sexta-feira, 5 de maio de 2006

Um poema de José Tolentino Mendonça

Pico Ruivo Todo o verão amontoei pedras e as dispersei
vigiava nuvens e sombras pelas fajãs a mesma solidão perigosamente transcrita naquele cinzento avermelhado sob as escamas do céu urzes sobrevivendo à dura estação duas ou três cabras, uma tenda túneis, atalhos, águas geladas por aí nos conduz a travessia a folha e a flor pertencem ao vento um olhar (ainda o meu?) persegue-as entretido na grande subida mais abaixo, quando principiava a vereda manchas de líquenes cobriam de igual modo o nome dos lugares onde iremos e dos lugares onde não chegaremos

EUROPA MAIS JUSTA

Bispos da UE
pedem sociedade
mais justa na Europa
A Comissão dos episcopados católicos da UE (COMECE) publicou hoje a sua mensagem para o Dia da Europa (9 de Maio), na qual pede aos responsáveis comunitários que não poupem esforços para construir uma sociedade mais justa.
Os prelados apelam, ainda, ao renovar do debate sobre o futuro da Europa, particularmente em face do desinteresse demonstrado por muitos cidadãos.
Na sua mensagem, os Bispos referem que a UE tem de “colocar o ser humano e a sua dignidade inalienável no coração dos seus esforços para construir uma sociedade justa”, assinalando que este processo deve decorrer tendo em maior consideração “a fé cristã e as convicções éticas de muitas pessoas na Europa”.
A COMECE espera um novo movimento, por parte das instituições comunitária, para ganhar novamente a confiança dos cidadãos europeus, criando “estruturas melhores e mais democráticas”.
O futuro Tratado Constitucional da Europa poderia, segundo os Bispos, resolver algumas destas questões, “estabelecendo uma política e um quadro legal uniformes para a União Europeia”.
A Igreja Católica, asseguram, “está preparada para dar a sua própria contribuição específica para moldar uma sociedade justa na Europa”.
A COMECE inclui representantes das Conferências Episcopais dos Estados-membnros da UE, para além de delegados da Bulgária, Croácia e Roménia com estatuto de observadores.
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Fonte: Ecclesia

Nazaré – Palco do Encontro das Praias

Encontro
e reencontro
sempre esperado
pelos
pescadores
A Nazaré vai ser, este ano, o palco do Encontro das Praias, uma iniciativa da Obra do Apostolado do Mar. Centenas de pescadores e demais marítimos, com suas famílias, vão marcar presença, no dia 28 de Maio, nesta jornada de convívio e de acção de graças, mas também de troca de experiências e de diversão, como garantiu ao SOLIDARIEDADE o padre Carlos Noronha, director nacional daquele sector pastoral da Igreja Católica. A recepção aos participantes começa no sábado com uma vigília, na igreja matriz, em jeito de acolhimento aos que chegarem na véspera. Pretende-se que nessa celebração, que inclui missa vespertina, os nazarenos criem um momento de intimidade e se preparem para receber, no domingo, a grande maioria dos pescadores e suas famílias, vindos do litoral português. Tudo se conjuga para que a missa do domingo proporcione uma grande vivência espiritual, num ambiente de festa. Cada praia apresenta os seus símbolos e estandartes, representativos das diversas paróquias que lhe estão ligadas, num ambiente colorida e festivo. Os cânticos são seguramente de sensibilidade marítima e com ligação a São Pedro, que “é apresentado como o grande veículo que conduz os homens do mar até Cristo”, como nos referiu o padre Carlos Noronha. No final da celebração e na hora de acção de graças vai ser evocada Nossa Senhora, que “faz a ligação a Jesus com a Igreja, por nosso intermédio”, sublinhou o director nacional da Obra do Apostolado do Mar. Depois vem o almoço organizado pela praia anfitriã, que vai ser, como se espera, uma excelente oportunidade de convívio e de partilha entre os pescadores, muitos dos quais apenas se conhecem via rádio. “Embora estejam todos nas mesmas águas, cada barco acaba por ser uma ilha, onde os marítimos vivem uma certa solidão”, frisou o padre Carlos. Quando surge uma ocasião, como esta, de se encontrarem em terra, todos gostam de manifestar a alegria que sentem por se conhecerem pessoalmente e ao vivo. “Aí há troca de experiências e de vivências e até propostas mútuas, em termos de convívio e de trabalho, realmente muito salutares”, lembrou o nosso entrevistado. A tarde do Encontro das Praias vai ser, como de costume, muito animada. Não faltam grupos musicais ou folclóricos, convidados pela organização ou em representação das praias participantes, com suas danças e cantares típicos, bem ao gosto dos pescadores. A espontaneidade e a alegria, as conversas do encontro ou do reencontro, os petiscos que a gente do mar tanto aprecia e tão bem sabe confeccionar, de tudo um pouco vai estar neste Encontro, no dia 28 de Maio, na Nazaré. As representações das praias são sempre preparadas pelas paróquias com ligação à Obra do Apostolado do Mar, nomeadamente através dos Clubes Stella Maris, diocesanos ou paroquiais, e de associações que apoiam espiritual, social e culturalmente os homens do mar e suas famílias. Fernando Martins
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Foto: Padre Carlos Noronha

Um artigo de D. António Marcelino

PALAVRAS
E SENTIMENTOS
DESENCONTRADOS É curioso verificar como um acontecimento público a que toda a gente teve normal acesso, pode ter leituras bem diferentes, como que a dizer que a opinião se sobrepõe à verdade objectiva. O preconceito não vencido, a clivagem ideológica, a frustração por falta de identificação, a simpatia e a antipatia de quem presenciou por quem foi protagonista principal, os chavões tradicionais que ditam a orientação da comum observação e a consequente leitura, o reconhecimento a gosto ou acontragosto, a indiferença, tudo vem ao de cima para falar da mesma coisa. Muitas vezes para impor uma opinião ou para fazer opinião. Acontece, porém, que na praça pública da opinião publicitada também se encontram pessoas que são capazes de prestar preito à verdade do que se passou ou se ouviu, mesmo que não tenha sido do seu gosto ou na linha do previa e, porventura, desejava. A intervenção do Presidente da República no 25 de Abril, é um bom exemplo a confirmar as palavras desencontradas dos jornalistas, dos comentadores e dos diversos políticos. Certamente que um obstáculo que impede ou dificulta, por vezes até ao extremo, a possibilidade de compromissos comuns e conjugados no mesmo sentido, que permitam ir ao encontro de problemas graves e de todos, é esta sobreposição da opinião e do sentimento pessoal ou de grupo, à verdade objectiva e à procura do bem comum, como tarefa de todos. Ponha-se na ribalta das atenções e dos desafios a realidade da exclusão social que está à vista, do fosso entre ricos e pobres, da existência no mesmo contexto de muito ricos e muito pobres, de cidadãos privilegiados e de cidadãos marginalizados, e diga-se como pode ser possível sair desta situação ou de encontrar caminhos de esperança e de êxito, sem todos a jogar no mesmo sentido, enriquecido o caminho com as diversidades que enriquecem e não dividem. O que se pode esperar do individualismo exacerbado de muitos e das certezas de quem não admite outras além das suas e que, por isso, se nega a qualquer colaboração, está à vista: agravamento dos problemas sociais, aprofundamento do fosso de separação que esteriliza vontades e acções, número crescente de gente válida que vais achando que não vale a pena comprometer-se, porta com passadeira para que entrem e se instalem as inutilidades de cada regime, desprestígio da classe política, voltar costas à realidade que dói cada vez mais a muitos cidadãos, aumento e alargamento dos problemas do país, soluções de fachada para problemas sérios e graves… Governar em situação de crise é, também, ser capaz de ler a realidade com objectividade, de conciliar vontades e capacidades, de formular propostas válidas, exequíveis e motivadoras, de ter grandeza moral para queimar na ara do sacrifício purificador os interesses individuais e de grupos, de aceitar os erros com propósito de os corrigir, de ver nos outros colaboradores possíveis e não apenas adversários a vencer. Não presenciamos nós como na oposição política se critica com desfaçatez o que antes se fez no poder, e vice-versa? Sem esforço para reconhecer a verdade objectiva e as exigências que dela dimanam, nem se respeitam as pessoas, nem se acertam as propostas, nem é possível que todos se assumam como solidários na mesma causa. Somos do tempo em que se advogava a “terra queimada” e o “quanto pior melhor”. Mas nessa altura mais do que a procura do bem comum, contava a luta pelo poder próprio a qualquer custo. Com trinta e dois anos de decantada democracia, pensar do mesmo modo, é, no mínimo, uma condenada irresponsabilidade.

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Dia Internacional da Família: 15 de Maio

:: Câmara de Aveiro
comemora
Dia Internacional da Família
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A Câmara Municipal de Aveiro promove um conjunto de actividades para celebrar o Dia Internacional da Família, que se comemora no dia 15 de Maio. As actividades têm início no dia 4 de Maio, prolongando-se até 26 do referido mês. No âmbito do Dia Internacional da Família, a autarquia aveirense pretende assinalar o evento, dando relevância a um conjunto de actividades desenvolvidas a nível local, durante o mês de Maio, pelas entidades públicas e privadas que, diariamente, desenvolvem a sua intervenção junto das famílias.
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(Para saber mais, clique Programa)

"SEMANA DA VIDA"

Nota Pastoral
da Comissão Episcopal do Laicado e Família
sobre a «Semana da Vida»
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"FAMÍLIA - AMOR E VIDA"
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"Sendo a Família o espaço privilegiado para se viver, celebrar, transmitir e educar para o dom e o valor da vida, convidamos as famílias cristãs e todos os homens e mulheres de boa vontade a darem as mãos e a congregarem esforços, para que, juntos, fomentem a cultura da vida. Ela reclama o acolhimento alegre e responsável da vida que nasce, o respeito e a defesa de cada existência humana, o cuidado por quem sofre ou passa necessidade, a solidariedade com os idosos e os doentes, a qualidade de vida, a responsabilidade com a segurança na estrada e no trabalho.Isto reclama, igualmente, que todos “se empenhem em que as leis e as instituições do Estado não lesem de modo algum o direito à vida, desde a sua concepção até à morte natural, mas o defendam e promovam” (EV 93). Não esquecemos as dificuldades humanas e sociais de muitos pais e famílias; porém, o direito à vida não é uma questão meramente religiosa ou confessional. É o primeiro e fundamental direito da pessoa humana que não pode estar sujeito à vontade do mais forte, nem ser sacrificado por regras democráticas que pretendem dar a aparência de legalidade à destruição dos mais frágeis. “Sobre o reconhecimento de tal direito é que se funda a convivência humana e a própria comunidade política”
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(Para ler toda nota pastoral, clique aqui)

Um artigo de Tiago Mendes, no Diário Económico

O valor da escassez
A democracia, ao permitir a alternância não conflituosa de quem está no poder, adequa-se à natureza humana: insatisfeita, oscilante, imprevisível
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Se há sempre mais vida para além de uma definição, esta é segura: a Economia é a ciência da escolha. Esta só tem relevância porque existem recursos escassos, como os bens que desejamos, o tempo que temos ou a informação que procuramos. Que a escassez determina criticamente o valor dum bem é uma evidência que atravessa o espaço e o tempo. Pensemos na forma como os ingleses endeusam o Sol e como os lisboetas vibram com um aceno de neve à sua porta, ou no estatuto que as especiarias tinham no tempo de D. Manuel I e aquele que hoje têm.
Numa economia de mercado, a escassez relativa dum bem reflecte-se espontaneamente no seu preço, um “sinal” que resume a informação relevante sobre procura e oferta. A forma eficiente e descentralizada como estes “sinais” surgem neste sistema económico é uma das suas maiores virtudes. É interessante perceber o papel que procura e oferta têm na determinação dessa escassez relativa dum bem ou serviço.
Pedro Mexia referia em crónica no DN (”O prestígio do Camões”, 17-05-05) como a periodicidade anual do prémio Camões lhe retirava valor. O raciocínio é simples. Sendo a procura (o conjunto de escritores lusófonos) mais ou menos fixa, é a oferta (a periodicidade dos prémios) que determina criticamente o valor relativo do prémio. A frequência demasiado elevada com que é atribuído enfraquece a distinção feita. O mesmo sucede com a corte de homenageados escolhidos por Jorge Sampaio (dois mil, ao que parece).
O futebol é um exemplo onde a fonte de valor é sobretudo a procura. A causa do seu sucesso à escala mundial não é tanto o poder do sentimento tribal, ou a conotação sexual do golo, mas sobretudo a escassez de golos. Quando um golo é difícil de marcar, gera-se uma tensão psicológica ideal, que culmina em grandes alegrias ou grandes tristezas. As grandes emoções que todos procuram. Se, por exemplo, se aumentasse o tamanho das balizas, os golos e as reviravoltas acrescidas fariam a emoção aproximar-se da do hóquei em patins. Aceitável, mas não retumbante. Na escassez “óptima” de golos reside a grande vantagem do desporto-rei.
Na imprensa, como nos ‘blogues’, o fenómeno repete-se. Quem escreve com uma grande frequência pode perder, na margem, algum valor. A curta e intensa vida do blogue “O Espectro” poderá ser parcialmente entendível à luz disto. A política também não foge à regra. Um político (que esteve) ausente ganha uma certa aura, o que ajuda a entender o papel das famosas “travessias do deserto”. A democracia, ao permitir a alternância não conflituosa de quem está no poder, adequa-se à natureza humana: insatisfeita, oscilante, imprevisível. Na política, como no desporto ou nas artes, valorizamos sempre mais o que rareia. Aquilo que não temos. Porque, inevitavelmente, o que é escasso é - ou melhor, torna-se - bom.
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Publicado no Diário Económico, a 3 de Maio de 2006.

Dia Mundial da Liberdade de Imprensa – 3 de Maio

José Carlos de Vasconcelos e Alexandre Cruz, do CUFC
José Carlos de Vasconcelos no CUFC Liberdade de imprensa
implica responsabilidade
José Carlos de Vasconcelos, director do JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias e coordenador editorial da revista Visão, esteve ontem à noite, no CUFC (Centro Universitário Fé e Cultura), em mais uma Conversa Aberta, integrada no Fórum::UniverSal, projecto que se desenvolve todas as primeiras quartas-feiras de cada mês. Esteve para falar em sessão comemorativa do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, 3 de Maio, tendo desenvolvido o tema “Liberdade de Imprensa: informar ou deformar?”. José Carlos de Vasconcelos, uma autoridade na matéria, não se cansou de sublinhar que “Liberdade, qualquer que ela seja, implica sempre responsabilidade”, sobretudo numa sociedade democrática, já que somente os regimes totalitários não a aceitam. O director do JL frisou que “todas as liberdades são solidárias” e que os jornalistas devem cultivar a seriedade e o respeito pelos outros, sendo certo e visível que a muitos deles “sobe o poder à cabeça”. Referiu que a comunicação social “é mais uma liberdade do que um poder”. Ao mesmo tempo adiantou que a liberdade de imprensa pressupõe independência, realidade muito difícil de conseguir, quer pelas exigências das audiências, quer das tiragens. Alertou, ainda, para os riscos que advêm dos grupos económicos e outros poderes concentrarem em si diversos "media", fazendo valer, por vezes, os seus interesses, com prejuízo para a real liberdade dos jornalistas. José Carlos de Vasconcelos denunciou que as TVs fazem políticos, como aconteceu com os dois últimos primeiros-ministros, enquanto defendeu uma melhor qualidade dos programas, que têm de ser “interessantes e com interesse”. Por outro lado, sugeriu aos órgãos de comunicação social que publiquem “a boa notícia do dia”, como forma de contrabalançar os conteúdos, carregados, normalmente, de dramas, escândalos, futilidades e sensacionalismos. Entretanto, foi dizendo que os maus programas televisivos “são o reflexo da nossa sociedade”, tendo acrescentado que ainda há espaço para os bons projectos jornalísticos. Disse que as “opiniões” nos jornais não são, por norma, de jornalistas e que há muitos profissionais da comunicação social que misturam, frequente e erradamente, as suas ideias nas reportagens e nas entrevistas que fazem. Ainda referiu a importância de se educar o “sentido crítico” dos cidadãos, dando-lhes capacidade de “filtrar” os programas a ver. Fernando Martins

Santuário de Schoenstatt: Peregrinação diocesana

Santuário em dia de peregrinação ::
COM MARIA,
MÃE DA IGREJA,
TUDO PARA TODOS :: Peregrinação Diocesana
ao Santuário de Schoenstatt
No próximo dia 7, primeiro Domingo de Maio, vai realizar-se a Peregrinação Diocesana ao Santuário de Schoenstatt. Este ano, em consonância com o Plano Diocesano de Pastoral que nos convida a conhecer melhor a realidade social, pessoas e comunidades, em ordem a um serviço pastoral e apostólico mais qualificado e generoso, escolhemos como tema da Peregrinação: COM MARIA, MÃE DA IGREJA, TUDO PARA TODOS. Ninguém mais presente aos acontecimentos que tocam a vida e exprimem vida que Maria, quer no seu tempo de vivência no mundo, quer ao longo da história. Não havia nela tempos de Deus, pois para Ela todos o eram, nem ocasiões de serviço, porque se declarou a serva, que sendo-o do Senhor, era de todos. A radicalidade de Maria, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, expressa no “tudo para todos”, não é uma figura de retórica, mas uma eloquente expressão de verdade e de vida. Este ano programamos a Peregrinação colectiva a partir do início da tarde, para que muitos possam nas suas comunidades celebrar o Dia da Mãe. Mas é também a Mãe que nos convida ao encontro de oração e ao convívio eclesial e fraterno que culmina com a solene celebração da Eucaristia, às 17 horas. O Santuário, que eu mesmo quis que fosse um santuário diocesano, tem sido um pólo de renovação espiritual para muitos cristãos e uma porta sempre aberta para o encontro com Jesus, pelas mãos de Maria, Sua e nossa Mãe. Convido, quantos o puderem fazer, a que participem comigo nesta Peregrinação.
António Marcelino,
Bispo de Aveiro
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Programa da Peregrinação
Lema: "Como Maria, Mãe da Igreja, tudo para todos" 14h00 – Acolhimento 14h30 – Recitação do terço meditado 15h45 – Catequese do Sr. Bispo D. António 16h30 – Bênção do Santíssimo. 17h00 – Eucaristia presidida por D. António Marcelino;
envio e homenagem às mães

quarta-feira, 3 de maio de 2006

Um artigo de António Rego

Despedidos
por computador De cada quatro trabalhadores portugueses, apenas um está sindicalizado. Há quarenta anos isso já constituiria um número excessivo. Após a Revolução do 25 de Abril tornou-se quase uma obrigação de consciência. Hoje, coloca-se com uma espécie de conformismo face às novas situações que, ou não acreditam na eficácia dos sindicatos, ou se desiludiram do sistema de emprego e direitos sociais, ou apenas acham que não se vai às inundações com baldes pequenos, nem se apaga fogos de floresta com extintores de gabinete. Quer tudo isto dizer que os tempos mudaram. A economia rege-se por novas regras com reflexos profundos no enquadramento humano do trabalho. Colhe-se a impressão de que o homem está para o trabalho e não o contrário, a economia apenas procura uma eficácia que pouco tem a ver com o respeito por aqueles que a sustentam. A Revista Communio (Revista Teológica internacional) com particular pertinácia dedica o seu último número à "Ética Económica e Globalização", procurando por diversos ângulos e com colaboradores especializados, olhar a economia como um fenómeno humano, destinado ao homem, inspirado numa ética que ultrapassa as sacralizações banais das regras do mercado. Mudou o trabalho, mudaram as leis de admissão, o conceito de fixação. Lembre-se o célebre empresário que em S. Francisco (USA) afirmava perante circunspectos peritos, que "cada um pode trabalhar quanto queira e os estrangeiros nem precisam de visto. Num mundo global as regras impostas pelos governos perderam significado. O emprego está em função das necessidades da empresa. Contrata-se e despede-se por computador."E também se disse que "neste século, apenas dois décimos da população é suficiente para manter a actividade da economia mundial". Os outros 80%, são o menos. A Igreja lançou um Catecismo da Igreja Católica que elenca e desenvolve as verdades principais da fé. Mas também um Compêndio de Doutrina Social que esclarece e vincula as consciências na construção deste mundo a partir da maravilha do trabalho como obra continuada de Deus. Por vezes a moral e a fé aplicam-se com pesos e medidas circunstanciais. A consciência não pode variar de elasticidade consoante os interesses de cada momento. Nem despedir-se... por computador.