quinta-feira, 19 de junho de 2008

NA LINHA DA UTOPIA

Gerar proximidade
1. Proximidade ou distância, depende do lado da vida em que nos colocamos. Se formos a apreciar a fundo a dignidade de cada pessoa humana, logo nos apercebemos que o mistério da vida, na sua riqueza da diversidade, manifesta-nos, acima de tudo, a radical comum pertença à humanidade. Por vezes, muitas das divisões e distâncias que as culturas, interesses ou políticas, foram ou vão gerando (e gerindo), precisam deste regresso à condição ancestral da comum dignidade humana. Talvez, em determinadas circunstâncias tenhamos mesmo de colocar a mente e os olhos que só sabem dividir diante dessa imagens fecundas do embrião e do bebé no ventre materno. Imagens estas que, do seu pressuposto rigor científico do milagre da vida, muito poderão sensibilizar e transformar afectiva e racionalmente muitos pensamentos. 2. Quantas divisões que existem no mundo (porque nas pessoas do mundo) que precisam desse respirar fundo e do justo apreciar do dom da vida comum a todos e cada um! O tempo sociológico que vivemos propõe-se reinterpretar todas as coisas. É a globalização na sua dinâmica impulsiva que, partindo das forças dos interesses das economias, coloca as diversidades mais próximas. Tal facto pode trazer o melhor quando se aprecia e integra, ou o pior quando se exclui quem pensa diferente. Saber cultivar a proximidade inclusiva das culturas, não como sobreposição ou anulação, será um dos grandes desafios do século XXI. A tecnologia põe-nos em contacto; mas serão os princípios, critérios e valores, que darão o tom a este novíssimo encontro. 3. O ano (2008) europeu para o diálogo intercultural testemunha e impulsiona a necessidade premente desta mesma reflexão, a ser levada até às últimas consequências. É neste contexto que a prestigiada Fundação Calouste Gulbenkian (http://www.gulbenkian.pt/) abriu um programa sugestivo: Distância e Proximidade. Para todos os cidadãos humanos do mundo e do Portugal actual, trata-se, este género de reflexão não de uma abordagem lateral que se possa prescindir, mas sim de um enfrentar as problemáticas de fundo das sociedades contemporâneas, a partir das mais pequenas coisas em que, no fundo, todos vivemos a mesma interacção de diferentes culturas, numa interdependência diária; até as crises sociais, como a recente dos combustíveis, nos demonstram isso mesmo: precisamos e só sobrevivemos uns-com-os-outros. 4. Para comissário da pertinente iniciativa da FCG foi convidado Arjun Appadurai, natural de Bombaim e residente actualmente em Nova Iorque (esperemos que regresse um dia à sua terra!), que é «uma das personalidades que mais tem reflectido sobre as questões da violência cultural, do reconhecimento da diferença cultural como valor da modernidade e sobre as consequências da globalização». Venha o tempo em que estas questões da proximidade das diversidades estarão todos os dias em cima da mesa como factor decisivo de desenvolvimento humano. Será por aqui!
Alexandre Cruz

REGATA 200 ANOS DA ABERTURA DA BARRA DE AVEIRO.

A Regata, integrada no programa das Comemorações do Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro, foi uma organização conjunta da Administração do Porto de Aveiro e do Clube de Vela Costa Nova. Decorreu nos dias 14 e 15 de Junho e ofereceu, a quem a presenciou, imagens inesquecíveis.

O LIVRO E OS LIVROS, OS CATÓLICOS E A BÍBLIA

A Bíblia


Zade Smith, uma inglesa de origem oriental, das mais respeitadas escritoras britânicas na actualidade, ao dar conta, em entrevista recente (Expresso 31.5, em Actual), da sua carência de educação religiosa, diz textualmente: “Eu cresci numa família sem filiação religiosa. Quando não se tem um grande Livro, é natural olhar para um data de livros pequenos”. Uma palavra de largo e ponderado sentido, que a vida ilustra em cada dia.
Para aos cristãos, o grande Livro é e será sempre a Bíblia. Sair dela ou prestar-lhe menos atenção é deixar sem alimento a fé pessoal e a fé comunitária sem fundamento sólido e inspirador.
Recentemente, uma sondagem feita na diocese de Lisboa, e da qual se deu notícia muito alargada, trouxe ao de cima a consciência de como há ainda muitos cristãos que não lêem, não meditam, nem rezam a Bíblia, mesmo quando a têm em suas casas e sabem o seu valor e importância para a vivência da fé e para a vida segundo Cristo.
Os cristãos da reforma protestante e outros que, ao longo do tempo, foram nascendo, separando-se das correntes iniciais, mantiveram sempre grande ligação à Bíblia. O mesmo fazem hoje as incontáveis seitas que vão proliferando por esse mundo fora, muitas vezes sem pejo de utilizarem e manipularem o Livro Sagrado para justificar opiniões e interesses.
Num contexto histórico conhecido, a Igreja Católica durante séculos, preocupada em defender a fé tradicional do povo, ameaçada por uma livre interpretação bíblica, deu prioridade, na sua acção, à catequese das crianças, apoiando-a no testemunho activo da família, primeiro espaço de transmissão e expressão da fé. A Bíblia, suporte doutrinário do catecismo, foi um Livro usado sobretudo pelo clero, a quem competia ensinar as verdades cristãs às crianças e motivar os pais para o seu dever de primeiros educadores da fé dos seus filhos. Muito tempo assim, tempo de mais dada a evolução das mentalidades e da sociedade. Maior preocupação em continuar a defender, sem garantia, a fé dos crentes, e menor em evangelizar e alimentar essa fé, cada vez mais débil. Mesmo nos seminários, o estudo da Escritura foi deficiente, por haver mais preocupação com os problemas exegéticos, que com a riqueza espiritual inesgotável da Palavra Revelada.
Já em pleno século XX a Bíblia, traduzida em português e com notas explicativas, tornou-se mais acessível aos católicos. Os padres capuchinhos tiveram grande mérito neste acordar bíblico com a pregação popular, os grupos paroquiais, as Semanas Bíblicas nacionais, a publicação contínua da Bíblia e a Revista Bíblica. Milhares de pessoas e muitas centenas de paróquias vêm beneficiando desta acção. O Vaticano II fez acerca da Palavra de Deus uma Constituição conciliar ainda pouco conhecida. Dá-se, agora, cada vez mais atenção à leitura espiritual da Bíblia, dita “Lectio Divina”, que leva à participação pessoal de quem escuta ou lê a Palavra. As celebrações litúrgicas, mormente a Eucaristia, dão lugar central à Palavra de Deus e ao ministério de leitor, ajudando a crescer o amor à Bíblia.
Nos últimos tempos faz-se a campanha “ Em cada casa uma Bíblia”. Vê-se, porém, que não chega colocar o Livro nos lares cristãos, se antes ou ao mesmo tempo, não se mete, com cuidado e persistência, no coração dos crentes, o amor à Palavra e a capacidade de a ler e meditar, com fruto espiritual e apostólico.
A preparação do próximo Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus, está acordando a Igreja das suas rotinas, omissões e demoras. Se evangelização, iniciação cristã, formação dos adultos e agentes pastorais são hoje urgências na Igreja, não se dará passo válido sem dar à Bíblia ou à Palavra de Deus o lugar indispensável que lhe compete.


António Marcelino

Bens Culturais das igrejas

Museu Paroquial da Gafanha da Nazaré (clicar na foto para ampliar)


“Não é possível fazer catequese e pastoral, se houver alheamento dos Bens Culturais” e “muitos padres não estão sensibilizados para estas questões” - afirmou esta manhã (19 de Junho) Fátima Eusébio, Directora do Departamento dos Bens Culturais da diocese de Viseu, no Conselho Nacional para os Bens Culturais da Igreja.
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Não me espanta esta afirmação. Sei que é assim, por experiência própria. Há padres sobrecarregados com trabalho em diversas funções, paroquiais e outras, e sem tempo para mais. Outros há sem sensibilidade para a arte e para a cultura… como em qualquer actividade humana.
Há anos, ao visitar uma igreja romana, senti, como habitual, vontade de conhecer histórias do templo, com alterações de várias épocas e estilos. Dirigi-me à sacristia, no final da missa, e o padre, de pronto, muito simpático, atirou-me logo: Disso não percebo nada; o sacristão sabe mais do que eu. E foi o sacristão quem me elucidou, com agrado meu, porque sabia mesmo umas coisas interessantes.
Esta denúncia de Fátima Eusébio não pode cair no esquecimento. É preciso mesmo motivar os agentes de pastoral, padres, diáconos e leigos, para a arte sacra.
Há tempos, li que houve obras em igrejas pagas com peças de arte sacra. Fiquei, naturalmente, triste com estes desmandos praticados por padres. A ser verdade, há que responsabilizar quem os fez. Mais uma razão para se educar para o valor, artístico e outro, das peças que estão a enriquecer os nossos templos ou os nossos museus paroquiais.

FM

Diário de Aveiro celebra aniversário



O Diário de Aveiro celebra hoje 23 anos de vida. Foram 23 anos de vida cheia, sempre ao serviço de Aveiro e sua região. Não há acontecimento que não tenha a presença dos seus jornalistas e que não ocupe lugar certo nas suas páginas.
Por força do jornalismo que também exerci, fui testemunha, inúmeras vezes, do seu esforço para dignificar a região e para valorizar as pessoas nos seus misteres quotidianos. Por isso, os meus parabéns a quem dirige o Diário de Aveiro e a quantos nele trabalham.

Dia da Igreja Diocesana: 29 de Junho

Santuário de Santa Maria de Vagos

Da Mensagem do Bispo de Aveiro
"Convido e convoco toda a Diocese: presbíteros, diáconos, seminaristas, consagrados(as) e leigos(as) para, no próximo dia 29 de Junho, celebrarmos no Santuário de Santa Maria de Vagos, o Dia da Igreja Diocesana.
Vamos aí sentir a alegria da nossa fé, fortalecer a comunhão da Igreja diocesana e celebrar a Eucaristia, sacramento da caridade e “dom de Deus para a vida do mundo”.
Vamos reencontrar e unir no Dia da Igreja Diocesana todos os dias do Ano Pastoral já vividos, afirmar passos já dados, avaliar o caminho percorrido e delinear o novo ano pastoral que daqui se anuncia.
Vamos saudar e agradecer quantos na vida sacerdotal, consagrada ou matrimonial celebram durante este ano momentos jubilares marcantes.
Alegra-me convidar de forma especial e acolher com particular dedicação todos aqueles para quem este ano pastoral significou uma etapa nova ou marcou um modo diferente de ser Igreja ou de viver em Igreja: os sacerdotes recebidos na Diocese, as irmãs religiosas aqui regressadas ou recém-chegadas às suas Comunidades, os que iniciaram a sua caminhada no Seminário ou no Pré-Seminário, os novos diocesanos, as famílias que celebraram o seu matrimónio ou o baptismo dos seus filhos, as crianças que pela primeira vez receberam a Eucaristia e os jovens e adultos crismados ao longo do ano.
Tem profundo significado sentir a presença dos grupos de acção sociocaritativa das diferentes Comunidades."

Pode ler toda a Mensagem de D. António Francisco

quarta-feira, 18 de junho de 2008

NA LINHA DA UTOPIA

O labirinto europeu
1. Queremos uma Europa dos cidadãos, mas quando estes se manifestam livremente, ainda que a sua opinião solicitada não vá ao encontro da vontade das lideranças, nesse momento, já preferimos a Europa das instituições. Se os cidadãos não participam, há queixas justificadas pelo alheamento das pessoas do processo europeu; quando participam corre-se o risco a que a quase totalidade dos estados-membros procurou fugir evitando o referendo; quando participam efectivamente, quase que não se quer democracia nessa participação, pois o caso do não irlandês, e particularmente das sucessivas reacções, deixa transparecer claramente que de deseja que a vontade dos cidadãos pouco valha para os líderes europeus. A encruzilhada do labirinto. 2. Não é fácil descortinar os caminhos de saída deste labirinto, em que se respeite efectivamente a opinião dos cidadãos, pois se esta não é acolhida como parte integrante todos os cenários fazem crescer o alheamento e a insignificância da participação. Para os líderes, os cidadãos parecem ser um problema, pois estes não seguem cegamente o caminho trilhado pelos acordos parlamentares. É certo que muitos desses cidadãos que votam não até podem viver de subsídios europeus, e que para votar é preciso muita formação e consciência comunitária. Mas, ainda que toque a subjectividade indescortinável, a noção da Europa de Valores parece hoje uma utopia longínqua que faz de Bruxelas já uma capital fugidia que pouco une e que, no dia-a-dia se manifesta mais pelo Banco Central Europeu nos anúncios das taxas de juro ou nas greves do que numa consciência da riqueza das identidades e culturas que habitam a Europa agora alargada. 3. A hora é de pausa e de reflexão. E imagine-se se em todos os estados-membros se tivesse realizado o referendo sobre a ratificação do Tratado de Lisboa. Talvez a festa se tenha comemorado antes do “jogo” começar. E quanto mais as lideranças procuram nestes tratados a afirmação da «carreira política pessoal», como afirmou peremptoriamente o primeiro-ministro de Portugal, mais os cidadãos se sentem usados no seu voto e mais repelente criam em relação às lideranças. Estas foram-se, progressivamente, distanciando das bases e dos problemas reais das populações. É, naturalmente, muito difícil manter a liderança do geral atendendo a todas as situações particulares. Mas neste caso a Europa tem feito história, todavia, tendo-lhe faltado nos últimos tempos a prudência que brota da sabedoria. Esta não vem da tecnologia mas da arte de prever todas as possibilidades em questão. 4. Neste contexto parece haver algo de ingénuo (sinal de pragmatismo não sábio?) neste processo, pois nele não se prevê como lidar com o não. O não irlandês está aí, como um sinal inquietante, numa caminhada europeia que é irreversível mas que tem de respeitar a opinião dos cidadãos. Como foi possível tanta festa antes do tempo, sem ouvir os cidadãos e sem um «plano B» como previsão sábia de todas as possibilidades? Quanto mais depressa mais devagar? Em frente, na convergência, pelo aprofundamento plural dos Valores dos povos Europeus. Quem agora tomará a dianteira?
Alexandre Cruz