domingo, 28 de janeiro de 2007

UM POEMA DE FLORBELA ESPANCA

Tarde no mar
A tarde é de oiro rútilo: esbraseia. O horizonte: um cacto purpurino. E a vaga esbelta que palpita e ondeia, Com uma frágil graça de menino, Pousa o manto de arminho na areia E lá vai, e lá segue o seu destino! E o sol, nas casas brancas que incendeia, Desenha mãos sangrentas de assassino! Que linda tarde aberta sobre o mar! Vai deitando do céu molhos de rosas Que Apolo se entretém a desfolhar... E, sobre mim, em gestos palpitantes, As tuas mãos morenas, milagrosas, São as asas do sol, agonizantes...
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Uma proposta do leitor
José Lima Simões

DEBATE NA RR

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O MUNDO VISTO
A TRÊS DIMENSÕES
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D. José Policarpo, Jorge Sampaio e Pinto Balsemão falaram da globalização, da Europa e do choque de culturas, num novo programa da Rádio Renascensa - O MUNDO VISTO A TRÊS DIMENSÕES. O tema, importante para a compreensão do mundo em que vivemos, foi oportuno e é um bom incentivo para uma boa reflexão neste domingo.
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ABORTO - 16

Um artigo de Rui Machete, no DN
O VOTO SOBRE O ABORTO
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Nos bons velhos tempos dos finais do século XIX, quando a sociologia incipiente dava os seus primeiros passos e em Portugal o romantismo popular ainda não se tinha apagado, dizia-se, a propósito dos comportamentos desviantes das mulheres que abortavam ou que abandonavam os recém-nascidos, que a infeliz era vítima da sociedade. Remetia-se assim a culpa para um ente colectivo vago, a que todos pertenciam, sem que a ninguém individualmente pudesse ser imputada a responsabilidade pelo acto, ao mesmo tempo que se desculpabilizava o agente. Hoje, em que a consciência da liberdade e a autonomia individuais se afirmaram muito mais - pelo menos em termos de dever ser -, já não é credível essa remissão. Mas continua a ser verdade que a ambiência social e económica em que a pessoa se move cria condicionalismos e constrangimentos de vária ordem com impacto nas decisões individuais. Só que é possível fazer uma análise cada vez mais fina das diversas situações.
Vêm estas considerações a propósito do aborto, matéria delicada e controversa, por a opinião que sobre ela se emita concretizar concepções de vida e opções filosóficas próprias de cada um, às vezes sem plena consciência dos seus contornos exactos e das exigências da sua coerência interna.
Tudo isso tem vindo a ser evidenciado, como é sabido, a propósito do debate sobre esta infeliz ideia de voltar a fazer um referendo sobre o aborto. As questões complexas são sempre mal resolvidas através de decisões simplistas de sim ou não, a não ser que se reconduzam apenas à praxis, a decisões políticas a resolver pelo voto.
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UM ARTIGO DE ANSELMO BORGES, NO DN

Contingência e abortamento
Uma vez, uma aluna levantou, num "trabalho", esta pergunta: "Onde estão todos aqueles que poderiam ter sido e não são?" Talvez uma daquelas perguntas inúteis, aparentemente preguiçosas, mas que não deixam de obrigar a pensar.
Afinal, se A, em vez de ter casado com B, tivesse casado com C, não existiriam aqueles filhos que há, mas outros. O encontro de dois seres humanos em ordem à paternidade e maternidade está dependente de tantas variáveis que a possibilidade do aparecimento de um ser humano concreto (este homem ou esta mulher) é tendencialmente nula. Porque a realidade desses dois seres humanos também não estava predeterminada: aconteceu, mas podia não ter acontecido. Mesmo no acto de geração de cada ser humano, há milhões de possibilidades e geralmente só uma se concretiza: há um espermatozóide que corre mais...
É quando pensamos nestes cruzamentos que de facto aconteceram, mas que pura e simplesmente podiam não se ter dado, que tomamos consciência da nossa radical contingência. Da nossa e da da História. Porque se A não tivesse existido, também B não teria podido existir. E, sem B, não existiria C nem D nem E. Faltando E, faltariam F, H, I, J. Estenda-se esta contingência até ao começo do aparecimento dos homens e das mulheres e às possibilidades de encontros e desencontros, multiplicadas indefinidamente, e ver-se-á como se é confrontado com a estupefacção de uma História que narramos como se estivesse pré-escrita algures, mas que poderia ser completamente outra, individual, colectiva e mundialmente.
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TECENDO A VIDA UMAS COISITAS – 8

FIGURAS DO MEU PRESÉPIO
Caríssimo/a: Ao longo do ano vou juntando figuras que aproveito para o meu Presépio. Terminada que está a nossa visita à Escócia, vou fazer essa escolha que curiosamente nos vai oferecer casais que se cruzaram connosco. 1. Assim, será o Casal Marlene e William (Bill, para familiares e amigos) a enriquecer a nossa galeria. E perguntareis:”Mas que tem de especial ou que fizeram de tão importante?” É o casal dito normal: com as suas coisas boas e outras menos bem conseguidas; seremos tentados a notar apenas as últimas (as suas arrelias e discussões, a sua dificuldade em ver “Oh my glasses!”, a sua propensão para adular os netos (qual de nós o não faz?), o seu tipicismo escocês, enfim, tudo aquilo que os fará passar por um casal entre muitos outros sem que ninguém repare neles). Porém, não é de todos que se recebe um filho e eles tiveram a capacidade de o fazer e ainda mais a uma família estrangeira. (Claro que também receberam a troca.) Só por isso ali teriam o seu lugar. Mas eles festejaram, a 26 do corrente, 50 anos de Matrimónio, Bodas de Ouro. E agora, pergunto eu, que mais razões para justificar? O lugar reservado será no jardim da Casa Amarela; ali ficarão bem e poderão continuar a cuidar das plantas e, quando oportuno, sair e dar o seu passeio (Go for a Walk!) e regressar com novas flores. God bless you! 2. Se o celebrar as Bodas de Ouro me leva a curvar respeitosamente e reservar um lugar no meu Presépio, que voltas dar a um Casal que ultrapassou os 80 anos de casados? Escocês também e que a BBC apresentou numa entrevista realizada em sua casa. Ela falava, falava, toda ela era movimento, cor, vida! Os seus olhos aspergiam gotas de felicidade. Ele, sentado, acenava com o corpo e a cabeça. Felizes? Casados há quantos anos? E ela explicava com o verbo, com as mãos…Até que se voltou para o marido: Anda, diz-lhes o segredo da nossa felicidade! Ele falou suavemente, segredou: Oh! I always says: Yes, Darling! Yes, Darling! Ficam bem, além, onde o Céu (um pé…) toca a Terra (e aqui o outro!…) 3. Pois é, as malas já estavam preparadas e surge-me o imprevisto: novo casal a quem me obrigo a reservar um lugar – e este muito especial. Sabereis porquê. O Matthew, Pastor da Igreja Baptista, é casado com a Anne. Tem três filhas. Nem é nada de espantar. Só que, apesar de tudo o que os caracteriza (empenho, dedicação, trabalho, capacidade de acolher e de liderar, humanidade, sorriso sempre aberto e franco, …), estão confrontados com uma pesada Cruz. Ficarão bem naquele cantinho dentro da Gruta junto a S. José, a receber a LUZ vinda do postigo. (Vejam só o Menino a escangalhar-se de riso por ver pela primeira vez um Pastor Protestante no Presépio e logo na Gruta!…) Ali os contemplaremos, sempre e de imediato, e logo seremos confrontados com aquela passagem da Bíblia em que é dito a S. Pedro: Outros te cingirão os rins! Pediremos licença aos Anciãos dessa Igreja e, se nos for permitido, ajudá-los-emos a - dar graças a Deus por todos os Sacerdotes que suscita para a IGREJA DE CRISTO; - pedir ao Espírito Santo que os assista e lhes permita acompanhar S. Paulo que quando “sou fraco, então é que sou forte”. Manuel

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

IMAGENS DE AVEIRO

Canal Central e Mastro do Milenário ::
MASTRO DO MILENÁRIO
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Nesta foto de António Graça, publicada na revista "Aveiro Antigo", edição da Câmara Municipal de Aveiro, com data de 1985, vê-se, ao fundo, sobre a Ponte da Dobadoura, o mastro que assinala o início das Festas do Milenário, em 1959. Aveiro, como é sabido, regista o seu baptismo em 959, antes da nacionalidade portuguesa, quando a condessa Mumadona sublinha, num seu testamento de doação, as salinas que possuía em Alavário. Em 1759, por alvará de D. José I, foi elevada à categoria de cidade. Mil anos da referência de Mumadona e 200 anos após a elevação a cidade, Aveiro recordou com diversos festejos essas efemérides, em 1959. Eu assisti à colocação do mastro de um navio no cimo da ponte da Dobadoura. Procedeu à operação o célebre Mestre Mónica, com a ajuda de alguns funcionários do seu Estaleiro. Havia muita gente a assistir à manobra.
Colocado o mastro deitado, com a parte de baixo, mais grossa, junto do buraco onde havia de ser enfiado, um camião pesado começou a puxá-lo, sob a batuta do Mestre. Mais um bocadinho, pára aí, ponham aqui umas escoras… Avança agora, com calma, Henrique (condutor do camião)… Devagar… continua… continua… E o mastro lá foi sendo erguido… Até que, de repente, se enfiou no buraco onde ficou uns tempos, para assinalar os mil anos de povoação e os 200 de cidade de Aveiro. Isto em 1959. Fernando Martins

ARTE NOVA

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ARQUITECTURA
CONTA HISTÓRIA
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A HERA está a promover mais um projecto de valorização do património: ARTE NOVA-Arquitectura conta História. Co-financiado pela UE, com o apoio da Câmara Municipal de Aveiro e o envolvimento das Escolas Secundárias de Aveiro, o projecto tem como objectivo a dinamização de percursos urbanos de valorização turística da património arquitectonico ARTE NOVA, típica da região de Aveiro, e uma exposição de fotografica sobre o tema.
Visite o site (www.heraonline.org) na secção "Diário de Viagem" para mais informações.

CMI CONCEDE BOLSAS DE ESTUDO

Monumento ao homem do mar
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TAREFAS COMUNITÁRIAS
COMO CONTRAPARTIDA
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A Câmara Municipal de Ílhavo vai entregar hoje 24 Bolsas de Estudo a outros tantos estudantes. Treze Bolsas contemplam estudantes do Ensino Superior e as restantes vão para quem estuda no Ensino Secundário. A autarquia ilhavense prossegue assim com o bom exemplo de apoiar ou estimular jovens da nosso concelho.
As Bolsas atribuídas, porém, não são dadas de ânimo leve e têm contrapartidas, que são, sem dúvida, um bom princípio. Os contemplados terão de disponibilizar 75 horas para a realização de tarefas em prol da comunidade, no âmbito dos programas Vocação e Ocupação de Tempos Livres, desenvolvidos pela autarquia ilhavense. Escusado será dizer que este princípio seguido pela Câmara de Ílhavo é essencialmente educativo. Os jovens que receberam as bolsas ficam a saber que tudo na vida tem custos e que os prémios, as bolsas e outras ofertas não podem deixar de ter contrapartidas.

UM ARTIGO DE D. ANTÓNIO MARCELINO

AMEAÇA DEMOGRÁFICA
OU INÉRCIA POLÍTICA?
Já sou do tempo em que, a torto e a direito, se proclamava que a fome no mundo tinha como causa o aumento descontrolado da natalidade e, consequentemente, da população. As teses de Maltus e do neo-maltusianismo eram um apelo mundial que se generalizou. Era preciso contrariar o aumento da população. Só assim poderíamos sobreviver e libertar-nos de uma calamidade exterminadora e sem limites. Ainda não há muito tempo (1991), um francês iluminado, Comandante Cousteau, escrevia no Courrier de l´Unesco: “É necessário que a população mundial se estabilize e, para que tal aconteça, é necessário eliminar em cada dia 350.000 pessoas”. Aqui fica para a história um apelo louco ao genocídio que, segundo vi, não escandalizou, nem teve contraproposta. Já na década de cinquenta, padre novo com muitos sonhos sociais, pude ler, para contrariar os maus augúrios dos sábios do tempo, que o problema demográfico só tinha uma solução e esta era política, pois a superfície do Brasil, bem aproveitada, era mais do que suficiente para esconjurar a fome do mundo inteiro. A verdade, porém, é que os políticos sempre estiveram mais interessados, a vários títulos, em medidas de extermínio e de controle, do que de promoção do bem a favor de todos e do respeito e apoio por medidas políticas a favor dos povos mais pobres e débeis e da sua cultura. Os perigos da demografia crescente era um bom fantasma para os objectivos dos países ricos, sempre sôfregos por maior riqueza. A Índia e muitos países de Africa foram então invadidos por “multinacionais generosas” que espalharam contraceptivos em profusão, pagos por países interessados em que se fosse operando, progressivamente, o extermínio a população sob a capa de uma protecção farisaica. Interessava-lhes pouca gente, rendida à gratidão, matérias-primas a descoberto e anulação de críticas. Estava aí a vitória dos poderosos. Mais tarde foram conhecidas, neste sentido, as orientações “sábias”, mas desumanas, de Henry Kissinger, que deixaram o mundo estupefacto, mas incapaz de responder ao gigante, sempre pronto a distribuir benesses a quem dobrasse a cerviz e seguisse o preceituado. A Europa também caiu no engodo. Em países, como Portugal, pela subserviência aos Estados Unidos da América de quem algumas instituições recebiam, via OMS, quantias consideráveis para programas de planeamento familiar, noutros pela euforia dos novos modelos e estilos de vida, contrários ao aumento da natalidade e abertos ao gozo e ao consumo sem restrições. A verdade é chegou a bater no fundo. Horrorizada, depois, pela ameaça dos turcos e dos muçulmanos de Africa, famílias com média de seis e sete filhos, e pela incapacidade de repor os estragos da quebra de natalidade, acordou e começou a arrepiar caminho. O que antes recusara, acabou por se lhe impor. Hoje vários países europeus têm políticas concretas de estímulo à natalidade. Todos lemos o que se passa na Alemanha a partir de 1 de Janeiro. Entre nós, como sempre, vamos atrasados, meio anestesiados e sem medidas políticas objectivas e estimulantes. Se vierem e forem acertadas, ainda demorarão décadas a fazer sentir os seus resultados. Entretanto, numa atitude habitual de quem faz uma gestão mais por imediatos que por objectivos, mais por emoções que por razões com fundamento, dá-se protecção ao aborto, mal embrulhado em frases publicitárias bem gastas. Assim, já ninguém duvida, o aborto acabará por se tornar, a pouco e pouco, em mais um método contraceptivo. Nada se vê, antes pelo contrário, que estimule a natalidade, entre nós pelas ruas da amargura., com índices de reposição demográfica dos mais baixos da Europa. Ficamos todos esclarecidos quando ouvimos o chefe do governo e do partido da maioria a recomendar aos seus que não perdessem tempo com os aspectos científicos do aborto, mas o gastassem preocupados em vender bem a ideia da despenalização… O problema continua a ser político. Temos de nos interrogar, porém, sobre qual o sentido de uma política demográfica que tenha em vista, com preocupações éticas, as pessoas e as causas porque lutam, o bem comum e o futuro da comunidade nacional.

SEMANA DA UNIDADE DOS CRISTÃOS

Presidente da Comissão Episcopal
para o Ecumenismo
sublinha efeito dos fluxos
migratórios
e das dinâmicas juvenis
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PANORAMA ECUMÉNICO
ESTÁ A MUDAR EM PORTUGAL
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D. António Marto, presidente da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé e o Ecumenismo (CEDFE), considera que o panorama ecuménico no nosso país está em mudança, por força dos novos fluxos migratórios e das dinâmicas juvenis. “Ao nosso país chegaram muitos ortodoxos e isso, quer a gente queira ou não queira, obriga-nos a fazer um caminho ecuménico em virtude de problemas concretos”, refere em declarações à Agência ECCLESIA. Neste processo, destaca, houve uma grande atitude de “acolhimento” para receber estes cristãos, procurando proporcionar-lhes “um ambiente e lugares de encontro”. “São coisas pequenas, mas tal como na vida, no ecumenismo são as coisas pequenas que nos impulsionam”, acrescenta. No ano em que se celebra a III Assembleia Ecuménica Europeia, D. António Marto sublinha o esforço de “sensibilização ecuménica” levada a cabo pelos grupos juvenis das várias Igrejas cristãs, em especial nas Dioceses de Braga, Lisboa e Porto. A preparação para este grande encontro, na localidade romena de Sibiu, em Setembro próximo, contou com uma dinâmica que inclui encontros nas várias comunidades locais, em cada país europeu. Portugal, por força da dinâmica jovem, contou com “iniciativas muito belas” que serviram para avivar a chama ecuménica. O ecumenismo, defende, é “como a subida de uma montanha”, na qual são necessárias paragens para respirar. A primeira responsabilidade dos cristãos, neste sentido, é a oração em comum, que permita “tomar consciência do ser irmãos e alimentar a espiritualidade ecuménica”. “A espiritualidade é como o óleo do motor: ele pode estar muito bem equipado, mas sem óleo não anda”, explica. Este responsável destaca o facto de Bento XVI ter feito a sua “prioridade das prioridades a causa ecuménica”, dando “passos significativos”. “Tem-se a impressão de que se estão a retomar, com mais ânimo, os passos do ecumenismo”, assinala. A este diálogo teológico, de topo, deve juntar-se o “ecumenismo quotidiano”, na vida dos cristãos, que passa pelas “paróquias, hospitais, contactos pessoais e colaboração entre comunidades”. Para o Bispo de Leiria-Fátima, ser presidente da CEDFE e responsável pelo directo pelo maior Santuário mariano do país não são coisas contraditórias. O diálogo teológico entre cristãos tem produzido documentos "belíssimos" a respeito de Maria, que permitem ultrapassar alguns "preconceitos" e, quanto a Fátima, o Santuário "poderá também tornar-se impulsionador do ecumenismo". "Maria não é um obstáculo para o ecumenismo desde que nós saibamos situar o seu lugar na história da salvação e na própria Igreja", conclui.
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Fonte: Ecclesia