaçaram
em torno da minha mão.
Em jogos de luz e cor
tuas lágrimas deixaram
os cristais do teu amor,
faces talhadas em dor
na palma da minha mão.

A MINHA ORQUÍDEA

Convivo diariamente com uma orquídea que marcou o seu lugar na cozinha onde apareceu bonita com uma coroa de flores brancas. Habituou-se ao espaço, gostou da luz, mas o tempo não perdoa e as flores foram caindo uma atrás da outra até que ficou sozinha pegada, apenas, à sua haste e sustentada por duas folhas. Fui acreditando que não seria o seu fim, mas, dia após dia, nada de novo acontecia. Cortei-lhe um pouco da haste e mantive a esperança, aliada à caridade, que me levava a olhá-la, pôr-lhe um pouco de água e acreditar que um dia... E esse dia aconteceu quando naquela manhã surgiu uma borbulha, depois outra e outra e a esperança avivou e as borbulhas foram crescendo, calmamente, insensíveis à vontade que eu tinha que fosse de um dia para o outro. Das borbulhas vieram botões, dos botões desabrocharam flores e lá está ela, junto da janela, a emprestar a sua beleza de três hastes que encanta quem pára para a observar. Como a orquídea é a minha Igreja a princípio florida na manhã da Páscoa depois feita caminho e amassada no pó e no sangue a que Pedro e Paulo deram vida com as suas vidas na esperança de que ela voltasse a florir. Tempo de espera e contrariedades, tempo de encontros e desencontros, mas tempo de esperança e certeza de que o Senhor, o justo juiz, compensará com a coroa da justiça mesmo que conquistada no cepo do cadafalso ou no patíbulo da cruz. Esta Igreja percorreu as estradas do Império e fez-se Aveiro pela mão de tantos, Bispos, padres, diáconos e leigos que lhe emprestaram beleza e a tornaram diocese, sempre mais renovada, em cada dia da Igreja Diocesana quando as suas flores invadem o Santuário da Senhora de Vagos e no vaso da comunidade, fiéis ao apelo do Sr. Bispo, nos tornamos mais Igreja porque mais ao serviço dos mais pobres. Por fim, esta Igreja tornou-se vizinha de cada um de nós e veio viver no meio das nossas casas, em terras da Vera Cruz. Como a orquídea, paremos para contemplar a sua beleza feita de tantos gestos e acções que este ano de pastoral envolveram a nossa comunidade e, em cada pétala, agradeçamos a beleza que saiu da inocência das nossas crianças, da alegria dos nossos jovens, do esforço e partilha dos adultos e do sofrimento e das lágrimas de cada doente. É assim a minha Igreja... como a orquídea.
Manuel J. Rocha

FESTA DA RIA - 11 a 20 de Julho

De 11 a 20 de Julho, a Festa da Ria, promovida pela Autarquia Aveirense, com o apoio da Região de Turismo Rota da Luz, pretende potenciar as mais-valias da Ria de Aveiro e do Barco Moliceiro, com a realização de diversas actividades junto à Ria – zona do Rossio – e outras que se desenrolarão nos canais – Regata de Barcos Moliceiros, Raid Cataramarãs “Ria de Aveiro”. Pretende-se proporcionar à população Aveirense e a todos os turistas diversas actividades, nomeadamente, divulgar mais-valias da Ria de Aveiro; dinamizar as noites de Verão, proporcionando-lhes acções relacionadas com a Ria de Aveiro; encher de colorido o Canal Central da Ria de Aveiro, através dos seus moliceiros; consciencializar a população para a importância da Ria de Aveiro; valorizar a cultura e o património existente relacionado com a Ria de Aveiro; dar a conhecer o artesanato da região aveirense; e dar possibilidade às Associações do Concelho de divulgarem os seus trabalhos. Fonte: “Site” da CMA Ver programa

OUVIR OS PROFETAS, UM CAMINHO DE RENOVAÇÃO

O profetismo verdadeiro é sempre um dom a favor de uma comunidade concreta, que vive e se constrói em cada dia, sente interpelações novas, é convidada a tomar iniciativas e a correr riscos, e se sente, pela sua missão, obra inacabada, mas nunca instalada, desanimada ou vencida. O Deus da fé, em relação ao Seu povo, serviu-se dos profetas para mostrar caminhos, animar percursos, julgar passos andados, convidar à fidelidade, corrigir desvios, acordar compromissos. A presença activa dos profetas no meio do povo, provocava alegria e gratidão, porque Deus continuava presente. O seu silêncio dava ocasião à tristeza e desolação, porque o povo se julgava esquecido e abandonado, embora nem sempre os ouvisse. Ontem, como hoje, na Igreja nunca faltaram profetas. Muitos deles sentiram, e sentem a indiferença e, por vezes, o abandono e o despeito dos chefes medrosos, detentores de uma autoridade que não dialoga, ou são esquecidos e perseguidos por um povo que não se quer converter e não suporta o incómodo de profetas que ousam dizer aquilo que não lhe agrada. Por vezes e só depois de muitos anos aparece quem acorde para as palavras do profeta. Então pode-se ver que alguns, ontem perseguidos, são reabilitados e até canonizados, como santos de altar. Recordemos Rosmini que ousou falar das chagas da Igreja. Foi por isso perseguido e agora elevado aos altares. Nos tempos que correram temos visto de tudo isto. Não era de esperar, dado que o Vaticano II deu consciência aos membros da Igreja de que, como baptizados, todos participam do profetismo de Cristo, acordando-os, assim, para o essencial, um aspecto em que o profetismo tem papel insubstituível. Não têm faltado, também, aqui e ali, falsos profetas com interesses que não são os de Cristo. Ele advertiu-nos disso.O cardeal Martini, arcebispo emérito de Milão, biblista reconhecido em toda a Igreja, optou por terminar os seus dias em Jerusalém, “a sua pátria antes da pátria eterna”. Com a liberdade interior que sempre teve e a humildade real e discreta que o torna corajoso e construtivo, continua a exercer o profetismo, como luz do Espírito e dom à Igreja. Assim o fez antes em sínodos, simpósios, congressos, no dia-a-dia do seu ministério episcopal em Milão e como presidente do Conselhos das Conferências Episcopais da Europa. Conheci-o ao longo de vários anos e de muitos encontros regulares. Aprendi com ele a crescer no amor à Igreja de Cristo e na liberdade de a servir. Vi no seu profetismo corajoso um modo de agir em consciência, sem depender de críticas ou de elogios e ousando sempre pagar o preço de todos os profetas. Diz-nos ele agora que “sonhou com uma Igreja que segue o seu caminho na pobreza e na humildade… uma Igreja que não depende dos poderes deste mundo… uma Igreja que dá espaço às pessoas que pensam mais longe… uma Igreja jovem, onde não há lugar para a desconfiança…” Anuncia uma série de temas em aberto, campo de muito sofrimento e alguma esperança, para os quais a Igreja deve de ter coragem profética e ser capaz de ouvir os profetas, que o Espírito suscita. De há muito vem falando neles. Insiste que não basta dizer, à maneira de Cristo, que o caminho da Igreja é o homem e que “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens do nosso tempo, mormente dos mais pobres e de todos os aflitos, são também as dos discípulos de Cristo, e que nada existe de verdadeiramente humano que não encontre eco no seu coração”. Nada disto se compadece com o alheamento em relação aos profetas, se por ventura se querem caminhos inovadores e não apenas a receita de conselhos piedosos. O cardeal Martini incomoda muita gente instalada, mas fala apenas, eu o posso testemunhar, por fidelidade ao homem e à missão da Igreja. São assim os verdadeiros profetas: livres, corajosos, comprometidos com o essencial, nunca desistindo. António Marcelino