sexta-feira, 29 de abril de 2005

"A Voz do Silêncio"

Posted by Hello
"A Voz do Silêncio", uma exposição do Projecto BlogAveiro, está patente ao público entre 22 de Abril a 5 de Maio na Sala de Exposições Inês de Castro, no Instituto Português da Juventude de Coimbra. A exposição, da autoria de Isabel Henriques, apresenta fotos em torno de um livro, uma praia e as chamas que devoram estórias contadas, muitas outras por contar:"Vidas são estórias,Estórias são livros,Livros são páginas cheias de vidas.O fim do livro é a morte.Nesse dia,Queimam-se as páginas de um livro cheio,Porque a estória acabou...", refere a autora na apresentação do seu trabalho.
"A Voz do Silêncio" pode ser visitada, aos dias úteis, das 09h às 18h, e aos sábados, das 10h às 19h. O IPJ de Coimbra situa-se na Rua Pedro Monteiro, n.º 73.
A exposição conta com o apoio do ISCIA - Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração, da FEDRAVE - Fundação para o Estudo e Desenvolvimento da Região de Aveiro, da Delegação de Coimbra do Instituto Português da Juventude, e dos Parceiros Jornal da Bairrada, On Line News, Notícias de Aveiro, Rádio Terra Nova e Solidariedade Online.
(Para saber mais sobre outras exposições, clique BlogAveiro)

DIA DA MÃE: 1 de Maio

Todas as crianças devem ser desejadas
Celebra-se no próximo domingo, 1 de Maio, o DIA DA MÃE, razão suficiente para que todos manifestemos às mães, vivas ou que já nos deixaram, a nossa gratidão pelo dom da vida. E se alguma vez não fomos tão correctos para com elas, como seria nossa obrigação, nunca será tarde para lhe mostrarmos o nosso amor. A APFN (Associação Portuguesa das Famílias Numerosas) está sempre atenta a tudo quanto diz respeito às famílias e no comunicado que me enviou sublinha, com pertinência, que ser mãe é, antes de mais, um acto de coragem, num país que: "Tarda em compreender a importância da parentalidade, alheio a tantos avisos sérios tanto a nível interno como a nível externo; Apregoa a igualdade, mas distingue entre "filhos desejados" e "filhos não desejados", quando, na presente situação demográfica, todas as crianças devem ser profundamente ansiadas, conforme a Comissão Europeia recentemente alertou ao classificar as crianças e jovens como "recurso escasso"; Apregoa a tolerância, mas recusa reconhecer o elementar direito a nascer aos "filhos não desejados"; Apregoa o Estado social, mas propõe negar o direito à vida dos nasciturnos por "razões económicas e sociais" da sua família; Apregoa a necessidade de um choque tecnológico para o relançamento económico, mas nega a evidência da natureza da vida intra-uterina mostrada em simples ecografias; Muitos afirmam que o aborto é um problema de consciência, mas aprova uma lei de liberalização do aborto obrigando dezenas de deputados a votarem contra a sua própria consciência." E mais adiante, lembra que, "Porque ninguém é Mãe sem haver um Pai, a APFN apela a todos os Pais para serem testemunhos permanentes do amor de onde nasceram os seus filhos, indispensável ao seu são desenvolvimento, e a que todas as crianças têm direito, conforme Declaração Universal dos Direitos da Criança, subscrita por quase todos os países do mundo, entre os quais Portugal". No Dia da Mãe, "a APFN renova o seu compromisso, a todas as famílias com filhos, e em particular às Mães, peças centrais da família, que continuará a bater-se por terem direito à protecção que lhes é devida pelo Estado, conforme art. 67 da Constituição e recomendação da Comissão Europeia, recebendo o mesmo apoio e atenção que são dados na esmagadora maioria dos países europeus".

quinta-feira, 28 de abril de 2005

Um artigo de D. António Marcelino

Papa Bento XVI Alegria serena, sem dúvidas nem perplexidades
Foi este o meu sentir quando ouvi o nome do novo Papa. Já tenho idade para não me deixar impressionar pelas muitas e desvairadas apreciações, vindas de todos os quadrantes da opinião pública, livre ou comandada. Quando vemos pessoas, que se dizem agnósticas, a opinar sobre quem e como devia ser o Papa e a mostrarem-se desiludidas com a eleição, estamos perante um contra-senso, que se respeita, mas não se entende. Nostalgia, apreço pela acção da Igreja, vocação teológica frustrada, recalcamentos? Tudo é possível. Se são pessoas da Igreja, presas a ideias feitas, a sentirem-se decepcionadas ou frustradas porque o seu candidato era outro, pergunto-me sobre que critérios assentava a sua profecia e assenta agora a razão da sua dor e frustração. Não se vê por aí muito de evangélico e de eclesial. A Igreja não começou ontem. A sua história, mesmo com erros pelo caminho, comporta sempre, nos êxitos e nos fracassos, grandes lições para os seus membros e até para a humanidade. A história recente, para quem não recorda dela senão o que, no momento, foi apoio à frustração e à tristeza, diz bem claro como são falíveis os juízos precipitados dos que querem que tudo esteja do seu lado. Mas qual lado? Estão aí João XXIII a mostrar que, quando se vêem apenas as aparências, se corre sempre o risco de estar fora da lógica de Deus, que conhece os corações e lê no seu mais profundo. Critérios de sabor meramente humano não servem para apreciar situações que vão além do tempo e de nós próprios, ainda que tingidas de zelo apostólico. É de supor que os eleitores, mais de cem, pessoas adultas e sérias, comprometidas, a tempo inteiro, com a Igreja e a sua missão, tinham mais elementos em mãos para apreciar, julgar e votar, do que os que estavam fora, cheios de opiniões e desejos. Ninguém, no caso da eleição do Papa, se quiser sintonizar com um projecto que não controla, estará dispensado de aferir o seu parecer na tentativa de perscrutar os planos de Deus em cada circunstância e em cada tempo. Estou certo que vamos ter muitas surpresas. Tenho para mim que Bento XVI foi o homem certo para este momento da vida da Igreja. Pela sua reconhecida entrega ao essencial, testemunho de simplicidade, poder de escuta e capacidade de acolhimento, cultura teológica e histórica que ultrapassa o comum, abertura realista à sociedade, sensibilidade, e mais do que isso, em relação aos movimentos do tempo que corre, conhecimento profundo da Igreja universal e da realidade romana, serenidade impressionante e ponderada, fé inquebrantável, vivenciada e lúcida para dizer como Paulo "eu sei em Quem acredito". A campanha anti-Ratzinguer encarregou-se de lhe enxovalhar o rosto e nome. E continuam a fazer-se profecias catastróficas. Ele sabe isso. Admiro-lhe a coragem, que se explica pela força da sua fé e entrega ao projecto de Deus. Mil razões humanas podiam justificar a não aceitação, dado que esta é livremente expressa. Alguns ficariam contentes. Não faltaram conselheiros a dizer a João Paulo II no fim de vida, que abandonasse a cruz. Mas, onde entra Deus, só fé tem sentido. Uns ainda o não compreenderam, outros serão incapazes de o compreender.

Marinha da Troncalhada

Marinha da Troncalhada em dia de visitas A tradição do sal não pode morrer
A Marinha da Troncalhada, um Ecomuseu que aposta em preservar o fabrico do sal, está sempre à espera de quem goste de saber como se processava uma faina ancestral, entre nós, com primeira referência na longa data de 959, quando a condessa Mumadona registou, num testamento, as suas marinhas de sal que possuía nesta região. Desde essa altura, pelo menos, sempre os povos destas terras fabricaram sal, com a água salgada que entrava por terra dentro e com o sol do Verão e o vento que nunca deixou de prestar uma boa ajuda. Infelizmente, muitas das boas tradições artesanais vão morrendo, por força da industrialização que vai dominando todos os sectores da vida. Mas a Marinha da Troncalhada, graças ao município de Aveiro, teima em resistir para mostrar, às gentes mais novas e a quantos nos visitam, como é que marnotos e moços, num labor custoso sob sol ardente, extraíam das águas da Ria, do mesmo sabor das águas do mar, porque dele vêm, o precioso sal que uma tradicional cozinha não dispensa. A Marinha da Troncalhada fica mesmo à porta da cidade, quem sai para as praias. Na rotunda, vira-se à direita, segue-se pela estrada marginal ao canal, em direcção à zona das antigas pirâmides, e logo se vê. É a primeira marinha à esquerda. Se gosta de recordar o que se vai perdendo ou se quer mostrar aos netos uma tradição que sempre marcou as nossas terras ribeirinhas, não deixe de passar pela Marinha da Troncalhada. Ela gosta que a visitem. Fernando Martins

Quem é que me explica?

-- Condenados por pedofilia nos Açores A comunicação social noticiou hoje que nos Açores houve 14 condenações por pedofilia. Sete dos 18 arguidos foram punidos com pena de prisão, seis com pena suspensa e um com multa. Os casos foram descobertos, investigados e o tribunal julgou e aplicou as respectivas penas. Tudo se processou com alguma rapidez e sem grandes alaridos. Ora acontece que o caso de pedofilia da Casa Pia começou antes, as investigações decorreram dentro da normalidade e quando se esperava que o assunto fosse resolvido de imediato, aí está com um atraso injustificável para o comum do cidadão. O mais natural é pensar-se que o problema não se resolve, porque temos, infelizmente, uma justiça que não é igual para todos. Quando os arguidos são pessoas de alto nível social, com capacidade para contratarem bons e caros advogados, tudo anda e desanda, com requerimentos e mais requerimentos, mais isto e mais aquilo, e nada se decide, apesar de tudo estar dentro da legalidade processual, como se vem sublinhando. Que fique claro que não estou a pugnar pela prisão de inocentes e que até gostaria que estes eventuais crimes não passassem de um sonho. Mas o que acho é que já era tempo de se resolver o assunto. E o mais curioso é que não temos neste país quem ponha cobro a este estado de coisas, o que me leva a dizer que, em Portugal, há uma justiça para poderosos e outra para gente sem poderes e sem dinheiro. Estarei enganado? Quem é que me explica o porquê de tudo isto? Fernando Martins

Um artigo de Sarsfield Cabral, no Diário de Notícias

-- Tropelias
As empresas devem à Segurança Social 3,2 mil milhões de euros. A maioria delas não paga impostos porque não declara lucros, mas - milagre! - continua a funcionar ano após ano. Como escreve António Perez Metelo no DN de terça-feira, muitas dessas empresas "só sobrevivem mediante toda a espécie de tropelias fiscais e de abusos nas contribuições retidas aos seus trabalhadores". E algumas ainda têm a lata de reclamar contra o alegado dumping social dos asiáticos, nota o António por outras palavras.
Esperemos que o Governo concretize o anunciado reforço da vigilância das autoridades sobre os faltosos fiscais e parafiscais (na luta contra a fuga aos impostos notam- -se alguns avanços encorajadores). É um imperativo jurídico e moral, mas também económico com empresas dessas o País não progride. Mas o Estado tem um ponto fraco: também ele recorre a tropelias. Paga tarde e a más horas, o que não incentiva propriamente ao cumprimento das regras pelos privados. Há câmaras que chegam a pagar a 30 meses ou mais, disse ao DN do dia 18 Rui Viana (Presidente da AICCOPN, uma associação de empreiteiros), acrescentando que muitos municípios "fizeram obras a mais e não têm como as pagar". Há eleições em Outubro... O Estado central não é mais virtuoso. Cerca de mil licenciados, no desemprego, esperam desde Outubro que o Estado lhes pague as prometidas bolsas para custear cursos de reconversão profissional que estão a frequentar. A dívida dos hospitais públicos aos laboratórios bateu novo recorde em 2004. Etc, etc.
A prioridade das prioridades na tão falada reforma do Estado deveria ser apresentar-se este de cara lavada, como pessoa de bem. É condição indispensável para o Estado poder exigir que pessoas e empresas se deixem de tropelias à custa do contribuinte cumpridor.

Património Cultural da Igreja

Santuário: foto de Luís de Oliveira Encontro Nacional em Fátima
Os responsáveis dos Serviços Diocesanos do Património Cultural vão reunir-se em Fátima no próximo dia 6 de Maio de 2005 para o Encontro Nacional "A Missão Evangelizadora do Património Cultural". O encontro será organizado em função duma intervenção geral de D. Manuel Clemente, Bispo Auxiliar de Lisboa e Presidente da nova Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.
A exposição será seguida da apresentação de três "casos de estudo", correspondentes a outras tantas áreas de acção e de interesse na valorização do património cultural da Igreja, numa perspectiva pastoral e para os quais são convidados os oradores seguintes, pela experiência comprovada nas áreas referidas: "Exposições de arte sacra" (D. Carlos Moreira Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa); "Utilização apropriada do património" (Pe. Mário Rui Pedras) e "Itinerários e Roteiros" (Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja).
Fonte: Ecclesia

Bênção dos Finalistas na Universidade de Aveiro


A grande festa é já no dia 8 de Maio 

  No próximo dia 8 de Maio, domingo, vai realizar-se a grande festa da Bênção dos Finalistas, na Alameda da Universidade de Aveiro, presidindo à cerimónia D. António Marcelino. Os preparativos estão em marcha, no Centro Universitário Fé e Cultura, sob a batuta do padre Alexandre Cruz e com a participação de muitas dezenas de universitários das escolas superiores de cidade dos canais. Para esta festa, ponto único de quem salta da Universidade para a vida, estão convidados todos os estudantes e seus familiares e amigos, bem como a Reitora, Prof. Doutora Helena Nazaré, demais professores e funcionários, porque a alegria dos que concluíram os seus cursos se deve estender a todos os que, com eles, partilharam saberes, experiências, alegrias e até, porventura, algumas tristezas. Para além da mensagem do Bispo de Aveiro, que é sempre uma reflexão oportuna para quem tem de enfrentar a vida do trabalho e da investigação, não faltarão os cânticos litúrgicos, que estão a ser bem ensaiados pelos próprios universitários, entre outros motivos de interesse e adequados à Eucaristia, que terá início pelas 11 horas. Significativo será, também, o momento do Crisma de alguns estudantes, que foram preparados para receberem este sacramento que faz deles testemunhas de Cristo, agora mais responsavelmente.

Fernando Martins

quarta-feira, 27 de abril de 2005

Postal ilustrado-4

Posted by Hello Caramulo: aldeia perdida no vale

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Posted by Hello Caramulo: cimo do monte

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Posted by Hello Caramulo: Cabeço da Neve

Postal ilustrado

Posted by Hello Caramulo: golfinho nada no verde da serra

SERRA DO CARAMULO

Espigueiro só decorativo CARAMULO: A voz do silêncio por ali se faz ouvir
Quem nasceu e vive com o som do mar a embalar o seu adormecer, e sente, ao acordar, as ondas a espraiarem-se no areal, não pode deixar de sonhar, também, com a silhueta dos picos da serra, que ao longe nos desafia. A primeira vez que fui à serra e à medida que me aproximava dela, os meus olhos de menino pouco viajado ficaram deslumbrados. Senti um não sei quê na alma, um prazer inexplicável que ainda hoje, tantos anos depois, é um mistério no meu espírito. À serra vou sempre que posso e às vezes até juro a mim mesmo que um dia por lá hei-de ficar uns tempos largos, para calcorrear montes e vales, entre vegetação luxuriante ou entre penedos com formas estranhas de figuras fantásticas que enriquecem o imaginário de qualquer um. Ontem fui ao Caramulo à procura desses ares límpidos, alimentados, e de que maneira, pelo verde que tudo enche, ao som de regatos que deslizam do cimo dos montes, por entre pedregulhos que amplificam o cantar da água saltitante que apetece beber a toda a hora. E quando a sede aperta, como apertou depois de um almoço de vitela assada que só por ali tem um sabor como em nenhuma outra parte, então foi um regalo beber uns bons copos de água de fonte natural, recebida em bilha de barro vermelho que a tornou mais fresca. Campo de Besteiros, São Tiago de Besteiros, Guardão, Janardo, Pedronhe e Cabeço da Neve foram alguns recantos da Serra do Caramulo, que uma vez mais pude contemplar em dia partilhado com amigos que não esconderam o sortilégio que estas terras transmitem a todos os que chegam. Ruas e estradas amplas ao lado de ruelas empedradas que lembram tempos ancestrais, histórias de lutas travadas entre íncolas serranos e povos invasores, casario a cair de podre porque gente teve de emigrar, habitações com sinais de quem regressou à terra depois de muito trabalhar e de lutar na estranja, sanatórios abandonados porque os tuberculosos já se curam em casa, sem a ajuda dos ares puros da serra, de tudo um pouco se foi fixando na retina dos meus olhos, que nunca se cansaram de apreciar de miradouros naturais a paisagem a perder de vista. Para os contemplativos, a Serra do Caramulo é uma bênção de Deus. Ali, longe dos habituais horizontes, sinto que a beleza não adulterada pelo mau gosto, em muitíssimos recantos, oferece a quem a visita a imagem do divino, que o céu contempla e abençoa com nuvens que baptizam aspergindo tudo e todos. A voz do silêncio que tantas vezes se fez ouvir, aqui e ali perturbada pela cantilena da água que descia apressada do cimo dos montes, à cata de gente que a saboreasse, ainda mais me convidava a cultivar a necessidade de voltar. O que farei sempre que puder, para encher os pulmões de ares puros e os pensamentos do aconchego do bem e do belo. Fernando Martins

Um artigo de Sarsfield Cabral, no Diário de Notícias

--- Contradição
A imagem, ou o cliché, do novo Papa é de um conservador intolerante. Duvido que Bento XVI confirme tal ideia, mas esta levou muitos a falarem em divergência crescente entre a Igreja católica e o mundo moderno. Não é novidade divergências grandes existiram até ao Concílio Vaticano II, sobretudo em torno de questões filosóficas. E a Igreja teve aí algumas responsabilidades. Hoje, a referida incompatibilidade diz mais respeito a questões como o celibato dos padres, regras de moral sexual, posição perante a vida, etc. São temas importantes, mas nem todos do cerne da fé - embora alguns campeões do "religiosamente correcto" e da "estrita observância" transmitam a falsa sugestão de a fé ser um moralismo.
Mas há contradição entre o cristianismo e o "mundo". Cristo não morreu na cruz por acaso. A proposta cristã, implicando a entrega de si próprio ao serviço dos outros, é incompatível com o hedonismo individualista ou com o uso do poder - qualquer poder, até o religioso - para esmagar terceiros. Como é incompatível com o relativismo. Se tudo se equivale, se as opções morais dependem apenas de tendências, gostos ou simpatias, então não poderemos evitar as piores barbaridades. A Igreja combateu o relativismo desde os sofistas gregos até aos pós-modernos actuais (como R. Rorty), passando por David Hume no séc. XVIII. São oposições de sempre, mais visíveis hoje apenas porque deixaram de vigorar sociologicamente antigas normas e referências.
Na esteira do Concílio, a Igreja deve abrir-se ao mundo. Não pode fechar-se numa atitude sectária e farisaica de um pequeno grupo de puros iluminados vivendo entre os pecadores. Mas se aceitasse os critérios dominantes na sociedade, que privilegiam o interesse egoísta, iria trair o Deus revelado por Cristo como doação radical.

JOÃO PAULO II visto pelos leitores

O PAPA JOÃO PAULO II PARA OS TIMORENSES,
NO PASSADO, NO PRESENTE E NO FUTURO Ninguém duvida como era o Papa. Ele era um grande homem na Igreja Católica e era um grande pastor para todas as suas velhas, em qualquer circunstância. Com ele, muita gente se identificou, tanto os católicos como os não católicos. O Papa foi bom para todos e continuará na memória de todos, para sempre. Quem o ouviu e viu ficou feliz e inspirado para seguir os exemplos da sua vida. Verificou-se isto durante a sua vida, e, no momento em que morreu, todo o mundo foi ao seu encontro, prometendo recordá-lo para sempre. E é certo que ele será recordado, principalmente pelo seu infinito carácter afectuoso. Ninguém duvida também como era Timor e como era o seu povo. Timor era um país que lutava muito por algo mais para a sua vida; lutava contra os que o tentaram destruir, destruindo também o seu povo. A presença do Papa em Timor, em 1991, foi um modelo para uma luta afectuosa. O Papa lutou muito na sua vida, com muita paciência e com calma, pela paz, apesar das doenças que o afectavam. Timor lutou muito pela sua independência, no princípio com alguns actos menos correctos, mas após a visita do Papa João Paulo II a luta tornou-se menos violenta, terminando numa vitória difícil, depois de muito sofrimento, provocado por gente inconsciente. Agora que Timor já é independente, o exemplo do Papa João Paulo II ficou em todos. É muito conveniente que o povo timorense se relacione e se identifique com a vida do Papa, principalmente nestes dias de começo de nova vida, rumo ao desenvolvimento do nosso país. Porque assim, além de recordar o Papa, estamos com esperança de ter um Timor progressivamente desenvolvido. Sabendo que só com amor, paz e liberdade é que se ultrapassam tensões, é preciso também que todos os timorenses dêem as mãos para construírem um país fraterno. E com o exemplo de João Paulo II tudo será mais fácil. Para tal, é importante seguir a melhor receita, que é a vida do Papa João Paulo II. E para seguir esta receita, é preciso que o povo timorense aprenda a saber abrir o seu coração, sendo mais suave ou mais macio na vida. Só assim é que Timor será como todos nós desejamos. Grupo de Timor

terça-feira, 26 de abril de 2005

Em viagem

Hoje é dia de procurar, em viagem, ares diferentes. Deixo o cheiro a maresia e vou apreciar outros horizontes. Deixo a vastidão do mar, que o tenho à porta de casa, e vou sentir o palpitar da serra, com montes e vales a perder de vista.
No regresso, contarei, por escrito e pela imagem, o que vi e senti. Lá para o fim do dia, quando o Sol, ao entrar no mar, me convida à contemplação interior.
Fernando Martins

segunda-feira, 25 de abril de 2005

Um poema de Sophia

Sophia de Mello Breyner Andresen Revolução Como casa limpa Como chão varrido Como porta aberta Como puro início Como tempo novo Sem mancha nem vício Como a voz do mar Interior de um povo Como página em branco Onde o poema emerge Como arquitectura Do homem que ergue Sua habitação 27 de Abril de 1974

25 de Abril

Temos de ser dignos do 25 de Abril
Passados que são 31 anos da revolução de Abril, aqui estou a recordar uma data venerada e celebrada por todos os amantes da liberdade, mas também da democracia e da justiça social. É preciso recordar que a revolução dos cravos foi apenas, e já não foi pouco, uma porta que se abriu para que os portugueses encetassem novos caminhos que conduzissem, depois da liberdade oferecida pelo Movimento das Forças Armadas, à descolonização, à democratização e ao desenvolvimento. À descolonização possível, porque foi um processo apressado e complexo, que deixou traumas em muitos compatriotas nossos que regressaram depois de abandonarem tudo o que tinham conseguido com muitos sacrifícios. Mas que deu, também, aos povos colonizados durante séculos, a oportunidade histórica de procurarem e conquistarem o seu próprio futuro. Depois veio a democratização, ansiada por tantos portugueses, sendo conhecido que muitos deram a vida por esse direito dos tempos modernos que tardou a chegar até nós, mas de que hoje nos orgulhamos, por podermos, com a força do voto, em tantas instâncias da vida social e política, dizer o que queremos e optar por caminhos que julgamos os melhores. Por fim, veio o desenvolvimento que apontou metas, muitas metas, que nos haveriam de colocar na senda dos países desenvolvidos do mundo. Muito foi feito e a vida que todos levamos é bem diferente da que levaram os nossos pais e avós. Há progressos visíveis em muitos sectores, não somos já o país do pé-descalço e do analfabetismo, mas há imenso que fazer, sem dúvida, para nos aproximarmos de vez dos países mais prósperos da Europa, à qual pertencemos por direito político, cultural e social. Ultrapassadas que foram as fases da descolonização e da democratização, resta-nos hoje olhar para o desenvolvimento a todos os níveis, no sentido de nos batermos por novos e mais promissores objectivos. Isto, porque Portugal continua sem encontrar soluções para proporcionar uma vida digna a muitos portugueses. Mais de um milhões de compatriotas nossos a passarem fome e outros tantos no limiar da pobreza exigem de todos nós respostas urgentes, para sermos dignos do 25 de Abril de há 31 anos. Fernando Martins

Um artigo de António Bagão Félix, no DN

--- Bento XVI, o bom conservador
Se tivesse seguido a maioria dos meios de comunicação social, a opinião publicada, muitos ateus e agnósticos e até algumas vozes da Igreja de fácil acesso aos media, João Paulo II deveria ter resignado. Graças a Deus, não seguiu e ficou claro porque não o fez. Se tivesse seguido a maioria dos meios de comunicação social, a opinião publicada, muitos ateus e agnósticos e até algumas vozes da Igreja de fácil acesso aos media, o cardeal Ratzinger jamais teria sido eleito Santo Padre. Graças a Deus, o conclave escolheu-o depressa e consensualmente.
No mercado opinativo sempre dado a simplificações estereotipadas que, muitas vezes, escondem uma enorme ignorância, a etiqueta para o novo Papa tomou foros de sentença passada em julgado o Papa é conservador! E diz-se conservador não como um qualificativo normal, mas quase ou mesmo com um tom crítico, se não mesmo condenatório ou abjuratório. Sim, porque dizer-se que alguém na Igreja ou fora dela é liberal ou progressista é um elogio ou um reconhecimento laudatório, mas chamar-se conservador é um anátema, uma forma de lepra social.
A Igreja não é uma instituição de opiniões nem uma expressão mais ou menos mecânica e alienante de "mercado das almas". É, sim, uma assembleia universal em nome da identidade baptismal e da comunhão em Cristo. Logo, sustentada na fé, na doutrina, em dogmas e em valores. Por isso, e na minha opinião, a Igreja - é certo -, vivendo no mundo e para o mundo, não se conjunturaliza ou guia por inquéritos de opinião. Tem o seu ritmo de aggiornamento para a construção do homem do futuro numa perspectiva terrena e salvífica.À guisa do cosmos político, alguns dos servos da Igreja também fogem da ideia da conservação, como o Diabo da Cruz. Deixam-se enredar em tacticismos e juízos de oportunidade do instante, deixam-se embalar pela linguagem religiosamente correcta quase imposta por quem não crê! Enraizar Cristo no coração do Homem, reevangelizar na aridez espiritual dos dias de hoje, aprofundar o magistério social da Igreja, caminhar sem desfalecimento no enriquecimento da verdade e da bondade é conservar o património religioso, espiritual, humano do Cristia- nismo.
O resto é a circunstância, o modo, a comunicação, os instrumentos. Importantes, sem dúvida, mas não a essência da doutrina. Essa está toda na Boa Nova, nos Evangelhos. João Paulo II dizia em No início de um novo milénio "Não há um programa novo para inventar. Está tudo escrito no Evangelho e na tradição da Igreja. Mudam apenas os problemas a enfrentar: os desequilíbrios ecológicos, a paz, os direitos humanos, as novas fronteiras da ciência..."
Os crentes querem um Papa que lhes transmita espiritualidade transbordante, afectuosidade aconchegante. Um Papa que radique toda a sua acção em Cristo, inteligente, cristalino, sábio de amor, que dê esperança, com temperança, perseverança e simplicidade.
Para mim, o Papa Bento XVI transmite tudo isto. Fala sem calculismo mas com profunda sabedoria. Homem do Vaticano II e inseparável do saudoso João Paulo II, o novo Santo Padre ajuda-nos na busca da paz, da fé, da esperança e da caridade.
Dizem alguns, como que insinuando uma crítica de carácter, que é rigoroso e austero. Que mal tem? O rigor de análise e a austeridade de modo de vida são grãos de mostarda para o reencontro das virtudes. Ser austero não é ser frio, ser rigoroso não é ser distante.
Dizem que é um Papa velho e de transição. Velho é e ainda bem. Ao menos que seja a Igreja a dar valor à velhice, não contribuindo para a sua desvalorização permanente na sociedade. De transição, porquê? Transição para onde?
Claro que há sempre necessidade de reforma num mundo em mutação. Mas que esta não consista em "deitar fora o seu próprio lastro", "em diluir, adaptar, aligeirar a fé, mas aprofundá-la", para citar o próprio Papa Bento XVI no notável livro O Sal da Terra.
Hoje, numa sociedade hedonizada e materialista, confunde-se, com ligeireza e superficialidade, felicidade com prazer, abomina-se o sacrifício, descarta-se a velhice, empobrece-se em verdade, escolhe-se o mais fácil e não o mais exigente, exalta-se o relativismo e minimalismo éticos, vive-se obcecado pelo pragmatismo.
Sobretudo na Europa, obesa nos vícios e frágil na espiritualidade, o novo Papa pode vir a ter um contributo decisivo na luta contra a cultura da indiferença que larvarmente vai invadindo o Velho Continente. Se há pedaço do mundo que necessite de uma nova evangelização e de um neomissionarismo, é a Europa, onde, para citar de novo Ratzinger, "muitas vezes o homem não está à altura da sua própria inteligência", "onde não crer é mais fácil do que crer" e "onde temos de voltar a aprender a acreditar".

Um artigo de Paulo Rocha, na Ecclesia

 
Foram repetidos os pedidos de oração pelo Papa Bento XVI, pelo seu ministério, pelo serviço que lhe é confiado, à Igreja e ao mundo. Partiram do próprio Papa Ratzinger, em repetidas afirmações de humildade, entre considerações teológicas ímpares. Sem fazer referências muito explícitas ao programa para o seu Pontificado — porque já o fizera na "mensagem de quarta-feira, 20 de Abril" e porque "não faltarão outras ocasiões para fazê-lo" — a homilia do Papa Bento XVI foi uma mensagem teológica bem ao estilo de um académico invulgar: a Liturgia da Palavra e os sinais específicos desta celebração (entrega do anel e do palio) foram a oportunidade para uma comunicação que informou profundamente sobre a natureza do ministério petrino, entre aplausos que, por 37 vezes, interromperam a voz tímida, mas determinada, do Papa Bento XVI. 
O Papa referiu-se aos "desertos" que atravessam a vida dos homens. Os desertos "da fome, da pobreza", "do abandono, da solidão, do amor destruído", "da obscuridade de Deus"... Muitos desertos que tresmalham ovelhas de um rebanho que se quer junto.