quinta-feira, 19 de abril de 2007

Os livros

Ler é viver duas vezes
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São infinitos os louvores aos livros. Alguns chegam mesmo a preferi-los às pessoas: “A companhia dos livros dispensa com grande vantagem a dos homens” (Carlyle Thomas). Não chego a tanto. Não há livros sem pessoas. Penso antes como o filósofo Descartes, que dizia: “A leitura de todos os bons livros é uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados”. E presentes – acrescento. Ou então como o “nosso” padre António Vieira, que escreveu que “o livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive”.
Aproxima-se o Dia Mundial do Livro, 23 de Abril – a oportunidade para mais uns rituais de louvor à leitura e à literatura. Um pouco por todo o lado programam-se acções. A melhor de todas é a que qualquer pessoa pode levar a cabo em quase todas as circunstâncias: pegar num bom livro (há tantos e tão bons que não adianta insistir na leitura de um livro que não agrade!) e ler. Se precisa de algum incentivo, aqui fica um: “Ler é viver duas vezes”. E mais esta pergunta, adaptada de um painel publicitário de uma grande cidade: “É este o único ser que em sua casa devora livros?” No cartaz via-se uma traça enorme.
J.P.F.
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In Correio do Vouga

Prémio para Mia Couto




MIA COUTO PREMIOU
TODA A LÍNGUA PORTUGUESA


O escritor moçambicano Mia Couto ganhou ontem o Prémio União Latina de Literaturas Românicas, que abrange um universo de 37 países. Foi o primeiro escritor africano a receber este galardão.
Mia Couto é um ficcionista de rara e original sensibilidade, reconhecido e traduzido em muitos países. É especialista em vencer a barreira da linguística tradicional do Português, ao criar, em tantas páginas dos seus livros, novas palavras, numa mistura, se assim podemos dizer, da Língua de Camões com dialectos africanos, em especial moçambicanos.
Ao receber este prémio, Mia Couto premiou, também, toda a pátria da Língua Portuguesa, ao torná-la ainda mais conhecida e quiçá mais procurada pelos amantes da literatura e do pensamento de expressão portuguesa, que abrange um pouco de todo o mundo.
No seu discurso proferido ontem em Roma, o escritor moçambicano sublinha, como li no PÚBLICO, que, “a par de línguas de raiz africana, a língua portuguesa é uma das ferramentas de fabricação da identidade nacional e de construção da modernidade em Moçambique”. Diz, ainda, que “os moçambicanos estão reinventando a língua portuguesa, ao mesmo tempo que ela os está inventando como corpo colectivo, como sujeitos de uma cultura apta para o afecto e para as negociações com a modernidade”.

Pontificado de Bento XVI


Balanço de dois anos
de Pontificado
por Guilherme d'Oliveira Martins


Guilherme d’Oliveira Martins destaca sinais de esperança “muito signi-ficativos”, no pontificado de Bento XVI. A Encíclica “Deus é Amor” constituiu “talvez o momento mais forte até à data deste pontificado”, sublinha o Presidente do Tribunal de Contas.
“É um texto com muitas virtudes, designadamente no que se refere à compreensão dos sinais dos tempos, à exigência ligada às responsabilidades sociais de todos no mundo contemporâneo e a uma espiritualidade aberta e respeitadora das diferenças”, afirma, referindo o que a Encíclica tem de “extraordinariamente importante e também de inesperado”.
O balanço a fazer dos dois anos de pontificado de Bento XVI “terá de ser provisório, sobretudo porque existem, neste momento, desafios muito exigentes perante os quais se encontra a Igreja e o pontificado”, em especial nos domínios do magistério da paz, da justiça e do diálogo entre as religiões, “domínios que este Papa tem manifestado um especial interesse e empenho”.
As diferenças, comparativamente com o pontificado de João Paulo II, são muito significativas, porque são figuras muito diferentes, segundo Guilherme d’Oliveira Martins porque “Bento XVI é um universitário, foi-o durante toda a sua vida e João Paulo II teve uma experiência académica muito rica no entanto foi sempre um pastor”.
O actual Papa tem-se centrado em diversas ocasiões “nos elementos que tocam à compreensão da cultura contemporânea como cultura da dignidade da pessoa humana contra a lógica de cultura de indiferença, de esquecimento e de ausência de memória”. O desafio que Bento XVI terá pela frente, na opinião do Presidente do Tribunal de Contas está “na complementaridade que tem de ficar mais clara, entre o sentido pastoral e sentido do ensinamento e da reflexão e razão”.
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Fonte: Ecclesia

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Ares da Primavera



FIGUEIRA DA FOZ:
CENTRO DE ARTES E ESPECTÁCULOS
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Na Figueira da Foz, o Centro de Artes e Espectáculos é um oásis de paz e de cultura. No centro do edifício, há um jardim interior, que mostro aqui num simples recanto, ladeado por um claustro onde dá gosto dar uma voltas. Na recepção, à entrada, podemos colher as mais variadas informações sobre os espectáculos da semana ou do mês. Normalmente, são espectáculos de qualidade.
Mas há mais para oferecer. Exposições, livraria, jornais e revistas, bar, espaço para crianças, esplanadas, sempre com gosto e arte. A envolver tudo isto, temos o Parque das Abadias, verdejante e arborizado, e ao lado, a Biblioteca e o Museu Santos Rocha. Se puder, passe por lá.

Eduardo Prado Coelho voltou ao PÚBLICO

QUE SEJA BEM-VINDO
E COM SAÚDE
Depois de um período de doença, que o afastou do convívio dos seus leitores, no PÚBLICO, com a sua rubrica “O Fio do Horizonte”, Eduardo Prado Coelho voltou ontem. Independentemente de comungarmos ou não das suas ideias, em minha opinião, as suas crónicas valem pela oportunidade, pela acutilância e pela coragem de dizer o que pensa sobre os mais diversificados assuntos do dia-a-dia. Por isso, é sempre com curiosidade e interesse que o leio nas páginas do PÚBLICO ou noutros espaços onde faz crítica literária. Aqui, onde é, há largos anos, um divulgador do muito bom que se escreve entre nós, e não só, mas também onde critica, sem dó nem piedade, o mau que se vai editando, Eduardo Prado Coelho consegue alertar-nos para excelentes leituras. Ontem, no PÚBLICO, revela o seu descontentamento e surpresa pelas entrevistas feitas por Judite de Sousa ao cantor Tony Carreira e ao político Valentim Loureiro. E acrescenta, com sentido crítico apurado: “Com tanta gente da ciência, da tecnologia, da cultura ou do espectáculo que valeria a pena ouvir, é lamentável que coisas como estas estejam a acontecer no que se define como serviço público.” Que seja bem-vindo e com saúde, são os meus votos. F.M.

Reler os clássicos


EÇA DE QUEIROZ
É DE TODOS OS TEMPOS

Numa curta notícia do PÚBLICO de ontem fiquei a saber que o romance OS MAIAS, de Eça de Queiroz, vai ser traduzido e publicado pela primeira vez nos Estados Unidos, devendo ser posto à venda no dia 30 de Julho.
Ao dar o seu apoio a esta tradução e edição, o crítico literário norte-americano Harol Bloom considera OS MAIAS como “um dos mais notáveis romances europeus do século XIX, comparável, na sua totalidade, às melhores obras dos grandes mestres russos, franceses, italianos e ingleses da prosa de ficção”.
O mesmo crítico sublinha que a obra “revela a decadência de Portugal, no seu longo declínio, que iria culminar no regime fascista de Salazar do século XX”.
O importante desta notícia, para os portugueses do nosso tempo e para outros povos, também está, como creio, na necessidade que há de reler os nossos clássicos, que são, sem dúvida alguma, uma das principais fontes da forma do viver e pensar dos nossos antepassados.
A vida do povo e o retrato das sociedades de antanho estão mais nos romances do que nos livros de história. Com esta verdade, quem quiser saber mais dos nossos avós tem de ler os livros dos nossos clássicos. Afinal, Eça de Queiroz é de todos os tempos. Por isso, até os norte-americanos vão gostar de o ler.
F. M.

Um artigo de António Rego

LANÇAR ÀS FERAS
Dentro de casa, com os amigos, a meia voz, com preâmbulo harmónico, diz-se quase tudo acerca de todos. Até se pensa, por vezes, que é legítimo ou até pedagógico destroçar o vizinho. E há quem julgue que é higiénico e terapêutico criticar, dizer mal, acrescentar uns pós para tornar a narrativa interessante, começar por declarar que “é uma conversa aqui entre nós”. E aí vai o mundo duma ponta à outra numa mordacidade venenosa onde ganha legitimidade a parábola, a hipérbole, a maledicência pura, o escárnio, a humilhação, a mentira, a calúnia. Tudo parece legitimado pela grossura das paredes e pela confiança imensa que se deposita no interlocutor que vai repetir o esquema parcial ou totalmente. E assim sucessivamente. Chegado ao estertor do maldizer expira-se um alívio com ar de quem apenas, inocentemente, desabafou sem prejudicar ninguém, nem colocar na praça pública a mais pequena mácula acerca de quem quer que seja. A tecnologia não alterou este estado de espírito. Ampliou, amplificou, multiplicou, fez alastrar a superfície do privado, espalhou, como vento rodopiante, as penas leves duma ave imaginária que era o bom nome de alguém que, mesmo não sendo perfeito, nem por isso perdeu direito à dignidade. Se se trata de personalidade em palco ou no pelourinho da aldeia, parece que a crueldade redobra numa espécie de sadismo verbal. Explode a condenação, acende-se a fogueira, lança-se o réprobo, sem direito a honra, história, família ou afecto. Como se fora um manequim descarnado e insensível. Com culpa, meia culpa, ou culpa nenhuma. Tudo isto parece um jogo mas não é. Lançada no enriço dos media, a crueldade multiplica-se por quantos exemplares se imprimem e por outros tantos ouvintes ou espectadores, ou inter-nautas do grande circo mediático. Porque – outra agravante – passa a ser puro objecto de divertimento. Como nos coliseus e anfiteatros onde o ranger de dentes das feras a trucidar pessoas era apenas uma diversão do povo. É um regresso ao paganismo. Onde aos cristãos se pergunta em que se distinguem dos outros nos juízos cruéis que aplicam a inocentes ou culpados. Ou como deixam cair a túnica branca para se banquetearem com o sangue da dignidade dos outros.