sábado, 28 de junho de 2008

Mandela: símbolo da liberdade e da tolerância


Assisti ontem, na televisão, a um concerto comemorativo do 90.º aniversário de Nelson Mandela. Para além da música e dos testemunhos de admiração pela figura ímpar de Mandela, este concerto levou-me a reflectir sobre a personalidade do homem, do político, do lutador pela causa da liberdade e da fraternidade universais.
O concerto ostentava um número – 46 664 – , que seria o número de presenças no espectáculo. Mas lembrava, também, o número da cela que Mandela ocupou na cadeia às ordens dos tribunais do “apartheid”, o regime que defendia a segregação racial.
As pressões dos países livres e democráticos levaram o regime a libertá-lo. Depois foram as eleições, a ocupação da cadeira da chefia do Estado e o Prémio Nobel da Paz.
Toda gente minimamente informada conhece a história de vida deste herói universal e o seu exemplo de amor à paz, à fraternidade e à tolerância. Durante a presidência do seu país, a África do Sul, mostrou como soube aproximar-se e dialogar com os que antes o perseguiam e condenavam. Sem rancores nem espírito de vingança.
Mas hoje e aqui também recordo, a propósito deste evento, alguns diálogos que mantive com um amigo, religioso, que acreditava nas virtualidades do “apartheid”. Que era importante para brancos e negros, dizia-me ele. E por mais que eu argumentasse, à luz da fé católica, que todos os homens eram iguais, em direitos e obrigações, independentemente da cor da pele, das opções religiosas e políticas, o meu amigo teimava em acreditar que, na África do Sul, a separação de raças só trazia vantagens. Aceitava, portanto, que houvesse escolas, lugares públicas, hospitais, autocarros, igrejas, etc. etc., para negros e para brancos, separadamente. Morreu o meu amigo sem eu conseguir convencê-lo de que o “apartheid” era a mais estúpida forma de sociedade.
Quando me lembro desta posição de um amigo meu, não posso deixar de pensar que, afinal, ainda perduram nas sociedades democráticas, como a nossa, resquícios destas ideias. Vejam, por exemplo, como as nossas televisões não conseguem contratar apresentadores negros, como o nosso Governo não tem ministros negros, como a nossa Assembleia da República só tem um deputado negro, do CDS, que alguns confundem como um segurança, com todo o respeito que os seguranças nos merecem.
Afinal, ainda temos muito que caminhar para expurgarmos a sociedade de ideias racistas.

FM

S. Jacinto sem Ferry-boat

Segundo noticia o Diário de Aveiro, o director-geral da Navalria, Nuno Santos, adiantou que a demora na entrada em funcionamento do “ferry-boat” se deve a um atraso na colocação de um equipamento na casa das máquinas da embarcação. Os que lêem o Diário de Aveiro ficam a saber que só para a próxima semana terão o ferry-boat a funcionar. Com uma ponte, onde fosse possível, nada disto aconteceria. Há tempos recebi um convite de pessoa amiga para me deslocar a S. Jacinto. Gostava ela e eu, com minha esposa, de recordar vivências de tempos que já lá vão. Se vier, dizia-me ela, como não há Ferry-boat, por causa de uma avaria, eu arranjarei alguém para o ir buscar à lancha. Prometi que só quando pudesse atravessar com o meu carro poderia aceitar o convite, para não causar transtorno a ninguém. Nunca, com todo o meu amadorismo, vi bem o ferry-boat. A passagem natural, por meio de ponte, mais a norte ou mais a sul, seria o ideal, para proporcionar outra vida a S. Jacinto e às suas gentes, privados da ligação natural à Gafanha da Nazaré. Mas os nossos políticos, regionais e mesmo nacionais, decidem, muitas vezes, sem olhar às realidades locais. Nuns sítios nascem pontes com a maior das facilidades. Noutros, como aqui, nem sequer equacionam a questão. Depois é isto. A ligação por ferry-boat entre a Gafanha da Nazaré e S. Jacinto está suspensa há muito tempo. Uma simples avaria altera a vida de toda a gente.
FM

Nova barbárie invade a nossa sociedade

As invasões dos bárbaros fustigaram a Europa nos séculos IV e V, ocuparam metade do Império, foram virulentas pelo ódio sanguinário dos vários “átilas”, serenaram com a progressiva instalação em terras espoliadas e a conversão de Clóvis ao cristianismoHistoricamente significaram destruição de vidas, de monumentos históricos, de novas culturas que se enraizavam. Provocaram medo, revolta, desolação de pessoas e de terras, ocupação de cidades habitadas e destruição impiedosa de campos arroteados e cultivados. Os bárbaros destruíram, ocuparam, mataram para se instalarem e dominarem. O seu objectivo residia na satisfação de interesses concretos, de ordem económica e política. Satisfaziam-se, por momentos, com ofertas graúdas que os faziam amainar, mas recrudesciam, em ódio e vingança, quando não chegavam logo ao que procuravam. Valia tudo para conseguir o que se almejava. Todos os meios justificavam os fins. A nossa sociedade está a ser dominada por nova barbárie. A palavra é dura, mas com palavras moles vamos sendo submergidos na avalanche dos que, organizadamente, dão mais atenção ao dinheiro e ao poder que ao serviço digno e dignificante às pessoas. Chegou-se, impunemente, à propaganda da devassidão, como se pode ver numa visita breve aos jornais diários conhecidos e vendidos, a alguns programas de televisão, à enxurrada das revistas banais, expostas em profusão em qualquer quiosque da rua. Alguns exemplos esclarecedores: O CM publica todos os dias à volta de mil pequenos anúncios, pornograficamente ilustrados, de prostitutas a oferecer os seus serviços. O DN anda normalmente por uma página diária com o mesmo estendal. O JN e o 24 horas não querem ficar atrás na informação de igual mercado. Até o Público dá, diariamente, um cheirinho ao tema. Já nem falo dos jornais da especialidade, que também se vêem por aí, ao alcance de todos. São ainda frequentes páginas de jornais, nos menos esperados, a enxovalhar o casamento, a denegrir a família, a entrevistar apenas sobre a vida sexual ao nível do irracional. Se passarmos às revistas semanais publicadas, com nomes sonantes, e muitas delas ligadas a jornais diários e a estações de televisão, nelas abundam os casamentos em série, os amores traídos, as devassas à vida pessoal. Tudo cor-de-rosa, mas para muitos com muito sangue oculto. Os heróis deste país estão entre a gente das telenovelas, do teatro, do futebol, dos escândalos diversos, das tendências sexuais à procura de apoiantes e até mesmo de praticantes. E, para estes casos, não faltam jornalistas de opinião e programadores zelosos. Quem sabe se também interessados. É esta a cultura que se expande e se protege, na qual vai crescendo muita gente nova que já aprendeu com os mais velhos a festejar datas com bebedeiras, a gabar-se de experiências sexuais irresponsáveis, a fazer do “serve-te e deita fora” modo de vida, a fugir aos pais e à família sem medir as consequências dos seus actos. É a cultura das telenovelas, nacionais e brasileiras, cheias de pessoas simpáticas a destilar com arte, do princípio ao fim, o lixo da vida misturado com odores de convidativos manjares.É o pluralismo e cada um é livre para fazer o que lhe apetece ou deseja. Assim se diz. Desde que se deixou de falar de bem comum e de direitos humanos, desde que se menosprezaram e esqueceram valores espirituais e morais, desde que a família perdeu o valor e se considerou mais um peso que um dom, desde que, impunemente, se deixou que os meios de comunicação social se tornassem os grandes mentores sociais e culturais, ruíram as comportas da seriedade e da vergonha e avançaram os bárbaros, senhores de muitos bens e muitos amigos, fazendo do dinheiro o seu deus e da amoralidade a sua lei. O povo só interessa como produtor incauto de riqueza. Tudo isto pode dar que pensar, já que o futebol, com festa antecipada, acabou tão ingloriamente.
António Marcelino

Pontes de Encontro

São Paulo: bimilenário do nascimento e início do Ano Jubilar Por proclamação do Papa Bento XVI, inicia-se a partir de hoje, dia 28 de Junho, e até 29 Junho de 2009, o Ano Paulino. A celebração deste ano jubilar, dedicado ao Apóstolo Paulo, foi anunciada por Bento XVI na Basílica de São Paulo Fora de Muros, em Roma, no dia 28 de Junho de 2007, por ocasião das Vésperas da Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo. Nessa altura, o Papa recordou que Roma é o local privilegiado para a celebração deste ano jubilar, já que a cidade conserva o túmulo de São Paulo, exactamente na Basílica com o seu nome, salientando que durante este período de tempo terão lugar uma série de eventos litúrgicos, culturais, ecuménicos, pastorais e sociais, todos eles associados à espiritualidade paulina. Contudo, segundo Bento XVI, vai ser dado um destaque especial às peregrinações ao túmulo do Apóstolo dos Gentios e à publicação de textos paulinos, para “fazer conhecer, cada vez melhor, a imensa riqueza dos ensinamentos de São Paulo, verdadeiro património da Humanidade redimida em Cristo”. Também a Conferência Episcopal Portuguesa publicou uma Nota Pastoral com o título “Ano Paulino, Uma Proposta Pastoral”, na qual se podem encontrar inúmeras orientações que ajudam, e muito, a conhecer, compreender e a viver melhor o espírito e o vigor da acção paulina, não só a nível da dimensão pessoal de cada cristão, mas, não menos importante, no seio da igrejas locais, comunidades e movimentos eclesiais. O nascimento do Apóstolo Paulo situa-se, segundo os historiadores, entre o ano 7 e o ano 10, depois de Jesus Cristo, a quem não conheceu, pessoalmente, enquanto Ele andou pelos caminhos da Judeia, Galileia, Samaria, até Jerusalém. Este Ano Jubilar coincide, portanto, com o bimilenário do seu nascimento, na cidade de Tarso, da província da Cilícia (cf.:Act 21,39), na actual Turquia. Do cristianismo primitivo, não há outra pessoa sobre quem se saiba tanto e as fontes para a sua reconstrução biográfica encontram-se, essencialmente, nas cartas paulinas e nos Actos dos Apóstolos. As Cartas de Paulo têm, declaradamente, uma profunda expressão pastoral, através das quais dá orientações doutrinais, faz exortações à fé em Cristo e aconselha as primitivas Comunidades cristãs a ultrapassarem algumas dificuldades porque passavam, tivessem ou não sido fundadas por ele. Os traços autobiográficos são imensos, pois o Apóstolo compromete-se, existencialmente, com a sua pregação, ou seja, ele apenas vive para pregar a Boa-Nova, como ele próprio afirma: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Esta sua forma de viver, testemunhar e evangelizar, “à maneira de Jesus Cristo”, levou-o a estar em diferentes mundos, línguas e culturas, a ser um homem em permanente movimento, à descoberta de novas encruzilhadas, caminhos e desafios. Pertos ou longínquos, esteve nos principais centros do saber e do poder, da civilização urbana e cosmopolita do seu tempo. Era um verdadeiro corredor de fundo que percorreu milhares e milhares de quilómetros a pregar no que acreditava, no que amava e no que se tinha comprometido. Atravessou grande parte dos territórios que fazem, presentemente, parte da Grécia e da Turquia. O Mar Mediterrâneo por diversas vezes, fez parte de todo este seu itinerário, estando entre outras, nas ilhas de Creta, Chipre, Rodes, Malta, Sicília e, por fim, termina o seu caminho de evangelizador determinado, de todos os povos e nações, na cidade imperial de Roma, onde veio a morrer, provavelmente no ano 67 d.C., por decapitação. Diz a Nota Pastoral da CEP que “Paulo protagonizou, na sua experiência de Apóstolo, o alargamento do horizonte dos destinatários do Evangelho”, pelo que o cristianismo tornou-se uma realidade salvífica, fraterna, libertadora, histórica, social e cultural abrindo-o, definitivamente, à universalidade de todos os povos e de todos os tempos. Vítor Amorim

“Da Janela dos Outros”

Algumas das reacções sobre a directiva da União Europeia, do dia 10 de Junho de 2008, que pretende passar o horário de trabalho até a um máximo de 65 horas semanais: “A Europa pretendia ser um exemplo. Mas isto vem ao arrepio de tudo, copiando o modelo asiático que se deve evitar” Manuel Pires de Lima – sociólogo do ICS “A directiva é um mau sinal dado aos trabalhadores, que ficam mais desprotegidos” João Proença – Secretário-geral da UGT “Estamos a querer criar uma sociedade de escravos” 
D. Januário Torgal Ferreira – bispo “O mundo é o inferno. Não vale a pena ameaçarem-nos com outro inferno, porque já estamos nele. A questão é saber como é que saímos dele” José Saramago – escritor In jornal Expresso – 21 de Junho de 2008 

Vítor Amorim

CONVERSAS NOCTURNAS EM JERUSALÉM

Acaba de aparecer, com o título Jerusalemer Nachtgespräche ("Conversas Nocturnas em Jerusalém"), uma série de diálogos entre dois jesuítas, em Jerusalém, noite dentro: o padre G. Sporschill, austríaco, e o cardeal Carlo Martini, antigo arcebispo de Milão e um dos nomes mais famosos da Igreja, durante anos considerado papabilis (possível Papa), que aos 75 anos se retirou para Jerusalém: "Jerusalém é a minha pátria. Antes da pátria eterna."
"Houve um tempo em que sonhava com uma Igreja que segue o seu caminho na pobreza e na humildade, uma Igreja que não depende dos poderes deste mundo. Sonhei com o extermínio da desconfiança. Com um Igreja que dá espaço às pessoas que pensam mais longe. Com uma Igreja que anima sobretudo aqueles que se sentem pequenos e pecadores. Sonhei com uma Igreja jovem. Hoje já não tenho esses sonhos. Aos 75 anos, decidi-me por rezar pela Igreja. Olho para o futuro. Quando o Reino de Deus chegar, como será? Como será, depois da minha morte, o meu encontro com Cristo, o Ressuscitado?"Significa esta confissão desânimo? De modo nenhum. É certo que o que lhe causa preocupação é "a falta de coragem".
Aliás, a palavra "Mut" (coragem, ânimo) e, consequentemente, "animar", "ter coragem" são expressões constantes e recorrentes. "A Igreja deve ter a coragem de se reformar." "A Igreja precisa permanentemente de reformas." "Porque eu próprio sou tímido, digo a mim mesmo na dúvida: coragem!"A situação da Igreja, sobretudo na Europa, "exige hoje decisões". E lá vem a questão da sexualidade e da comunhão dos divorciados recasados e da ordenação das mulheres e da lei do celibato. Questão essencial são os jovens, apresentando-se, neste domínio, um novo princípio pastoral: "Deixar-se ensinar pela juventude."
Critica a encíclica Humanae Vitae, de 1968, com a proibição da chamada "pílula contraceptiva". "O mais triste é que a encíclica é co-responsável pelo facto de muitos já não tomarem a sério a Igreja como parceira de diálogo e mestra." Confessa que a encíclica Humanae Vitae foi negativa. "Muitos afastaram-se da Igreja e a Igreja afastou-se de muitos. Foi um grande estrago." Mas, após quarenta anos, "poderíamos ter uma nova perspectiva". "Estou perfeitamente convicto de que a direcção da Igreja pode mostrar um caminho melhor do que o da encíclica." Procuramos "um novo caminho" para falar sobre a sexualidade, o casamento, a regulação da natalidade, a procriação medicamente assistida.
Quanto ao preservativo e atendendo à sida, ele próprio diz que acabou por tornar-se o "cardeal da camisinha", como lhe confessou a sorrir um padre do Brasil.
Sobre a juventude e a sexualidade, vai avisando: "Nestas questões profundamente humanas, não se trata de receitas, mas de caminhos." A direcção da Igreja fará melhor ouvir e "familiarizar-se com o diálogo".
Quanto à homossexualidade: "No meu círculo de conhecidos há casais homossexuais, pessoas muito respeitadas e sociais. Nunca ninguém me fez perguntas e também nunca me teria ocorrido condená-las."
É verdade que não poucas mulheres criticam justamente a Igreja porque se sentem discriminadas. Martini reconhece que "a nossa Igreja é um pouco tímida" e que o Novo Testamento trata melhor as mulheres do que a Igreja. A direcção de comunidades por mulheres é bíblica e não pode excluir-se o debate sobre a sua ordenação.
O celibato exige uma verdadeira vocação. Ora, "talvez nem todos os que são chamados ao sacerdócio tenham este carisma." Depois, hoje, com a falta de padres, são confiadas cada vez mais paróquias a um sacerdote ou então dioceses importam padres do exterior. Mas isto, a longo prazo, não é solução. De qualquer modo, é preciso "debater a possibilidade" de ordenar homens casados, de fé reconhecida e provados no trato com os outros.
A Igreja de Cristo é a favor do Homem, da justiça e do Deus vivo. Mas não tem o monopólio de Deus. "Não podes tornar Deus católico." Por isso, a Igreja dialoga com os crentes das outras religiões e igualmente com os não crentes, também para conhecer as suas razões.

Na Linha Da Utopia

Folclore, raiz de identidades
1. São muitos os festivais de folclore que são realizados de norte a sul do país nesta época do ano tão especial em termos de festas populares. E é muita a generosidade que, percorrendo todo o ano neste “amor à camisola” das colectividades, agora se intensifica nas várias preparações para que tudo decorra pelo melhor. Há em Portugal uma multidão de gente heróica que, dedicando uma grande parte do seu tempo, vai conseguindo preservar o que de melhor existe nas culturas locais. Por vezes só em épocas políticas especiais ou em apresentações de embaixadas a entidades sociais é que o folclore surge como efectivo aliado da vida pública, sendo muitas vezes grande parte do tempo deixado na periferia da difícil luta pela sua própria sobrevivência. 2. Quem olha para um rancho é como quem repara num moliceiro. O que no barco da ria são a beleza das pinturas no folclore serão todo o conjunto de artefactos que nos falam das lides mais simples e ancestrais das nossas gentes. Todos os utensílios da terra, do mar, da ria, das fainas agrícola ou piscatória, transportados nos trajes e objectos do folclore querem ser o esforço de manter na raiz das comunidades a alma e a vida das gentes. A isto chamar-se-á o preservar das identidades regionais, algo cada vez mais importante até pela distância afectiva que cresce das novas gerações em relação a toda esta riqueza patrimonial. Chegará o tempo em que essa distância será tanta em relação à sobrevivente “tradição” das culturas que serão feitos estudos sobre cada uma dessas peças que ganharão valor acrescido. 3. Cada região tem as suas gastronomias, os vinhos, doçarias, pratos típicos e as suas bandas filarmónicas de música; dessa tradição, e consoante a área de referência em relação ao mar, aos rios ou à serra, vem também a força das suas ocupações e trabalhos onde o cultivo da terra representa um valor inestimável, no aproveitar das épocas de sol e de chuvas. Mas se muitas vezes estas realidades mesmo do campo são epocais, têm épocas em que existem e noutras não, o folclore procura perpetuar e prolongar no tempo a existência contínua desses bens pelos seus próprios cantos, danças e utensílios. Os ranchos folclóricos de cada localidade acabam por ser um dos mais belos emblemas regionais, diante dos quais talvez nos falte parar, valorizar mais e apreciar a riqueza dos seus ínfimos pormenores… 4. É significativo destacar-se que, na generalidade, essa riqueza traz consigo uma bondade e generosidade dignas de registo. Os ranchos não dão lucro e os apoios, se nunca abundaram, com realismo, na actualidade portuguesa são praticamente insignificantes em relação à sua realidade. Só com grande entrega das gentes é que se conseguem manter vivos e dinâmicos; mesmo remando contra tantas marés o folclore consegue ser um dos brilhantes símbolos da vitalidade cultural da sociedade civil que tem amor em preservar as suas raízes. Até pelo factor turismo, vamos apoiar mais!
Alexandre Cruz

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Figueira da Foz: Centro de Artes e Espectáculos

A frescura do jardim interior do CAE


Quando me encontro na Figueira da Foz, de passagem ou em férias, passo sempre pelo Centro de Artes e Espectáculos (CAE), voltado para o Parque das Abadias, de verde, de vários tons, permanentemente vestido. Estão, nesta altura, a ser recordados os seus primeiros seis anos de existência, com uma exposição fotográfica, que mais não é do que uma “síntese, em imagens”, da sua actividade cultural ao longo destes anos, como se lê no texto de apresentação da mostra, patente ao público até 15 de Julho.
São fotos de arquivo representativas de momentos altos da vida do CAE, mostrando artistas e personalidades, as mais variadas, do mundo da arte, da política e da cultura, nacionais e internacionais.
O CAE mora ao lado do Museu Municipal Dr. Santos Rocha e da Biblioteca Municipal. Trata-se de um edifício bem dimensionado e integrado no espaço envolvente, típico da Arte Contemporânea, projectado pelo arquitecto Luís Marçal Grilo, com espaços para todas as idades e para todos os gostos, de que destaco dois auditórios, salas de exposições, livraria e café-bar, com esplanada para o Parque das Abadias, de onde nos vem um ar fresco, tão apetecível nos dias de calor.
No exterior, para espectáculos de Verão, sobretudo, há um anfiteatro situado num jardim mais intimista.
Se vem de férias à Figueira da Foz, não se esqueça de passar por lá. Leve um livro, um jornal ou uma revista, tome um café e delicie-se com o ar diferente que lhe é oferecido. De graça, claro.

FM

Figueira da Foz: recriação da Guerra Peninsular

O Forte de Santa Catarina foi construído nos finais do século XVI para reforçar a defesa da Foz do Mondego, fazendo parte, com a Fortaleza de Buarcos e o Fortim de Palheiros, do sistema defensivo do porto e da baía da Figueira da Foz e de Buarcos. Com estrutura triangular, tem três cortinas, um meio baluarte e dois baluartes. No seu interior há uma pequena capela dedicada a Santa Catarina de Ribamar, devendo-se a sua construção ao arquitecto Mateus Rodrigues.

Placa comemorativa do primeiro centenário da Guerra Peninsular


Do programa comemorativo dos 200 anos da Guerra Peninsular, destaco, para além de uma sessão solene nos Paços do Concelho, hoje, 27 de Junho, pelas 17.30 horas, presidida pelo Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, com a intervenção de dois oradores convidados, a inauguração, amanhã, 28, pelas 17 horas, de uma exposição, no Museu Municipal Santos Rocha, intitulada “Figueira da Foz e a Guerra Peninsular”. A seguir, às 19 horas, na igreja matriz de S. Julião, será celebrada a eucaristia, em memória das vítimas das Invasões Francesas, acompanhada pelo Coral David de Sousa.
No dia 29, domingo, pelas 11.15 horas, todos poderão assistir ao descerramento de uma Placa Comemorativa do Bicentenário da Tomada do Forte de Santa Catarina, seguida da recriação histórica dessa mesma tomada, pela Associação Napoleónica Portuguesa, com o Grupo de Recriadores Históricos do Município de Almeida. Depois será a abertura do Forte e a visita à Exposição Evocativa das Comemorações.
Em Agosto prosseguem as celebrações, com programa que tenciono divulgar neste meu espaço.

NA LINHA DA UTOPIA

Inter-dependemos
1. Mesmo para quem considere o contrário, todos dependemos uns dos outros. A montante ou a jusante, a interdependência acompanha-nos de forma tão viva e andante que até pode parecer estranho ter de sublinhá-la. Mas a verdade é mesmo essa, temos de salientar, como diz a canção, que «sozinho não és nada, juntos temos o mundo na mão!» Após as transformações sociais dos anos 70, desde os anos 80 que a Pedagogia da Interdependência - Gentle Teaching: www.gentleteaching.com) vem construindo um caminho centrado na dignidade da Pessoa humana. Decorreu nestes dias (25 de Junho, na UA), fruto de oportuna parceria transdisciplinar ESSUA, DCE-UA e ASSOL, uma conferência com o autor mundial desta teoria de relacionamentos humanos para uma sociedade efectivamente inclusiva. 2. Vale a pena interiorizar algumas linhas fundamentais do pensamento do Professor John McGree que correspondem a uma visão, diríamos, enraizada no sentido afectivo da “maternidade” da própria pedagogia como relação. A pergunta lapidar ajuda-nos a recentrarmos o caminho: «o que é a qualidade quando as pessoas não estão lá?» Talvez esta pergunta essencial ajude a resgatar dimensões essenciais do ser que têm ficado nas periferias dos esquemas pré-concebidos. As sociedades tendencialmente tecnocráticas, lucrativas e racionais têm potenciado outros dinamismos que, muitas vezes, travam esta determinante inclusão da experiência humana mais profunda, a face afectiva da vida como motor de motivação e vontade. É na base da profundidade da comum dignidade humana que o autor da teoria pedagógica da interdependência constrói os seus quatro pilares: ser e estar SEGURO, AMADO, CAPAZ DE AMAR, ENVOLVIDO. 3. Nesta matriz de itinerário (que compromete quem o comunica pois vem de dentro), mas de forma sempre aberta às novas situações e intuições, destaque-se que em casos de profundas diferenças (deficiências) partilhadas pelo autor, a noção de segurança e amor exerceu força restauradora da pessoa, reconstruindo pelo afecto o sentido de Humanidade, este muitas vezes perdido, oculto ou desprezado por formas de relacionamento mais frias, de “autoridade autoritária”, ou mesmo de uma registada violência. Sejam, para quem vive o espírito de procura diária, as ideias e as práticas sempre itinerantes, errantes, procuradoras do melhor para bem da finalidade última da realização de cada ser humano. É aqui que a própria natureza no sentido da própria maternidade oferece o justo entendimento: ninguém é por si mesmo e crescer para a autonomia será tomar consciência das crescentes responsabilidades. 4. Neste patamar de inclusão da diversidade de cada um na comunidade de todos terá de triunfar uma vivência e aprendizagem na ordem mais da sensibilidade humana que da técnica burocrática. O subjectivo de cada um é a força que quererá alargar o seu horizonte para a objectividade interdependente dos sistemas e estruturas, humanizando-as e tornando-as efectivamente significativas como serviço à humanidade das pessoas.
Alexandre Cruz