terça-feira, 5 de setembro de 2006

Incongruências

“O senhor António Fiúza [presidente do Gil Vicente] foi ouvido [na RTP 1] cerca de uma hora, o que é espantoso, porque um grande escritor português que publique a sua última obra nem sequer pode ter dez minutos para falar. Nem sequer um minuto.”
De Eduardo Prado Coelho, em “O Fio do Horizonte”, no “Público” de hoje
::: Temos o que merecemos
As televisões que temos são isto. Muitas rádios, sobretudo algumas que oiço, alinham pelo mesmo diapasão. É pena. Há quem pense que assim é que está bem. Porque, dizem, é disto (futebol) que o povo gosta. De futebol, com toda a sua importância económica e social, de pimbalhada, de mexericos, de banalidades, etc., etc. Para mim, não está correcto. O povo tem o direito de gostar daquilo que quiser, mas a comunicação social tem de afinar a sua programação por critérios que conduzam à formação e à elevação cultural desse mesmo povo. A princípio talvez mude de canal, mas acabará, um dia, por começar a gostar do que tem nível: de boa música, de boas entrevistas, de bons debates, de boas crónicas, de boas análises da vida, de boas mesas-redondas, de bons filmes, de boas reportagens, de boas telenovelas, de boas séries, de bom desporto, incluindo, obviamente, uma boa partida de futebol, sem nacionalismos por vezes ridículos. Diz Eduardo Prado Coelho, e com razão, que um grande escritor teria um minutinho para falar da sua obra. O mesmo acontece, normalmente, com outros artistas plásticos e de outras artes. Se forem artistas (?) das telenovelas ou dos futebóis, aí não faltará tempo para falar das suas vidinhas, mesmo que sejam uns canastrões. É isto. Temos o que merecemos. Fernando Martins

Um artigo de Alexandre Cruz

Recorde mundial
1. Não, desta vez não se trata de nenhuma prova de atletismo, dos 100 metros ou da maratona. Também não é um qualquer recorde daqueles a que estamos habituados e que insistem em perseguir-nos, como, por exemplo, os acidentes na estrada ou no trabalho. Trata-se de recorde que, pelos vistos também em Portugal, tem já longo caminho de alta velocidade: o crime de falsificação, o crime inteligente, ou seja a inteligência humana aplicada para o mal. É das coisas mais degradantes, e que interpela fortemente o ser humano na sua dignidade única, observar-se tanta técnica, ciência e investigação aplicada para o crime, a mentira, a corrupção. Na base de tudo (e não dizemos que tenha de ser assim, que “a guerra é o pai de todas as coisas”, como o clássico Heráclito), está o não olhar a meios para atingir fins, a pobreza de mente que gera a ânsia do desmedido, do querer ter mais e mais, sem regras nem éticas que lhe valham, e tudo rápido e sem trabalho. Pelo país a burla inteligente, após o caso crescente dos cartões Multibanco falsificados, atingiu o recorde mundial há breve tempo na apreensão de 7,5 milhões de dólares. Uma tipografia que se preparava também para a falsificação de documentos, lá no recôndito baixo Alentejo, era o local do crime. Os Estados Unidos agradeceram. Os enganadores foram apanhados e estão na justiça que assim “pediram”. A perfeição, qualidade e profissionalismo, das notas de cem dólares (não brincavam em serviço, nota grande!) era digna de registo, com altíssima qualidade de calibragem das cores (dizem os especialistas), confundindo-se dessa forma com as verdadeiras. 2. Há dias, já bem noite, observámos uma situação delicada numas bombas de gasolina da região… Nessa altura, lembramo-nos das notícias que tantas vezes lemos… A sensação de que a todo o momento estamos inseguros faz com que tenhamos de ter atenção redobrada em cada momento. O mundo, lá longe como cá perto, não é o cenário lindo e seguro que se sonhou. Qualquer dia, em todo o lado, nas sociedades que se orgulham e assim “cresceram” para de serem livres, veremos câmaras de observação em todas as ruas, esquinas, casas, empresas, praças; e depois, ainda, de cada edifício já estar a ser filmado, as câmaras voltam-se para os mares e as florestas pois alguém poderá poluir ou atear fogo! Será este o filme do futuro?! Onde houver perigo e insegurança (ou seja onde houver “homem”, com letra minúscula neste caso…) crescerá a observação fiscalizadora? Qualquer dia alguma empresa de telecomunicações cria o primeiro satélite para controlo permanente dos humanos, onde cada um tenha o seu BI sempre em elaboração, qual big brother do universo! Já estamos perto mas…claro que não, este mundo seria o mais triste dos mundos! A verdade é que, também no pós-11 de Setembro, as questões da segurança estão hoje na primeira linha de preocupação. Trata-se de uma “luta” entre toda a segurança que se procura e uma cruel inteligência do mal. Crescem as duas, par a par. Sendo certo que numa visão de maturidade humana não se poderá falar de fatalismos nem de maniqueísmos (como quem diria que trata-se do “bem” contra o “mal”), a verdade é que, agarrando os desafios pela positiva, será de desenvolver muito mais uma forte aposta de ética, educação, valores, referências positivas. Que dizer quando da banda desenhada para as crianças ao cinema mais espectacular, tantas vezes tudo é crime, degradação, miséria, mal? E que dizer mais ainda quando em tantas dessas visões “o crime compensa” e o sério e ético é visto como “trouxa”?! 3. Será nas mais pequenas coisas de cada dia, semeando e dando valor ao que tem valor, que se deve ir cuidado e dignificando a própria liberdade. Também, e infelizmente é necessário cada vez mais, robustecer fortes parcerias de informação, como no caso do recorde mundial dos dólares falsificados em que Interpol, Europol e Polícia Judiciária interagiram de forma exemplar. É verdade que o crime sempre superabundou devido à ilusão, cegueira e dureza humana. Mas também será certo que em países que encontraram a preciosa liberdade haverá de recriar formas e sinergias para que a própria liberdade não perca a validade. Porque existem e insistem brilhantes inteligências livres em falcatruas e falsificações que aprisionam a vida pessoal e social?

Um artigo de António Rego

Zangados com a vida
Nunca será demais procurarmos o ponto de equilíbrio entre a esperança - mesmo que se assemelhe a utopia - e a crueza aparente da realidade. Ou, se olharmos com serenidade, anotarmos o que temos e o que nos falta, o que somos e o que deveríamos ser, o feito e o por fazer. Muitos desabafos sobre o mundo, sobre os outros, sobre nós próprios, vêm de respiradores de outras condutas do nossos ser que são sopradas ora pela ilusão momentânea, ora pelo azedume com que encaramos a nossa vida e a dos outros. Atropelam-se as razões de queixa à nossa volta e parece que quanto mais próximas mais dilatadas pelo desencanto, para não falar dum complexo de pequenez que, dizendo no plural e incluindo-nos no verbo, sempre pretende deixar de fora os parapentes que sobrevoam, olham, e nada transformam da realidade. Há factos que propiciam este clamor colectivo eufórico ou depressivo em espaços muito curtos e cíclicos. Muitos apontam a causa: as janelas abertas e envidraçadas da comunicação que se tornam rapidamente responsáveis pela propagação das desgraças e benesses que caem sobre o povo. E cada dia tem a dimensão do dia do fim do mundo ou do arraial ébrio com vapores de dissipação rápida. Onde o ponto de equilíbrio e rotura neste barco multimilenar em que todos somos remadores e todos fazemos ondas? Vamos ser honestos: o mundo mudou e não para pior. Os amargurados que tudo consideram perdido com o dogma de "no meu tempo não era assim", como lembram a escravatura, o desprezo legal pelos pobres, a exploração silenciada dos trabalhadores, a fé envolta em medo, as crianças com trabalho obrigatório, a ciência e o desenvolvimento olhados como obra do diabo? Onde está a memória histórica e não muito distante do quanto não éramos e do muito que ganhámos em dimensão de vida, de cultura e fé? Mesmo no nosso país, porquê desprezar o caminho que se já percorreu, apenas pela verbosidade sensual da crítica corrosiva a todas as coisas? Criticar é preciso e sempre fez falta. Mas o farisaísmo maldizente a nada conduz, ou melhor, diverte e realiza quem o faz, por não saber fazer outra coisa.

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Importância do cristianismo

Papa lembra importância
do Cristianismo para
a construção da sociedade
Bento XVI falou ontem da importância do Cristianismo para a construção da sociedade, lembrando o papel do monaquismo para a civilização europeia. Na recitação do Angelus, em Castel Gandolfo, o Papa centrou a sua reflexão na figura de São Gregório Magno(c. 540 - 604), Papa e Doutor da Igreja, figura fundamental num momento em que “nascia uma nova civilização do encontro entre a herança romana e os chamados ‘bárbaros’, graças à força da coesão e da elevação moral do Cristianismo”. “O monaquismo revelava-se uma riqueza, não só para a Igreja, mas para toda a sociedade”, acrescentou. A catequese desta manhã teve algumas passagens curiosas, pelo paralelismo que é possível perceber: Bento XVI recordou que Gregório Magno tentou “fugir” à sua eleição como Papa e acabou por cumprir este dever como um simples “servo dos servos de Deus”. Por outro lado, o Papa lembrou que este Doutor da Igreja desenvolveu um importante trabalho apesar da sua “saúde precária”. De Gregório Magno ficou a reforma do canto, ainda hoje chamado “Gregoriano” e ainda a sua Regra pastoral para o clero, na qual defendia que “a vida dos pastores deve ser animada por uma síntese equilibrada entre a contemplação e a acção, animada pelo amor”. Na saudação aos vários peregrinos presentes, Bento XVI pediu “obediência sincera à luz de Deus” e que os fiéis sejam capazes de “descobrir sempre a sabedoria e a bondade contidas nos mandamentos divinos”. Às crianças e jovens presentes, quase a iniciar um novo ano escolar, o Papa desejou “sucesso na aquisição da ciência e da sabedoria”.
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Fonte: Ecclesia

DANÇA EM AVEIRO

De 4 a 15 de Setembro “XII ESTÁGIO DE DANÇA DE AVEIRO
O “XII Estágio de Dança de Aveiro” tem início hoje, dia 4 de Setembro, prolongando-se até ao 15 deste mês. As aulas vão decorrer das 9.15 às 20 horas, no Teatro Aveirense e na Casa Municipal da Cultura de Aveiro – Edifício Fernando Távora. A edição deste ano apresenta novidades, concretamente o curso de Pedagogia da Dança Criativa para professores, que é destinado principalmente a professores de dança e a outros formadores (educadores, professores do ensino básico) que queiram completar o seu ensino com outras abordagens do corpo e do movimento, em que a experiência criativa será utilizada como base para o ensino. Aldara Bizarro é a formadora. Outra novidade é a Dança Criativa para pais e filhos. Através de uma abordagem lúdica do movimento criam-se espaços para o desenvolvimento da autoconfiança, cooperação e autonomia, num conjunto de cinco aulas que muito favorecerão a relação entre a criança e o adulto participante. Destina-se a crianças dos 3 aos 5 anos e um adulto acompanhante que poderá ser o pai, a mãe ou um dos avós, devendo ser sempre a mesma pessoa. As formadoras serão, na primeira semana, Marta Silva, e Aldara Bizarro, na segunda. O “Estágio de Dança de Aveiro”, organizado pela Câmara Municipal de Aveiro, vai já na 12ª edição. Desde 1994 que a dança é o ponto de encontro entre pessoas de diversas idades e regiões do país. Durante duas semanas os participantes aprendem novas modalidades e aperfeiçoam técnicas. No dia 15 de Setembro, pelas 21.30 horas, no Teatro Aveirense, terá lugar a “Aula Aberta” que consiste numa apresentação ao público de conhecimentos adquiridos na frequência das aulas do estágio. A entrada é gratuita. : Leia mais no portal da CMA

D-eficiente

«As pessoas ainda
olham de lado»
www.d-eficiente.net é uma página de Internet que pretende derrubar as barreiras arquitectónicas e sociais que se criaram entre a sociedade e as pessoas com deficiência. Pedro Monteiro é natural de Estarreja e estuda na Universidade de Aveiro. Por sentir falta de um local de debate sobre a deficiência, decidiu desenvolver o projecto de um espaço na Internet onde se podem trocar ideias, dar sugestões, ler artigos e obter informações sobre a deficiência. A página ainda não está completa, mas Pedro Monteiro quer partilhar este trabalho com todos quantos queiram colaborar. Actualmente o «site» ainda não dispõe de tecnologia para pessoas invisuais, mas o autor garante que esta questão está a ser resolvida.
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Leia a entrevista no Diário de Aveiro de hoje

domingo, 3 de setembro de 2006

Um artigo de Anselmo Borges, no DN

Modernidade
e crise do
humanismo
No processo da modernidade, que são os últimos 300 anos, o humanismo ocupou lugar determinante. Quando comparamos épocas, constatamos que a cultura grega foi fundamentalmente cosmocêntrica, na medida em que era a partir do cosmos ou da natureza que compreendia a realidade. A Idade Média foi teocêntrica: tudo era visto e compreendido a partir de Deus. A modernidade fez do homem o centro, sendo a partir dele que tudo se legitimava.
A grande aspiração foi então a emancipação frente à natureza, à tradição, à religião. O objectivo era a plena conquista de si mesmo em todos os domínios. A posse de si mesmo significa autonomia e será alcançada mediante a confiança no poder da razão, sobretudo na sua vertente físico-matemática, que renuncia ao conhecimento das essências metafísicas para concentrar-se nos fenómenos quantificáveis e, portanto, matematizáveis.
A razão e a liberdade são as armas com que o homem moderno tem a convicção de poder realizar o seu projecto. Mas precisamente este projecto - e estou a seguir José M. Vegas - tem desde a raiz a marca de uma ambiguidade, que consiste na cisão da experiência humana em dois âmbitos irreconciliáveis.
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Leia mais no DN