domingo, 29 de janeiro de 2006

Um artigo de Anselmo Borges, no DN

Amor e liberdade
O epicurista Gassendi, gracejando, cumprimentava Descartes com a saudação "Ó Alma!" E Descartes replicava, dizendo: "Ó Carne!" Com esta alusão, o Papa Bento XVI quis acentuar, na sua primeira encíclica, sobre o amor, apresentada no Vaticano no dia 25 de Janeiro, embora com data de 25 de Dezembro, que é o homem todo enquanto pessoa e criatura unitária que ama.
Deveria, pois, ficar claro que eros - o amor ascendente, desejante e possessivo - e ágape - o amor tipicamente cristão, oblativo - nunca se separam totalmente. O homem não pode viver exclusivamente no amor oblativo, não pode limitar-se a dar sempre, deve também receber "Quem quer dar amor, deve ele mesmo recebê-lo em dom.
"Citando também autores profanos, como Platão, Aristóteles, Virgílio, o Papa-professor sublinha a relação entre o amor e o Divino, que o eros está "enraizado na própria natureza do homem" e que, só no seu conjunto, o homem e a mulher "representam a totalidade humana".
O centro do cristianismo está nesta afirmação de São João "Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele." Aqui, encontra-se a imagem cristã de Deus e a consequente imagem do homem e do que deve ser a sua atitude e acção.
Num mundo em que o nome de Deus anda às vezes associado à vingança e até ao "dever do ódio e da violência", esta é uma mensagem essencial.
O crente ama a partir da experiência do amor de Deus, Fonte criadora de todo o ser. Deus ama com paixão, de modo totalmente gratuito, e é amor que perdoa. Jesus Cristo, que se entregou a si mesmo por amor na Cruz, é o amor encarnado de Deus.
(Para ler mais, clique DN)

Uma reflexão do padre João Gonçalves, pároco da Glória

Autoridade
de Profeta No meio de tanto barulho e de tantas vozes, há-de surgir uma voz clara que diga verdades, que grite pela justiça, que indique caminhos incon-testáveis; que manifeste que tem autoridade.
Para os Cristãos, esse Profeta chama-se Jesus Cristo; a Sua voz sobressai a muitas outras vozes que, muitas vezes, não passam de barulho para confundir.
Nunca foi tão dificil ser profeta; particularmente ser profeta da Verdade, sem arredar pé, ainda que seja contra a força das ameaças ou da indiferença.
O Profeta não fala de si nem se adapta às situações; o Profeta corta a direito: denuncia e anuncia; ajuda a destruir o que está mal e oferece alicerces seguros para construções duradouras; o Profeta corre riscos permanentes, mas a sua força vem-lhe de Quem o chamou e enviou.
Precisamos de Profetas; não há por aí ninguém com mais autoridade que Deus; e o Profeta verdadeiro é de Deus que recebe e partilha a autoridade de anunciar a Verdade. E não há nenhuma força que tenha mais força do que Deus.
O Cristão aceitou ser Profeta; há Cristãos em todo o lado. Que nenhum se cale; nem se envergonhe; nem se intimide.
A força da Palavra vem-lhe do Seu Autor!
: In "Diálogo", 1059 - IV DOMINGO COMUM - Ano B

II CONGRESSO DA CNIS, EM FÁTIMA

Aspecto da assembleia dos congressistas
(Foto Solidariedade)
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HÁ MUITOS PORTUGUESES
QUE SE ENTREGAM, COM ENTUSIASMO,
AO SERVIÇO DOS FERIDOS DA VIDA
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Tive o privilégio de participar, como convidado, no II Congresso da CNIS (Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Nacional), que se realizou em Fátima no último fim-de-semana. E digo que foi um privilégio, porque tive o grato prazer de reencontrar centenas de dirigentes e funcionários das IPSS, que há muitos anos se dão, com total entrega, à causa da solidariedade social no nosso País. Quando se prega que a nossa sociedade é egoísta, onde cada um procura resolver os seus problemas, muitas vezes pisando quem encontra pela frente, é justo sublinhar o trabalho e o esforço de tantos dirigentes que vivem, no dia-a-dia, o voluntariado, sempre em favor dos feridos da vida. Foram essas pessoas, de todas as idades, que, durante dois dias, equacionaram obstáculos e formas de os ultrapassar, que trocaram experiências no sentido do enriquecimento mútuo, que encontraram outras e bem diversas realidades, que se indignaram com a lentidão com que os problemas da solidariedade social são resolvidos, com o abandono a que são votadas instituições, por parte de departamentos estatais. Foi gratificante sentir e ficar a saber que as IPSS portuguesas representam uma “expressão única na Europa”, obviamente pela positiva, que houve gente que saiu do congresso com vontade de fazer mais e melhor na luta contra pobreza, contra a marginalidade, contra as dependências e contra a solidão de tantos. Foi muito bonito ver gente jovem a dialogar com os mais velhos, uns e outros aprendendo e ensinando, numa perspectiva de criarem, nas suas instituições, alternativas a processos talvez obsoletos, ou de responderem a novos desafios que a sociedade e as pessoas vão sentindo, não raro envergonhadamente. Por tudo isso, valeu a pena ter estado dois dias com tanta gente generosa e de sorriso franco, e com muito optimismo em relação ao futuro. Fernando Martins

GOTAS DO ARCO-ÍRIS

ARCO-ÍRIS….OU…AURORA BOREAL?
Caríssimo/a:
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Era quanto bastava para nos espevitar a curiosidade e a vontade de correr para a Barra o aparecimento, lá ao longe, dos mastros dum navio que iria seguir rumo aos Bancos…Ainda no outro dia, estávamos de visita a um Amigo, quando surgiram os mastros dum cargueiro e logo:
-Onde é que podemos ir para ver o barco?
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Não admira, pois, que um livro que nos cheire seja logo requisitado para uma leitura sossegada e interrogativa. Assim com o “Creoula”. E que horas de gozo íntimo nos proporcionou. Mas não só…Ora, atenta nestes parágrafos que de lá retirei:
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«…A operação (levantar o lanço) era violenta e esgotante… as mãos maltratadas pelas picadas dos anzóis, a água salgada gelada, os sucos do peixe…
Valdemar Aveiro, em “Figuras e factos do passado”:
“Mas as mãos? Ai as mãos! Embora protegidas com luvas de lã grossas de um só dedo, de que valia isso? O aparelho de pesca tinha de ser alado das profundezas geladas, qual rosário de contas palpitantes de vida, que iam metendo dentro com a ajuda de um pequeno “bicheiro”. Logo ficavam encharcadas, a escorrer também elas um fio contínuo de baba ácida de sal, que a pouco e pouco, com o passar dos dias, ia abrindo sulcos profundos, gretas horrorosas nas mãos encortiçadas. Rosário escaldante de frio, que fazia cair em crostas grossas a pele dessas mãos que não desistiam de rezar, mas onde eram apenas contemplados os mistérios dolorosos! Quantas vezes, de tão engrunhidas, mal conseguiam apertar as nepas de borracha, tornando-se a operação de meter dentro o aparelho, um lento e longo suplício!”» [pág. 25]
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E logo a seguir:
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«O dia de trabalho pesava, com doze ou mais horas de pesca e seis ou sete a processar o peixe. Se tudo corresse regularmente, restavam quatro a cinco horas para comer e descansar. E só depois de tudo arrumado se despiam as roupas oleadas e se adoçavam as mãos, a cara e o pescoço com a medida de três quartos de litro de água doce distribuída pelo cozinheiro.O piloto ministrava então os curativos: soluto de sulfato de cobre para as “bexigosas” dos pulsos provocadas pelo roçar do oleado. Para picadas de anzóis, amoníaco que queima os tecidos. Para as gretas dos dedos, fios de lã empapados em sebo de Holanda, que servia para untar as botas de cabedal.
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A água doce era muito racionada. Depois da escala, havia a distribuição da ração de água, mas em certas ocasiões até essa ficava comprometida.
“A gente tinha as mãos cheias de feridas, dos anzóis e das lulas… fazia ferida nas mãos e a gente se queria adoçar as mãos com uma pinga de água doce ia lá abaixo ao rancho, agarrava no bule, enchia a boca com água e vinha com a boca cheia de água. Chegávamos cá acima e começávamos a botar nas mãos, lavar as mãos com água da boca, para adoçar a mãos… adoçar as feridas…”» [pág. 30]
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Talvez agora se compreenda a razão por que, quando o como mais ou menos regado com azeite, o bacalhau teima em não querer seguir viagem!...
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E hoje a minha saudação muito especial vai para esses heróis desconhecidos que, muitas vezes, com o arco-íris no coração, terão contemplado a aurora boreal!
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Manuel

sábado, 28 de janeiro de 2006

LEITURA PARA MOÇAMBIQUE

EX-COMBATENTES DE ÍLHAVO
EM MOÇAMBIQUE Um Grupo de Ex-Combatentes (Utramar) residentes no Concelho de Ílhavo vai realizar uma viagem a Moçambique com o objectivo de conhecer as realidades daquele país e ali encontrar-se oficialmente com os respectivos Governadores locais. Esta iniciativa contempla a oferta de livros ou material de escritório para as respectivas escolas e/ou bibliotecas. É neste contexto que Fernando Gomes (Sindicato dos Trabalhadores do Porto de Aveiro) e José Manuel (Presidente do Grupo Desportivo da Gafanha), como participantes activos deste grupo tomaram a liberdade de solicitar à APA a amável colaboração nesta pequena iniciativa. Assim, solicita-se a todos os colegas que tenham material escolar ou livros de que já não necessitem que os destinem a esta bonita acção: “Leitura para Moçambique”.Há recipientes na SEDE e no Terminal Norte para que possam proceder ao respectivo depósito, até 31 de Janeiro.
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Fonte: "Site" do Porto de Aveiro

Encontro Nacional "HERITY"

Encontro "Herity",
no Museu Nacional
de Etnologia
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A HERA-Associação para a Valorização e Promoção do Património, atenta às inovações na área da gestão do património e desenvolvimento do turismo cultural, vem por este meio divulgar o ENCONTRO NACIONAL "HERITY"- Gestão de Qualidade do Património Cultural.
O Encontro terá lugar no Museu Nacional de Etnologia, em Lisboa, no dia 1 de Fevereiro.
Para mais informações, contactar a Hera, através de www.heraonline.org

PRIMEIRA ENCÍCLICA DO PAPA: Reacções e comentários

“DEUS É AMOR” “Deus caritas est” (Deus é amor) é a primeira encíclica do Papa Bento XVI, um teólogo há muito respeitado na Igreja, que agora vem mostrar aos cristãos e ao mundo o núcleo da fé católica.
O Papa procura apresentar uma “fórmula sintética da existência cristã”: Deus é amor e os cristãos acreditam nesse amor, fazendo dele a “opção fundamental” da sua vida.
O texto é estruturado em duas partes. A primeira, mais teórica, unifica os conceitos de Eros (amor entre homem e mulher) e Agape (a caridade, o amor que se doa ao outro); na segunda, centra-se na acção caritativa da Igreja, que apresenta como mais do que uma mera forma de “assistência social”, mas como uma parte essencial da sua natureza.
Esta encíclica é a primeira do Papa e, por isso, a mais aguardada. Todos esperavam ver nela uma espécie de “programa” de pontificado, e, de certa maneira, ele está presente nas linhas da “Deus caritas est”.
Como o próprio reconhece, “num mundo em que ao nome de Deus se associa, às vezes, a vingança ou mesmo o dever do ódio e da violência”, falar de Deus como amor “é uma mensagem de grande actualidade e de significado muito concreto”.
A encíclica parte de uma citação da I Carta de São João: “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1 Jo 4,16). Para Bento XVI, começa aqui a desenhar-se o seu primeiro objectivo, devolver ao “amor” o seu esplendor original.
Hoje, como lembra o Papa, o amor é utilizado por tudo e por nada, o que faz com que, na maioria dos casos, estejamos na presença de caricaturas e não do verdadeiro amor. Por isso, defende no seu documento que é preciso regressar à origem, “ao amor com que Deus nos cumula e que deve ser comunicado aos outros”.
O amor é apresentado como “uma única realidade, embora com distintas dimensões”, desde o apaixonado “eros” que, passando por um caminho de “purificação”, desemboca na “agape”, no amor que renuncia a si mesmo, em favor do outro.
Desde o início da encíclica, o Papa apresentou a relação entre homem e mulher como o “arquétipo” do amor. No número 6, explica-se que o ser humano passa “do amor indeterminado e ainda em fase de procura” para “a descoberta do outro” e que dessa evolução do amor faz parte que ele procure um “carácter definitivo”: “no sentido da exclusividade e no sentido de ser para sempre”.
(Para ler mais, clique Ecclesia)

Um poema do Patriarca Atenágoras

TEMPO NOVO ONDE TUDO É POSSÍVEL Consegui desarmar-me. Participei nesta guerra. Durante anos e anos. Foi terrível. Mas agora estou desarmado. Já não tenho medo de nada, porque “o amor afugenta o medo”. Estou desarmado da vontade de prevalecer, De me justificar à custa dos outros. Já não estou alerta, Zelosamente apegado às minhas riquezas. Acolho e partilho. Não me importam especialmente as minhas ideias, os meus projectos. Se me propõem outros melhores, aceito-os de bom grado. Quer dizer, não os melhores, mas os bons. Bem sabem, renunciei ao comparativo… O que é bom, verdadeiro, real, esteja onde estiver, É o melhor para mim. Por isso já não tenho medo. Quando nada se possui, já não se sente medo. “Quem nos separará do amor de Cristo?” Mas, se nos desarmarmos, se nos despojarmos, Se nos abrirmos ao Deus homem que renova todas as coisas, Então é Ele que apaga o passado mau E nos devolve um tempo novo, Onde tudo é possível. ---- Patriarca Atenágoras Atenágoras I foi Patriarca de Constantinopla de 1948 a 1972 e, portanto, o maior representante da Igreja Ortodoxa. Aristokles Spyrou (nome de baptismo) nasceu em 1886, em Epiro (Grécia), e morreu em Istambul (Turquia) em Julho de 1972. O Papa Paulo VI e o Patriarca de Constantinopla encontraram-se três vezes (no Vaticano, no decorrer do Concílio; em Jerusalém; e durante a viagem papal a Istambul, Éfeso e Esmirna), lançando as bases para um entendimento entre a Igreja Católica e a Ortodoxa, separadas desde 1054. Fonte: Correio do Vouga

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Um artigo de D. António Marcelino

Posted by Picasa REDE DE SERVIÇO SOLIDÁRIO,
UM BEM A NÃO DESVIRTUAR Os números dizem muito pouco, quando comparados com a realidade que se vive por esse país fora. Refiro-me à rede extraordinária das instituições particulares de solidariedade social que actuam nas diversas comunidades, possibilitando respostas sociais, necessárias e urgentes, que o Estado nunca, por si só, poderia dar, com igual dedicação e os mesmos gastos. É uma reflexão, a que os cidadãos sem preconceitos, têm de se habituar: verificar que há soluções para muitos problemas das pessoas no campo social, agora só falamos neste, que as instituições particulares, dentro das regras e das normais exigências, fazem melhor e mais economicamente que os serviços do Estado. Alguns, que não abdicam do ideal do estado providência e permanecem nostálgicos de um estado colectivista centralizador, irmãos gémeos de há muito falidos, continuam a lutar contras as instituições particulares, distorcendo conceitos e dados, como se a vida em democracia fosse de sentido único ou apenas calibrada pela visão estrábica de pessoas e de grupos, mais barulhentos e teimosos para os quais há sempre púlpito aberto Quando se fala do contributo financeiro a estas instituições para realizarem uma missão que é da responsabilidade do Estado, pois é ele que arrecada os impostos para obviar às necessidades gerais dos cidadãos e às exigências normais do bem comum, soltam-se gritos indignados, como se se tratasse de sanguessugas a chupar, para proveito próprio ou só de alguns, o dinheiro de todos. Procurem saber, se o conseguirem, quanto gasta o Estado com as poucas instituições de solidariedade que ainda teima em manter sob a sua direcção e comparem com o que recebem, com igual número de beneficiados, as instituições particulares. Depois, falem, porque o facto dá argumento que chegue e sobre para tal. Neste e noutros campos. As instituições de solidariedade são, no seu conjunto, o maior empregador, mormente em concelhos sem indústria significativa. E são o maior benfeitor das pessoas socialmente mais carecidas, em virtude das condições de trabalho de muitos casais com filhos e pais dependentes, da do crescente número de idosos, das muitas formas de exclusão social, da atenção qualificada a grupos sociais mais vulneráveis, da possibilidade de ocupar e de tirar da rua muitas crianças, cujos pais estão presos a rigorosos horários de trabalho. Quando se visita uma zona que tinha há uma dúzia de anos duas ou três instituições de solidariedade e hoje as tem em todas as freguesias do concelho, sejam elas da iniciativa da Igreja ou de cidadãos voluntários que se associaram para o efeito, então se vê a diferença, em número e qualidade, das respostas sociais que foi possível implementar para problemas que já existiam e iam apodrecendo aos poucos. Os governantes, em momentos festivos, que controlam ao milímetro até no dizer da placa de inauguração ou de simples visita, vêm ver, embora sempre à pressa. Desfazem-se, depois, em elogios simpáticos, porque nunca imaginaram que numa aldeia escondida, se pudesse fazer tanto bem e com tanto amor e dedicação. Raramente, porém, isto chega para dar outra orientação às leis e outro sentido à administração dos dinheiros públicos e até outro teor da comunicação oficial que mais pretende fazer passar a ideia de um favor que se faz às pessoas e instituições, que de um dever que se cumpre e nem sempre bem, nem atempadamente. Agora, entram as Câmaras no concerto. Vale a pena reflectir sobre a colaboração pedida e o espírito que parece animar a mesma. As instituições não são políticas, nem pode ser político o serviço social a quem dele precisa. Saberá isto a gente da capital?

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

A LIÇÃO DE MÁRIO SOARES

EXEMPLO PARA TANTOS IDOSOS QUE VIVEM
À ESPERA DA MORTE Quando Mário Soares se candidatou a um terceiro mandato para Presidente da República, por razões que não importa sublinhar nesta hora, logo houve quem lembrasse a sua provecta idade. Para esses contestatários, a partir de uns tantos anos de vida, a pessoa tem de se remeter ao silêncio, aos bancos dos jardins, a um nada fazer. No fundo, a uma vida sem sentido, que mais não é do que um projecto de morte lenta. Ora o antigo Presidente da República veio mostrar que os velhos são gente com ideias e com capacidade para liderar projectos para um País. São gente com dinamismo e com alma enriquecida pela experiência da vida e pela cultura que conseguiu amealhar ao longo dos anos. São gente que tem muito para dar, precisamente numa altura em que tantos, por egoísmo, se fecham na sua concha. Mário Soares veio dizer com o seu exemplo que, com os 81 anos que já viveu, ainda está à altura de abordar, com opinião própria, qualquer assunto, das mais diversas áreas, sendo escutado, por isso, nos grandes areópagos internacionais. E já avisou que, depois de descansar uns tempos, vai voltar à liça, porque muito terá que dizer às novas gerações, quantas vezes cheias de nada. Lembro hoje e aqui o seu exemplo pela simples razão de que não gosto de ver tanta gente muito mais nova do que ele simplesmente à espera da morte. São cadáveres adiados que nada fazem de útil à sociedade, quando há tantos à espera de mão amiga para saírem da solidão e para regressarem à vida. Mário Soares veio dar-nos o testemunho de que é preciso, é mesmo urgente, que todos façamos mais qualquer coisa, para além das caminhadas pelos jardins (também importantes, diga-se de passagem), dos aborrecidos programas televisivos, das sestas nos sofás, do olhar mortiço fixado em horizontes de sonhos irrealizáveis. Fernando Martins

AS ELEIÇÕES DO ÚLTIMO DOMINGO

CAVACO SILVA VAI SER O NOVO PRESIDENTE
DA REPÚBLICA Em poucos meses, os portugueses foram chamados a votar três vezes: para as legislativas, de onde saiu o Governo; para as autárquicas, de onde saíram os representantes do povo para o poder local; e para as presidenciais, tendo sido eleito, pela primeira vez na segunda república, um candidato do centro-direita, precisamente o Prof. Cavaco Silva. Durante a campanha cometeram-se excessos indesculpáveis para candidatos à mais alta magistratura da Nação. Sabemos que foi o calor da luta que os levou a isso, mas pensamos que uma linguagem mais serena e mais delicada ficaria bem, como exemplo a seguir no futuro, em todas os actos eleitorais. Bonito foi o que ouvi, via telefone, de um amigo ligado à campanha de um candidato que não conseguiu ser eleito, após a apresentação pública dos resultados: ganhou o Prof. Cavaco Silva e o cargo fica bem entregue, disse-me ele. É um democrata, um homem honesto, um conhecedor dos meandros do poder, tem capacidade de liderança, sabe estabelecer consensos, sabe o que se espera de um Presidente da República. Não foi o meu candidato, mas aceito a escolha dos portugueses, concluiu o meu interlocutor. Quem uma semana antes nem queria acreditar na vitória do Prof. Cavaco Silva, que seria, em seu entender e no entender de muitos, um descalabro para a democracia, na hora da derrota do seu candidato soube reconhecer que o pretendente à cadeira presidencial mais contestado e atacado, como foi o antigo primeiro-ministro, é, afinal, um homem à altura do alto cargo que assumirá em pleno no dia 9 de Março. Temos de convir que no calor das lutas político-partidárias nem sempre somos comedidos e só vemos o mal no adversário, que não é, nem pode ser, um inimigo a abater. Penso até que nas últimas eleições presidenciais, outro que fosse o eleito, saberia estar à altura do Portugal de hoje e de todos os portugueses, sobretudo dos mais feridos da vida. Mesmo sem governar, que não é esse o papel do Presidente da República, o Prof. Cavaco Silva saberá lembrar, no diálogo frequente e atento com o Governo, que o nosso País não pode continuar no grupo dos mais pobres e atrasados da União Europeia. Urge, pois, que Governo, Presidente da República, deputados, partidos, sindicatos, trabalhadores e empresários saibam dar as mãos neste momento crucial da nossa história, para se tirar Portugal do fosso em que se encontra há muito. São estes os meus votos. Fernando Martins

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

Um artigo de Céu Neves, no DN

184 mil imigrantes candidatos à autorização de residência
Alexsandro, Luís e Mihai vieram para Portugal para ficar. Exercem profissões menos qualificadas que no seu país e perderam dias em filas para se legalizarem, mas têm emprego e um ordenado mais elevado. Eles estiveram entre os primeiros imigrantes a substituírem o título de permanência pelo de autorização de residência - um processo que ontem se iniciou e que se espera vir a envolver mais 184 mil imigrantes.
Aqueles imigrantes fazem parte da segunda vaga que chegou a Portugal em finais do século XX, na maioria brasileiros e cidadãos do Leste europeu. Obtiveram uma autorização de permanência (AP) de um ano, no âmbito do processo de legalização (Decreto-Lei n.º 244/98) que decorreu entre 22 de Janeiro e 30 de Novembro de 2001. Foram regularizados 183 833 estrangeiros, 126 901 dos quais logo no primeiro ano."Fui o 14.º a conseguir a AP", conta Alexsandro Pimentel, brasileiro do Paraná, 27 anos, pintor da construção civil, ex-montador de sistemas hidroeléctricos.
Veio para Portugal em 2000 e o filho e a mulher, doméstica, vieram um ano depois. O rapaz, de oito anos, regressou ao Brasil. "Saíamos muito cedo para o trabalho e ele ficava na escola. Agora tem os avós e os primos", justifica.
(Para ler mais, clique aqui)

BENTO XVI, UM PAPA PROFESSOR

Expectativa marca
publicação da primeira
encíclica de Bento XVI
No dia 19 de Abril de 2005, ao final da tarde, os Cardeais eleitores escolhiam o Cardeal Joseph Ratzinger para suceder a João Paulo II. A eleição gerou uma onda de desconfiança perante a herança de um pontificado excepcional, de 26 anos e meio, num mundo em mudança, com desafios específicos em cada continente: desde a pobreza e as desigualdades sociais à secularização e indiferença religiosa, passando pelo diálogo com as outras religiões e o relativismo moral.
Quando, há quase 27 anos, foi apresentado ao mundo o Cardeal Karol Wojtyla houve uma espécie de atordoamento geral; há nove meses, pelo contrário, todos sabiam (ou julgavam saber) quem era aquele homem que surgia vestido de branco."Deus Caritas est", com publicação anunciada pelo Papa, para 25 de Janeiro, fala do conceito do amor nas suas diversas dimensões.
À primeira vista, parece que estaremos na presença de um texto eminentemente doutrinal, mas é admissível esperar que a primeira encíclica retome, pelo menos, algumas das ideias do primeiro discurso de Bento XVI, após a sua eleição, na Capela Sixtina.Nesse dia, o Papa comprometeu-se a dar continuidade à dinâmica gerada pelo II Concílio do Vaticano, que abriu a Igreja ao mundo, nos passos do seu predecessor, João Paulo II, que "deixou uma Igreja mais corajosa, mais livre, mais jovem".
O Papa considera, desde então, que a reconciliação entre os cristãos é o seu "compromisso primário" ao qual prometeu entregar-se "sem poupar energias". A luta contra a "ditadura do relativismo" tem sido a bandeira destes meses, nos quais o Papa se adaptou à missão de ser o líder de mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo. A crescente globali-zação abre problemas novos, na relação com o mundo e na definição da Igreja: colegialidade, prática litúrgica, ministério da presidência, questões éticas, doutrina social, pastoral familiar, produção teológica, tudo o que se conseguir pensar sobre as comunidades eclesiais.
Os constantes conflitos internacionais e as desigualdades no campo socio-económico são ainda outro desafio, depois de João Paulo II ter feito da Igreja uma referência moral nesse campo, mesmo em países não católicos. A Igreja de amanhã, porque é nela que falamos, não será fechada em si mesma numa defesa auto-apologética ou na restauração de um velho confessionalismo - mesmo se era isso que muitos esperavam de Joseph Ratzinger.Linguagem simples e ricaAo assumir o seu ministério, Bento XVI afirmou que a sua missão "é a de fazer resplandecer diante dos homens e mulheres de hoje a luz de Cristo: não a sua própria luz, mas a de Cristo".
Como um professor, o Papa apresenta, desde o início do pontificado, uma abordagem menos "dogmática" aos diversos assuntos, procurando uma linguagem que seja compreendida por uma audiência maior - o mundo. Bento XVI convida, sem cessar, indivíduos e sociedades a mudar a sua relação com Deus, que muitas vezes é de indiferença e de confronto.As suas catequeses nas audiências gerais das quartas-feiras, com um impacto mediático relativamente reduzido, têm procurado mostrar um Deus próximo da humanidade, que não se esconde "atrás de uma nuvem impenetrável de mistério". A explicação, para um cristão, é simples: Deus mostrou-se aos homens e fala com eles, em Jesus Cristo, para guiar as suas vidas.No já referido discurso da Capela Sixtina, Bento XVI propusera-se "prosseguir, unicamente preocupado em proclamar ao mundo inteiro a presença viva de Cristo".A existência de vidas sem espaço para Deus, nem para grandes ideias, preocupa verdadeiramente o Papa que não concebe a vida sem abertura à transcendência. Quando as portas do coração se fecham, não há nenhum lugar por onde Deus possa entrar, porque homens e mulheres dos nossos dias pensam "que não têm necessidade de Deus e não o querem".
O tema da primeira encíclica do pontificado enquadra-se neste conjunto reflexivo e já tinha ficado claro, no passado Verão, quando Bento XVI se encontrou com um grupo de padres em Vale de Aosta, onde passava férias. "Nós acreditamos em Deus, mas que Deus? Um Deus com rosto, com rosto humano, que reconcilia, que supera o ódio e nos dá o poder da paz, que mais ninguém pode dar", disse.Qual é, então, o objectivo dos que lideram a Igreja? "Devemos fazer as pessoas perceber que o Cristianismo é, na verdade, muito simples e, por isso, muito rico", responde o Papa.
(Para ler mais, clique ECCLESIA)

POSTAL ILUSTRADO

FIGUEIRA DA FOZ:
TORRE DO RELÓGIO,
NA PRAIA
Quem visita a Figueira da Foz sente-se logo atraído para as extensas praias que tornam mais famosa este bonita cidade. E num areal bastante frequentado, lá está a Torre do Relógio para indicar aos veraneantes a hora do banho.

Um artigo de Francisco Perestrello, na Ecclesia

ACTIVIDADE CINEMATOGRÁFICA
EM PORTUGAL
A venda, em data recente, do catálogo de 90 filmes portugueses da Madragoa Filme ao grupo PT (Lusomundo), terá sido uma surpresa para muito cinéfilos. Em Portugal, apesar de tudo, vão sendo produzidos alguns filmes. Por que será então que se mantém o seu divórcio com o público?Os filmes produzidos, salvo raras excepções, só se tornam possíveis através de uma significativa comparticipação estatal, através do ICAM. E como tal participação é limitada e os cineastas são muitos, dificilmente haverá quem disponha de tal apoio com a necessária frequência para conseguir exercer o cinema como actividade profissional regular.
Há excepções, é certo, de que Manoel de Oliveira é a mais evidente, mas para a generalidade dos concorrentes ganhar um concurso de atribuição de um subsídio do ICAM não é fácil, e muitas vezes nem é barato para quem concorre sem garantia de vitória. Há que entregar todo o projecto, argumento redigido ou já planificado, desenvolver múltiplos contactos, comprovar situação perante o fisco, etc., etc. Entregue o projecto, depois se verá.
Para vencer tais limitações é frequente o mesmo projecto ser apresentado ano após ano, burilando defeitos, alterando o título ou refundindo boa parte do conteúdo. Mas os resultados, em termos de continuidade de trabalho, não são ideais.Vejamos um exemplo.
Acaba de estrear "Lavado em Lágrimas" de Rosa Coutinho Cabral. Desde há muito ligada ao cinema esta cineasta realizou "Serenidade", sua primeira obra, em 1989. Não foi um êxito, mas era um trabalho promissor. Só cinco anos depois correu em sala e passou por três vezes na RTP. Em 1996 voltou a poder realizar, mas apenas um documentário de 60 minutos, "Cães sem Coleira", esperando depois mais dez anos para ver estrear "Lavado em Lágrimas", em que trabalhou nos tempos mais recentes. Daqui se vê como a falta de treino não poderá deixar de afectar o resultado de cada filme produzido.Francisco Perestrello