sábado, 21 de abril de 2007

Um artigo de Laurinda Alves, no CV


UM CORAÇÃO LIMPO


Todos somos peritos em arranjar desculpas ou “boas razões” para fugir a algumas questões. Acontece no dia-a-dia, por tudo e por nada, mas acontece especialmente quando estas questões mexem connosco a um nível mais profundo e, porventura, mais difícil.Ficar demasiado exposto ou com a sensação de vulnerabilidade não é confortável para ninguém. Daí a sensação recorrente de passar ao lado de certas questões. Ou, como se costuma dizer, de assobiar para o ar, de enfiar a cabeça na areia ou de varrer as coisas para debaixo do tapete.
O ritmo a que corre a vida e a vertigem dos dias não favorecem em nada uma atitude mais introspectiva ou reflexiva, mas, no entanto, todos reconhecemos que precisamos de momentos para parar, reflectir e tomar decisões.
Como a vida não se compadece com este tipo de necessidades, temos de ser nós próprios a tomar consciência de que sabemos mais do que percebemos.
Ou seja, temos acessso a tanta informação, vivemos tantas experiências, conhecemos tantas pessoas e somos tão solicitados para tantas coisas tão diferentes, que raramente temos tempo para processar tudo isto. E quando falo em processar, falo em perceber, mas, acima de tudo, em separar o essencial do acessório. Ou, voltando à linguagem metafórica, em separar o trigo do joio.
Saber mais do que aquilo que se percebe é uma das grandes armadilhas modernas. Acontece-nos sem darmos por isso e, pior, acontece desde muito cedo. Hoje em dia as crianças e os adolescentes também já sabem muito mais do que percebem e é justamente por verem e ouvirem falar de tanta coisa que têm a ilusão de que sabem tudo. Na verdade uns sabem de mais enquanto que outros percebem de menos.
Voltando às questões essenciais, que tantas vezes ignoramos ou substituímos por outras mais acessórias, vale a pena tomar consciência de que temos a tentação recorrente de arranjar desculpas (as chamadas “boas razões”) para adiar certas coisas.
Importa perceber que, a partir de uma dada altura, não podemos adiar mais. Não se trata de precipitar as questões mas sim de as enfrentar. De olhar para elas e dar passos, lidar com elas. De fazer qualquer coisa de concreto que nos permita ir mais longe.Nesta linha de pensamento, a atitude mais correcta passa por perceber a hora certa para assumir as coisas que andamos sempre a adiar. E não as adiar mais.
Outra grande armadilha que temos em nós é o argumento das “boas razões”. Quantas vezes arranjamos “boas razões” para fazer isto e deixar de fazer aquilo quando, no fundo, sabemos que as nossas intenções são ambíguas ou estão distorcidas? E, aqui entre nós que ninguém nos ouve, quantas vezes não são mesmo mesquinhas?
A trapalhice interior e a falta de clareza nas intenções transparecem fatalmente na nossa atitude e, daí também, a necessidade de clarificar e purificar.
Neste sentido, por tudo aquilo que fica dito e, especialmente, por aquilo que guardamos em nós e pertence à esfera do inconfessável, vale a pena pedir nesta Páscoa um coração limpo. Ou melhor, apostar em purificar o coração e em clarificar as intenções para deixarmos de ter a sensação de “dar a volta ao texto”.

Ares da Primavera


CASA DE CHÁ
NO PARQUE INFANTE D. PEDRO
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Para recordar, hoje ofereço a antiga Casa de Chá do Parque Infante D. Pedro, bem enquadrada pelo arvoredo.
Na minha infância e juventude, era uma casa mágica, quase sempre fechada. Por ali passávamos nas horas de folga ou de "feriados" na Escola. Não havia Fórum nem grandes Centros Comerciais(Nem sonhados, na altura), com todas as suas solicitações. O parque era, de facto, um ponto de encontro das pessoas, que por ali cirandavam à procura de sombras, no Verão, ou a ver o lago com os seus cisnes. Andávamos de barcos a remos e conversávamos imenso, porque não havia nada que comprar. Bons tempos.

Assistência religiosa nos hospitais


NOVOS DIREITOS DOS DOENTES


O Ministério da Saúde solicitou à Comissão de Liberdade Religiosa (CLR) um projecto de um novo diploma que regulamenta o funcionamento dos serviços de assistência espiritual e religiosa hospitalar. A CLR já enviou esse parecer ao Ministério da Saúde. O Pe. José Nuno Ferreira, coordenador nacional das Capelanias Hospitalares, disse à Agência ECCLESIA que felicita a CLR pelo documento e "por verificar que se encontrou espaço para dar atenção a uma matéria tão sensível e fundamental para as pessoas que encontram doentes".
No parecer, a CLR recomenda que a assistência religiosa nos hospitais seja um direito fundamental dos doentes. A Comissão reitera também que os doentes devem ser informados desse direito.
O coordenador nacional refere um ponto que não é muito realista no funcionamento das instituições hospitalares. "A questão da inquirição à entrada do internamento". E adianta: "não é o momento oportuno para perguntar à pessoa se quer ser assistida religiosamente".
O Pe. José Nuno não concorda também que a assistência religiosa seja remetida para o período fora do tempo das visitas. "Em muitos hospitais, as visitas vão das 11 às 21 horas" - disse. E avança: "Não é muito realista".
A comissão, presidida pelo ex-Provedor de Justiça Menéres Pimentel, integra representantes de várias confissões religiosas radicadas em Portugal.
O Ministério da Saúde remeteu recentemente para a CLR um projecto de regulamentação da assistência religiosa hospitalar, tendo a comissão enviado esta semana um parecer com várias recomendações e propostas de alteração.
Além da oferta diferenciada, a CLR defende que o diploma do Ministério da Saúde contemple diversos direitos do doente, nomeadamente de obtenção de assistência religiosa "em tempo razoável" e "mesmo sem pedido expresso, desde que objectivamente se presuma ser esta a vontade do doente".
A comissão considera também que os hospitais devem assegurar, "quando necessário", o transporte dentro da unidade aos doentes que queiram praticar actos de culto, "salvo razões clínicas expressamente prescritas".
A CLR defende ainda o "direito a condições de intimidade e recolhimento na assistência espiritual e religiosa", e de posse pelos doentes de publicações e objectos pessoais de culto, "desde que não comprometam a funcionalidade do espaço de internamento, a ordem hospitalar, o bem-estar e o repouso dos demais internados".
No próximo dia 24 de Abril, em Fátima, haverá uma reunião da Coordenação Nacional das Capelanias Hospitalares.
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Fonte: Ecclesia

LIMBO

Igreja Católica
elimina o limbo para crianças
que morrem por baptizar
A Igreja Católica eliminou o limbo, onde a tradição católica colocava as crianças que morriam sem receber o baptismo, considerando que aquele reflectia "uma visão excessivamente restritiva da salvação". Num documento publicado hoje, a Comissão Teológica Internacional, que depende da Congregação para a Doutrina da Fé, declara-se convencida de que existem "sérias razões teológicas para crer que as crianças não baptizadas que morrem se salvarão e desfrutarão da visão de Deus". Esta comissão estudava o tema do limbo desde 2004 e a publicação do documento foi autorizada pelo Papa Bento XVI.
O limbo nunca foi considerado um dogma da Igreja e não é mencionado no Catecismo.
Em 1984, quando o actual Papa era perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé, já tinha afirmado que o limbo era "só" uma "hipótese teológica" e o que o melhor era não o ter em conta.
O documento, por ora, foi publicado em inglês e sairá depois noutras línguas, confirmou um membro da comissão, precisando que a Igreja continuará a considerar o baptismo como o caminho para a salvação mas, nestes casos, a misericórdia de Deus é maior do que o pecado.
A mesma fonte acrescentou que os factores analisados oferecem suficiente base teológica e litúrgica para acreditar que as crianças que morrem sem ser baptizadas "se salvarão e gozarão da visão beatífica".
Segundo o publicado pela Comissão, o documento de 41 páginas considera que Deus é misericordioso" e quer que todos os seres humanos se salvem"."A graça tem prioridade sobre o pecado e a exclusão de crianças inocentes do céu não parece reflectir o amor especial de Cristo pelos mais pequenos", sublinha o texto.
O documento intitula-se "A esperança de salvação para as crianças que morrem sem ser baptizadas" e, segundo a Comissão, o limbo representava um "problema pastoral urgente, já que cada vez são mais as crianças nascidas de pais não católicos e que não são baptizados e também "outros que não nasceram ao serem vítimas de abortos".
O texto recorda que no século V Santo Agostinho dizia que as crianças mortas sem o baptismo iam para o inferno e, a partir do século XIII, começou a falar-se do "limbo" como "esse lugar onde as crianças não baptizadas estariam privadas da visão de Deus mas não sofreriam, já que não o conheciam".
A Comissão Teológica Internacional precisou no texto que durante séculos os papas procuraram não definir o limbo como tema doutrinal e deixaram o tema em "aberto". Fonte: “PÚBLICO on-line”

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Um poema de António Correia de Oliveira





PELA PÁTRIA


Ouve, meu filho: cheio de carinho,
Ama as Árvores, ama. E, se puderes,
(E poderás: tu podes quanto queres!)
Vai-as plantando à beira do caminho.

Hoje uma, outra amanhã, devagarinho.
Serão em fruto e em flor, quando cresceres.
Façam os outros como tu fizeres:
Aves de Abril que vão compondo o ninho.

Torne fecunda e bela, cada qual,
A terra em que nascer: e Portugal
Será fecundo e belo, e o mundo inteiro.

Fortes e unidos, trabalhai assim…
- A Pátria não é mais do que um jardim
Onde nós todos temos um canteiro.

In “A Alma das Árvores”

Ares da Primavera


JÁ PLANTOU UMA ÁRVORE?
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Estamos, como se sabe, na Primavera. Tempo de plantações e de renascimento das plantas.
Se ainda não plantou uma árvore, ainda está a tempo de o fazer. Preferencialmente num quintal. Se não o tiver, faça-o em casa. Há plantas e até árvores para todos os sítios. Adopte, pois, uma planta ou uma árvore.
Depois de a plantar, cuide dela como quem cuida de um filho. Sobretudo quando ele ensaia os primeiros passos. Visita a planta, ou árvore, todos os dias. Esteja atento às suas necessidades. Olhe que ela pode adoecer e é preciso tratá-la com todo o carinho. Se não souber, pergunte a quem saiba.

Um artigo de D. António Marcelino


RESPEITO PELA NATUREZA
E PELAS PESSOAS


Soube há dias, pelas agências no-ticiosas, da morte de John Billings, o pai do método natural da regulação da fertilidade, conhecido como “método da ovulação pela observação do mucos cervical”. Conheci o inves-tigador australiano, em 1980, no Sínodo dos Bispos sobre a família, em que participou, a convite de João Paulo II, juntamente com Evellyn, sua esposa e companheira na investigação e na concretização do método.
Durante mais de 25 anos, o casal Billings investigou pacientemente até ao aperfeiçoamento, que só depois divulgou, um método que respeita por completo as leis da natureza, devidamente provado e cientificamente credenciado. A ele se associaram depois cientistas de todo o mundo. Por estranho que pareça, encontrei ao longo da minha vida já vivida, médicos e enfermeiros que orientam o planeamento familiar em centros de saúde públicos, desconhecendo este avanço da ciência, que comporta, para além dos efeitos desejados, um total respeito pela natureza da mulher.
Trata-se de um verdadeiro método ecológico, é bem dizê-lo, num tempo em que parecem valer mais os pássaros e as cegonhas que as pessoas.
Quem não anda distraído, nem distante, de coisas importantes da vida sabe, perfeitamente, que o problema grave do planeamento familiar está longe de resolvido, com a seriedade que um tal problema merece. Assim, quer pelos efeitos pretendidos de um processo imediato, quer pelas diversas consequências que por vezes surgem a afectar a saúde e a vida da mulher.
A situação é mais grave e preocupante em relação a diversos químicos, mas não é também inócua quando se trata de alguns meios mecânicos.
A máquina maquiavélica e poderosa das multinacionais, produtoras de produtos orientados para impedir a fertilidade, e a luta desenfreada de interesses entre as mesmas, tem levado a que muitos dos directamente inseridos no processo, como informadores e decisores, se instalem apenas naquilo que as mesmas empresas comunicam e propõem, de mistura com benesses que não se podem perder. Assim é mais fácil e mais rentável.
Os métodos naturais foram por isso, progressivamente, depreciados e calados, mesmo por aqueles que, por dever de ofício e por honestidade profissional, os deviam conhecer bem para os poderem propor, de modo esclarecido, à decisão livre de quem procura, legitimamente, informação e orientação para regular e planear os filhos que deseja. Não se trata apenas, dado que se sonega informação a que se tem direito, de um situação injusta, frente aos utentes de um serviço público. Trata-se, também, de ver, de modo superficial e pouco honesto, um problema grave que requer uma informação correcta e uma educação acompanhada.
O pouco cuidado em todo este processo, é lamentável e tem feito diminuir, vertiginosamente, a natalidade e criado um desequilíbrio perigoso entre a prática sexual e a dimensão positiva e responsável da mesma.
A quem pode interessar esta situação? É bom que se interroguem sobre o problema e a realidade os médicos, os informadores sexuais, as associações de planeamento e os cada vez mais numerosos abortistas, por um tempo ufanos e vitoriosos em batalhas, onde a vida, as pessoas, a sociedade e o respeito pelas leis da natureza contam cada vez menos.
Ainda sou dos que acreditam que o mérito da investigação, longa e séria, de John Billings e de sua esposa continuarão a contar para os casais que reagem aos mais fácil e são fieis às opções em que natureza é respeitada e as suas leis acolhidas, de modo sempre mais agradecido.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

São Jacinto antigo

São Jacinto antigo: foto cedida por Ângelo Ribau


RECORDAR É VIVER
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Ver ou rever uma fotografia antiga pode servir para reviver pessoas, terras ou acontecimentos.
Para mim, e para muitos, certamente, é coisa sempre agradável. Acontece, como hoje, que esta foto pouco me diz. Não conheço ninguém, mas o ambiente diz-me algo, que não sei definir. Quem me poderá ajudar? Aqui fica o desafio.

Os livros

Ler é viver duas vezes
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São infinitos os louvores aos livros. Alguns chegam mesmo a preferi-los às pessoas: “A companhia dos livros dispensa com grande vantagem a dos homens” (Carlyle Thomas). Não chego a tanto. Não há livros sem pessoas. Penso antes como o filósofo Descartes, que dizia: “A leitura de todos os bons livros é uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados”. E presentes – acrescento. Ou então como o “nosso” padre António Vieira, que escreveu que “o livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive”.
Aproxima-se o Dia Mundial do Livro, 23 de Abril – a oportunidade para mais uns rituais de louvor à leitura e à literatura. Um pouco por todo o lado programam-se acções. A melhor de todas é a que qualquer pessoa pode levar a cabo em quase todas as circunstâncias: pegar num bom livro (há tantos e tão bons que não adianta insistir na leitura de um livro que não agrade!) e ler. Se precisa de algum incentivo, aqui fica um: “Ler é viver duas vezes”. E mais esta pergunta, adaptada de um painel publicitário de uma grande cidade: “É este o único ser que em sua casa devora livros?” No cartaz via-se uma traça enorme.
J.P.F.
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In Correio do Vouga

Prémio para Mia Couto




MIA COUTO PREMIOU
TODA A LÍNGUA PORTUGUESA


O escritor moçambicano Mia Couto ganhou ontem o Prémio União Latina de Literaturas Românicas, que abrange um universo de 37 países. Foi o primeiro escritor africano a receber este galardão.
Mia Couto é um ficcionista de rara e original sensibilidade, reconhecido e traduzido em muitos países. É especialista em vencer a barreira da linguística tradicional do Português, ao criar, em tantas páginas dos seus livros, novas palavras, numa mistura, se assim podemos dizer, da Língua de Camões com dialectos africanos, em especial moçambicanos.
Ao receber este prémio, Mia Couto premiou, também, toda a pátria da Língua Portuguesa, ao torná-la ainda mais conhecida e quiçá mais procurada pelos amantes da literatura e do pensamento de expressão portuguesa, que abrange um pouco de todo o mundo.
No seu discurso proferido ontem em Roma, o escritor moçambicano sublinha, como li no PÚBLICO, que, “a par de línguas de raiz africana, a língua portuguesa é uma das ferramentas de fabricação da identidade nacional e de construção da modernidade em Moçambique”. Diz, ainda, que “os moçambicanos estão reinventando a língua portuguesa, ao mesmo tempo que ela os está inventando como corpo colectivo, como sujeitos de uma cultura apta para o afecto e para as negociações com a modernidade”.

Pontificado de Bento XVI


Balanço de dois anos
de Pontificado
por Guilherme d'Oliveira Martins


Guilherme d’Oliveira Martins destaca sinais de esperança “muito signi-ficativos”, no pontificado de Bento XVI. A Encíclica “Deus é Amor” constituiu “talvez o momento mais forte até à data deste pontificado”, sublinha o Presidente do Tribunal de Contas.
“É um texto com muitas virtudes, designadamente no que se refere à compreensão dos sinais dos tempos, à exigência ligada às responsabilidades sociais de todos no mundo contemporâneo e a uma espiritualidade aberta e respeitadora das diferenças”, afirma, referindo o que a Encíclica tem de “extraordinariamente importante e também de inesperado”.
O balanço a fazer dos dois anos de pontificado de Bento XVI “terá de ser provisório, sobretudo porque existem, neste momento, desafios muito exigentes perante os quais se encontra a Igreja e o pontificado”, em especial nos domínios do magistério da paz, da justiça e do diálogo entre as religiões, “domínios que este Papa tem manifestado um especial interesse e empenho”.
As diferenças, comparativamente com o pontificado de João Paulo II, são muito significativas, porque são figuras muito diferentes, segundo Guilherme d’Oliveira Martins porque “Bento XVI é um universitário, foi-o durante toda a sua vida e João Paulo II teve uma experiência académica muito rica no entanto foi sempre um pastor”.
O actual Papa tem-se centrado em diversas ocasiões “nos elementos que tocam à compreensão da cultura contemporânea como cultura da dignidade da pessoa humana contra a lógica de cultura de indiferença, de esquecimento e de ausência de memória”. O desafio que Bento XVI terá pela frente, na opinião do Presidente do Tribunal de Contas está “na complementaridade que tem de ficar mais clara, entre o sentido pastoral e sentido do ensinamento e da reflexão e razão”.
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Fonte: Ecclesia

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Ares da Primavera



FIGUEIRA DA FOZ:
CENTRO DE ARTES E ESPECTÁCULOS
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Na Figueira da Foz, o Centro de Artes e Espectáculos é um oásis de paz e de cultura. No centro do edifício, há um jardim interior, que mostro aqui num simples recanto, ladeado por um claustro onde dá gosto dar uma voltas. Na recepção, à entrada, podemos colher as mais variadas informações sobre os espectáculos da semana ou do mês. Normalmente, são espectáculos de qualidade.
Mas há mais para oferecer. Exposições, livraria, jornais e revistas, bar, espaço para crianças, esplanadas, sempre com gosto e arte. A envolver tudo isto, temos o Parque das Abadias, verdejante e arborizado, e ao lado, a Biblioteca e o Museu Santos Rocha. Se puder, passe por lá.

Eduardo Prado Coelho voltou ao PÚBLICO

QUE SEJA BEM-VINDO
E COM SAÚDE
Depois de um período de doença, que o afastou do convívio dos seus leitores, no PÚBLICO, com a sua rubrica “O Fio do Horizonte”, Eduardo Prado Coelho voltou ontem. Independentemente de comungarmos ou não das suas ideias, em minha opinião, as suas crónicas valem pela oportunidade, pela acutilância e pela coragem de dizer o que pensa sobre os mais diversificados assuntos do dia-a-dia. Por isso, é sempre com curiosidade e interesse que o leio nas páginas do PÚBLICO ou noutros espaços onde faz crítica literária. Aqui, onde é, há largos anos, um divulgador do muito bom que se escreve entre nós, e não só, mas também onde critica, sem dó nem piedade, o mau que se vai editando, Eduardo Prado Coelho consegue alertar-nos para excelentes leituras. Ontem, no PÚBLICO, revela o seu descontentamento e surpresa pelas entrevistas feitas por Judite de Sousa ao cantor Tony Carreira e ao político Valentim Loureiro. E acrescenta, com sentido crítico apurado: “Com tanta gente da ciência, da tecnologia, da cultura ou do espectáculo que valeria a pena ouvir, é lamentável que coisas como estas estejam a acontecer no que se define como serviço público.” Que seja bem-vindo e com saúde, são os meus votos. F.M.

Reler os clássicos


EÇA DE QUEIROZ
É DE TODOS OS TEMPOS

Numa curta notícia do PÚBLICO de ontem fiquei a saber que o romance OS MAIAS, de Eça de Queiroz, vai ser traduzido e publicado pela primeira vez nos Estados Unidos, devendo ser posto à venda no dia 30 de Julho.
Ao dar o seu apoio a esta tradução e edição, o crítico literário norte-americano Harol Bloom considera OS MAIAS como “um dos mais notáveis romances europeus do século XIX, comparável, na sua totalidade, às melhores obras dos grandes mestres russos, franceses, italianos e ingleses da prosa de ficção”.
O mesmo crítico sublinha que a obra “revela a decadência de Portugal, no seu longo declínio, que iria culminar no regime fascista de Salazar do século XX”.
O importante desta notícia, para os portugueses do nosso tempo e para outros povos, também está, como creio, na necessidade que há de reler os nossos clássicos, que são, sem dúvida alguma, uma das principais fontes da forma do viver e pensar dos nossos antepassados.
A vida do povo e o retrato das sociedades de antanho estão mais nos romances do que nos livros de história. Com esta verdade, quem quiser saber mais dos nossos avós tem de ler os livros dos nossos clássicos. Afinal, Eça de Queiroz é de todos os tempos. Por isso, até os norte-americanos vão gostar de o ler.
F. M.

Um artigo de António Rego

LANÇAR ÀS FERAS
Dentro de casa, com os amigos, a meia voz, com preâmbulo harmónico, diz-se quase tudo acerca de todos. Até se pensa, por vezes, que é legítimo ou até pedagógico destroçar o vizinho. E há quem julgue que é higiénico e terapêutico criticar, dizer mal, acrescentar uns pós para tornar a narrativa interessante, começar por declarar que “é uma conversa aqui entre nós”. E aí vai o mundo duma ponta à outra numa mordacidade venenosa onde ganha legitimidade a parábola, a hipérbole, a maledicência pura, o escárnio, a humilhação, a mentira, a calúnia. Tudo parece legitimado pela grossura das paredes e pela confiança imensa que se deposita no interlocutor que vai repetir o esquema parcial ou totalmente. E assim sucessivamente. Chegado ao estertor do maldizer expira-se um alívio com ar de quem apenas, inocentemente, desabafou sem prejudicar ninguém, nem colocar na praça pública a mais pequena mácula acerca de quem quer que seja. A tecnologia não alterou este estado de espírito. Ampliou, amplificou, multiplicou, fez alastrar a superfície do privado, espalhou, como vento rodopiante, as penas leves duma ave imaginária que era o bom nome de alguém que, mesmo não sendo perfeito, nem por isso perdeu direito à dignidade. Se se trata de personalidade em palco ou no pelourinho da aldeia, parece que a crueldade redobra numa espécie de sadismo verbal. Explode a condenação, acende-se a fogueira, lança-se o réprobo, sem direito a honra, história, família ou afecto. Como se fora um manequim descarnado e insensível. Com culpa, meia culpa, ou culpa nenhuma. Tudo isto parece um jogo mas não é. Lançada no enriço dos media, a crueldade multiplica-se por quantos exemplares se imprimem e por outros tantos ouvintes ou espectadores, ou inter-nautas do grande circo mediático. Porque – outra agravante – passa a ser puro objecto de divertimento. Como nos coliseus e anfiteatros onde o ranger de dentes das feras a trucidar pessoas era apenas uma diversão do povo. É um regresso ao paganismo. Onde aos cristãos se pergunta em que se distinguem dos outros nos juízos cruéis que aplicam a inocentes ou culpados. Ou como deixam cair a túnica branca para se banquetearem com o sangue da dignidade dos outros.